O Portugal de Lés-a-Lés é uma aventura anual mototurística que desde 1999 concilia a resistência física à vertente turística com o objectivo de cruzar Portugal de extremo a extremo contemplando paisagens e lugares de enorme esplendor. Aquela que se tornou a maior caravana mototurística do mundo passou agora também a pontuar para o World Touring Challenge da FIM!

10º Portugal de Lés-a-Lés Offroad (2025)
Chaves - Penamacor - Reguengos de Monsaraz - Lagoa
De 1 a 4 de Outubro de 2025

Ministra do Ambiente agradece entusiasmo pela Reflorestação de Portugal de Lés-a-Lés

Foi com a presença da Ministra do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho, à chegada do Portugal de Lés-a-Lés Off-Road em Lagoa, que terminou a 10ª edição da grande aventura off-road da FMP.

Conhecedora do êxito da campanha de sensibilização Reflorestar Portugal de Lés-a-Lés, a ministra do Ambiente e da Energia marcou presença no final do 10º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road, em Lagoa. Na chegada dos aventureiros que, ao longo de três dias ligaram Chaves à costa algarvia, Maria da Graça Carvalho elogiou “a iniciativa da Federação de Motociclismo de Portugal que vai muito além da compensação do CO2 emitidos por estes veículos, mostrando um amor pela natureza e um grande empenho em protegê-la. Sobretudo num ano tão difícil como este, em que muita da nossa floresta ardeu, tal como parte dos nossos parques e áreas protegidas, do mais bonito que temos na natureza em Portugal”.

Recebida pelo presidente da Direção da FMP, Armando Marques, e pelo responsável da Comissão de Mototurismo da FMP, António Manuel Francisco, Maria da Graça Carvalho sublinhou ainda “o importante papel dos motociclistas como veículo de comunicação com os jovens, sendo que a mensagem entra mais depressa do que a dos políticos”. Mostrando “muito gosto e satisfação ao ver que esta iniciativa vai parando nas escolas e junto de escuteiros”, a governante enalteceu o facto de os motociclistas estarem, desta forma, “a incutir já o amor pela natureza, pela paisagem e pela biodiversidade aos mais jovens, pelo que o Governo se associa, através do Fundo Ambiental, para ajudar a continuar a reflorestar Portugal, a amar a natureza e a passar a mensagem para os mais jovens”.

Uma presença que reforçou o entusiasmo dos participantes na defesa da floresta e que foi antecedida de uma ação de sensibilização junto dos Agrupamentos de Escuteiros do Parchal e Estombar que, além de uma palestra sobre as vantagens das árvores autóctones, contemplou a plantação de seis sobreiros.

O Gabinete de Imprensa

Portugal de Lés-a-Lés

REPORTAGEM

Caravana internacional do Lés-a-Lés Off-Road liga Chaves a Penamacor em ambiente de grande festa

Bilhete para um Portugal apaixonante onde nem faltam ‘noivas da floresta’

São cada vez mais os estrangeiros que declaram abertamente o seu amor ao nosso País. Entre os que chegam para trabalhar ou para desfrutar do merecido descanso depois de uma vida de labor. E há aqueles que, por um motivo ou por outro, vão descobrindo os encantos deste ‘cantinho à beira-mar plantado’, acabando por render-se a uma paixão que se vai entranhando, para cá mudando ‘de armas e bagagens’.

Vem isto a propósito do número crescente de estrangeiros que apostam em descobrir as paisagens e pessoas, a natureza e gastronomia, os trilhos e os miradouros de norte a sul, utilizando o Portugal de Lés-a-Lés Off-Road como bilhete de entrada numa aventura ímpar. Na 10.º edição do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal, muitas eram os idiomas ouvidos no Parque das Termas, em Chaves, onde, com o apoio do Grupo Motard de Chaves, a Comissão de Mototurismo da FMP instalou o local das Verificações Técnicas e Documentais.

Fosse em inglês (mais britânico, irlandês ou americano) ou ucraniano; francês (com sotaque de França, Bélgica ou Luxemburgo) ou neerlandês; espanhol (seja da vizinha Espanha ou do México) ou alemão; algumas palavras sobressaiam pela intensidade com que eram ditas. Sol, paisagens bonitas, boa comida ou simpatia foram termos também repetidos na conversa com os belgas Vincent Lepiece e Sebastian Henriche. E se este já está rendido aos encantos nacionais, tendo mesmo comprado uma casa em Loulé, o primeiro está a pensar mudar-se “com a mulher e os 3 filhos para aproveitar o bom tempo todo o ano, a tranquilidade e a boa comida. E poder ver os filhos a crescer num ambiente seguro. Uma mudança que ainda não se concretizou apenas porque o negócio de montagem de sistemas elétricos e de aquecimento vai muito bem e há que preparar os muitos colaboradores da empresa”.

Com duas Gas Gas EC 350F “leves e divertidas mas de autonomia algo curta”, esperam “voltar a encontrar, tal como no ano passado, muitos locais bonitos, poder conviver com as pessoas nos locais que vamos atravessando e desfrutar de uma boa passeata de moto”.

E, tal como todos os outros participantes, dos quatro cantos do Mundo, vão enfrentar 334 quilómetros entre Chaves, de onde começam a partir às 7 horas, e Penamacor, com chegadas por voltas das 17 h. Um dia longo através das paisagens transmontanas, durienses e beirãs, sem grandes obstáculos no percurso, mas com exigência de um ritmo vivo e poupança nas paragens. Tanto mais que a noite já começa a chegar cedo nesta altura do ano e rolar de noite em fora-de-estrada é tudo menos aconselhável.

Crianças flavienses plantaram bétula no pátio da escola

Lado a lado com a aventura mototurística que atravessa o mapa nacional de norte a sul, continua a campanha Reflorestar Portugal de Lés-a-Lés que visa sensibilizar as populações, sobretudo os mais jovens, para a necessidade de uma adequada renovação da floresta nacional. Foi o caso das duas centenas de alunos das nove turmas do primeiro ciclo da Escola do Ensino Básico Dr. Francisco Gonçalves Carneiro que aprenderam a importância da biodiversidade nas florestas e as vantagens das árvores autóctones. Da melhor adaptação aos solos e climas, à defesa natural em caso de incêndio, passando pela renovação do ar e manutenção de linhas águas, de tudo foi explicado às crianças que, plenas de curiosidade, participaram ativamente com as mais diversas questões.

E no final da iniciativa que conta com o apoio do Instituto de Conservação da Natureza e da Floresta (ICNF) e que teve no engenheiro Carlos Silva um excelente comunicador, foi plantada uma bétula no pátio da escola. Uma árvore da família Betulaceae que é conhecida por outros nomes como bidoeiro ou, imagine-se, mais popularmente como ‘noiva da floresta’. Porquê?, perguntarão. Pelo simples facto de, quando adulta, esta árvore apresentar uma casca branca acentuando o contraste com a maioria das companheiras da floresta, vestidas em tons de castanho ou verde. E assim se vai conhecendo melhor a floresta portuguesa…

O Gabinete de Imprensa

Portugal de Lés-a-Lés

Variedade de percurso e beleza de paisagens marcou 1.ª etapa do Portugal de Lés-a-Lés Off-Road

Promessas cumpridas, expetativas superadas

A organização tinha prometido um percurso exigente mas bonito, com pouco asfalto e muita diversão ao longo de 334 quilómetros entre Chaves e Penamacor. Mas, no final da primeira etapa do 10.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road, os sorrisos após um dia desafiante e bem passado ultrapassavam, largamente, as marcas da fadiga de uma tirada bastante variada e fisicamente desgastante. Diversidade de percursos e de pisos que estava bem patente, e de forma curiosa, nos tons do pó acumulado no rosto dos aventureiros.

Para começar, os cerca de 250 mototuristas que se lançaram à estrada – ou melhor, para fora-de-estrada – ao raiar do dia, deliciaram-se com caminhos de enorme carga cénica, entre castanheiros e muros centenários, cujo pó fora, felizmente, acalmado pela humidade noturna. Haverá melhor forma de começar o dia? A resposta foi dada pelos sorrisos na primeira paragem do dia, no Oásis preparado pela Jomotos logo a seguir à região aurífera de Jales, explorada desde o tempo dos romanos. Entre uma trinca numa maçã ou numa barra de cereais e um gole de água fresca, partilhavam-se as mais madrugadoras peripécias, num dia que começara fresquinho, mas que prometia temperaturas elevadas.

Um trajeto rolante e divertido, com terra ora mais dura ora mais arenosa, aqui e ali com um pouco mais de pedra solta, mas sem dificuldades de maior. E sempre com ligações muito pequenas em asfalto, permitindo aos adeptos do todo-o-terreno fazer aquilo que mais gostam...

Panorama que não se alterou quando os soutos e carvalhais transmontanos começaram a ceder lugar aos vinhedos do Douro Internacional, com a diferença de pisos a acompanhar as mudanças na paisagem. Uma Região Demarcada vitivinícola – a mais antiga do Mundo, nunca é demais referi-lo – que mostrou a faceta mais conhecida dos turistas, com vinhas a perder de vista, numa paleta de cores que vai mudando entre o verde e o dourado, passando por vários tons avermelhados e de castanhos agora que as vindimas estão feitas.

Mas, bastou fugir das famosa N222 e atravessar o rio Távora rumo a Tabuaço, para revelar, também, uma parte menos conhecida, atravessando aldeias fora das rotas ‘mercantis’, o Douro genuíno, dos trabalhadores e das gentes da terra que não hesita em assar uns pimentos no meio da rua e convidar os motociclistas mais extrovertidos a parar ‘para um copo’.

São assim as gentes deste Portugal verdadeiro que o Lés-a-Lés, nas suas diferentes versões, procura mostrar desde 1999 e que tanto agrada e continua a surpreender os mototuristas nacionais como os estrangeiros.

Acreditar no futuro da floresta

Uma primeira parte do percurso maravilhosa que seria depois, e apesar dos esforços dos elementos da Comissão de Mototurismo da FMP, ensombrado pelas paisagens calcinadas até depois de Sernancelhe onde todos pararam para mais um reforço alimentar. E que reforço! Do menu constava caldo verde, salada e feijão frade, ovos mexidos com enchidos ou com cogumelos, bifanas e cachorros, e muita fruta, das bananas às laranjas, passando pelas maçãs e deliciosas peras.

Paragem que revelou o bem-estar generalizado da caravana e que nem o negrume ou as dificuldades em ver o percurso nas zonas queimadas e, por vezes, mesmo de respirar, conseguiu destruir. Um triste espetáculo que tocou profundamente o estreante Bruno Oliveira, engenheiro biólogo de formação, que estava “a viver uma grande aventura, até porque nunca andara no monte durante tantos quilómetros”.

A maior curiosidade desta presença passava pela companhia do pai, o bem conhecido António Oliveira, pluricampeão Nacional de Motocrosse e Enduro e participante assíduo deste evento, que “há muito tempo o tentava convencer a participar no Lés-a-Lés Off-Road. Mas por um motivo ou por outro, normalmente impedimentos profissionais, nunca tinha participado. Além de, ao contrário do irmão (Luís, acumulador de títulos de enduro e motocrosse) nunca ter feito competição e por isso ter um ritmo mais… turístico”.

Super satisfeitos na chegada a Penamacor, eram, afinal, o espelho de um pelotão cansado, mas feliz, com ‘tratamento de pele’ que juntava agora o pó beirão. “Um espetáculo de percurso! Paisagens soberbas! A melhor etapa de sempre no Lés-a-Lés Off-Road!” foram apenas alguns dos muitos comentários de regozijo ouvidos no Terreiro de Santo António, mesmo junto à Câmara Municipal de Penamacor e com o castelo templário e a torre de vigia em pano de fundo.

Comentários que no futuro e com o apoio da campanha de sensibilização Reflorestar Portugal de Lés-a-Lés poderão ser ainda mais expressivos. É que a iniciativa lançada em 2017 pela FMP tem levado ensinamentos sobre a melhor forma de recuperar as áreas ardidas, com recurso à plantação de árvores autóctones. Como aconteceu em Penamacor onde quase centena e meia de crianças do ensino básico ouviram atentamente as explicações sobre as vantagens de optar pelas árvores locais no processo de reflorestação, antes de plantarem três medronheiros e dois sobreiros no pátio da escola. Iniciativa que contou com enorme entusiasmo da edilidade local, marcando presença com as responsáveis florestais e uma equipa de jardineiros municipais, preparando terreno para uma plantação significativa no final do outono.

Campanha que continua amanhã, em Reguengos de Monsaraz, ponto de chegada da segunda etapa do Portugal de Lés-a-Lés Off-Road, após os 337 quilómetros da longa ligação desde Penamacor

O Gabinete de Imprensa

Portugal de Lés-a-Lés

Depois da tempestade… o Alentejo

Um Portugal de Lés-a-Lés não é ‘apenas’ uma aventura na travessia do mapa continental, mas também – e sobretudo! – um amplo somatório de histórias e experiências que enriquecem as vivências dos participantes. E como qualquer história que se preze, também o 10.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road tem reis e rainhas, fadas e duendes, diabinhos e anjos. Sim, ‘anjos’ que voam sobre os caminhos de terra para proteger a caravana, sem as celestiais vestes brancas, é certo, antes se distinguindo pelos coletes fluorescentes e a cruz vermelha que ostentam também nos plásticos das Yamaha Ténéré 700 Rally.

São os elementos da Moto Emergência que depois de um primeiro dia particularmente trabalhoso, por força de um percurso longo e muito exigente, tiveram uma segunda etapa, entre Penamacor e Reguengos de Monsaraz, bem mais calma. “Talvez devido ao cansaço acumulado na ligação desde Chaves, muitos participantes tenham optado por um ritmo mais conservador ou mesmo por alguns atalhos por estrada para poupar o físico e ganhar tempo”. O comentário de Luís Isqueiro, coordenador da assistência médica desde há muitas edições do Lés-a-Lés, é, por isso mesmo, uma opinião conhecedora de toda a envolvente de segurança do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal.

Para o 10.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road a maior alteração na equipa de auxílio médico prendeu-se com a utilização de cinco motos iguais, cedidas pela Yamaha Motor Portugal, juntando à eficácia de sempre uma imagem que os torna facilmente identificáveis dentro da colorida caravana. Uma equipa que, além das motos conduzidas por Pedro Pereira, Filipe Garcia, João Melo, Bruno Alves e André Gonçalves, conta com outros três elementos (Fernando Magalhães e Ivo Silva além do próprio Luís Isqueiro) em dois veículos 4x4 para garantir a segurança, em todos os momentos, com uma logística que permite acompanhar e intervir em poucos minutos em qualquer ponto do percurso. O ‘truque’ é um sistema de ‘tracking’, monitorizado pelo coordenador que segue num dos veículos de quatro rodas, que indica onde está cada um dos ‘anjos’ e assim sabendo qual o elemento mais rápido a chegar a uma situação de emergência.

Com uma imagem ainda mais visível e distinta, conferindo acrescida sensação de segurança a todo o pelotão, os técnicos de emergência prestam o primeiro socorro a qualquer um que sofra um acidente – que, nestas coisas de aventura, estão sempre à espreita… – e são uma mais-valia deste evento, deixando surpreendidos os estreantes e os muitos estrangeiros que integram a caravana.

A sopa, o pudim e as massagens

Estrangeiros que também não escondem o espanto perante a as marquesas da equipa de terapeutas e osteopatas, sempre prontos a remediar algumas lesões contraídas durante as etapas. Autênticas ‘mãos de fada’ dos elementos da Osteomotus cujo trabalho é também um excelente barómetro da exigência de cada tirada. Basta ver que no primeiro dia a Adriana Duarte, o Edgar Valente, o Miguel Roseta e o Rui Soares contribuíram para o bem-estar de mais de 40 participantes, número que baixou de forma notória na chegada a Reguengos de Monsaraz. Lesões musculares e pequenos entorses, pancadas sofridas nos dedos e mãos ou dores lombares são as queixas mais frequentes entre os aventureiros do Lés-a-Lés Off-Road. Que ontem até pouparam o físico na parte final da tirada, obrigados a desviar por estrada asfaltada devido a um portão de uma herdade fechado com um enorme cadeado. E isto depois de, durante o dia, todos os participantes terem demonstrado inatacável sentido cívico, fechando todas as cancelas atravessadas pelo percurso.

Tudo isto num dia em que os 337 quilómetros de percurso, maioritariamente em pisos rolantes, mas com bastante pó e algumas zonas técnicas, foram entrecortados por umas quantas ligações em asfalto bem como as sempre esperadas paragens nos Oásis. A meio da manhã, no espaço montado pela Yamaha na aldeia de Perais, um pouco antes de Vila Velha de Rodão, tempo para uma água, uma peça de fruta e uma barra de cereais, antes do lauto e variado menu servido pela multifacetada equipa de cozinheiros da FMP em frente ao castelo de Alter do Chão. Saladas, sopa, carnes e fruta variada foram ementa a que ninguém pôs defeito...

Aliás, a questão da alimentação tem sido comentada de forma muito positiva pelos participantes, recordando, entre outras refeições, o excelente jantar em Penamacor com entradas quentes, queijos, sopa, saladas, carne de porco à alentejana e, para sobremesa, opção entre um delicioso pudim caseiro e melão bem fresco.

Uma curiosa herança para usar no TT

Refeições que têm feito as delícias de todos os motociclistas, os portugueses e os muitos estrangeiros presentes, como é o caso de Charlie Woods e do namorado Dylan Farminer que, juntamente com o padrasto da primeira, Mark Stride, formam a equipa… Charlie’s Angels. Que, para que se perceba o total envolvimento da família, contam com o apoio da matriarca na condução da autocaravana com que viajaram desde Exeter e Southampton, bem no sul de Inglaterra.

E que traziam uma história curiosa para contar. Charlie e Mark estiveram no 7.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road, em 2022 e com eles era suposto ter vindo um amigo muito próximo. Que viria a falecer devido a doença, pouco tempo depois, deixando em testamento a sua Triumph Tiger 1200 ao amigo de longa data, com o desejo expresso de que a usasse em fora-de-estrada e, quando estivesse cansado da moto, a vendesse, revertendo então a verba para a viúva. Como o padrasto de Charlie enfrenta, também ele, um processo degenerativo, o namorado comprou a Tiger, mantendo em casa a ‘joia da família’ e estreando-se em Portugal na condução ‘off-road’. Sem grande experiência no TT, vai tentando acompanhar a mais expedita namorada e utilizando a boa compleição física para ajudar a levantar a Yamaha XT660 quando surge algum percalço.

O sentido da reflorestação com espécies autóctones

Lado a lado com o evento mototurístico anda a 7.ª edição da campanha Reflorestar Portugal de Lés-a-Lés, ensinando às populações, sobretudo às crianças mais jovens, as vantagens em plantar árvores de espécies autóctones. Depois de Chaves e Penamacor, foi a vez da Escola Básica de Perolivas e da Escola EB1 de Campinho onde alunos do 1.º Ciclo ouviram atentamente todas as explicações sobre a iniciativa de sensibilização e participaram ativamente na plantação de um freixo no pátio das escolas. Uma campanha que mais do que simplesmente alertar para os maiores cuidados a ter na reflorestação das áreas ardidas, vai prosseguir no terreno, durante os meses mais propícios ao plantio de árvores, em função da espécie e da região.

Como sucederá também em Lagoa, onde serão entregues algumas árvores no dia em que termina o 10.º Portugal de Lés-a-Lés, com a ligação desde Reguengos de Monsaraz a contabilizar 313 quilómetros, variando entre as típicas paisagens alentejanas e as exigências da serra algarvia.

O Gabinete de Imprensa

Portugal de Lés-a-Lés

Sorrisos genuínos foram a melhor paga para tamanha exigência

Destino turístico de excelência por força das mais de 30 praias, com tanto de sublime como de diversificado, Lagoa foi palco de eleição para a chegada do 10.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road depois de 984 quilómetros desde Chaves, com paragens em Penamacor e Reguengos de Monsaraz. Cenário perfeito para uma festa sublime, onde os rostos poeirentos não escondiam sorrisos genuínos e onde os abraços pela concretização da aventura e pela superação pessoal eram trocados de forma sentida. Afinal, a edição de 2025 da aventura mototurística organizada pela Federação de Motociclismo de Portugal teve tanto de beleza paisagística e de diversão, como de trilhos fisicamente exigentes, obrigando a gerir a energia para melhor desfrutar do passeio.

E se assim tinha sido nos dois primeiros dias, assim foi também na derradeira tirada, desde Reguengos de Monsaraz até ao Parque Municipal de Feiras e Exposições de Lagoa, o recinto bem conhecido por albergar desde 1980 a FATACIL, a maior feira de atividades económicas do Sul de Portugal. Um dia que começou com temperaturas amenas, bem mais baixas do que esperado, céu bastante encoberto e grande humidade, o que, não evitando algum pó nos rápidos estradões alentejanos, limitou a fadiga normalmente exponenciada pelo calor intenso.

Um percurso que permitiu olhar para as profundas mudanças da paisagem do Alentejo, atravessando o lago do Alqueva e comprovando a substituição gradual das tradicionais searas por culturas super intensivas, nomeadamente de olival. Tema de conversa no Oásis Honda, primeiro ponto do dia para ‘reabastecimento dos condutores’.

Junto ao campo de jogos José Agostinho de Matos e sem dispersar a atenção dos entusiasmados pais dos jovens jogadores do Clube Recreativo e Desportivo de Cabeça Gorda [Ferróbico], os aventureiros deliciaram-se com as já famosas Bolas de Berlim da Honda. Ou melhor, ícones da doçaria nacional que, não sendo fabricados pela marca japonesa, obrigaram a rigorosa ação logística para levantar os 350 bolos, acabadinhos de fazer na Fábrica de Bolos do Chile, às 5.30 h da madrugada, para os transportar ao longo de mais de 230 quilómetros desde a lisboeta Avenida Almirante Reis até ao Baixo Alentejo!

Moto híbrida de engenharia caseira

Mas, antes de provaram estas bombas calóricas – podiam sempre ficar-se por um banana e um café… – já os mototuristas tinham deixado para trás dezenas de quilómetros, maioritariamente em longas retas, por vezes com o piso bastante degradado, o que aumentou o cansaço dos participantes e criou alguns contratempos mecânicos. O que não foi o caso da mais bizarra máquina presente no 10.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road, uma irreconhecível Yamaha XT600, de 1999. Uma moto híbrida “feita com peças que estavam para lá, na garagem, como um depósito e o banco de uma Suzuki RMX, o amortecedor traseiro Öhlins de uma Yamaha TTR 600, uma roda traseira de supermotard com um gigantesco pneu 140/80 e um escape intermédio de um Citröen AX GT”. Obra dos tempos livres de Ramiro Ramos que faz mecânica como hobby, “gostando imenso de inventar e criar coisas diferentes com aquilo que tenho em casa, que não vou deitando fora. E mesmo se nem sempre fica mais económico, a verdade é que a diversão é muitíssimo maior e a dimensão do desafio do Lés-a-Lés Off-Roa também fica bem maior”, contava o alentejano de Ourique, que até aproveitou a proximidade para dar um saltinho a casa.

Ao lado desta genial peça de ‘engenharia-faça-você-mesmo’ quase desaparecia o brilho das mais recentes Husqvarna 701 ou Norden 901, Yamaha 700 Ténéré, KTM Adventure 690, Kove 800X Rally, CFMOTO 800X, Honda CRF1100 Africa Twin ou BMW F900GS, no espetacular almoço em Entradas… mas com direito a menu completo.

Felicidade na cozinha e no pórtico de chegada

Bem no coração desta quase deserta freguesia alentejana do concelho de Castro Verde, em pleno centro geográfico do Baixo Alentejo, com menos de 500 habitantes e uma média etária elevada, a ementa contempla uma portentosa sopa de feijão além de saladas, carnes e muita fruta, responsabilidade da experiente e extremamente eficaz equipa gastronómica da FMP, do mestre António José ao ‘chef’ Nuno Ribeiro, passando pelo José Polidoro, Catarina Sabino, Jorge Gameiro, Tó-Zé Fortes e Henrique Teixeira.

De barriguinha composta, tempo para os últimos cento e poucos quilómetros com direito a um inesperado desvio de última hora, por força de um portão encerrado pelo proprietário de uma herdade, logo após Castro Verde, que obrigou a caravana a seguir durante uns quilómetros por asfalto, através da mítica N2, até Rosário onde voltaram a integrar o traçado original. Um problema recorrente que vai exponenciando a dificuldade na travessia da caravana pelo Alentejo e que, por vezes, resulta da necessidade de proteção dos agricultores contra os furtos das produções de azeitona, fruta e até de animais.

Desvio que, por outro lado, até deu para aliviar os braços, antes da sempre variada travessia da serra algarvia, intervalando troços mais técnicos com estradões rápidos, e na chegada a Lagoa. Onde todos ficaram ainda mais felizes ao ver os sorrisos das meninas que dão uma animação especial ao pórtico de chegada, Lynn de Sousa, Vera Carvalhais, Luísa Castro e Rute Galego, sinal de haver terminado mais um Portugal de Lés-a-Lés Off-Road.

O Gabinete de Imprensa

Portugal de Lés-a-Lés

27º Portugal de Lés-a-Lés (2025)
De 7 a 10 de Junho de 2025

Monumentalidade entre serras e planícies, do litoral à zona raiana

Em ano de muitas novidades, o 27.ª Portugal de Lés-a-Lés estreia uma cidade-etapa, uma inovadora travessia do Rio Douro ou uma abordagem distinta ao castelo de Almourol. Mas houve mais, muito mais surpresas na cerimónia da Apresentação Oficial do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal. Momento que marca o arranque da maior maratona mototurística da Europa, evento único em todo o Mundo, e que voltou a ver o mapa desvendado na Figueira da Foz.

Numa sala cheia do Malibu Hotel, centenas de motociclistas, indiferentes às ameaças de mau tempo, não quiseram perder a oportunidade de conhecer em primeira mão um percurso que vai ligar Penafiel a Faro, com paragem em Alcobaça e Portalegre, e garantir desde já um lugar na dianteira do enorme pelotão que volta a atravessar Portugal de 7 a 10 de junho.

Um traçado que, surpreendentemente e após 26 edições, ainda apresenta muitas novidades. Estradas nunca antes percorridas, outras feitas em sentido contrário e outras ainda por onde a caravana não passa há muitos anos.

O mapa deste 27.º Portugal de Lés-a-Lés mostra bem a variedade paisagística que os motociclistas vão encontrar ao longo de 1160 quilómetros divididos pelo Passeio de Abertura, no ora verdejante ora industrial concelho de Penafiel, e por três etapas, com tanto de distintas como de entusiasmantes. Da primeira tirada, com mais de 9 horas de condução num dia que deverá contar com mais de 11 horas entre o palanque de partida e a imponente chegada a Alcobaça.

Estreia em grande no Lés-a-Lés com chegada no largo fronteiro ao Real Abadia de Santa Maria de Alcobaça, o famoso mosteiro começado a construir em 1178 pelos monges da Ordem de Cister. Mas, atenção, que a festa só começa após os 405 km daquela que será a etapa-rainha, com médias horárias baixas devido o rendilhado do percurso. Entre o interior e o litoral, das serras de Montemuro, Freita, Arada e Caramulo com passagem por Abragão, Cinfães, S. Pedro do Sul, Penacova e Soure (outra estreia) onde estarão os oásis do primeiro dia. Paragens diversificadas tal como as paisagens, desde a travessia pela barragem de Carrapatelo, a mais antiga do Douro nacional, Mortágua, Penacova, Pedrogão Grande, S. Pedro de Muel, pelas mais panorâmicas estradas da zona costeira.

Paisagens para todos os gostos

Dia bem diferente será o da tirada que, partindo de Alcobaça, levará a caravana até Portalegre, entrando de forma tranquila no Alentejo, com tempo para paragens em meia dúzia de oásis e dois museus. Mototurismo mais relaxado, com visita às salinas de Rio Maior, com tempo para contemplar o Castelo de Almourol da margem norte, ou a ida a Constância ‘dar um abraço’ a Camões, dando outra cor à festa dos 500 anos do seu nascimento. Sempre de forma serena, condizente com a extensão mais reduzida (270 km), mais uma estreia em Vila Nova da Barquinha e uma curiosa visita em Castelo de Vide, na passagem pela Casa da Inquisição espaço museológico com acervo extremamente real e desaconselhado às almas mais sensíveis.

Na terceira etapa, ligação entre Portalegre e Faro, 410 km de estradas mais rolantes, com as típicas retas alentejanas alternadas com serranias, mas maioritariamente bem pavimentadas através de Arronches, Terena e Mourão, Mértola (Mina de São Domingos) rumo à capital algarvia onde é sempre grande o entusiamo na receção aos motociclistas. Simpatia bem expressa pelo presidente da autarquia farense, Rogério Bacalhau, também ele grande entusiasta e presença assídua no Portugal de Lés-a-Lés. E que se juntou aos presidentes da Câmara Municipal de Penafiel, Antonino de Sousa, e da Figueira da Foz, Pedro Santana Lopes na Apresentação Oficial do evento, aceitando o convite feito pelo presidente da Federação de Motociclismo de Portugal, Manuel Marinheiro.

Momento ainda para as primeiras inscrições, aproveitado por mais de 300 participantes que preencheram as fichas com os seus dados e pagaram um valor igual ao de 2024. Registo que continuará, para todos os entusiastas, através do site do Portugal de Lés-a-Lés, para uma edição que contará com outras novidades no capítulo organizativo. Desde o inovador check-in digital no dia 7 de junho em Penafiel até à obrigação no respeito pelos horários nas partidas e nos diversos controlos ao longo do percurso.

Afinal, ao fim de 26 anos, o Portugal de Lés-a-Lés ainda pode surpreender!

REPORTAGEM

Muitas novidades e enormes surpresas

na Apresentação Oficial a 23 de março, na Figueira da Foz

Portugal ainda pode surpreender?

Será possível que, ao fim de 26 anos, o Portugal de Lés-a-Lés ainda possa surpreender? A resposta pode ser conferida no dia 23 de março, dia da Apresentação Oficial da 27.º edição da grande aventura, no Hotel Malibu na Figueira da Foz. Palco de surpresas garantidas num ano em que a Federação de Motociclismo de Portugal preparou uma verdadeira maratona de descobertas. Onde não faltarão a imponência paisagística e a monumentalidade arquitetónica, as serras e o mar, interior e litoral, cidades e aldeias. E, como sempre, muitas, mas mesmo muitas novidades…

A verdade é que, mesmo num território com área total ligeiramente abaixo dos 89 mil quilómetros quadrados, com largura máxima de 218 km e um comprimento que nunca excede os 561 km em linha reta, Portugal alberga um manancial de surpresas. É um País enorme em diversidade e contrastes, oferecendo paisagens, gastronomia e tradições bem diferentes, por vezes a paredes-meias. Que é como quem diz ao virar de cada curva! Admiráveis motivos de interesse a que se juntam o prazer de viajar ou a camaradagem exclusiva do evento que, desde 1999, atravessa Portugal Continental na sua maior distância, de norte a sul, mas sem descurar a orla marítima ou a zona raiana.

Para 2025, a Comissão de Mototurismo da FMP reforçou a aposta, com animação acrescida nos palanques de partida e, sobretudo, nas chegadas. Tal como nos muitos Oásis ‘plantados’ ao longo do percurso como será o caso da inédita e espantosa passagem pela Benecar. Outro dado adquirido é a partida em Penafiel, cumprindo a tradição de uma década de retomar a aventura onde foi deixada no ano anterior.

Capital da sub-região do Tâmega e Sousa que será palco do Passeio de Abertura, repleto de motivos de interesse, das marcas de vivências pré-históricas no castro do Monte Mozinho, um dos maiores da Península Ibérica, às mais recentes e belíssimas aldeias preservadas. Claro que haverá espaço e tempo para as descobertas gastronómicas, em terras de forte tradição de doçaria romeira e de bem conhecidos vinhos, mas também para etnográficas e da fauna e flora que pululam nas margens dos rios Douro, Tâmega e Sousa. Além do pequeno rio Cavalum, cujos 17 km de águas hidratam apenas terras penafidelenses.

No dia seguinte, com um azimute de 180º, ruma a caravana a sul, com a obrigatória travessia do rio Douro feita por um ponto inédito na história do Lés-a-Lés. Depois, as serras, muitas e bonitas, e as passagens junto ao mar em locais de grande tranquilidade e trânsito reduzido. Claro que haverá muito mais novidades neste 27.º Portugal de Lés-a-Lés mas, para isso, nada como marcar na agenda o dia 23 de março para uma deslocação até à Figueira da Foz. Onde – com a certeza de gostar do que vai ver e ouvir – pode inscrever-se de imediato e garantir um lugar na frente da heterogénea caravana, que de 7 a 10 de junho, animará Portugal desde terras durienses até à costa algarvia.

O Gabinete de Imprensa

Portugal de Lés-a-Lés

27.º Portugal Lés-a-Lés leva animação enorme a Penafiel

Aí está a grande festa do motociclismo nacional

As Verificações Técnicas e Documentais, entre as 10 h. e as 15 horas, no Campo da Feira, e o Passeio de Abertura, ao longo de 70 quilómetros por estradas do concelho de Penafiel no sábado, dia 7 de junho, marcam o arranque do 27.º Portugal de Lés-a-Lés. Aventura mototurística organizada pela Federação de Motociclismo de Portugal e que, até 10 de junho, levará centenas de participantes rumo a Faro, com passagem por Alcobaça e Portalegre, através das mais pitorescas e paisagísticas estradas nacionais, regionais e municipais, fugindo às autoestradas como ‘o diabo da cruz’.

Numa animação que se repete desde 1999, o Lés-a-Lés permite explorar, de forma única, um País que ainda tem segredos por revelar, ao longo de 1263 quilómetros de descoberta, animação, camaradagem, prazer de condução, encontros com a História e muita diversão. Na segunda maior edição de sempre, o pontapé de saída será dado num local bem conhecido dos amantes das duas rodas, o Campo da Feira que, em 2016 e 2018, recebeu as comemorações do Dia Nacional do Motociclista. E num ano repleto de novidades, as primeiras alterações surgirão logo na receção aos participantes, com novo modelo de check-in digital para as verificações, agilizando todo o processo que permite validar o respeito pela legislação rodoviária e a segurança dos veículos.

Local que será também o ponto de partida para o sempre aprazível Passeio de Abertura que, ao longo de 70 quilómetros, permitirá descobrir alguns dos mais belos detalhes do concelho, mas sempre com cuidado para evitar as diabruras do famoso salteador Zé do Telhado. Alternando entre o ora verdejante ora industrial concelho de Penafiel, os participantes terão a oportunidade de visitar o Museu Municipal, de portas abertas para mostrar os achados arqueológicos, a riqueza história e a variedade etnográfica das terras durienses, mas também o Castro do Mozinho. Foi o maior castro romano da Península Ibérica e o seu estado de conservação permite perceber um pouco mais da organização social e urbana desde o Século I até ao Séc. V.

Com total liberdade de horários, permitindo paragens e desvios ao gosto de cada um, o périplo por paisagens penafidelenses mostrará ainda as belíssimas e bem recuperadas aldeias de Cabroelo e Quintandona. Mas também o Mosteiro de Paço de Sousa, onde a gastronomia regional vai criar sensações gustativas que ficarão na memória, o mesmo acontecendo em Guilhufe, com o famoso caldo de pessalhos.

Num dia relaxado, mas antecipando uma das etapas mais exigentes de que há memória no Portugal de Lés-a-Lés, a caravana poderá ainda conhecer o Monumento ao Motociclista ou a Casa do Motociclista, sede do Moto Clube Vale do Sousa, apreciar a soberba Quinta da Aveleda ou recordar a majestosa Igreja do Sameiro ainda antes do jantar, servido bem cedo, a partir das 19 horas, no Pavilhão de Feiras e Exposições de Penafiel. Mesmo a tempo de descansar o máximo possível antes da etapa que começa a umas bem madrugadoras 5 h. 30., do palanque montado no Campo da Feira, até à grande festa no largo fronteiro ao imponente Mosteiro de Alcobaça, ponto final de uma tirada de 426 km de extensão que exigirá nada menos de 12 horas e 10 minutos de condução. A aventura vai começar!

27.º Portugal Lés-a-Lés arrancou com surpreendente Passeio de Abertura em Penafiel

A mirabolante estória de uma grande emboscada que terminou à volta de uma sopa

A festa foi linda, pá! Aliás, mais do que simples festim, foi um verdadeiro festival o arranque do 27.º Portugal de Lés-a-Lés, mostrando muitos pontos de interesse do concelho de Penafiel por entre sorrisos e pândega, farra e banquete. Houve de tudo no Passeio de Abertura e nem o mítico bandoleiro Zé do Telhado faltou à chamada. Não provou o caldo de piçalhos (que o politicamente correto aconselha a chamar de ‘pessalhos’), mas também não será uma completa novidade para o mais famoso bandido da história do concelho. Mas para evitar problemas com a bandidagem, todos os pertences (leia-se motos) foram verificados antes de sair para a estrada. Afinal, respeito e segurança são princípios de que a Federação de Motociclismo de Portugal não abdica.

Foram 70 quilómetros percorridos sem preocupações de horários ou controlos, em arrebatadora descontração mototurística logo após as obrigatórios Verificações Técnicas e Documentais no Campo da Feira, aproveitando a frescura proporcionada por enormes plátanos. É que, para fazer os 1263 quilómetros até Faro há que ter as máquinas em perfeitas condições de iluminação, ruído dentro dos limites legais e pneus com piso suficiente. Além de ter um seguro válido, título de registo de propriedade, cartão de motociclista e um kit para reparar um eventual furo durante a grande maratona mototurística. Não vã um simples contratempo estragar a jornada de uma caravana que não pode parar ao mínimo contratempo!

Verificações que decorreram com eficácia acrescida graças à inovação tecnológica permitida por uma aplicação informática já testada com os pelotões mais pequenos do Lés-a-Lés Off-Road e Classic, e que assim permitiu mais tempo para rever amigos e colocar a conversa em dia. Afinal são as pessoas que motivam muitos a voltar. Uma e outra vez. Como o portuense Paulo Mendes, um dos quatro participantes que esteve presente em todas as edições do Lés-a-Lés. “Continua a ser uma forma de conhecer pessoas interessantes e, não menos importante, em muitos casos a única oportunidade de as rever ano após ano”.

Arranque carregado de História

Depois, mantendo tradição que vem desde 2016, a cidade que acolheu o final da edição de 2024 foi ponto de partida para o Passeio de Abertura, num regresso a Penafiel que permitiu descobrir mais alguns detalhes de terras durienses. E, entre promessas de divertidos assaltos e gastronomia regional, começou com a visita ao Museu Municipal, ajudando a melhor compreender este arranque de Lés-a-Lés. No antigo Palácio dos Pereira do Lago, edifício setecentista que já foi casa de boas famílias, colégio privado, dependência do Liceu Nacional, Casa do Povo, Jardim de Infância, Delegação Escolar e Junta de Freguesia, redesenhado pelo arquiteto Fernando Távora e eleito como o melhor museu de Portugal em 2010, foi desvendada boa parte da história, arqueologia e etnografia do concelho penafidelense.

Importante sobretudo na parte da arqueologia, antecipando e preparando a visita ao Castro do Mozinho, uns quilómetros adiante, onde muitos mostraram espanto perante o conjunto também conhecido como Cidade Morta, aquele que foi o maior castro romano da Península Ibérica, imaginando como era a vida há quase dois mil anos. Num espaço organizado com mais de 20 hectares e defendido por múltiplas muralhas, Afonso Dias, o mais jovem dos cerca de 1300 participantes confirmou a razão de ter aceitado o desafio do pai para participar no Lés-a-Lés. “No ano passado estava em aulas e não deu, mas desta vez respondi logo que sim. O que espero destes dias? Descobrir aldeias e serras, paisagens e monumentos históricos e acima de tudo andar de moto”. E se a viagem desde Vila Nova de Gaia a Penafiel foi curta, “o mais complicado deverá mesmo ser o regresso desde Faro. Porque até lá e com tanta coisa interessante para descobrir o tempo vai passar rápido”.

Variando entre estradas do século XIX e XXI, a caravana atravessou Rans, sem conseguir ver o simpático Tino, o mais famoso calceteiro do País e eterno candidato político a tudo o que mexe, da Junta de Freguesia de Rans à Presidência da República, passando pela Câmara Municipal do Porto. Uma espécie de antevisão para um dos momentos altos do dia, quando os incautos motociclistas foram emboscados pelos salteadores às ordens do Zé do Telhado à passagem pelas pitorescas mas estreitas ruas de Valpedre. Uma paródia ao famoso bandoleiro recriada com deliciosos pormenores pelos elementos do Moto Clube Conquistadores, de Guimarães, que assinalava ainda o primeiro furo na tarjeta que atesta o cumprimento de todo o percurso.

Daí, descendo ao Douro, pela N309 e N106, com paragem no cais de Entre-os-Rios local de encontro domingueiro de muitos motociclistas nortenhos, continuou a caravana, aqui e ali mais preocupada em defender-se de algum calor com paragens nos vários cafés que iam surgindo. A despedida aos rios Tâmega e Douro foi feita por desconcertantes quelhos medievais até à não menos famosa N108, que liga o Porto e a Régua, mais conhecida como a estrada marginal apesar de apenas andar ao lado do Douro durante poucos quilómetros.

Do ponto mais distante deste Passeio de Abertura, o regresso a Penafiel deu-se pela Serra da Boneca, com muitos urzais e passagem pelas aldeias de Vilarinho, Cabroelo, terra de moinhos e moleiros, como aqueles que são movidos pela força do Ribeiro da Trunqueira e onde já passaram alguns dos melhores pilotos de Hard-Enduro do Mundo na XL Lagares. Mas também na bem recuperada Quintandona, mantendo a traça bem característica da região, com paredes de xisto e contrafortes de granito, que mereceu milhares de fotografias. Algumas delas poderão servir para os anúncios da seção de motos usadas quando chegar a altura de trocar… Venda garantida pela espetacularidade do fundo das imagens!

Como conquistar o coração ‘pela barriga’?

Com a barriga a começar a dar horas, a primeira surpresa gastronómica aconteceu no Mosteiro de Paço de Sousa, fundado ainda Portugal não era uma nação, e onde está sepultado Egas Moniz, aio de Afonso Henriques que entregou a sua vida a Afonso VII, Rei da Galiza, de Leão e Castela. Com uma corda ao pescoço juntamente com a esposa e os filhos, apresentou-se ao monarca descalço e apenas com umas singelas vestes brancas, para redimir-se da palavra dada e não cumprida por parte do rei de Portugal após o levantamento do cerco a Guimarães.

Episódio narrado no Canto III d’Os Lusíadas que passou para segundo plano quando foi dada a provar a Sopa Seca e torta de São Martinho. Pastel de massa folhada com recheio de carne picada e polvilhado com açúcar e canela cujas origens se perdem no tempo, enquanto a primeira é doce feito com pão, açúcar e vinho do Porto. Especialidades penafidelenses validadas pela Confraria da Sopa Seca, de Duas Igrejas, e das simpáticas senhoras do Centro Cultural e do Rancho Folclórico de Paço de Sousa.

Doçaria que, curiosamente, surpreendeu ao destoar do menu tradicional, servida antes da sopa, com o grupo de amigos das motorizadas, Os Bota Fumo, a Junta de Freguesia e o Grupo de Jovens de Guilhufe a proporcionarem a descoberta do caldo de piçalhos. Continuidade da gastronomia regional com uma iguaria popular, recordando o caldo feito antigamente pelas famílias desta região, em potes de ferro, em que se aproveitavam as carnes da matança do porco, incluindo as partes genitais do porco. Depois juntavam-se as batatas, as couves e outros produtos agrícolas e, tal como hoje, era servido em tigelas de barro, as mesmas que os participantes levaram como recordação desta visita.

Barriguinha composta faltavam apenas uns poucos quilómetros até ao final, com passagem obrigatória no Monumento ao Motociclista, edificado na rotunda da N15, junto à saída da A4 e mesmo à porta do dinâmico Moto Clube do Vale do Sousa. Associação bem capitaneada por Fernando Gomes que convidou todos a visitarem a Casa do Motociclista que além de sede social do clube também acolhe motociclistas em viagem. A passagem por bem organizados vinhedos e bem preservadas casinhas rurais até à Quinta da Aveleda, com todo o charme e nostalgia, e onde são produzidos alguns dos melhores vinhos verdes da região, rematou um dia descontraído preparando o jantar.

Repasto oferecido no Pavilhão de Feiras e Exposições pela Câmara Municipal de Penafiel e pelo seu presidente motociclista Antonino de Sousa. Que não enjeitou a ocasião para recordar que “se dúvidas houvesse, Penafiel é agora e com toda a propriedade, amiga dos motociclistas, depois de receber os grandes eventos de duas rodas, como o Dia do Motociclistas, por duas vezes, uma chegada e uma partida do Portugal de Lés-a-Lés entre tantos outros eventos”. E deixou um desejo: “Que o 27.º Lés-a-Lés fique gravado nos corações de todos os que visitaram Penafiel como vai ficar gravado no de todos os penafidelenses”.

Um dia em cheio, preparando uma das maiores etapas de sempre do Lés-a-Lés entre Penafiel e Alcobaça, longa de 426 quilómetros e mais de 12 horas de condução. Que terá um arranque madrugador, a partir das 5.30 h. no Campo da Feira.

Longa peregrinação ao Mosteiro de Alcobaça cansou o corpo mas animou a alma

Um grande banquete para abrir o apetite

Se, no papel, prometia ser um dos dias mais intensos de que há memória no Portugal de Lés-a-Lés, na prática, a primeira etapa da edição de 2025, foi um autêntico caleidoscópio de emoções fortes. No papel, isto é, nas 23 páginas do pedagógico e divertido ‘road-book’, as notas a seguir para cumprir os 426 quilómetros entre Penafiel e Alcobaça deixavam antever as exigências próprias de 12 horas e 10 minutos de condução. Mas não prepararam ninguém para o enorme banquete mototurístico proporcionado na travessia de cinco distritos (Porto, Viseu, Aveiro, Coimbra e Leiria), oito serras (Montemuro, Freita, Arada, Caramulo, Buçaco, Soure, Aire e Candeeiros) e mais de uma dezena de rios (Tâmega, Douro, Bestança, Paiva, Alfusqueiro, Mondego, Ceira, Anços, Arunca, Liz e Alcoa) numa peregrinação de inabalável fé motociclística. Jornada de sucessivas surpresas com final apoteótico mesmo em frente ao Mosteiro de Alcobaça, num dos mais espetaculares panos de fundo do palanque de chegada.

Um banquete de entradinhas e petiscos, como que a abrir o apetite para regressar mais tarde, com tempo para degustar todo o requintado menu turístico que este cantinho à beira-mar plantado tem para oferecer. Porque essa é também uma das funções do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal. Dar a conhecer pontos de interesse e despertar a curiosidade para uma descoberta mais aprimorada do património paisagístico, histórico, arquitetónico, cultural e gastronómico.

Mas, para isso, era necessário ter os olhos bem abertos e alma desperta e nada como um forte café do pote, servido pouco depois da madrugadora partida de Penafiel, pelas senhoras do Grupo de Cantares da Casa do Povo de Abragão mesmo junto à Igreja Românica. Um grupo “dedicado a manter vivas as mais genuínas tradições gastronómicas e dos afazeres da região, criando eventos em redor das desfolhadas, das vindimas ou das malhadas do milho”. Para Vera Lúcia, presidente deste grupo que vive só das vozes e deixa os instrumentos opara outros, “este foi um momento muito especial, receber tantos e tantas motociclistas com uma animação fantástica e dar a conhecer os valores tradicionais da nossa terra”. Tanto mais que, além do Grupo de Cantares, com elementos entre os 12 e os 84 anos, também o Rancho Folclórico animou a caravana com rodopiantes danças, enquanto um grupo de calceteiros da empresa ‘Conquistadores & Ca. Motociclistas de Guimarães’, recordava uma das indústrias mais conhecidas do concelho, em momento de grande animação.

Barriguinha mais composta e despedidas aos infames Zés do Telhado, tempo para uma espetacular descida rumo à Barragem do Carrapatelo, travessia inédita em 27 edições, curiosamente na mais antiga das barragens do Douro. Para chegar à obra de arte inaugurada em 1972, nada como paisagens e estradinhas que a todos despertaram para o verdadeiro espírito do Lés-a-Lés e que chamaram a atenção de uma curiosa equipa. Uma estória que se pode contar assim: Era uma vez um português, que foi trabalhar para a Arábia Saudita e conheceu um italiano que gosta de motos e a sua companheira, argentina, com quem partilha todas as aventuras há 28 anos. Cláudio Moreira desafiou Ignazio Scimone e Gabriela Lo Presti a descobrir Portugal da melhor forma possível (de moto…), meteram-se no avião, desembarcaram no Porto e foi tempo de ir à Northroad levantar uma Honda CB500X para rumar a Penafiel. Na chegada a Alcobaça, cansados mas felizes, à imagem de todos os outros 1300 aventureiros, apontavam “a arrumação, a limpeza e as casas muito cuidadas, como uma das grandes surpresas deste país”, num evento “super bem organizado apesar da grande dimensão e onde as surpresas e paisagens espetaculares parecem nascer a cada curva”.

Histórias de princesas, aldeias abandonadas e do ‘morto que matou o vivo’

Pelo caminho tiveram oportunidade de vislumbrar lugares espetaculares, como a mítica aldeia abandonada de Drave ou a Torre de Vilharigues, onde as princesas, aias, cruzados e cavaleiros do Moto Clube do Porto receberam os convidados, recordando a história de Duarte de Almeida, o fidalgo que continuou a segurar a bandeira mesmo depois do inimigo lhe cortar as duas mãos na Batalha de Toro, em 1476. E aproveitaram a frescura da Rota do Românico, miraram os passadiços do Paiva ou alturas da ponte pedonal 516 Arouca, conheceram as ‘livrarias’ do Paiva e do Mondego e o Castelum de Alcabideque.

Mas voltemos um pouco atrás que a viagem teve muitos quilómetros e ainda mais motivos de interesse, num dia em que foi enorme o rácio de curvas por quilómetro percorrido. Que seria bem maior não fossem as enormes retas para ir molhar os pés à praia de Vieira de Leiria. Falemos de novo dos petiscos que, tal como o pequeno mas muito curioso Museu das Trilobites, deixaram água na boca para um regresso com mais tempo, noutra ocasião, que essa é uma das magias do Portugal de Lés-a-Lés. Desvendar segredos para apreciar mais tarde, como aquelas que são apontadas como as maiores trilobites do Mundo, fósseis de animais que viviam no fundo dos oceanos há cerca de 500 milhões de anos, quando estas terras estavam perto do Pólo Sul.

Já no distrito de Viseu, o concelho de Cinfães e o moto clube da terra natal do explorador e político Serpa Pinto (1846) acolhem a caravana para uma pequena mas nutritiva paragem com fruta e sandes. E se o intrépido colonizador se aventurou por terras de África em finais do século XIX, com tamanho sucesso que o seu nome faz parte da toponímia de quase todas as cidades portuguesas casos do Porto, Lisboa, Tomar, Santarém, Póvoa de Varzim, Bragança, Viseu, VN Gaia, Almada, Matosinhos, Loulé e tantas outras que seria fastidioso enumerar, já os aventureiros tinham preocupações mais mundanas. A única talvez fosse o cumprimento dos horários num dia que se sabia longo e exigente. Por isso nada como dar da perna…

Talvez por esse motivo, muitos nem tenham ponderado a opção de descobrir o curioso miradouro da Senhora do Castelo, ou a terceira maior ponte pedonal suspensa do Mundo, a 516 Arouca, 175 metros acima das águas do Paiva, quase tão famosa como os passadiços que herdam o nome do rio que nasce na serra Leomil, em Moimenta da Beira, e desagua no Douro, em Castelo de Paiva, depois de 111,5 km.

Paragem que ajudou a digerir as sensações dos primeiros 90 quilómetros e, não menos importante, preparou o estomago para as emoções sensoriais que aí vinham. O espetáculo recomeçou logo de seguida, com a estreia de Arouca no mapa do Lés-a-Lés num Oásis que contou com o apoio do Sportac, clube vocacionado para atividades na natureza, com e sem motor, e dos barcelenses Motagalos. Que com freiras muito pouco ortodoxas ajudaram a ‘Rainha Mafalda’ a recriar a história do Mosteiro de Arouca, habitado por religiosas desde 1154, perante um insidioso abade.

Ainda com largos sorrisos na face perante tamanho galhofa, a Serra da Freita, numa zona de transição rochosa entre o xisto e o granito, mostrou um dos pontos altos do dia no espetacular Portal do Inferno e Garra. Local de imensa força paisagística famoso por ser onde o “morto matou o vivo”. Conta a história que nesta linha de divisão entre os distritos de Viseu e Aveiro existia o único caminho entre Covas do Monte e a Pena. Ora como só aquela tinha cemitério e havia que enterrar um morto desta, era imperioso carregar o caixão entre as duas aldeias, através da inclinadíssima vereda. Com a chuva bastou um ligeiro descuido para um dos transportadores da urna escorregar e cair do estreito caminho, caindo pela interminável ribanceira, dando origem a novo funeral e à lenda que é mais um chamariz a um local de enorme beleza. A desabitada aldeia de Drave ou a da Pena, com restaurante bem enquadrado entre o xisto e lousa, são merecedoras de uma visita, preferencialmente em dia de boa visibilidade quando as paisagens ganham outra dimensão.

Da enfermaria do Rei à torre do fidalgo sem mãos

No mapa deste 27.º Portugal de Lés-a-Lés seguiu-se São Pedro do Sul, termas onde já Afonso Henriques fazia as recuperações das feridas (e fraturas) de guerra, ofereceu mais um momento para melhor acomodar as memórias que vinham das serras da Freita e Arada, antes de descobrir novas emoções por estradas pouco conhecidas na serra do Caramulo, logo após a passagem pela nostálgica vila de Vouzela, o Coração do Centro.

Com as horas a passarem e o calor a exponenciar o cansaço, a travessia do Mondego, no muro da barragem da Aguieira com os seus 90 metros de altura, era o momento para decisões importantes. Cumprir o percurso na íntegra ou optar por um atalho para fugir ao imparável movimento dos ponteiros e não acumular atraso e cansaço, saindo das obrigatórias estradas nacionais, regionais e municipais, para rumar a Condeixa ou Soure pelas ‘proibidas’ IC3 e A1. Claro que quem optou por este atalho não foi à praia do Reconquinho, em Penacova, onde o Góis Moto Clube ajudou a autarquia local a receber as centenas de motociclistas num espaço onde a NEXX mostrava a completa gama de capacetes e resolvia alguns problemas de ocasião.

E perdiam também a oportunidade de conhecer a história do Castellum de Alcabideque, construído há 2000 anos pelos romanos para levar a água a Conímbriga ao longo de 3500 metros de condutas, ora em subterrâneo ora em aqueduto. E ficavam sem o registo de passagem no controlo do Moto Clube de Coimbra. A opção de ganhar tempo na estrada tinha, além do mais, outros prejuízos. Desde logo por ‘saltar’ Soure, onde, além da espetacular fachada em estilo neomanuelino dos Paços do Concelho, o MC Diabos de Samuel ajudava os elementos da autarquia a distribuir mais um lanchinho nas margens do rio Arunca e com direito a uma inédita travessia de moto pelas pontes pedonais.

Menos entusiasmante foi a derivação para a costa atlântica, com longas retas em direção às Praias de Pedrogão e Vieira de Leiria, onde além do Oásis oferecido pela Junta de Freguesia, foi possível molhar os pés em pleno oceano enquanto era marcado mais um visto na tarjeta de controlo. A outro havia mais adiante, numa surpreendente visita à aldeia de Burinhosa, na freguesia de Pataias, onde foi o tema, cheio de charme e elegância e bom gosto e boa disposição, foi o Encontro Nacional de Bicicletas Antigas. Iniciativa organizada por Rui Rodrigues, que decidiu participar no Lés-a-Lés numa pequena Honda Monkey deixando em casa a Honda Africa Twin, bem mais ‘aconselhável’ para estas andanças.

Da Idade Média em Aljubarrota ao Séc. XXI na Cidade do Automóvel

Com o dia a passar com uma intensidade que ia deixando todos sem fôlego, seguiu-se o Mosteiro de Coz, aberto para o Lés-a-Lés, em jeito de preparação para grandiosidade de Alcobaça, onde os participantes estacionaram com a ajuda do Grupo Motard M Molanes, e ainda puderam descobrir o COZ’ART, projeto de empreendedorismo social, com vista à inclusão social e que visa a revitalização de uma arte centenária da freguesia e a formação de novos artesãos, na área da cestaria (peças em junco). Já em Aljubarrota, afamada pela lendária padeira Brites de Almeida, mulher com seis dedos em cada mão e completamente desprovida dos ideais de beleza feminina, que matou à pazada sete soldados castelhanos que se esconderam no forno de casa depois de derrotados pelas tropas portuguesas na batalha de Aljubarrota, em 1385, a surpresa foi mesmo a receção com figurantes da ‘Aljubarrota Medieval’ trajados a rigor.

Outro dos momentos altos deste Lés-a-Lés – e da história do evento – foi a inovadora visita à Cidade… do Automóvel. Isso mesmo, um evento de motos a fazer a festa na Benecar, passeando entre mais de 1500 viaturas expostas, descobrindo a história e imagens de algumas glórias do automobilismo e ganhando direito a uma foto exclusiva com um belíssimo Ford T. Além do porco no espeto, bebidas e um sem número de experiências num espaço que tão bem acolheu os motociclistas. Que por ali ficariam mais tempo, não fosse a ‘chamada’ de Alcobaça onde estava preparada uma chegada majestosa, com as motos estacionadas frente ao mosteiro antes da viagem pedonal, para desentorpecer as pernas depois de tantas horas sentado na moto, caminhando pelo centro histórico até ao mercado de Alcobaça

Claro que alguns, de costas e braços mais sensíveis, aproveitaram a possibilidade de ‘alinhar o chassis’ junto dos seis osteopatas, sem mãos a medir perante os resultados físicos de uma etapa tão puxadinha. Mas a FMP, consciente da importância do bem-estar físico e da rápida recuperação de eventuais lesões ou dores, não abdica da presença da especializada e simpática equipa da Osteomotus. E todos dormiram bem depois da estafante “Peregrinação ao Mosteiro”, preparando um dia mais tranquilo, o da segunda etapa com um percurso de 275 km atravessando Portugal “De Lado a Lado” até Portalegre.

Intensos prazeres mototurísticos na ligação entre Alcobaça e Portalegre

Do calor alentejano à fogueira da Inquisição

Depois da ultramaratona da véspera que obrigou o pelotão a aplicar-se a fundo e a transpirar para não chegar a Alcobaça ‘fora do controlo’, a 2ª etapa do 27.º Portugal de Lés-a-Lés adivinhava-se mais tranquila. Afinal, no programa estavam ‘apenas’ 275 km para cumprir até Portalegre, com pouco mais de 9 horas de condução. Uma travessia ‘De Lado a Lado’, ligando o Oeste à zona raiana do Alentejo que foi mais relaxada, é certo, mas nem por isso menos entusiasmante. E ainda mais escaldante, com os termómetros a subirem para lá da fasquia dos 35º centígrados, temperatura só batida pela ‘fogueira’ da espetacular Casa da Inquisição, em Castelo de Vide que causou arrepios em muitos dos participantes no evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal.

Ambiente mais descontraído, sensível logo à partida, com os primeiros a fazerem-se à estrada quando os relógios marcavam umas mais ‘normais’ 6 horas, depois do madrugador arranque do dia anterior, com saídas do palanque em Penafiel a partir das 5.30 h. Mais acordados e contentes pela façanha protagonizada na véspera, tempo para um agradecimento especial na despedida de Alcobaça, cidade que emprestou uma animação muito especial ao Lés-a-Lés, com enorme empenho da Câmara Municipal e clubes. Mais do que um adeus, um até já acenado à população pelos motociclistas que iam cruzando os rios que deram o nome a esta cidade, Alcoa e Baça, passando por algumas das ruas visitadas, a pé, na véspera.

Agora, de moto, rumou-se ao Parque da Serra de Aires e Candeeiros onde começaram a surgir paisagens mais refrescantes e divertidas, apreciadas desde o alto da serra, no baloiço da Portela do Pereiro, que desde 2021 reforça os atrativos turísticos da freguesia de Évora de Alcobaça. Ali, na fronteira entre os concelhos de Alcobaça e Porto de Mós, desfrutando de uma paisagem deslumbrante, diferente e de uma ruralidade cativante, que se estende até ao Atlântico, um grupo de espanhóis conversavam e riam-se, mas mudaram de semblante assim que a conversa virou para… outros futebóis. Enquanto apreciavam a paisagem proporcionada do miradouro, mas sem tenções de aproveitar as máquinas de fitness do ginásio ao ar livre ali instalado foi-lhes recordada, uma vez mais, a estória de Brites de Almeida, a famosa Padeira de Aljubarrota…

Conversa que até poderia ter continuado com uma reconfortante chávena de café e água fresquinha na sede do Clube Motard Montanelas, em Casais Monizes, não se desse o caso de muitos espanhóis estarem pouco conversadores. Alguns nem aproveitaram um divertido momento no baloiço criado por este grupo, onde a Peugeot 103 doada por um sócio teve direito a mais fotografias do que talvez desde que foi instalada, em 2020. Com vistas sobre a serra do Montejunto e até da Arrábida, que só os últimos aventureiros do pelotão puderam apreciar depois de levantar a neblina matinal, muita foi a diversão num dos mais originais baloiços que agora se encontram no topo de quase todas as serranias portuguesas.

Sal de mar a 30 quilómetros da costa?

Com estradinhas bem engraçadas e com a temperatura a subir, pouca foi a vontade para visitar a capela de Alcobertas, monumento megalítico de carácter funerário, construção típica do Neolítico Final, classificado entre os dez maiores da Península Ibérica e é obra única em Portugal, já que do dólmen nasceu a atual igreja matriz. Mas se poucos foram os que apreciaram o rico interior da Igreja de Santa Maria Madalena, datada dos finais do século XV e um raro exemplo de cristianização de um ancestral monumento megalítico, menos ainda foram os que não pararam em Rio Maior. Nas únicas salinas interiores existentes em Portugal, e as únicas que se encontram em pleno funcionamento na Europa, tempo para cirandar pelas construções de madeira que serviram os salineiros e agora acolhem outros negócios. Quem mais cedo abriu portas bem ganhou o dia, tamanha era a vontade de levar uma recordação, quiçá salgada, deste Lés-a-Lés.

Casinhas com uma história curiosa de outros tempos, onde o álcool, ao contrário do que que sucede nos dias de condução do Lés-a-Lés em que é completamente desaconselhado, era quase imprescindível e em grandes doses para aquecer o corpo e a alma face ao trabalho duro, em ambiente frio e extremamente húmido. Uma referência curiosa às tabernas que existiam no local, e onde os taberneiros iam apontando o que os clientes bebiam em tábuas que ficavam à vista de todos, ‘encorajando’ o pagamento que era feito no final da safra, com sal. Por falar nisso, sabia que a palavra salário, do latino ‘salarium’ que quer dizer literalmente, ‘pagamento com sal’? Afinal esta era uma forma de retribuição muito corrente no Império Romano, dado o enorme valor numa época em que os frigoríficos nem sequer eram uma miragem e esta era a única forma de conservar a carne e outros bens alimentares.

Quanto às salinas de Rio Maior, com a primeira referência à sua existência datada de 1177 embora seja provável que o aproveitamento do sal-gema se fizesse desde a Pré-história, viu alguns dos segredos desvendados pelos elementos da Cooperativa Agrícola dos Produtores de Sal, pelos elementos do Moto Clube e pelas simpáticas funcionárias da Câmara Municipal de Rio Maior que, além de picarem o 10.º ponto na tarjeta ainda ofereciam uma água. Quem, era naturalmente potável e foi bebida com agrado, ao contrário da água das salinas. Que muitos dos aventureiros da maratona organizada pela Federação de Motociclismo de Portugal ficaram a saber que resultam de uma época em que o mar cobria esta zona, agora a mais de 30 km da costa, criando uma uma longa jazida de sal-gema. Agora, a a água que desce desde as serras circundantes pelo subsolo, fica 7 vezes mais salgada do que a do mar sendo atualmente retirada de um poço com recurso a uma bomba de elevação. Depois, tal como nas salinas da beira-mar, a exposição ao vento e o sol faz com que água se evapore, deixando o sal depositado nos talhos construídos em terra ou cimento.

Mas Rio Maior não tem só as salinas sendo também conhecida como a cidade do desporto graças às inúmeras e premiadas infraestruturas desportivas, de variadas modalidades, incluindo o Sports Centre, um dos mais modernos e versáteis complexos desportivos da Europa. Estrutura que tem servido de berço a muitos campeões de diversas modalidades e que a caravana foi apreciando na rápida passagem pela cidade, famosa ainda pelas mocas que ficaram como um dos símbolos de afirmação popular no 25 de novembro de 1975. Foram uma das ‘armas’ que ajudaram a colocar um ponto final no Verão Quente, evitando aquilo que poderia ser a origem de uma guerra civil e uma divisão entre o sul, maioritariamente dominado pelos reacionários, e o norte, mais conservador.

Da capital da pele à esplanada frente ao Castelo de Almourol

Passando ao lado do Castelo de Alcanede e bem pelo centro da estreante Alcanena, a ‘capital da pele’ plena de curiosidades eleitorais, tempo para uma pausa no mototurismo na pouco cativante passagem por Torres Novas e Entroncamento, recomeçando em Vila Nova da Barquinha. Pelo meio passagem pela Zibreira, terra de Telmo Pereira, o primeiro piloto com licença portuguesa a vencer uma prova de um Campeonato do Mundo de motociclismo em pista. No caso do Mundial de Endurance no traçado belga de Spa-Francorchamps, em 1999, exatamente na altura em que Miguel Oliveira ganhou… a sua primeira moto de 4 rodas. E que, durante a presença da Suzuki-Shell no Mundial de Endurance fez equipa com Alex Laranjeira, participamte habitual no Portugal de Lés-a-Lés. E que, “agora reformado, nem pensar em falhar esta oportunidade única estar com amigos e de fazer algo que dá tanto prazer: andar de moto e conhecer melhor Portugal”.

Depois do café na sede do GM Montanelas, já lá iam mais de duas horas desde a partida de Alcobaça, tempo para um mais substancial reforço alimentar junto ao Rio Tejo, com o privilégio de poder apreciar, pela primeira vez, o Castelo de Almourol desde a margem norte. Com fundações que remontam, pelo menos, ao Sec. I, e imensas lendas em seu redor, o castelo conquistado aos Mouros em 1129 por D. Afonso Henriques e entregue aos cavaleiros da Ordem dos Templários para proteção dos territórios entre Lisboa e Coimbra serviu de pano de fundo ao Oásis BMW, verdadeira esplanada sobre o Tejo. Onde, depois de passar os sempre impressionantes Templários e Damas da Corte dos Motards do Ocidente, havia água, café, pão com chouriço, lanches e fruta, reforço alimentar que ajudou nas conversas, antes da saída rumo a Constância, a Punhete onde Luiz Vaz de Camões terá vivido cerca de uma década, já lá vão quase 500 anos, e que a população, desencantada com o nome, mudou para o atual.

Quem gostou desta passagem, fresca e tranquila, foi Vítor Olivença, que trocou a BMW R1200 GSA por uma mais apelativa Casal Carina, a única scooter verdadeiramente portuguesa. Que apesar de, garante o proprietário, “dar muito menos problemas que a Carina que a ofereceu, a verdade é que já obrigou a duas paragens não programadas. Na primeira etapa foi o cabo da embraiagem desapertado a deixar a máquina sem força para andar, problema rapidamente resolvido com o apoio da equipa ‘oficial’ do importador da Lambretta, e a segunda o cachimbo da vela partida”. Que, qual MacGyver resolveu em poucos minutos, com recurso à imprescindível ‘fita americana’ e a duas abraçadeiras de plástico”. Isto sem contar com uma pequena queda, “perfeitamente escusada, mas normal para quem está mais habituado a conduzir motos com rodas grandes! Nada de grave”, garantiu, mantendo a mesma boa disposição que o levou a encetar “um desafio diferente, movido pela vontade de superação, com uma moto que foi oferecida pela namorada (Ana Carina) no dia do 49º aniversário”. O que a juntar aos 61 anos da Carina – da scooter não da namorada – dá a bela soma de um século. Acrescente-se, para quem gostar de desafios matemáticos, que este número é mais do dobro da velocidade máxima em subida!

E lá foi até ao Oásis do Sardoal, vila onde ‘Ninguém é de Fora’ que os habitantes fzem questão de tornar mais acolhedora com flores nas fachadas das casas, e onde a água bem geladinha era acompanhada por doçaria regional, incluindo as famosas tigeladas, que deixou os mais gulosos bem satisfeitos. Para os outros, os que preferem salgados ou frutas, valeu a paragem em Mação, onde o MAC TT preparou o mais surpreendente almoço volante da jornada, com melão e presunto, tostas com mel, mirtilos e uns morangos deliciosos. Tudo produtos da terra! Na terceira passagem do Lés-a-Lés por território de madeireiros, tempo para acrescido peso cultural, com a visita ao Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado no Vale do Tejo onde muitos aproveitaram também para refrescar-se, aproveitando o ar condicionado, antes da descida aos vales do Tejo e Ocreza.

Belver, Gavião e Nisa foram outros pontos de passagem antes da entrada no Parque Natural da Serra de São Mamede, área de eleição para o mototurismo com estradinhas deliciosas em redor da Ribeira de Nisa, rumo a Castelo de Vide. Na ‘Sintra do Alentejo’ com um autarca, António Pita, que é amigo dos motociclistas e do Lés-a-Lés em particular, tempo para mais um petisco, servido nos Paços do Concelho, antes da visita à recém-inaugurada Casa da Inquisição. Momento terrífico do dia, já que, de forma hiper-realista, são mostradas algumas das atrocidades cometidas na Idade Média pela Igreja Católica em nome do cristianismo. De forma pedagógica e elucidativa, são apresentadas as diferentes fases de um processo inquisitorial, que, segundo alguns registos, terão ditado que 1175 pessoas fossem queimadas vivas e 633 em ‘representação’ entre 1540 e 1761.

Estabelecida em maio de 1536 e operando até março de 1821, a Inquisição Portuguesa prendeu, torturou e condenou a vários tipos de penitências cerca de 30 mil pessoas, números que muitos historiadores afirmam pecar por defeito. Entre elas, Guiomar Mendes, cristã-nova castelo-vidense presa pela Inquisição de Lisboa em 1662, cuja história desde o momento em que entrou no cárcere até ao minuto final, ou seja, o auto-de-fé, serve de guião a esta exposição.

Figuração tão realista – instalada na setecentista Casa do Morgado de grande valor histórico-arquitetónico – com modelos feitos a partir de voluntários, munícipes de Castelo de Vide, a que se juntaram as ‘figuras imóveis’ do Moto Clube do Porto, causadores de emoções fortíssimas e um grande impacto em alguns participantes mais sensíveis. No entanto, todos foram unânimes em considerar esta experiência baseada na realidade aumentada, como deveras interessante, permitindo transportar o visitante para outra época, entrando um universo histórico-sociológico diferente numa experiência única e singular. Afinal, estas visitas são uma das mais-valias do Portugal de Lés-a-Lés.

Com a etapa a aproximar-se a passos largos do final, tempo para mais umas estradinhas de eleição para o mototurismo, rumo à sempre espetacular Marvão, com circuito pelo centro da vila. ‘Procissão’ bem organizada para evitar cruzamentos nas ruas apertadas, antes da saída por ruelas e calçadas, até ao último Oásis do dia, em Portagem. Junto ao Rio Sever e com o apoio da edilidade e do moto clube local, tempo para uma bifana e mais dois dedos de conversa. Já muito perto de Portalegre, chegada conhecida de 2018 mas agora no final de um dia mais simples e de intenso prazer turístico, lugar aos sorrisos mais abertos já a pensar da derradeira tirada até Faro, longa de 465 km – a mais comprida desta edição – mas bastante rolante através do Alentejo, via Arronches, Campo Maior, Mourão, Moura, deixando depois a zona raiana rumo a S. Marcos Ataboeira, Almodôvar, Malhão e Salir antes do apoteótico final de festa na Capital do Motociclismo.

Última etapa do Portugal de Lés-a-Lés ligou Portalegre a Faro numa aventura sem igual

De festa em festa até à Capital do Motociclismo

Se fosse necessário escolher uma música para banda sonora da 3.ª etapa do 27º Portugal de Lés-a-Lés, a escolha mais óbvia recairia nas Quatro Estações, de Vivaldi. A justificação é simples! É que apesar do calor que acompanhou a caravana na maior parte dos 465 quilómetros entre Portalegre e Faro, por vezes mais forte do que em alguns dias de Verão, houve um forte vento outonal que obrigou a cuidados redobrados na condução, uma chuvada intensa quase invernal e momentos de frescura primaveril. Como no arranque da jornada, pelo Parque Natural da Serra de São Mamede onde baixou significativamente o número de motociclistas envergando apenas uma t-shirt por debaixo do colete identificativo do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal.

Além do mais, as negras nuvens carregadas de fortes ameaças de chuva aconselhavam um maior aconchego na travessia de um Alentejo de cores diferentes. Ao invés dos tons entre o amarelo-dourado e o castanho-claro que normalmente cobrem os campos nesta altura do ano, dominava uma mescla com verdes pouco usuais, resultado de uma instabilidade climatérica que se vem fazendo sentir há algum tempo. Ainda assim foi com um ambiente divertido que se fizeram à estrada os cerca de 1500 motociclistas, para uma etapa longa mas bastante andadeira, passando Alegrete(s) rumo a Arronches, a primeira das várias paragens para esticar as pernas e despertar a alma, simpatia do Município e do Grupo Motard local. E onde António Silva, um dos ‘loucos’ que durante dez anos divertiu-se com uma série de amigos de Santo Estevão a fazer o Lés-a-Lés de motorizada, estava bem mais relaxado do que habitualmente.

“Depois de tanta adrenalina e diversão com as cinquentinhas, este ano a participação no Lés-a-Lés foi a prenda dos 60 anos oferecida à família”. À esposa Ana Isabel, com quem partilhou a BMW F650 bem mais confortável que a Sachs V5, aos 3 filhos, cada um em sua moto, e a dois sobrinhos. Encarando a grande aventura de uma forma “diferente, mais turística e menos empenhada em termos de ritmo, deu para apreciar melhor as propostas de descobertas turísticas ao longo do percurso”. Como Ouguela, onde ninguém passa a caminho de lado algum. É preciso querer visitar para fazer o desvio e descobrir um castelo de grande importância durante as disputas territoriais entre portugueses e castelhanos.

Agora é uma aldeia quase deserta, mas orgulhosa do seu passado que muitos registaram para futura visita sem validar a opção agora proposta, seguindo de imediato para Campo Maior. Onde havia água e fruta, porque hidratar é imprescindível e manter o corpo alimentado, de forma leve, também. Café? Como a caravana estava na terra ‘dele’ nada como experimentar as esplanadas em redor, reforçando o negócio e convivendo com as gentes da terra. Que o Portugal de Lés-a-Lés também é isto!

Caravana volta a ser emboscada por bandidos

Como também é saber onde fica o Forte de Graça, vislumbrado da estrada, ou que a barragem do Caia, que forma a maior albufeira do distrito de Portalegre, está com o nível próximo do máximo. Por falar em água, a chegada a Elvas anuncia-se pelo imponente aqueduto que abastecia a cidade que já foi conhecida como a rainha da fronteira, por ser a mais importante praça-forte da raia e a cidade mais fortificada da Europa. É maior que a capital de distrito, Portalegre e a 3.ª maior cidade do Alentejo, atrás de Évora e Beja.

Curiosidades anotadas no pedagógico ‘road-book’ que, porém, não preparava nenhum participante para o ‘assalto’ ocorrido em Juromenha, mais um depois da emboscada preparada logo no dia inaugural, pelo bando do Zé do Telhado, em Penafiel. Na pequena aldeia do município do Alandroal, separada de Espanha apenas pelo Guadiana, um grupo de ‘bandidos’ esperava os mais incautos motociclistas. Protagonizados pelos elementos do Moto Clube do Porto em mais um espetáculo teatral, depois da assinalável presença principesca na Torre de Vilharigues, em Vouzela, e de figuras que de tão reais até se mexerem na Casa da Inquisição, em Castelo de Vide, ficou a conhecer-se o bando do Robin dos Rabiosques. Que, sempre com o fiel Frei Truca-Truca, as Arcueiras (ler com atenção redobrada!), com seu arco e flechas, e uma Mariconete, recordaram aquele que foi um ponto fulcral na defesa no território português conhecido como a Sentinela do Guadiana.

Uma curta, mas muito fotográfica visita ao castelo de Terena, lembrou que este fazia, juntamente com a fortaleza de Juromenha e o castelo do Alandroal, um triângulo defensivo de particular importância na Guerra da Restauração da Independência, no Séc. XVII… Mas, com tanta História, já se parava para duas de conversa e uma água fresquinha. O que aconteceu no excelente Oásis Outlander-X mesmo em frente à Ermida da Srª da Boa Nova, o santuário mariano mais antigo a sul do Tejo. Ali, junto ao edifício Erigido no Séc. XIV sobre antigas construções de cultos pagãos, os representantes da Can-Am preparam um verdadeiro e agradável reforço alimentar, com bons e variados petiscos doces e salgados, fruta variada , água e café para todos.

Quem não perdeu oportunidade para descobrir uma das poucas igrejas-fortalezas que chegou em bom estado aos nossos dias, destacando-se a construção em estilo gótico e a rara planta cruciforme, foi Luís Simões, um os quatro totalistas à partida nas 27 edições do Portugal de Lés-a-Lés. Que salientou “esta igreja como uma verdadeira surpresa pela relevância das pinturas, embora tenha de reconhecer a enorme espetacularidade do Portal do Inferno e Garra, em Arouca, local que nunca tinha visitado”. E isto apesar dos 211 mil quilómetros feitos com a Yamaha Virago 535 de 1997, que o acompanhou em todas as edições do Lés-a-Lés, tal como o bem coçado blusão de couro!

Optou por não ir ao Cromeleque de Xeres, por já conhecer o monumento megalítico composto por 50 menires de granito com alturas entre 1,20 e 1,50 m e deu o tempo poupado no desvio como bem empregue, aproveitando para conhecer a Praia Fluvial de Mourão e refrescar a garganta em mais um Oásis proporcionado pela autarquia e pelos elementos do MC Mourão. E aproveitou as tendas armadas para se proteger, juntamente com muitos outros participantes, de uma enorme e repentina chuvada. Que apanhou alguns motociclistas desprevenidos a caminho da nova aldeia da Luz, onde foi possível visitar o Museu da Luz, criado para preservar a memória das alterações ocorridas neste território por força da construção da barragem e da submersão da aldeia original pelas águas do Alqueva em 2002.

O surpreendente festival em Moura

Água, sempre água, era o que mais se esperava em Moura, onde estava marcado mais um Oásis. Mas aquilo que era suposto ser um local de paragem para comer e beber, tornou-se numa verdadeira romaria, deixando a Praça Sacadura Cabral, via central da cidade alentejana, em exclusivo para as motos. E com música de baile ao vivo houve quem não perdesse o ensejo de um pezinho de dança enquanto esperava pelas bifanas ou aproveitava as sombras das muitas esplanadas que rapidamente ficaram completamente lotadas. Oásis a cargo dos amigos do Moto Clube de Moura, que comemoram 25 anos, e da Associação de Festas de Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Moura, antecipando as grandiosas festividades que decorrem de 16 a 21 de julho. E que, como as mulheres da associação fizeram questão de dizer alto e bom som, terá um cartaz de luxo com artistas como David Carreira, Nuno Ribeiro, Buba Espinho, Bandidos do Cante, Zé Amaro, Marta Santos ou os Calema. Um bom motivo para regressar a Moura, cujo castelo acolhe a nascente da água mineral natural gaseificada da centenária marca Castello.

Com a estrada a encurtar para Faro, passagem por Baleizão, terra afamada por Catarina Eufémia, que se tornou símbolo da resistência do Alentejo à ditadura depois de ser assassinada com três tiros pela GNR durante uma manifestação e por São Marcos da Ataboeira. Onde a Honda brilhou com as já imprescindíveis bolas de Berlim, em jeito de sobremesa para alguns ou como um lanche para os que partiram mais tarde. Gulodice que aumentou o apetite para uns quilómetros na mítica N2, com passagem na estrada património entre Castro Verde e Almodôvar, partindo aí para uma subida cheia de história

Popularizada junto dos ciclistas e palco de momentos épicos na Volta ao Algarve, o alto do Malhão, onde Jonas Vingegaard garantiu o triunfo no contrarrelógio e na Geral, perante João Almeida por 15 segundos já é conhecido do Lés-a-Lés. A passagem pelo alto era obrigatória, mas sempre com muito cuidado na condução porque umas simpáticas vaquinhas tratavam de saltar para a estrada quando menos se esperava.

Era o controlo número 18 e último deste 27º Portugal de Lés-a-Lés, com a imagem de marca do Moto Clube de Albufeira, antes da espetacular descida rumo a Salir, onde se começou a notar a transição da serra algarvia para o Barrocal. O palanque na praça Manuel Bívar estava à distância de um saltinho bastando passar por Estoi, por onde já andou a caravana do Lés-a-Lés, então com mais tempo para visitar as ruínas romanas de Milreu, o famoso Palácio de estilo Rococó e a igreja-matriz. Depois de umas voltas pelos quintais da região, com estradinhas estreitas entre muros, e mais uns quilómetros de N2, chegada à Capital do Motociclismo, com passagem obrigatória pela verdadeira ‘Catedral’ que é a sede do Moto Clube de Faro, para a grande festa. A festa de quem acaba de realizar 1263 quilómetros de descoberta de um Portugal por muitos desconhecido, plenos de surpresas paisagísticas, arquitetónicas e histórias. E sempre as gentes, tão diferentes, tão genuínas, tão portuguesas. Porque isto é o Portugal de Lés-a-Lés.

1º Portugal de Lés-a-Lés Classic (2025)
Bragança - Chaves - Vila Nova de Famalicão - Lamego
De 8 a 11 de Maio de 2025

A Primeira Grande Exibição Dinâmica de Motos Clássicas em Portugal

Ao longo dos últimos anos tem-se assistido a uma constante necessidade de manter e preservar motos que deixaram um forte vínculo emocional nos sonhos e na vida de várias gerações de motociclistas. A evolução notável que as motos sofreram nas últimas décadas, em todas as suas vertentes, trouxe novas experiências mas acabou com outras não menos especiais. São precisamente essas experiências místicas que desapareceram com a evolução dos tempos que procuramos reviver no Lés-a-Lés Classic.

O 1º Lés-a-Lés Classic pretende levar a passear motos clássicas que marcaram gerações convidando-as a sair das garagens e dos museus para que nos possam encantar novamente com todo o seu esplendor e estilos próprios, proporcionando-nos uma experiência multissensorial que não está ao alcance de museus.

REPORTAGEM

Festa do 1.º Portugal de Lés-a-Lés Classic começou em Bragança

Aventuras mesmo antes do arranque… da aventura

Novidade absoluta no mundo das duas rodas, o Portugal de Lés-a-Lés Classic reuniu em Bragança mais de uma centena de motos antigas e clássicas para a edição de estreia da nova aventura criada pela Federação de Motociclismo de Portugal. Que, na primeira etapa do evento, vai levar uma caravana de motos fabricadas entre 1928, a mais antiga, e 1995, ano limite para as máquinas presentes, de Bragança até Chaves.

Reunindo motociclistas portugueses e muitos espanhóis entre os 18 e os 80 anos, Beatriz Mendes é a mais jovem entusiasta no pelotão do 1º Portugal de Lés-a-Lés Classic, estreando-se nestas andanças à pendura do pai Pedro, numa Honda NSR 125 de 1992. “Super contente com a presença e com grandes expetativas sobre tudo o que vai rodear este passeio”, Beatriz reconhece que não foi difícil convencer o pai. Que, por seu turno, confessa que só reparou que a filha “ia faltar à escola já depois de fazer a inscrição. Caso contrário… vinha à mesma, de tão entusiasmada que estava”.

Uma aventura com 177 quilómetros de extensão no primeiro dia que, saindo do Castelo de Bragança, de onde partiu o 1.º Lés-a-Lés, em 1999, e também o 1.º Lés-a-Lés Off-road, em 2015, atravessará o Parque Natural de Montesinho, sempre pela zona raiana até Rio de Onor, usufruindo de estradas desertas, bosques mágicos e aldeias perdidas no esquecimento. Daí a Moimenta será um saltinho para o almoço, servido ao ar livre num local de enorme carga histórica, bem próximo do marco que dividia os reinos de Portugal, Leão e Galiza. E sempre com muitas curvas em estradas de bom piso e belíssimo enquadramento paisagístico, vai o pelotão até à romana Aquae Flaviae, com direito a exposição das verdadeiras relíquias sobre rodas no Jardim das termas.

Ponto final de uma jornada que conta com algumas das máquinas que estiveram presentes na estreia da maratona mototurística criada pela FMP em 1999 e outras que repetem a experiência. Como a Indian Scout de 1928, que Luís Pinto tinha já levado a terras brigantinas “para a partida do 10.º Lés-a-Lés, em 2008, rumo a Sagres. Se na altura não teve qualquer problema, agora, a caminho de fazer um século, está ainda mais preparada para estas aventuras”.

Mas, aventura verdadeira, bem à moda antiga, viveu Daniel Paixão que demorou quase 8 horas para a viagem entre Coimbra e Bragança. “E a moto não teve culpa, bem pelo contrário, aguentou tudo e mais alguma coisa. O problema são as modernices como o GPS que teimava em indicar o caminho pela autoestrada e IP’s onde a Macal M70 não podia andar. O resultado é que, entre outros desvios, não houve hipótese de evitar a passagem pelo meio das vinhas na zona do Douro, em percursos todo-o-terreno”.

Algo que não estava previsto para a pequena cinquentinha fabricada em 1988. Que chegou sem problemas à partida para o 1.º Portugal de Lés-a-Lés Classic. E que estará, seguramente, à chegada a Lamego, no domingo, depois das passagens por Chaves e Vila Nova de Famalicão, naquela que é uma oportunidade única de fazer regressar à estrada motos antigas e clássicas e com uma envolvência bem diferente do habitual.

O Gabinete de Imprensa

1.º Portugal de Lés-a-Lés Classic

Chuva não roubou brilho à estreia do Lés-a-Lés Classic!

Nordeste foi palco de ode ao mototurismo

Um céu carregado de nuvens negras onde o sol apenas conseguiu mostrar-se fugazmente e de forma tímida, alguns aguaceiros intimidatórios, nevoeiro q.b. e uma temperatura que desaconselhava retirar os agasalhos não roubaram o brilho à 1ª etapa do Portugal Lés-a-Lés Classic. Tão pouco impediram os sorrisos bem abertos no rosto dos participantes na chegada a Chaves, depois de 199 km do mais prazenteiro mototurismo desde Bragança. A torre de menagem de um dos castelos fundamentais na História Nacional serviu de excelente pano de fundo às motos clássicas e antigas que dali partiram para a mais recente aventura criada pela Federação de Motociclismo de Portugal.

Forma de reviver e honrar o arranque do 1.º Portugal de Lés-a-Lés no já longínquo ano de 1999, a estreante edição Classic começou bem no coração de Bragança, com os primeiros mototuristas a saírem para a estrada debaixo de um tempo invernoso, com chuva e um céu tão escuro que só os mais otimistas conseguiam vislumbrar sinais de melhorias climatéricas. Mesmo assim ninguém se acanhou, até porque os adeptos das motos com mais anos de vida são malta de rija têmpera. Que não ficaram nada atrapalhados quando, alguns, tiveram de começar o dia com sessões forçadas de mecânica…

Foi o caso de Luís Pinto, o dono da moto mais antiga do pelotão, a Indian Scout de 1928 que fez birra depois de passar a noite à chuva, obrigando a limpar o magneto que teimava em não dar sinais de vida mesmo antes da partida. Ou a Yamaha XT600 de Bernardo Rego com o motor a falhar depois da água isolar a vela daquela que, curiosamente, era a moto mais recente do grupo (1986). E que só voltou à estrada depois da intervenção do experiente e precavido Francisco Sanchez, que trazia toda a ferramenta necessária na sua Triumph 3T de 1948. Menos sorte (ou, pelo menos, mais trabalho) teve Jorge Teixeira que, graças a um problema no carreto de uma roda teve de deixar pelo caminho o side-car da Vespa Sprint V 150. Mas conseguiu seguir viagem ainda que apenas em duas rodas…

Mas se o nevoeiro e a chuva não deixaram desfrutar de uma natureza frondosa a verdade é que criaram um ambiente único, com misticismo que quase fazia adivinhar o aparecimento de um personagem medieval após cada curva. Também por isso, o percurso foi feito com cuidados acrescidos porque estas motos, fabricadas entre 1928 e 1995, são, na sua elegância histórica, quase todas desprovidas de ABS, controlo de tração ou outras ajudas eletrónicas à condução, normais nas máquinas mais recentes.

Algo sensível no empedrado à saída do castelo de Bragança, na ponte romana de Gimonde ou em algumas das 92 aldeias espalhadas pelos cerca de 75 mil hectares do Parque Natural de Montesinho. Da quase deserta Guadramil até Rio de Onor, aldeia dividida a meias entre o concelho de Bragança e o município espanhol de Pedralba de la Pradería, pertencente à província de Zamora. De onde, sublinhe-se, partiu o original Lés-a-Lés em 1999, e onde Ângelo Moura esteve presente com a mesma Yamaha TDM 850, de 1991, que alinha agora no Classic.

No verdadeiro santuário da natureza, com autênticos bosques encantados em plena Terra Fria Transmontana tempo para apreciar verdadeiros tesouros paisagísticos derivando para a parte final da EN 308, os mais belos quilómetros desta estrada que pode proporcionar uma entusiasmante viagem de mais de 300 quilómetros até Darque (Viana do Castelo). Com o grego Zeus, o romano Júpiter ou o nórdico Thor, deuses venerados pelas respetivas civilizações quando a questão é o clima, divertidos a brincar com os participantes, o tempo ia dando umas tréguas, para, a espaços, melhor desfrutar da envolvente paisagística das excelentes estradas como a municipal M501 até França ou da surpreendente N103-7 até Meixedo, e depois o regresso à N308, rumo a Moimenta, local do já aguardado almoço.

Antes, e entre as nuvens ameaçadoras no horizonte e alguns promissores raios de sol, paragem em Vilarinho, onde o apicultor Luís Correia carrega o fardo de revitalizar a aldeia, com boa ajuda das abelhas das suas 900 colmeias. O mel e outras delícias locais foram o mote para a paragem na Apimel, funcionando como um aperitivo para o repasto que seria servido uns quilómetros adiante. E que, por força da instabilidade do tempo, trocou o aprazível parque de merendas junto à histórica Fraga dos Três Reinos (que marcava os limites de Portugal, Galiza e Leão) pela sede da Associação Cultural e Recreativa de Moimenta da Beira, onde, com a ajuda dos prestáveis elementos junta de freguesia, se criou um ambiente mais acolhedor e menos… molhado.

A festa à espera em Chaves

Mas, contrariando o dito popular de “merenda comida, companhia desfeita”, continuou a caravana rumo à romana Aquae Flaviae, com o sol a permitir que, pelos menos alguns motociclistas, tirassem o melhor partido de um ambiente que pouco tem a ver com o Lés-a-Lés original. Ambiente bem mais sereno, com condutores maduros, mais interessados em desfrutar das paisagens e das próprias motos do que comerem quilómetros… só porque sim.

Por isso, nada melhor que aproveitar as curvas da larga e bem desenhada N103, atravessando os lugares de Salgueiros, Zido, Sobreiró de Baixo, Curopos, Rebordel, antes da travessia do curioso rio Rabaçal que não tem nascente nem foz. É criado pela união das águas de vários regatos galegos e, ao juntar-se ao Tuela, ganha o nome de de rio Tua. Travessia ainda de Lebução, Bolideira (que alguns aproveitaram para descobrir a curiosidade geológica com o nome do local, uma pedra de várias toneladas que é possível fazer balançar com um dedo apenas…), Águas Frias e Faiões antes chegada triunfal ao Jardim das Termas. Onde, depois da amizade do Moto Cruzeiro de Bragança, na véspera, foi a vez do Grupo Motard de Chaves fazer as honras da casa, com uma receção como só os transmontanos sabem proporcionar.

Tempo de confraternização (com o sol a agraciar todos os participantes do 1.º Portugal de Lés-a-Lés Classic depois de um dia ‘temperamental’) com os ‘obrigatórios’ Pastéis de Chaves acompanhados por umas cervejas e conversas à volta as motos estacionadas na Alameda do Tabolado. De onde partirão, na manhã de sábado, para a segunda etapa, com 165 quilómetros de estradas entre o pitoresco dos carvalhais do Barroso e das aldeias de terras de Basto e a ponta final no industrializado do Vale do Ave. Pelo meio, duas visitas de sonho a coleções particulares de motos antigas, pontos altos de um dia que promete mais uma dose soberba de mototurismo.

O Gabinete de Imprensa

1.º Portugal de Lés-a-Lés Classic

Chuva, museus e estradas fabulosas no Lés-a-Lés Classic!

Dia de grandes paixões clássicas

Se os motociclistas são pessoas especiais, aqueles que professam a paixão pelas motos clássicas e antigas são realmente únicos. Não fraquejam perante as mais inclementes condições climatéricas, tão pouco desistem quando surgem problemas mecânicos. E mais: andam sempre com um enorme sorriso no rosto! Mesmo perante chuva, saraiva, chuvinha, nevoeiro, aguaceiros ou granizo como o que caiu durante a ligação entre Chaves e Vila Nova de Famalicão, percurso da 2.ª etapa do 1.º Portugal de Lés-a-Lés Classic.

E são muitos os testemunhos entre aqueles que saíram do flaviense Jardim das Caldas desafiando as ameaças de mau tempo, seguindo pela M507 em direção à fronteira luso-espanhola, com passagem por Soutelinho da Raia e Mexide, antes da visita a Vilar de Perdizes. Sempre por deliciosas estradinhas de forte pendor mototurístico, chegou a caravana a uma terra de fé e de crendices, de feitiços e feiticeiros, rodeada de gravuras rupestres e símbolos pagãos que ajudaram a cimentar o reconhecimento na História da Medicina Popular. Em boa parte, graças ao Padre Fontes, que todos os anos atrai milhares de visitantes a esta aldeia, completamente deserta à hora da passagem dos madrugadores aventureiros

Daí a Montalegre é, normalmente, um saltinho, pela agradável M508 passando por Meixedo, mas, desta vez, a viagem demorou bastante mais. A ‘culpa’ foi do apaixonado colecionador José Costa que abriu as portas do seu Armazém de Memórias aos participantes na aventura mototurística da Federação de Motociclismo de Portugal. Com um acervo que “conta com mais de 600 motos e motorizadas, metade em fase de restauro, espalhadas por Barcelos, Paços de Ferreira, Marco de Canavezes e outros locais” este antigo empresário da construção civil coleciona veículos de duas e quatro rodas, mas também relógios de parede, rádios, telefones e porcelanas, há mais de 40 anos. “Criar um museu? Com tanta burocracia necessária é mais fácil e gratificante ter um espaço aberto para aqueles que realmente gostam do tema”. Pragmatismo de quem ganhou o vício “ao recomprar o Peugeot 403 do pai, o que tem maior valor sentimental, tendo depois comprado outros automóveis, como o Buick de 8 cilindros em linha, aquele que é o mais entusiasmante, em que, se pudesse, andaria todos os dias”.

Mas são as motos que despertam maiores paixões “tendo cerca de 300 modelos em exposição nos 1300 metros quadrados, que serão reposicionados quando terminar o patamar superior com mais 650 m2. Reconhecendo que “é muito difícil escolher a moto mais significativa entre tantos e tão bonitos modelos”, José Costa garante que “a coleção vai continuar a crescer, procurando sempre as mais raras que foram fabricadas em Portugal”.

Joias que se vão juntar à Motobecane de 1919, a mais antiga em exposição (curiosamente do mesmo ano do Ford T que está do outro lado do grande pavilhão), e que têm o futuro garantido. É que os dois filhos e os quatro netos gostam do Armazém de Memórias, conhecendo bem a história de alguns modelos raros como uma Famel Victoria ou a Aprilia que não é… italiana. Chama-se Luxe Modelo e foi montada em território nacional na década de 60 do século passado, destacando-se pelos dois pares de amortecedores na traseira e um relógio montado de série!

Surpresa enorme para muitos dos participantes no 1.º Portugal de Lés-a-Lés Classic como foi o caso de Francisco Sande e Castro, ex-pilotos de motos e automóveis, espantando porque nunca pensou que “houvesse tantas marcas portuguesas de motorizadas”. Lamentando ter de seguir viagem “sem poder desfrutar de tantas máquinas bonitas, curiosas e muito bem recuperadas”, voltou aos comandos da Yamaha Ténéré que comprou há 35 anos e sempre manteve, para cumprir a estreia no Lés-a-Lés. Mesmo se reconhece que evita andar em grupo, “encontrando maior prazer em viajar a solo”, tendo mesmo dado já a volta ao mundo.

Com alguma dificuldade em deixar o ‘Armazém’ de José Costa, lá seguiu a caravana com a ajuda do chamariz que é sempre o almoço, confecionado pela equipa da Comissão de Mototurismo da FMP e servido em Salto, já em terras de Basto. Para trás ficaram troços mais rápidos sempre com paisagens verdejantes das nacionais 308 e 103, entremeados pelas passagens surpreendentes em algumas estradas municipais, bordejando a albufeira do Alto Rabagão até ao almoço e depois continuando por um dos mais bonitos momentos do dia. Instantes em que nem a chuva intensa diluiu um sentimento único ao passar pelos centenários bosques de Torrinheiras, Travassô, Moinhos de Rei, Bucos e Rossas, terminando na mais larga, mas não menos espetacular N205. Mais momentos de intenso prazer mototurístico, por entre carvalhos e robles, numa estrada protegido por rails de madeira.

Estrada mais ‘macia’ para o sofrimento da BMW R26 (1959) de João Paulo Dias, com o quadro partido na véspera fixo por reparação de fortuna, com um sistema “feito a partir de peças metálicas existentes em qualquer casa de ferragens” e que surpreenderia qualquer engenheiro. No entanto, a boa disposição, do condutor e de todos os amigos do grupo, continuou intacta, tal como a de Vasco Barbosa que voltou a contar com o side-car da Vespa 150 Sprint V que tivera de desmontar na véspera com problemas mecânicos, fazendo o resto da etapa apenas em duas rodas.

Com voltas e voltinhas para fugir ao trânsito e locais menos interessante graças à forte pressão habitacional e industrial do Vale do Ave, chegavam os mototuristas, ainda molhados mas felizes, a Vila Nova de Famalicão. E enquanto o Moto Clube Escorpiões se preparava para receber os visitantes bem no centro da cidade e já com contributo do sol, ainda havia outra paragem antes do palanque final. A coleção privada de José Artur Campos Costa, vice-presidente da Federação de Motociclismo de Portugal e apaixonado pelas motos de competição.

Uma coleção começada pelo tio, António Augusto Carvalho nos anos 1950, “considerado o primeiro verdadeiro colecionador de automóveis em Portugal, e que não ligava assim tanto a motos, mas que acabou por ficar com algumas que eram oferecidas quando comprava alguns carros”. Assim teve início o espólio que Campos Costa “começou a aumentar depois de regressar da Alemanha, na década de ’80, juntando por exemplo a primeira moto grande pessoal, a Honda CB750 de 1970, curiosamente também a primeira CB Four a ser matriculada em Portugal”. Máquina que partilha o espaço com uma FN Four de 1910, com motor de quatro cilindros em linha, a Indian Hendee Special, de 1914, com bloco V2 de 1000 cc e muitas motos de corrida.

Algumas curiosidades dos tesouros desta verdadeira gruta de Ali Babá: A Suzuki XR34, pilotada no Mundial de 500 cc em 1980 por Graziano Rossi, que deu o nome ao filho Valentino; a Yamaha OW F2 com que Wayne Rainey foi Campeão do Mundo de 500 cc em 1982; a Honda Fireblade com que Michael Rutter ganhou o Grande Prémio de Macau em 2012; ou a Suzuki GSX-R 750R da equipa portuguesa Suzuki/Shell vencedora das 24 Horas de Spa-Francorchamps em 1999.

Frutos de uma paixão intensa, pelas motos clássicas e de competição, que quase deixou o coração de Campos Costa dividido. “Se não fosse esta visita dos participantes do Portugal de Lés-a-Lés Classic, estaria no Grande Prémio de França, com a exposição do Spirit of Speed. Mas é um gosto tão especial mostrar estes modelos a verdadeiros aficionados que nem sequer houve dúvida…”.

Os participantes agradeceram o cuidado e, já com sol na chegada, começaram a pensar na terceira e última etapa do evento que, no domingo, levará a caravana de V.N. Famalicão a Lamego, ponto final de uma aventura que vai deixar saudades.

O Gabinete de Imprensa

1.º Portugal de Lés-a-Lés Classic

Terminou em grande o 1.º Portugal de Lés-a-Lés Classic

O dia de todas as joias

Ponto final de um evento histórico, a festiva chegada a Lamego marcou o encerramento do 1.º Portugal de Lés-a-Lés Classic, com muitos sorrisos na hora da despedida da aventura organizada pela Federação de Motociclismo de Portugal. E que, ao longo de três dias e pouco mais de 500 quilómetros, levou uma caravana muito heterogénea de Bragança a Chaves, seguindo para Vila Nova de Famalicão de onde rumou à até ao centro da cidade lamecense, com o palanque montado em frente à escadaria da Senhora dos Remédios. Onde os condutores (e alguns passageiros) de motos fabricadas entre 1928 e 1995 chegaram felizes, ao fim de 159 quilómetros, esquecendo a intempérie que marcou presença constante e agradecendo a receção do Clube Automóvel de Lamego.

Chuva que parecia afastada do horizonte na saída de Famalicão por quelhos e veredas, por vezes com pisos bastante irregulares, mal necessário para fugir ou pelo menos minimizar a passagem por zonas de elevada densidade populacional e industrial. Quilómetros iniciais com passagem em Ceide, onde Camilo Castelo Branco viveu e morreu no ano em que são comemorados dois séculos do nascimento do genial escritor. Outro ponto de interessante paragem seria Roriz, onde o Mosteiro de São Bento de Singeverga alberga os monges beneditinos que possuem o segredo do famoso licor. Mas também ainda era cedo para beber pelo que o melhor mesmo foi arrepiar caminho.

Paisagens menos interessantes que, naturalmente, interferem com o bem-estar de qualquer condutor e que só melhoraram a partir de Paços de Ferreira e, sobretudo, da visita ao Museu da Mota Antiga de José Pereira. Onde mesmo os motociclistas com maior experiência de vida e até alguns colecionadores pareciam autênticos miúdos em loja de brinquedos. A descoberta desta verdadeira caverna de Ali Bábá criou enorme surpresa em quem nunca a tinha visitado e mesmo aqueles que conheciam esta exposição, voltaram a abrir a boca de espanto. Afinal é impossível, numa ou duas ou até em três visitas, conhecer minimamente um acervo de mais de 1500 motos, motorizadas, ciclomotores e scooters. Sempre bem enquadrados por toneladas de memorabilia, num museu que está, seguramente, ao nível dos melhores do Mundo, com coleção supercompleta de todas as montagens com motor Pachancho. Um simples exemplo a que se poderiam acrescentar muitas dezenas de modelos raros, como a Moto Guzzi Mulo Meccanico 3×3, um triciclo de três rodas motrizes e utilizou pela primeira vez o agora inconfundível motor V2 transversal. Ou exemplares de praticamente todas as Famel EFS produzidas na Borralha, em Águeda, bem como a francesa Griffon, de 1901, a mais antiga em exposição. Ponto alto do dia, que só por si, valeria bem a viagem!

Mais pérolas depois de almoço

Verdadeiro aperitivo antes do almoço servido em Celorico de Basto, onde esperava uma reconfortante jardineira, lembrando a célebre edição do Portugal de Lés-a-Lés de 2010. Repasto tanto mais apreciado por marcar o final do sofrimento causado pelo péssimo estado da estrada nacional 101-4, impedindo desfrutar de centenas de bem desenhadas curvas. E que antecipou uma sobremesa de luxo, servida sob a forma de intenso prazer de condução, subindo a paisagística N304 rumo à Campeã. Momentos deliciosos para todos, mesmo se alguns sentiram mais dificuldade em chegar ao topo da serra do Alvão. Que o diga Eduardo Leal que por pouco não precisou de empurrar a pequena Gilera Storm, “tal como havia acontecido logo no primeiro dia, na subida para Montalegre. Aqui subiu bem… a velocidades entre os 10 e os 20 km/h”. Teria sido bem mais fácil e confortável com a BMW K1600 que ficou em casa, mas o espírito é outro!

Depois do almoço, em Cabeceiras de Basto, surgiu todo um novo mundo para o mototurismo, com três das mais bonitas e procuradas estradas nacionais para os amantes do prazer de condução e paisagens incomparáveis. Depois da N304, seguiu-se um pouco da N15, da Campeã até parada de Cunhos, e daí até Lamego a Estrada Património N2, verdadeira joia da coroa. Mais curvas para todos os gostos, com o sol a ultrapassar alguma timidez para saudar os todos os rijos participantes. Incluindo o totalista de presenças no Portugal de Lés-a-Lés, Ângelo Moura que nem hesitou um segundo “ao saber da realização do Classic, mais uma excelente oportunidade de rever amigos, passear de moto e conhecer o País, com o bónus de poder apreciar um rol de motos que atravessa todo o século XX, que marcaram a vida da minha geração e que nos dizem muito”.

Aos comandos da mesma Yamaha TDM 850 com que em 1999 esteve à partida de Rio de Onor rumo a Sagres, o ex-presidente da Câmara Municipal de Lamego reconhece que “este evento superou as melhores expetativas, com um excelente ambiente e grande convívio, com uma organização sempre à altura dos acontecimentos e a que nem as agruras do clima roubaram brilho. E terminar em Lamego, em pleno Douro Vinhateiro, terra onde os motociclistas são sempre tão bem recebidos, tal como aconteceu, por exemplo, em 2018, quando aqui terminou a 2ª etapa do Lés-a-Lés é verdadeiramente a cereja no topo do bolo”.

Final em festa do 1.º Portugal de Lés-a-Lés Classic, evento que colocou à prova as ‘velhas senhoras’ de duas rodas, mas também os motociclistas. O tempo frio e a chuva, por vezes muito intensa e até com granizo, podem ter limitado o ritmo na estrada, mas não impediram desfrutar totalmente da maratona turística levada a cabo pela Federação de Motociclismo de Portugal. Até porque, no final de cada dia, a animação das meninas do palanque, Lynn e Luísa; os cuidados mecânicos da equipa da Motoval; e a atenção às mazelas físicas por parte dos osteopatas Edgar e Miguel da OsteoMotus, ajudava a recuperar o ânimo para novo dia de aventuras. Venham as próximas aventuras porque esta… ponto final. Até 2026!

O Gabinete de Imprensa

1.º Portugal de Lés-a-Lés Classic