O Portugal de Lés-a-Lés é uma aventura anual mototurística que desde 1999 concilia a resistência física à vertente turística com o objectivo de cruzar Portugal de extremo a extremo contemplando paisagens e lugares de enorme esplendor. Aquela que se tornou a maior caravana mototurística do mundo passou agora também a pontuar para o World Touring Challenge da FIM!
Apresentação Oficial revelou percurso inovador, para motociclistas rijos
Aí está um Lés-a-Lés à moda antiga!
Num entusiasmante arranque oficial do 26.º Portugal de Lés-a-Lés, as centenas de motociclistas que se deslocaram à Figueira da Foz descobriram novidades que reforçaram a expetativa de uma aventura à moda antiga. Um percurso bem rijinho, pelas mais desertas estradas raianas, incluindo uma passagem de fronteira até território espanhol. E com a garantia das mais intensas paisagens, num caleidoscópio de emoções fortes entre Portimão e Penafiel, com paragens em Évora e Covilhã.
Apresentação Oficial revelou percurso inovador, para motociclistas rijos
Aí está um Lés-a-Lés à moda antiga!
Num entusiasmante arranque oficial do 26.º Portugal de Lés-a-Lés, as centenas de motociclistas que se deslocaram à Figueira da Foz descobriram novidades que reforçaram a expetativa de uma aventura à moda antiga. Um percurso bem rijinho, pelas mais desertas estradas raianas, incluindo uma passagem de fronteira até território espanhol. E com a garantia das mais intensas paisagens, num caleidoscópio de emoções fortes entre Portimão e Penafiel, com paragens em Évora e Covilhã.
Na Apresentação Oficial, no Malibu Foz Hotel, os sussurros de espanto sucederam-se à medida que o percurso ia sendo desvendado, com início natural pelo Passeio de Aventura, no dia 6 de junho. Que levará os participantes a descobrir (ou revisitar) as belezas do concelho portimonense, incluindo as praias da Rocha, do Vau e do Alvor. Arranque tranquilo, num dia que incluirá as indispensáveis Verificações Documentais e Técnicas, antes da madrugadora partida rumo a Évora. Será a primeira etapa, em cenários de beleza ímpar através da serra algarvia, cruzada de Oeste para Este e com um promissor regresso ao vale do Vascão. Repositório de tantas memórias aventureiras ao longo de um quarto de século da maior maratona motociclística da Europa.
Entre o bucolismo e o regresso à História
Desenhado através das zonas mais remotas de Portugal Continental, a grande e heterogénea caravana do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal viverá um momento alto em Mértola, com uma receção em grande festa. Momento mais bucólico no cais do Pomarão, onde o antigo local de embarque do minério oriundo das Minas de São Domingos a caminho das siderurgias servirá de palco a um inédito e surpreendente Oásis. Sítios de peso histórico também nesta edição 2024 do Portugal de Lés-a-Lés serão os regressos ao Pulo do Lobo e a Barrancos.
Tempo de matar saudades com animada paragem numa terra com um dialeto próprio e tradições muito próprias devido ao isolamento histórico. Depois de recordar a vila onde a caravana vibrou com a vitória da Seleção de Portugal por dois golos, de Deco e Cristiano Ronaldo, frente ao Irão, em jogo da fase de grupos do Mundial de Futebol de 2006, o ‘road-book’ oferecerá a possibilidade de visitar o Castelo de Noudar. Uma opção para os mais radicais, numa ligação em terra batida para visitar o Monumento Nacional que domina nas margens do rio Ardila, curso de água que acompanhará os motociclistas até Moura, apontando depois às margens do Alqueva e daí até ao centro histórico de Évora, com passagem por Reguengos de Monsaraz.
Internacionalização com música e porco no espeto
Bem no coração da cidade reconhecida pela UNESCO como Património Mundial partirá a segunda etapa, a menos dura e mais rolante ao longo de 460 quilómetros, através do Alto Alentejo, com passagem pelo Crato até Vila Velha de Rodão. Onde o renovado espaço envolvente da Torre do Rei Vamba permitirá desfrutar de espetaculares e ímpares vistas sobre as Portas do Rodão. Desta escarpa sobranceira ao Tejo e de grande importância estratégica desde o Séc. XII, há que arrepiar caminho até Tinalhas, no concelho de Castelo Branco, onde o Moto Clube local faz questão de dar a conhecer o busto que homenageia o Padre José Fernando. E que estará ao lado de outras peças em pedra, ligadas ao motociclismo, incluindo o Arcanjo São Rafael, protetor e padroeiro de todos os motociclistas, ou a homenagem ao Moto Clube de Faro.
Que deverá proteger o colorido pelotão na incursão em terras espanholas através da fronteira de Monfortinho sobre o rio Erges, para nova visita às instalações da Motoval em Valverde del Fresno. Depois de cumprimentar o representante da Dunlop que há vários anos apoia o Lés-a-Lés e onde sempre existe música e porco no espeto, o regresso a Portugal será feito por Penamacor. E com direito a receção no renovado espaço do centro histórico e no castelo.
Paragem para respirar um pouco e ganhar fôlego antes de atacar os últimos quilómetros até à Covilhã, cidade amiga dos motociclistas e que é privilegiada porta de entrada na Serra da Estrela. Na Capital dos Lanifícios, a proposta é de aproveitar o final de tarde e início da noite para apreciar a arte urbana na cidade com mais murais por metro quadrado.
Mais dureza a encerrar
Mas nada de distrações com as horas porque a terceira e última etapa do 26.º Portugal de Lés-a-Lés, mesmo sendo a mais curta com cerca de 370 quilómetros, será a mais exigente, obrigando a mais horas de condução.
Desde a saída da Covilhã até Penafiel praticamente não existe uma reta, começando por abordar as curvas que levarão até aos 1500 metros de altitude da Nave de Santo António antes da descida a Manteigas, entrando num dos concelhos com a floresta mais bem preservada em Portugal. Com o Norte no horizonte, regresso a uma estrada utilizada há 20 anos, no 5.º Lés-a-Lés, até Gouveia, desfrutando das belezas da Serra da Estrela antes da entrada no planalto beirão via Fornos de Algodres.
Com a grande aventura a aproximar-se do final, tempo para novas serranias, com passagem pelo vale do rio Távora, a descida ao Pinhão – que detém o recorde de temperatura máxima em território nacional – subida a Sabrosa, passagem por Vila Real, serra do Alvão, Lamas de Olo e Vale do Poio em direção Cabeceiras de Basto. Desta terra que sempre recebe tão bem os motociclistas, sobe-se no mapa até ao extremo norte desde Lés-a-Lés, com visita ao fabuloso parque de atividades radicais DiverLanhoso. E daí até Vizela onde o tradicional bolinhol poderá ser apreciado no jardim do Parque das Termas, criado entre 1884 e 1886 e que possui uma quantidade de árvores gigantes como nenhum outro parque ou jardim português. Verdadeiro pulmão de Vizela onde começa a ser feito o balanço de mais uma presença no Portugal de Lés-a-Lés, pensando na chegada a Penafiel depois de fazer tantas horas de condução como aquelas que nos levariam até à capital Dinamarca, Copenhaga. E, com a bênção da Senhora do Sameiro, atravessar o palanque de chegada numa edição que se antevê durinha, para motociclistas aventureiros e rijos, independentemente da máquina utilizada. É que o Lés-a-Lés volta a ser uma aventura para todas as motos, mas não para todos os motociclistas…
E se os primeiros corajosos aproveitaram a presença na Figueira da Foz para concretizar a inscrição que os colocará nos primeiros lugares da caravana, os restantes podem fazê-lo a partir do dia 26 de março e até 19 de maio, no site da Federação de Motociclismo de Portugal.
O Gabinete de Imprensa
Portugal de Lés-a-Lés
Lés-a-Lés arrancou em Portimão com visita ao palco de MotoGP
Turismo em palco de corridas!
Sol, praia, esplanadas, amigos, motos e… corridas! Assim foi o primeiro dia do 26.º Portugal de Lés-a-Lés, num ambiente relaxadamente turístico e pleno de sorrisos, descobrindo alguns dos pontos mais interessantes do concelho de Portimão. Um Passeio de Abertura que animou o programa de festas do centenário de elevação a cidade, levando os participantes a revisitar algumas das mais emblemáticas belezas locais, da espetacularidade das tranquilas paisagens das praias da Rocha, do Vau e do Alvor, com areais magníficos e águas cálidas, até à adrenalina sentida no Autódromo Internacional do Algarve.
Mesmo sem colocar os pneus pagãos em asfalto sagrado, a oportunidade única de visitar o mesmo espaço que recebe anualmente Miguel Oliveira & Companhia, deu para sentir o cheirinho das mais importantes competições do Mundo das duas rodas. Do MotoGP ao Mundial de Superbikes, que regressa a esta freguesia da Mexilhoeira Grande de 9 a 11 de agosto, e com direito a 20% de desconto nos bilhetes comprados na hora. E deu até para ver e ouvir o cantar os motores de Moto2, Stocksport 600 e Moto3, em testes de preparação para a 3.ª prova do FIM Junior GP, de 21 a 23 de junho no traçado algarvio.
Mais uma das inúmeras vantagens de participar no evento organizado desde 1999 pela Federação de Motociclismo de Portugal a que se juntam muitas outras. Como os descontos em combustíveis BP ou pneus Dunlop além, claro está, dessa oportunidade única de descobrir um País realmente ímpar, de gentes e paisagens incomparáveis, de uma fauna e flora riquíssimas, de uma arquitetura e história que a todos deve honrar. Isto, claro, sem esquecer a gastronomia, os costumes e as lendas que representam e dão alma a Portugal.
Passeio de contrastes
Um arranque tranquilo, da mesma cidade que, em 2001 assistiu à partida da 3.ª edição da aventura, então ainda no formato de 24 horas ‘non-stop’, mas sem tamanha animação e com um palanque bem mais modesto. Uma festa que começou cedo, com as indispensáveis Verificações Técnicas e Documentais, garantia que todos os participantes cumprem os requisitos legais e de segurança para andar na estrada. O palco, montado na ampla zona ribeirinha, nas margens do rio Arade, vestiu-se de cor e animação, com motos de todos os tamanhos e feitios. Das enormes Honda GoldWing ou BMW K1600 ao pelotão das pequenas cinquentinhas.
Gente destemida, com longos quilómetros de aventuras e diversão nas Casal, Famel ou Sachs, que chegou de Santo Estevão, freguesia de Benavente. Com muitos autocolantes do Lés-a-Lés comprovativos de inúmeras presenças, trouxeram, em 2024, uma equipa de 8 elementos. Menos do que o costume – em 2023 foram 25, em jeito de homenagem à 25.ª edição da grande maratona… –, mas, ainda assim, mais de metade dos ciclomotores presentes, contando com a presença do bem conhecido Rodolfo Sampaio. Ex-piloto de grande calibre no Nacional de Enduro e Todo-o-Terreno na década de 1990, com vários títulos no palmarés que arranca para o seu segundo Lés-a-Lés com a mesma pequena e curiosa ‘chopper’ Honda baseada numa Monkey. Que “depois de rolar desde Santo Estevão, e de fazer os mais de 1000 quilómetros do evento, há de regressar a casa sempre por estradas nacionais. Porque esse é o verdadeiro espírito desta aventura! Afinal, a viagem de ida para o ponto de partida e o regresso desde a cidade de chegada são parte integrante desta fabulosa passeata”, remata o sempre bem-disposto Rodolfo Sampaio.
Um passeio de inúmeras e surpreendentes descobertas. Como aconteceu no Museu de Portimão que, de forma simples e divertida, num espaço moderno, eloquente e com muita variedade, explica as várias fases históricas do concelho e os seus personagens. Espaço museológico instalado numa antiga fábrica de conservas de peixe, explicando de forma extremamente vívida os vários passos desta indústria. Desde a chegada e preparação do peixe até ao processo de embalagem. Não menos importante é a síntese do desenvolvimento social, económico e cultural das comunidades locais, começando na pré-história com um precioso diorama do monumento megalítico de Alcalar, onde passaria a caravana um pouco mais tarde. Numa viagem bem mais rápida que os seis anos que demorou a concretizar esta espetacular maqueta!
Museu que muitos viram com enorme atenção – até porque estava mais fresco do que no exterior… – aproveitando para conhecer detalhes da presença islâmica ou dos mesteres ligados à navegação e atividade piscatória, passando por uma espetacular exposição de um projeto de fotografia que documenta os locais de detenção contemporâneos chamado “The Portuguese Prison Photo Project”.
Desafios para todos os gostos
Um desafio que muitos dos participantes aceitaram, bem mais do que aqueles que responderam positivamente ao desafio lançado pelo ‘road-book’ de passear, a pé, pela Paisagem Protegida da Ria de Alvor e descobrir a fauna e flora de uma lagoa alimentada por 4 ribeiras (Odiáxere e Arão, Farelo e Torre). Mas o tempo quente e abafado tornava-se mais apelativo para momentos de relaxe, desfrutando calmamente de uma refeição numa das muitas esplanadas na vila piscatória de Alvor. Ganhando apetite para a travessia da freguesia da Mexilhoeira Grande rumo ao Autódromo Internacional do Algarve, onde foi possível sentir a adrenalina da competição, antes de visitar outro ponto de interesse, bem mais antigo e de uma monumentalidade diferente. A composição megalítica de Alcalar foi, há cerca de 5000 anos, parte integrante de um amplo povoado que era lugar central do território que vai da Ria de Alvor ao sopé da Serra de Monchique.
Visitado que estava o destaque histórico do dia, tempo para regressar à casa de partida, em plena zona ribeirinha de Portimão, fazendo nova travessia do Rio Arade. Isto já bem perto da foz onde termina o trajeto de 75 km desde a nascente na zona do Malhão, em plena serra do Caldeirão, de um rio que foi de grande importância na época dos Descobrimentos, quando era navegável até Silves. O mais importante curso de água do Barlavento Algarvio e o segundo rio de maior caudal, depois do Guadiana, divide a serra xistenta do barrocal calcário e tem uma fauna e flora riquíssima e muito diversificada, ao longo dos sapais onde existem inúmeras áreas de nidificação.
Voltinha curta mas recheada que terminou com o jantar servido no moderno espaço multifuncional criado na Antiga Lota de Portimão, mesmo junto à Ponte Velha, no final de um dia longo, iniciado com as Verificações Técnicas, que tanta animação gerou na zona ribeirinha do Arade. E de onde arrancarão os aventureiros na madrugada de sexta-feira, a partir das 6 horas, rumo a Évora, numa tirada longa de 460 quilómetros, com 10 horas de condução para atravessar a serra algarvia de oeste para este, subindo depois rumo ao Alentejo sempre na zona raiana. Dia de paisagens variadas e muitas curvas onde não faltam vários Oásis para ir repondo as energias.
O Gabinete de Imprensa
Portugal de Lés-a-Lés
Portugal Lés-a-Lés levou caravana de Portimão até Évora em dia excelente para a prática da modalidade
Políticos, campeões e outras lendas
É do mais eclético que se possa imaginar a caravana do 26.º Portugal de Lés-a-Lés. Como a de todos os anos, aliás! Entre as muitas e muitas centenas de motociclistas que ligaram Portimão a Évora, num dia bafejado por uma meteorologia excelente para o turismo sobre duas rodas, havia gente de todo o País e com todos os níveis de experiência. Incluindo muitos estreantes na grande maratona organizada, desde 1999, pela Federação de Motociclismo de Portugal. Mesmo se alguns destes novatos contam com imensa experiência na condução de motos… de corridas.
É o caso de Miguel Praia que, depois de títulos nacionais de velocidade e da presença durante várias épocas no Mundial de Superbikes e Supersport, estreou-se, finalmente, no maior evento mototurístico da Europa. “Há mais de 20 anos que queria fazer o Lés-a-Lés e, este ano, a sair literalmente da porta de casa, não podia deixar de participar. Finalmente os astros alinharam-se e foi possível marcar presença, aproveitando esta parceira com a Yamaha que cedeu uma Teneré 700. As crianças ficaram com a avó e aproveitamos para uma verdadeira lua-de-mel”, contava na chegada a Évora um sorridente Praia. A quem bastou o primeiro dia para bater o recorde de distância alguma vez percorrida numa moto de estrada. Num percurso que considerou “super divertido até Mértola, com curvas em bom piso, antes de uma parte menos interessante na passagem das longas retas alentejanas”.
Depois de receber todos os participantes no Passeio de Abertura no Autódromo Internacional do Algarve, o ex-piloto de Albufeira equipou-se a rigor e fez-se à estrada. Com o cunhado como companheiro de equipa e as esposas à pendura. Bruno Correia, que é outro nome lusitano em destaque no desporto motorizado mundial, conduzindo o Safety Car do Mundial de Fórmula E e o Medical Car da Fórmula 1.
No Lés-a-Lés viveu uma experiência bem diferente. “Muito divertida e felizmente com uma moto que permitiu fazer os vários caminhos de terra sem dificuldade de maior”. Verdadeiras autoestradas não pavimentadas que, apesar do natural inconveniente de criar algum pó, permitiram aos participantes molhar um bocadinho dos pneus na travessia do quase seco rio Vascão – onde o Moto Clube de Albufeira picava as tarjetas enquanto as já famosas vaquinhas faziam a festa aos que passavam –, mas também nos desvios opcionais ao Pulo do Lobo ou ao Castelo de Noudar.
Das pistas aos campeonatos turísticos
Dono de longa e profícua carreira no motociclismo desportivo é também Alexandre Laranjeira, uma das figuras incontornáveis no Nacional de Velocidade nos anos de 1980 e ’90. No seu palmarés destacam-se dois títulos de Campeão Nacional, em 1988 e 1991, a vitória na classe SBK no GP de Macau e o 4º lugar nas 24 Horas de Liége, na pista de SPA Francorchamps. Entre 1991 e 1996 conquistou 35 vitórias em SBK e, em tempo de reforma ativa – ainda faz uma perninha nas pistas portuguesas… - não perde uma oportunidade para voltar ao evento que atravessa um País que diz “descobrir a cada viagem”. Reconhece que ficou “completamente viciado no Lés-a-Lés após a primeira experiência e esta já é a quarta presença”. Este ano, com uma Benelli 702 TRK, descobriu mesmo uma terra com o seu nome: a pequena aldeia de Laranjeira, no concelho de Loulé. A primeira de várias árvores de fruto atravessadas ao longos dos 460 quilómetros entre Portimão e Évora, seguindo-se os lugares de Pessegueiro, Pereirão ou Figueira.
Curiosamente este Lés-a-Lés marcou a estreia em solo nacional de um potencial campeão. Ou melhor, de um forte candidato à sucessão do português José Fonseca como vencedor individual do FIM Touring World Challenge. Isto num campeonato onde o Moto Clube do Porto arrisca a conquista do pentacampeonato no capítulo coletivo.
O italiano Moreno Crestale, recém-chegado das provas da Suíça (20.000 Lieux Sur Les Mers) e Lituânia (Bikers Night), onde se cruzou com muitos portugueses, sofreu um pouco nos pisos de terra com a imponente Honda Gold Wing, mas adorou o encontro com a “Bianka das Neves e os 7 morcões mineteiros” no controlo criado pelo MCP na passagem de um túnel junto ao antigo cais do Pomarão. Onde o moto clube local, Falcões das Muralhas, fez questão de franquear as portas da sua sede para dar a provar doçaria regional e matar a sede num dia que começou fresco mas aqueceu à medida que o trajeto desviava para norte, chegando aos 30 graus na zona da Amareleja. Tempo bem fresco para uma das localidades mais quentes de Portugal e onde o Lés-a-Lés já passou com 47º!
Presença de moto clubes ao longo do percurso que é verdadeiramente imprescindível, contribuindo com simpatia e boa disposição, além de ajudar a reconfortar os estômagos. Como aconteceu também em Barrancos, onde Os Pata Negra serviram, com a ajuda empenhada da vice-presidente da autarquia local, Cláudia Costa, mais de 1700 sandes de porco preto assado no espeto. Visita que, durante algum tempo, mais que duplicou o número de almas de um concelho que conta 1300 habitantes.
O lendário porco preto, a que juntou o não menos lendário presunto transmontano fatiado em Mértola por um animado grupo de barcelenses, devidamente identificados com peluches do tradicional galináceo que dá corpo à famosa lenda do peregrino salvo pelo cacarejar do galo assado.
De olhos postos na Estrela e nas eleições
Assim, passada a grande azáfama do primeiro dia, o Lés-a-Lés fez-se à estrada para cumprir a ligação entre Portimão e Évora, num dia que, felizmente, não cumpriu as previsões de um calor abrasador. E que etapa esta, com 10 horas de condução através cenários de beleza ímpar pela serra algarvia, cruzada de Oeste para Este. Ainda com Portimão a encher os retrovisores, bastaram pouco mais de uma dezena de quilómetros para começar o festival de curvas através da serra de Monchique. E tão animado ia o pelotão que quase nem reparava no passadiço do Barranco do Demo com a sua espetacular ponte suspensa na ligação entre a aldeia de Alferce e o Castelo, com mais de 50 metros de comprimento e construída a 20 metros do solo. Ficou, a visita, para outra ocasião, quando houver tempo suficiente para levar de vencida os cerca de 7 quilómetros (para cada lado…) e os mais de 500 degraus que sobem serra acima e descem cerro abaixo. Era tempo de seguir viagem e aproveitar as muito panorâmicas curvas sobre a Ribeira de Odelouca. Cujas águas ajudariam, mais à frente, a lavar o pó acumulado nos primeiros 500 metros em terra batida, logo após a passagem em São Marcos da Serra, que muitos conhecem vista de fora, do IC2, nas idas e vindas pela nacional ao Algarve, mas poucos tinham alguma vez visitado.
Como foi o caso dos ex-deputados Rodrigo Ribeiro e Miguel Tiago, presenças assíduas na última década do passeio, divertidos com a condução exigente até Mértola e aproveitando todas as paragens para colocar a conversa em dia. É que, apesar das cores políticas bem diferenciadas, a paixão pelas duas rodas criou laços entre os dois que, “com muita pena de ambos”, vão-se separar a meio da segunda etapa. Isto porque Tiago, do PCP, estará no apoio às mesas de voto do distrito de Setúbal nas eleições para o Parlamento Europeu, tendo que regressar a casa mais cedo. Ato eleitoral que levou o advogado ‘laranja’ a pedir o voto antecipado “para poder fazer tranquilamente toda a viagem até Penafiel”.
E porque os motociclistas são previdentes, nunca deixando para amanhã o que podem fazer hoje, a maioria exerceu já o dever cívico, votando de forma antecipada, como aconteceu com o presidente da Direção da Federação de Motociclismo de Portugal, Manuel Marinheiro. Que, assim, não gastará o dia em reflexão pré-eleitoral, antes desfrutando do trajeto de 460 quilómetros entre Évora e a Covilhã. Percurso pensado para proporcionar 9 horas e 40 minutos de estradas variadas, bem como inúmeras descobertas de imponência paisagística, histórica e arquitetónica.
O Gabinete de Imprensa
Portugal de Lés-a-Lés
Portugal Lés-a-Lés leva ‘fiesta’ mototurista bem para lá das fronteiras
Quando as promessas são cumpridas!
Numa verdadeira ode ao mototurismo, a 2.ª etapa do 26.º Portugal de Lés-a-Lés, a mais longa de 2024, levou uma caravana muito heterogénea de Évora à Covilhã, num dia marcado pelo cumprimento de várias promessas. Desde logo pela anunciada diversão ao longo de um pouco mais de 400 quilómetros de estradinhas de deliciosa condução, mas também pela expetativa gerada pelo clima. O céu plúmbeo, de um tom de cinza intimidatório, esteve todo o dia no horizonte dos aventureiros, mas a ameaça não se cumpriu e apenas umas pingas de chuva, já com a serra da Estrela à vista, levaram alguns impermeáveis a sair das malas.
Nada que tenha importunado os sempre precavidos motociclistas que, desde a fresca e madrugadora saída da Arena D’Évora rodaram sob agradáveis temperaturas primaveris, rondando os 20º C durante quase todo o dia. Jornada menos dura e mais rolante do que na véspera, com ‘apenas’ 9 horas e meia de condução, através do Alto Alentejo, com passagem pelo Crato até Vila Velha de Rodão. Despedida sentida, rodeando as muralhas da cidade reconhecida pela UNESCO como Património Mundial, rumo à rápida e ondulante N18, entre sobreiros, cedros e azinheiras, olhando de soslaio sobre Évoramonte, Estremoz, Sousel, Fronteira e Alter do Chão com o seu belo castelo.
Viagem que começou com uma paisagem mais verde do que o normal para esta época do ano, graças às chuvas tardias e onde a neblina matinal quase encobria um facto extremamente curioso. É que a mais antiga moto presente no evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal fumegava um pouco mais do que o costume. A indestrutível Jawa 250 Perak, fabricada em 1952 na ex-Checoslováquia, estava a consumir… gasóleo! Uma distração do sempre confiante Hélder Alves que, na 12ª presença no Lés-a-Lés aos comandos da Jawa garantiu que “não seria por utilizar um combustível diferente que a moto ia ficar pelo caminho”. E, a verdade, é que não ficou, prosseguindo viagem rumo à ‘Manchester portuguesa’ não sem antes parar na pequena e bonita aldeia de Flor da Rosa.
Onde a BMW Motorrad proporcionou um reforço do pequeno-almoço, comido ali, nos relvados debruados de casinhas brancas e amarelas, ou esticando as pernas na visita ao paço e antigo convento, transformado em Pousada da Flor da Rosa.
Arquitetura para todos os gostos
No entanto, era desaconselhado gastar demasiada concentração com a mistura arquitetónica deste edifício, que junta necessidades religiosas, civis e militares, em estilos tão diversos como o gótico, manuelino, mudéjar, renascentista e contemporâneo. É que a excelente estrada até ao Tejo tinha muitas e boas curvas, com os níveis de adrenalina a serem repostos um pouco depois de Vila Velha do Rodão, no Oásis da Honda, num belo jardim junto ao rio e com vistas sobre as Portas do Rodão.
Paragem retemperadora antes de seguir viagem até ao renovado espaço envolvente da Torre do Rei Wamba, onde as espetaculares vistas sobre as Portas do Rodão ficaram algo encobertas pelas nuvens que teimavam em esconder o sol. Junto à fortificação criada para impedir invasões – mas que não chegou para parar os franceses em 1807 – os Motards do Ocidente deram um ar da sua graça, recordando a lenda da maldição lançada pela condenada mulher do rei visigótico, morta atada a uma pedra de mó lançada pela colina abaixo.
Paródia que teve de ser explicada calmamente e com alguma mímica a Pierluigi Uberti e Antonella Barone, um casal de italianos, apaixonado pelo nosso País e que, há 5 anos, trocaram a Itália natal por Portimão. Ávidos por descobrir as paisagens e histórias de Portugal, descobriram o Lés-a-Lés em 2023 e, entusiasmados, repetiram agora a dose. Felizes por haver sempre alguém que ajuda a decifrar as lendas e costumes, mas também com o novo ‘road-book’ eletrónico DMD2. Inovação tecnológica que, sem abdicar de todas as informações que criaram a fama destes livrinhos de itinerários durante 25 anos, facilita a navegação.
“Agora tudo é muito mais fácil, indicando os quilómetros até ao ponto seguinte, enquanto com o papel era tudo complicado, um verdadeiro stress”, conta Pierluigi. Que acrescenta que “apesar de alguma confusão do próprio sistema quando os caminhos se cruzam ou sobrepõem, criando informação de erros onde estes não existem, a verdade é agora a pendura pode apreciar a paisagem tranquilamente e divertir-se”. Diversão que haveriam de viver de forma intensa um pouco mais à frente no percurso.
Homenagens eternizadas em granito
Da escarpa sobranceira ao Tejo e de grande importância estratégica desde o Séc. XII, houve que arrepiar caminho até Tinalhas, através de bem asfaltadas estradas. Já no concelho de Castelo Branco, na pequena aldeia com cerca de 500 habitantes, os 30 sócios do grupo Motard D’Atestar mostraram a forte ligação ao motociclismo, perpetuada no granito, seja na homenagem ao Padre José Fernando ou na interpretação do Cumprimento Motard como no Arcanjo São Rafael, protetor e padroeiro de todos os motociclistas.
Uma receção simplesmente fabulosa onde não faltou enorme animação, reforçada pela presença do grupo Trotto Saltarello, interpretando novas variantes, bem modernas, da música medieval, juntando instrumentos de cordas, sopro e percussão. Festa a que se associou a NEXX, com divertido jogo de argolas, onde a pontaria mais certeira era premiada com golas ou t-shirts, revelando inusitadas estratégias para enfiar os aros nos respetivos pinos. E houve também lugar a reparações de fortuna em alguns dos capacetes fabricados na Anadia, com disponibilização de viseiras, parafusos, forros e outras peças.
Presença que não passou despercebida em Tinalhas foi a do presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco. “Agradavelmente surpreendido pelo dinamismo e dimensão do Portugal de Lés-a-Lés”, Leopoldo Martins Rodrigues garante a continuidade da colaboração com o GM D’Atestar, “ligação muito interessante, com pessoas que gostam de motos e da sua terra e que vêm valorizando Tinalhas ao longo dos anos”. Para o autarca, “esta passagem do Lés-a-Lés foi um desafio ganho, mas existem outras ideias e projetos. Estão a ser procuradas as condições para que, numa próxima edição, seja possível pernoitar em Castelo Branco de modo a termos uma presença ainda maior e mais forte desta família motociclística”.
Entre o divino e o profano
Proteção divina, esta da estatuária de Tinalhas, que levou em segurança total o colorido pelotão na incursão em terras espanholas através da fronteira de Monfortinho sobre o rio Erges, depois de passar Zebras e Orca, mas também Monsanto e Penha Garcia, com referência obrigatória às filmagens do ‘blockbuster’ Guerra dos Tronos: Casa do Dragão. Já do lado de lá, através de uma estrada de excelente asfalto, grande diversão pela Serra da Gata, atravessando as ruelas mais estreitas de Cilleros, mas sem tempo para dar ouvidos ao ‘road-book’ que encorajava uma escapadinha a San Martin de Trevejo, pitoresca aldeia de arquitetura medieval.
O tempo era necessário para visitar as instalações da Motoval em Valverde del Fresno, onde foram manifestamente cumpridas as promessas de ‘una gran fiesta’. Depois de cumprimentar o representante da Dunlop que há vários anos apoia o Lés-a-Lés e assistir a uma tão divertida quanto desajeitada demonstração de dança sevilhana, o regresso a Portugal foi feito por Penamacor.
Que necessitou de alguma ginástica para acolher a passagem da grande caravana no renovado espaço do centro histórico e no castelo de Penamacor. Onde, além do último Oásis do dia, estava prometida a grande aventura, numa descida de três minúsculos degraus de pedra após a panorâmica volta ao castelo na Vila do Madeiro.
Paragem para respirar um pouco antes de atacar os últimos quilómetros novamente pela N18 até à Covilhã, cidade muito amiga dos motociclistas e que é privilegiada porta de entrada na Serra da Estrela. Com passagem no local da concentração invernal dos MC da Covilhã Lobos da Neve e no maior cerejal do País, com as mais de 50 mil cerejeiras da Quinta das Rasas. Cujas cerejas foram oferecidas no palanque final, junto ao Estádio Municipal José dos Santos Pinto, também local para um jantar extremamente agradável. Cuja digestão foi feita, por alguns dos mototuristas, com um passeio pela Capital dos Lanifícios, aproveitando o final de tarde e início da noite para apreciar a arte urbana na cidade com mais murais por metro quadrado.
Últimos momentos de descontração no 26.º Portuga de Lés-a-Lés antes da última etapa que levará os resistentes desde a Covilhã até Penafiel, numa tirada longa e muito exigente, com uma média horária que será muito baixa. Mas onde as paisagens e muito motivos de interesse ajudarão a superar o esforço que se exige numa verdadeira aventura. Uma aventura à moda antiga…
O Gabinete de Imprensa
Portugal de Lés-a-Lés
Lés-a-Lés garantiu ‘maioria absoluta’ numa das melhores edições de sempre
Poetas e lobos em capítulo de final feliz
Em dia de eleições para o parlamento comunitário, foram os cidadãos europeus presentes no 26.º Portugal de Lés-a-Lés os grandes ganhadores. Vitória esmagadora que valeu maioria absoluta no capítulo da diversão como no gozo na condução, do usufruto das paisagens aos locais visitados. E numa jornada que ligou a Covilhã a Penafiel, ao longo de pouco menos de 400 quilómetros, ficam na memória as receções fabulosas com que foram brindados os participantes. Muitos portugueses, mais de 1500, a que se juntaram espanhóis, suíços, belgas, franceses, alemães, italianos, lituanos, brasileiros e indianos. Bafejados por um clima ameno, sem o calor intenso ou as grandes chuvadas dos últimos anos.
Os sorrisos rasgados na chegada ao último dos palanques, emoldurado por enorme multidão, foram a prova mais evidente do estrondoso sucesso da aventura organizada Federação de Motociclismo de Portugal. Mas o empenho exigido por mais de 11 horas de condução também estava bem visível! Aliás, o aviso estava escarrapachado logo na primeira das 20 páginas do ‘road-book’ da 3.ª etapa. Não deixava grande margem para dúvidas e deveria ser levado muito a sério! Assim, como que cumprindo o dito popular de que o ‘rabo é o pior de esfolar’, o remate deste Lés-a-Lés obrigou a trabalhos forçados, num percurso lindíssimo, mas praticamente sem uma reta para descansar os braços.
Arredondar pneu foi o lema do último dia da maratona mototurística e os elementos da Comissão de Mototurismo não deixaram créditos por mãos alheias. Desde bem cedo, logo na travessia do mais imponente maciço montanhoso do território continental, a caravana começou por abordar as curvas até aos 1500 metros de altitude da Nave de Santo António, o ponto mais alto deste Lés-a-Lés. Um até já aos Lobos da Neve, recordando o local onde foram feitas as primeiras concentrações covilhanenses antes ainda do nascimento do Moto Clube da Covilhã, no Sanatório dos Ferroviários, criado para mitigar os efeitos da tuberculose nos trabalhadores dos caminhos de ferro. Agora transformado em elegante e acolhedora Pousada que viu os mototuristas passarem rumo a Manteigas, entrando num dos concelhos com a floresta mais bem preservada em Portugal, onde não faltam teixos, castanheiros, faias, plátanos, lariços-europeus e cedros-do-Oregon.
Para fugir à confusão gerada pelas obras na N338, a conhecida estrada do Vale Glaciar, a opção passou por um caminho não asfaltado, sem pó e com boa tração, obrigando apenas a velocidades ligeiramente mais reduzidas mas que permitiram apreciar mais serenamente paisagens de cortar a respiração. A Estrela continua a surpreender mesmo aqueles que por lá passaram muitas vezes, incluindo os que já conheciam a espetacular cascata do Poço do Inferno. Onde as águas da ribeira de Leandres se despenham numa queda de mais de 10 metros pelas corneanas, essas formações rochosas criadas pelo contacto da água ao longo de milhares de anos. E cuja beleza mais evidenciou a estreiteza do local, criando um engarrafamento digno da hora de ponta de qualquer grande cidade.
O dia de todos os lobos
Daí até Manteigas, foi um instante para aproveitar a frescura do rio Zêzere, no Parque da Várzea, ainda nos primeiros dos mais de 200 km quilómetros da sua caminhada até ao Tejo, onde desagua próximo de Constância. É o segundo maior rio nascido em território português, após o Mondego, curiosamente cruzado poucos quilómetros depois, e alimenta três barragens de elevada produtividade energética. E onde um dos quatro totalistas, com presença carimbada nas 26 edições, o ex-autarca de Lamego, Ângelo Moura, fez um balanço sucinto, mas extremamente esclarecedor. “Esta foi a melhor edição da última década e, talvez, uma das melhores de sempre. O percurso escolhido foi fabuloso e o tempo ajudou e muito!”
Meteorologia que não podia ser melhor para a prática da modalidade, com temperaturas a rondar os 20º C durante o dia, ainda que ligeiramente mais frescas no arranque madrugador da Covilhã. Com o Norte no horizonte, assinalou-se o regresso a uma estrada utilizada há 20 anos, no 5.º Lés-a-Lés, até Folgosinho, desfrutando das belezas da Serra da Estrela antes da entrada no granítico planalto beirão via Fornos de Algodres. Um sobe-e-desce numa estrada de asfalto a brilhar de novo e com mais paisagens deslumbrantes, entrecortado pela despedida aos entusiastas elementos do MC Covilhã Lobos da Neve. Que, para pastores experimentados, mostraram alguma falta de jeito, tendo perdido o rebanho algures nas serranias…
Continuando envolvido por uma paisagem de bucolismo reforçado por algum nevoeiro, entre verdejantes pastagens e o cinzento granítico, o pelotão encontraria, logo de seguida, dois marcos importantes desta tirada: a divertida Estrada das Beiras (N17) e, de novo, o rio Mondego. Para, por entre aldeias briosas pontilhadas por casas de pedra de aspeto senhorial, encontrar o mais rápido caminho para Aguiar da Beira. Vila de grande imponência história, onde não faltam pelourinhos, torres ameadas ou a torre do relógio além da igreja da Senhora da Lapa e a frincha entre dois penedos onde só cabe quem não tenha cometido pecados. Que, acabou por não ser visitada, obrigando a um ligeiro desvio que acabaria por ser aceite pelos mototuristas. Afinal, o Oásis instalado em Moimenta da Beira, Capital da Maçã de Montanha e terra de adoção de Aquilino Ribeiro.
Junto ao grupo escultórico que homenageia o escritor nascido em Sernancelhe (Viseu) e que aos 10 anos foi viver na aldeia moimentense de Soutosa, o pelotão foi surpreendido com uma enorme festa mesmo em frente aos Paços do Concelho. Onde nem faltaram os grupos de concertinas Vale do Távora e a Orquestra CemNotas para animar o grupo antes da descida panorâmica para Tabuaço, descobrindo as primeiras vinhas da mais antiga região demarcada vitivinícola do Mundo. E onde alguns motociclistas ficaram presos pela passagem do pelotão de ciclismo profissional que por ali disputava o Grande Prémio do Douro Internacional. Mas podem ficar contentes porque protagonizaram uma verdadeira estreia. É que esta foi a primeira vez, em 26 anos sublinhe-se, que o Lés-a-Lés foi parado por uma corrida de bicicletas!
Escritores e eleitores… em mobilidade
Com a grande aventura a aproximar-se do final, tempo para novas serranias, com a descida até vale do rio Távora, para o Oásis em Tabuaço. Onde mais música, desta feita com o grupo de concertinas de Távora, animou o bailarico, rápido mas intenso. Porque havia que continuar a descida ao Pinhão, aproveitando apenas 3,4 km de N222 mas exatamente no sítio mais interessante do ponto de vista paisagístico. E ali registaram-se, sem grande surpresa, as temperaturas mais elevados do dia, ainda assim com frescos 27.º C, bem longe dos 47,5.º C que valem o recorde de temperatura máxima em território nacional.
Mas o Portugal de Lés-a-Lés não vive só de paisagens e trata de evidenciar o lado cultural do nosso País. Assim, depois de José Saramago, em 2023, e de Aquilino Ribeiro em Moimenta da Beira, viria ainda a homenagem a Miguel Torga. Na subida a Sabrosa, com paragem no miradouro com o nome do autor, de onde é possível desfrutar de uma vista excelente sobre a Foz do Pinhão, e logo de seguida em São Martinho de Anta, terra do médico-escritor. E onde alguns participantes foram à Junta de Freguesia para exercer o seu dever cívico, fazendo uso da possibilidade de voto em mobilidade para as Eleições Europeias.
Rumo a novas serranias, a caravana atravessou Vila Real, em passo de corrida, mas com tempo para vislumbrar a montagem do famoso Circuito Internacional, que, no último fim de semana de junho, recebe a 52ª edição das corridas de automóvel. Sem tempo a perder, seguia-se a Serra do Alvão, onde o nevoeiro roubou alguma da espetacularidade do Parque Natural, mas criou um ambiente místico patana passagem por Lamas de Olo, ajudando a perceber o que são os lameiros, não terrenos cheios de lama, mas sim prados irrigados com engenhosa rede de distribuição de água para rega, impedindo a formação de gelo.
Procissões e outras aventuras radicais
Mas o Portugal de Lés-a-Lés é uma verdadeira caixinha de surpresas e os imprevistos, mesmo os bem organizados, podem acontecer ao virar qualquer curva. Ou mesmo numa reta! Como ter a estrada cortada por uma procissão dedicada a São Galo, organizada pela Comissão de Festas dos Moto Galos de Barcelos, contando com a presença de sua Eminência, o Bispo, e com música a condizer. Um espetáculo de imaginação e empenho dos moto clubes que reforça o caráter único do Portugal de Lés-a-Lés, criando forte animação onde menos se espera. E que, além de saciar o apetite os estômagos, alimentam a alma com enorme animação.
A comida, essa estava mais à frente, em Cavez, com Oásis montado nas margens do Tâmega, exatamente onde desagua o a afluente ribeira de Moimenta. As bifanas e a prova de vinho verde (só uma amostra, como convém a quem conduz!) reforçaram o ânimo para seguir viagem pela excelente N205, rumo à Póvoa de Lanhoso ao extremo norte deste Lés-a-Lés. Pelo meio, poucos foram os que repararam, à passagem por Rossas, num dos mais antigos museus nacionais dedicados à história das duas rodas e que merece uma visita.
Que ficou para próxima ocasião porque, agora, estava marcada a visita ao fabuloso parque de atividades radicais DiverLanhoso, espaço com 170 hectares de área e um ‘slide’ de 350 m. Que ninguém pôde experimentar, até porque mais uma dose de adrenalina aos participantes no Lés-a-Lés poderia deixar marcas…
Bombeiros na festa do castelo e ajuda divina
Com Penafiel cada vez mais perto, a passagem por Guimarães revelou outro momento alto desta edição do Portugal de Lés-a-Lés. É que, se fora de casa Os Conquistadores fazem o que fazem, com inesquecíveis controlos, era fácil adivinhar a dimensão da festa dentro de portas. Uma simples fotografia com o castelo como pano de fundo foi suficiente para montar uma enorme festa, com toda a corte real e um presidente (Gaspar Marques) disfarçado de cavaleiro do reino. Às fotografias e à música acompanhada pelas damas da corte, juntou um camião-grua dos bombeiros, chamados de urgência para salvar… um 'drone’. Obra e graça do cidadão brasileiro Lucenildo Alexandre Azevedo que, a cumprir a estreia no evento, queria registar tudo até ao mais ínfimo pormenor. Verdadeiramente eufórico, garantiu que vai voltar “depois de legalizar a Triumph Tiger 1200 que trouxe do Brasil, em 2019”. Cuja matrícula dava bem nas vistas, até pela raridade face às espanholas, francesas ou outras...
E que, tal como muitos dos estrangeiros presentes, ficou espantado com receções como a que aconteceu em Vizela. Onde descobriu o sabor do tradicional bolinhol, oferecido no jardim do Parque das Termas, criado entre 1884 e 1886 e que possui uma quantidade de árvores gigantes como nenhum outro parque ou jardim português. Verdadeiro pulmão da cidade (desde 1998) que é Rainha Termal de Portugal, cujas termas remontam ao tempo dos romanos e onde começou a ser feito o balanço de mais uma presença no Portugal de Lés-a-Lés, pensando na chegada a Penafiel depois de fazer tantas horas de condução como aquelas que dariam para chegar até à capital Dinamarca, Copenhaga. E, com a bênção da Senhora do Sameiro, atravessar o palanque de chegada numa edição que cumpriu as promessas de exigência, para motociclistas aventureiros e rijos, independentemente da máquina utilizada. É que o Lés-a-Lés continua a ser uma aventura para todas as motos, mas não para todos os motociclistas… A prova mais evidente é que os participantes aproveitaram mais do que nunca, os serviços da equipa Osteomotus para colocar os músculos no sítio e garantir uma viagem tranquila até casa. Que só aí termina a grande aventura!
O Gabinete de Imprensa
Portugal de Lés-a-Lés
"Casa cheia" nas Bodas de Prata do Portugal de Lés-a-Lés
Dois milhões e meio de quilómetros para descobrir Portugal
Uma vez mais a lista de entusiastas que não querem perder a maior maratona mototurística da Europa fez transbordar a lista de inscritos para o Portugal de Lés-a-Lés cuja 25.ª edição vai para a estrada de 7 a 10 de junho. Uma ligação de 1144 quilómetros entre Bragança e Vila do Bispo, com passagem por Ourém e Viseu, que será cumprida por 2185 motociclistas, totalizando, imagine-se, um total de 2.499.640 quilómetros. E isto sem contar com os quilómetros desde casa ou com a equipa organizativa e vários convidados, entre artistas e atores, pilotos e políticos, desportistas e até 'chefs' de renome internacional.
Um entusiasmo enorme em redor da edição das Bodas de Prata do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal, que começou em 1999 pela mão de cinco motoclubes. Agora, um quarto de século depois, e além de vários elementos da organização presentes desde o primeiro momento, há apenas quatro participantes totalistas que contam, só no Portugal de Lés-a-Lés, com mais de 30 mil quilómetros pelas mais recônditas estradas nacionais, regionais e municipais de um País desconhecido de muitos.
Para aqueles que gostam de descobrir novos recantos, as mais imponentes paisagens, os mais significativos monumentos da História de Portugal ou simplesmente conduzir nas mais deliciosas estradinhas, esta é uma oportunidade realmente única de descoberta. Mas, para aqueles que não se inscreveram até às 00.00 horas do dia 15 de maio, bom, para esses a aventura terá que ficar para 2024!
Centenas de motociclistas na apresentação do 25.º Portugal de Lés-a-Lés
Aí estão as novidades da grande aventura!
Começou a mais desejada aventura do ano! A Apresentação Oficial do 25.º Portugal de Lés-a-Lés, perante centenas de entusiastas na Figueira da Foz, marcou o arranque da grande maratona mototurística organizada desde 1999 pela Federação de Motociclismo de Portugal. Para 2023, o objetivo passa por festejar as Bodas de Prata com uma festa ímpar, num percurso evocativo da ‘saudável loucura’ levada a cabo por 100 motociclistas ao ligar Bragança a Sagres em 24 horas de aventura ‘non-stop’. Agora serão 1110 quilómetros, para cumprir entre os dias 7 e 10 de junho, através de paisagens ímpares, passando por serras, vales e planícies, rios, lagos e barragens, numa oportunidade única para uma descoberta diferente de um Portugal pouco conhecido.
Numa sala transbordante de expetativa e animação, foi apresentado o percurso que, mantendo alguns pontos coincidentes com a 1.ª edição, mostrará muitas novidades ao longo de 4 dias. Um trajeto que, já se sabia, parte de Bragança, concelho que acolhe também o já tradicional Passeio de Abertura, daí seguindo para Viseu e Ourém, palco do final das etapas seguintes, antes da grande festa montada em Sagres.
Numa cerimónia que contou com a presença de Pedro Santana Lopes, presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz (que fez questão de deslocar-se de moto até ao Malibu Foz Hotel), coube ao presidente da autarquia de Bragança, Hernâni Dias, agradecer a visita para a partida da edição de 2023 do Portugal de Lés-a-Lés. Que, pela primeira vez, vai passar na aldeia que dá nome ao Parque Natural de Montesinho, recordando ainda o ponto de arranque de 1999, Rio de Onor. Isto num Passeio de Abertura com pouco mais de uma centena de quilómetros que terminará no Centro Histórico de Bragança, com visita ao castelo e à Sé, perto do local onde serão efetuadas as Verificações Técnicas e Documentais.
Aperitivo de luxo para um manjar de paisagens
Aperitivo para a primeira etapa que levará a caravana de Bragança a Viseu, ao longo de 310 quilómetros de estradas inéditas no Lés-a-Lés e outros locais já conhecidos. Como Podence onde os tradicionais caretos podem sempre ‘fazer das suas’.
Numa tirada panorâmica, tempo para desfrutar da Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo, rio que será atravessado a vau em Vale da Porca, antes de conhecer a nova barragem do Sabor, entre Alfandega da Fé e Torre de Moncorvo. Já a sul do rio Douro, visita ao Castelo Velho de Freixo de Numão, atravessando o troço final da estrada nacional 222, rumo a Moreira de Rei, outra novidade, já no concelho de Trancoso.
Celorico da Beira que tão bem acolheu a caravana na 1.ª edição do Lés-a-Lés volta a receber os participantes que, aqui, infletem para Oeste, bordejando o rio Mondego até Viseu. Em terras de Viriato, um final de dia carregado de história, passagem pela Sé Catedral e Museu Grão Vasco, numa descoberta do centro histórico que terminará no palanque junto aos Paços do Concelho.
Tal como a etapa da véspera, também a do 2.ª dia será exigente em termos de condução, com ‘apenas’ 280 quilómetros, mas muitas descobertas por locais nunca antes espreitados pelo pelotão do Lés-a-Lés. Do megalitismo de Carregal do Sal, através de vários dólmens ou orcas, às cascatas do rio Cavalos, em Sevilha, no concelho de Tábua. Depois da ida a França no Passeio de Abertura, esta visita à homónima da capital da Andaluzia, reforça o toque internacional do 25.º Portugal de Lés-a-Lés que, para entrar na fase montanhosa, passará por Arganil e Góis. Locais com garantia de forte ‘calor motociclístico’ e onde não faltará mesmo uma ‘apetitosa’ feira gastronómica.
Tempo para paisagens soberbas e enormes surpresas até Castanheira de Pera, com direito a Oásis na Praia das Rocas, onde será servido mais um aperitivo. Que a fome e a sede são sempre maus companheiros de viagem e há que arrepiar caminho até Dornes, uma das grandes novidades deste Lés-a-Lés e que marca a entrada no distrito de Santarém. Um dia que termina em Ourém, ainda a tempo para uma visita ao centro histórico, nomeadamente ao castelo em fase de recuperação e dinamização.
Homenagem mais que merecida
Para finalizar a maior maratona mototurística da Europa, uma tirada longa de 410 quilómetros entre Ourém e Vila do Bispo. Algo que não assusta os experientes Luís Santos, Paulo Mendes, Ângelo Moura e Luís Simão, os quatro totalistas das edições do Portugal de Lés-a-Lés e que foram homenageados na Figueira da Foz. Juntamente com o Moto Clube do Porto, único clube presente ao longo dos 25 anos, e a Lidergraf, empresa que mantém o nome ligado ao evento desde 1999. Bem como os moto clubes de Albufeira, Guimarães e Motards do Ocidente, os que mais se distinguiram pela animação proporcionada em 2022.
Uma etapa longa, mas bastante rolante, que começa no Ribatejo, desfrutando da tranquilidade das zonas campestres do Vale do Tejo, com paragens em Azinhaga do Ribatejo, terra natal de José Saramago, e na Golegã, outras estreias no Lés-a-Lés. Depois, e deixando Santarém para trás, sem muito tempo a perder em algumas belas estradas na zona de Coruche ou Montemor-o-Novo (boa desculpa para voltar outra vez…), segue a viagem por Viana do Alentejo, Ferreira do Alentejo e Aljustrel. Altura de nova inflexão no trajeto, rumo ao sudoeste alentejano, por estradas pouco conhecidas, muito panorâmicas e bem asfaltadas em direção a Monchique.
Com os aromas da maresia a despertar os sentidos dos mais de 2000 motociclistas, a passagem por Marmelete marca a descida rumo à costa, seguindo sempre por perto de imponentes falésias até ao cabo de São Vicente. Onde, tal como há 25 anos, à porta da fortaleza de Sagres, termina a grande aventura gizada pela Comissão de Mototurismo da FMP, através de estradas nacionais, regionais, municipais e até alguns caminhos de terra batida, mas sem pisar autoestradas ou vias rápidas.
Viagem de sonho numa travessia ímpar, através de um percurso inovador, divertido e desafiante, recuperando o espírito da edição inaugural em 1999, mas agora com muitos mais participantes e uma animação redobrada. Sobretudo nas partidas e chegadas onde a música, a dança e outros atrativos serão pontos de relevo na cuidada produção de um evento apoiado pela Agência Abreu, BMW, BP, Dunlop, NEXX e Via Verde. E cujas ‘vantagens’ se começaram a fazer sentir logo no dia da apresentação, com o sorteio de um jogo de pneus Dunlop, de um capacete NEXX, juntamente com uma inscrição para o Lés-a-Lés
Evento que, logo após a apresentação oficial, ganhou os primeiros inscritos, que partirão bem cedo para as etapas, às 6 horas, na frente de um pelotão de 2000 motos. Quanto aos restantes, poderão inscrever-se a partir do dia 27 de março, no site www.les-a-les.com.
Todos os caminhos vão dar a Bragança
Por estes dias, Bragança é a "Meca" de todos os motociclistas. De todo o País e de muitos pontos da Europa, mais de 2500 são esperados a partir de hoje para o início do 25º Portugal de Lés-a-Lés. A edição das Bodas de Prata do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal volta a bater recordes e promete ser uma festa grandiosa até Sagres, onde termina no dia 10 de junho.
Pelo caminho, 1085 quilómetros de descoberta e aventura, na maior maratona mototurística da Europa, ao longo de algumas das mais belas estradas nacionais, municipais e regionais. As autoestradas e outros sinais de modernidade rodoviária ficam, quando muito, para as viagens de ida e regresso a casa. Porque há muito para ver e descobrir, num trajeto descrito ao longo das 60 páginas do "road-book" entregue pela organização a todos os participantes.
Uma descoberta que começa na manhã do dia 7 de junho, com o arranque das Verificações Técnicas e Documentais aos 2185 participantes, entre as 9h e as 14h no Parque do Eixo Atlântico. Local onde estará montado o palanque de partida e chegada do Passeio de Abertura que, a partir das 10h verá os motociclistas arrancarem à descoberta do Parque Natural de Montesinho. Um aperitivo de 116 quilómetros, que cada um pode degustar ao ritmo que mais aprouver, desfrutando de paisagens ímpares no primeiro momento de homenagem à edição inaugural de 1999. A passagem por Rio de Onor, onde há 25 anos foi dada a partida para o Portugal de Lés-a-Lés será ponto alto, com fotografias para recordar... daqui a 25 anos!
Um passeio de enorme beleza natural antes do regresso ao Parque do Eixo Atlântico para o jantar de boas-vindas, no Pavilhão Gimnodesportivo do Clube Académico de Bragança. Ali mesmo ao lado do local onde, na quinta-feira, dia 8 de junho, será dada a madrugadora partida (às 6h) rumo a Viseu, final da primeira etapa. De Viseu a Ourém terá lugar a segunda tirada de um evento que termina em Sagres, após cerca de 28 horas e 50 minutos de condução previstas.
Nem a chuva diluiu entusiasmo no arranque para o Portugal de Lés-a-Lés
Óscar, a visita que ninguém convidou
Ninguém a conhecia mesmo se alguns já tinham ouvido falar dela. Óscar é o nome da depressão atmosférica que atingiu fortemente o arquipélago da Madeira e que, por estes dias, vai influenciar o clima na região nordestina do continente. Bragança está mesmo sob aviso amarelo, devido à previsão de aguaceiros fortes, possibilidade de queda de granizo e trovoadas, mas nem isso arrefeceu os ânimos dos milhares de participantes que, durante toda a manhã e início da tarde, se deslocaram para o arranque do 25º Portugal de Lés-a-Lés.
Chuva que obrigou a alterações de última hora e comprovou toda a experiência da equipa organizativa, obrigado a trabalhos dobrados para concretizar todas as mudanças necessárias. Inicialmente previstas para o Parque do Eixo Atlântico, local verdejante e bastante aprazível no centro da cidade brigantina, as Verificações Técnicas e Documentais foram transferidas para o pavilhão do NERBA - Associação Empresarial do Distrito de Bragança.
Momento em que são conferidos os documentos das máquinas e dos participantes, bem como o estado geral das motos, em prol de maior segurança na estrada. E que são bem diferentes do que aconteceu há 25 anos, com "um simples olhar de relance para as luzes, piscas e pneus, mesmo antes do arranque já sobre a ponte de Rio de Onor" como recordou José Valença, um dos 3 elementos que está na organização desde o primeiro momento. Agora, as inusitadas verificações indoor, garantiram maior conforto para os participantes antes do arranque para a festiva edição das Bodas de Prata, com Passeio de Abertura pelo Parque Natural de Montesinho, com total de 116 quilómetros e passagem por local emblemático do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal.
Partida molhada, edição abençoada
Foi, há 25 anos, o local de partida de uma ideia maluca de 5 motoclubes, ligados pela aventura e pela paixão mototurística. Elementos do MC Porto, Estarreja, Centro, Lisboa e Ocidente, sonharam, idealizaram e concretizaram a ligação entre dois extremos do mapa continental, ao longo de 24 horas "non-stop". Nascia o Portugal de Lés-a-Lés que, partindo da emblemática ponte de Rio de Onor, haveria de levar 120 motociclistas numa centena de motos até ao cabo de S. Vicente.
Palco singelo, mas de tamanho significado para uma maratona que, rapidamente, ganhou inusitada dimensão. Nacional e internacional. Para ter noção da escala de grandeza basta olhar para o total de quilómetros percorridos durante as 24 edições: 24 546! E isto apenas durante o percurso efetuado pelos 27 551 participantes inscritos, sem contar com as viagens de ida e regresso a casa.
Milhares de portugueses e portuguesas, como muitos espanhóis, franceses, italianos, ingleses, escoceses, alemães, belgas, estado-unidenses, canadianos, brasileiros, venezuelanos, peruanos, sul-africanos, angolanos, austríacos, neerlandeses, romenos, ucranianos, polacos, húngaros, neozelandeses marcaram presença, por uma vez que fosse, na grande maratona. Mas foram apenas 4 os que, estando à partida de Rio de Onor, às 12 horas do dia 11 de junho de 1999, repetiram a dose nos anos seguintes. Em todos! Desde as 4 seções de 6 horas cada que marcaram a edição estreante, com paragens em Celorico da Beira, Picoto da Melriça, Viana do Alentejo e Cabo de S. Vicente, em formato que foi mantido em mais três edições, com perguntas e surpresas para manter a animação e os participantes bem acordados.
Inspiração nos moto-ralis que então davam também os primeiros passos que foi sofrendo modificações ao longo dos anos. Adaptações em nome da segurança e do número crescente de entusiastas. Em 2003, Chaves acolhia novo formato, com duas etapas de 12 horas que levaria a caravana até Albufeira, para, em 2007, ser criado um prólogo antes das duas tiradas. Forma de dar a conhecer o concelho de partida e de entreter os participantes no dia das verificações.
Configuração que se manteve durante uma década para, em 2017, ganhar mais uma etapa. Três dias de aventura a que se juntava um Passeio de Abertura, em fórmula que consolidou a maior aventura mototurística da Europa. Em participantes como no total de quilómetros percorridos. Que, em 2023, na edição das Bodas de Prata da maior aventura mototurística de que há registo, fica marcada pelo regresso a Rio de Onor, aproveitando para respirar o ar puro do Parque Natural de Montesinho.
Chuva acentuou beleza natural do Parque de Montesinho
A sorte protege os audazes
Se é verdade que a sorte protege os audazes, não menos verdade parece ser a adaptação livre de outra máxima do exército: "chuva civil não molha motard". O lema do Corpo de Comandos, adaptação do verso do poeta latino Virgílio, no poema épico Eneida, encaixa na perfeição aos participantes do 25º Portugal de Lés-a-Lés que desafiaram os elementos e, sem medo à chuva, partiram à descoberta do Parque Natural de Montesinho.
A forte intempérie, prometida pela depressão atmosférica Óscar não demoveu os cerca de 2500 motociclistas a fazerem-se à estrada para o Passeio de Abertura da edição das Bodas de Prata do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal. E por bem empregue deram a ousadia já que a chuva, sob a forma de esparsos e leves aguaceiros, não incomodou quem na estrada passeava. Antes teve o condão de sublinhar os tons de verde e castanho de paisagens de encantar. Uma passeata a dois tempos, com início mais revirado até Montesinho, a aldeia que dá o nome ao parque e que foi visitada pela primeira vez pela longa e heterogénea caravana, e com paisagens imponentes e mais desafogadas no regresso a Bragança com passagem em Rio de Onor.
Foram 116 quilómetros, por entre soutos de enormes castanheiros e centenários carvalhais, visitando aldeias de gentes rijas e afáveis, que sabem receber como poucos. Foi o caso de Donai, onde poucos resistiram a fotografar as vetustas varandas de madeira, ou Vilarinho, onde era dada a descobrir a história dos "pica-burros". Aqueles aldeãos que iam até Bragança vender carvão, picando aqueles animais para que se despachassem... Bem precisavam de despachar alguns participantes, que não resistiram a provar o mel da Apimonte e descobrir mais sobre a região, fortemente dinamizada pelo apicultor local Luís Correia.
Santuário bem preservado
Comecemos pelos soutos, cuja sucessão dos portentosos castanheiros está já assegurada com a plantação de jovens árvores Castanea sativa. Frondosos, proporcionariam boas sombras e uma frescura que se agradeceria nesta altura do ano. Isso em condições normais, porque assim, com tempo farrusco e algumas gotas de chuva, ofereciam um cenário místico, para apreciar com tranquilidade. E, dessa forma serena, poder encontrar veados ou corços, javalis ou águias-reais, cegonhas-negras ou até um lobo-ibérico! Afinal, nos 75 mil hectares do Parque Natural de Montesinho habitam 80% das raças de mamíferos conhecidas em Portugal e mais de 160 espécies de aves. O que é constantemente recordado com pinturas em paragens de autocarros e outras paredes, evocando motivos da fauna e flora locais ou, simplesmente, temas da vida transmontana.
Ora entre bosques, ora por entre lameiros, aproveitando a agradável estrada nacional 308, sempre com a fronteira espanhola por perto, lá foi a caravana até Meixedo, seguindo depois, lado a lado com o rio Sabor, até França e o seu casario típico. Depois, a subida a Montesinho, aldeia de granito e lousa, materiais mais resistentes ao calor e ao gelo, para fazer frente aos nove meses de inverno e três de inferno que cada ano traz.
As ruelas estreitas e inclinadas anteciparam a conversa de café onde, entre anedotas e curiosidades, ia-se descobrindo a dureza da vida destas gentes. Curtidas pelo isolamento e pelo frio de uma serra cujo pico mais alto, na Lombada Grande chega aos 1486 metros de altitude. É a 4ª mais alta de Portugal, depois da Estrela, Gerês e Larouco, e se pensarmos que do lado espanhol (Sierra de la Parada) existe um pico que se eleva aos 1735 metros seria apenas ultrapassada pelo Alto da Torre.
Os caretos e uma língua que une povos
Descendo novamente ao vale do Sabor, rio que é companhia omnipresente nos dois primeiros dias da grande aventura mototurística, Aveleda e Varge, duas das 92 aldeias englobadas no Parque, mostraram mais animação, com os seus caretos, antes da entrada na segunda parte deste Passeio de Abertura. Com estradas panorâmicas no topo das serras, rumo a Rio de Onor. A famosa aldeia que pertence a dois países, com metade da população a viver em cada lado da fronteira e onde a língua é só uma. O rionorês é o dialeto local que todos, portugueses e espanhóis, entendem e que alguns dos aventureiros do Lés-a-Lés quiseram aprender. Nem sempre com os melhores resultados.
Após a marcante passagem na ponte que corta as águas do rio de Onor, onde teve início a grande aventura, em junho de 1999, iniciava-se o regresso a Bragança. Com passagem por Guadramil, onde o abandono a que tem sido votada esta aldeia reforça o misticismo, e Gimonde, cada vez mais conhecida pela famosa posta de vitela mirandesa. Que, atendendo à hora a que alguns participantes cumpriram o Passeio de Abertura, serviu na perfeição para o jantar. E se não fosse a posta, havia sempre a oportunidade de experimentar a rica gastronomia nordestina, do cordeiro bragançano ao cabrito de Montesinho, das alheiras de caça aos enchidos de porco bísaro. Ou das trutas, em escabeche ou assadas, saídas das águas frias dos límpidos ribeiros locais, ao fumeiro, desde as tradicionais alheiras ao menos conhecido butelo, acompanhado por casulos (cascas de feijão secas).
Houve quem logo ali jantasse, com apetite que esquecer o repasto de boas-vindas a todos os participantes, e houve quem seguisse o "road-book" até à bem preservada Cidadela de Bragança. No casario envolvente a um dos mais bem preservados castelos portugueses, quase mil anos de história foram mostrados em detalhes de inesquecível riqueza. Como a Domus Municipalis, Monumento Nacional desde 1910 e um exemplar único da arquitetura civil de estilo Românico na Península Ibérica. Edifício que teve a dupla função de cisterna, de perfil abobadado e subterrânea que permitia o abastecimento de água da cidade, e sede das reuniões municipais de "homens-bons".
Construída por volta do Séc. XII ou XIII, com planta em forma e pentágono irregular, é em alvenaria de pedra, razão da excelente conservação até à atualidade. Isto porque este tipo de edifícios era habitualmente feito de madeira, uma vez que nem o poder municipal nem o Estado tinham meios para financiar obras civis deste género.
Curiosidade rodeou também o pelourinho apoiado numa tosca estátua zoomórfica proto-histórica: um "berrão". Semelhante a outras figuras conhecidas na região transmontana, como em Murça ou Torre de Dona Chama, há quem a veja como a "porca da vila" da Idade do Ferro, sendo neste caso, muito mais antiga do que o próprio pelourinho. Terá sido esculpida, em granito, cerca de 200 ou 300 anos antes do nascimento de Cristo, e a designação deriva do termo popular usado para os porcos não castrados. No entanto há autores que defendam que este "berrão" possa representar um urso...
A pensar na espécie animal que terá dado origem ao "berrão", foram os participantes até à sede do Moto Clube Cruzeiro, brindar a um Passeio de Abertura de deliciosas paisagens, antecâmara de uma etapa que, a partir das 6 horas da madrugada, levará os cerca de 2500 motociclistas, organização incluída, até Viseu. No programa, 304 km com passagem por Macedo de cavaleiros, Alfandega da Fé, Torre de Moncorvo, Pocinho, Meda ou Celorico da Beira, antes da chegada a Viseu, a partir das 15.30h.
Nem a intempérie entre Bragança e Viseu arrefeceu o entusiasmo
Sorrisos entre os pingos da chuva
A chuva da véspera, durante o Passeio de Abertura, e as ameaçadoras previsões de inclemência meteorológica tiveram o condão de alertar os 2250 participantes no 25º Portugal de Lés-a-Lés para uma etapa que poderia ter dose extra de aventura. De Bragança a Viseu, foram 304 quilómetros de estradas panorâmicas, muitas delas inéditas nos mapas da maratona mototurística organizada pela Federação de Motociclismo de Portugal. Que todos desfrutaram mesmo se, em algum momento do dia, ninguém conseguiu escapar às fortes bátegas de água. Chuva por vezes muito forte e céu sempre em tons de cinza carregado que não ensombraram os semblantes sorridentes com o desafio acrescido.
Em dia de trautear a canção tradicional portuguesa, associada a uma dança de roda, "Indo eu, indo eu, a caminho de Viseu", a partida foi madrugadora, com os primeiros a lançarem-se à estrada, noite cerrada, ainda batiam as 6 horas no relógio da Catedral de Bragança, a primeira a ser inaugurada em Portugal no século XXI. As serpenteantes estradas da serra de Nogueira, completamente desertas numa manhã de feriado, acordaram com a passagem de mais de 2000 motos. A chuva caída durante a noite levou muita terra e detritos para a estrada, exigindo cautelas redobradas, mas sem roubar a oportunidade para apreciar os densos bosques de carvalho-negral (Quercus pyrenaica) naquela que é maior mancha europeia de uma espécie bem-adaptada à altitude.
Os Conquistadores, Marcelo e Ronaldo
Soutos de monumentais castanheiros ajudavam a tranquilidade que estava prestes a ser "perturbada" em Celas, onde os Conquistadores de Guimarães protagonizavam a primeira traquinice do dia, oferecida juntamente com um café bem quente. Foi o "clero" em peso até à estrada, com direito a bênção do bispo com água mundana como a chuva que caía, e aos furos na tarjeta que atesta o bom cumprimento do percurso, a cargo das freiras. Incluindo uma irmã prestes a ter "uma boa horinha"...
Ainda mais animada seguiu a caravana, sempre com sorrisos que nem a chuva conseguia afogar, continuando a desfrutar paisagens soberbas num dia que foi de "verdadeiro Lés-a-Lés". Podence, terra de caretos, ficava no caminho e houve quem não desperdiçasse oportunidade de tirar uma "selfie" com o presidente Marcelo ou com o craque Ronaldo. Paisagens que eram verdadeiro conforto para a alma, mas que pediam algo mais para o estômago. Aconchego que estava à espera no Oásis em Macedo de Cavaleiros, no preciso local onde começou o 7º Lés-a-Lés em 2005, antes da passagem bem próxima do "umbigo do Mundo". O quê?, perguntarão. E o Lés-a-Lés, que se quer um evento de descoberta explica.
Morais, aldeia do concelho mogadourense, revela de forma única a dinâmica geológica dos continentes, sendo o local exato onde, há mais de 400 milhões de anos, muito antes de surgirem os dinossauros, se deu a colisão de massas que originou uma cadeia de montanhas, designada pelos cientistas por sutura do Orógeno Varisco.
Existem apenas cinco lugares com características semelhantes a este, mas, em Morais, as sequências estão contidas num espaço menor e os testemunhos são mais percetíveis. Testemunho da colisão dos dois continentes então existentes, Laurússia (América do Norte, Europa e Ásia do Norte) e Gondwana (África, Madagáscar, Índia, Austrália e Antárctida), e do único oceano, o Rheic, que terá estado na origem do Oceano Atlântico. O choque fechou o oceano criando um supercontinente, dando início à reorganização que, milhões de anos mais tarde, deu origem à cartografia do Mundo, dividido em cinco continentes. Morais oferece, pois, uma viagem aos primórdios da Terra enquanto planeta, concentrando em poucos quilómetros aquilo que, normalmente, só se vê em milhares de quilómetros de extensão.
Cultura geral e um padre... bêbado
Conhecimento que fará com que muitos dos participantes voltem, cumprindo assim uma das motivações da equipa organizativa da Federação de Motociclismo de Portugal. Mostrar um País que muitos desconhecem, deixando o desejo de regressar para mais descobertas.
Com o tempo a variar entre algumas abertas e monumentais cargas d'água, tempo para alguns contratempos, como os travões de tambor de algumas cinquentinhas que iam perdendo eficácia. Ou a vela de ignição isolada na Jawa 250 de Hélder Alves, obrigando "a uma mecânica básica, para, em menos de cinco minutos, voltar à estrada. Afinal, trata-se de uma máquina de 1952, que cumpre o Lés-a-Lés pela 9ª vez e que nunca deixou ficar mal o proprietário". Incluindo as viagens entre Santa Maria da Feira e os locais de partida e chegada.
Mas a chuva, com presença forte a espaços, como que a brincar com os participantes, não roubou espetacularidade à passagem pelo vale do Sabor e do seu afluente, o Azibo, cuja albufeira reforça os argumentos desta região enquanto excelente destino turístico. Incluindo o belíssimo parque de merendas de Vale da Porca, onde os mais corajosos, lançaram-se na travessia a vau do ainda pequeno caudal do Azibo.
E seria também o local da primeira passagem pela terra, 600 curtos metros que revelam a essência da maior maratona mototurística da Europa, não fosse a chuva ter desaconselhado este desvio, mantendo a caravana em estrada firme.
Estradinhas de deliciosas curvinhas, com passagem por Chacim e pelo Real Filatório (fábrica do fio de seda mandada erigir pela Rainha D. Maria, em 1788, com amoreiras para alimentar os bichos-da-seda), até Alfandega da Fé. Onde foi possível provar as cerejas cultivadas nas faldas da serra de Bornes. Fruto a que se juntariam as famosas amêndoas de Torre de Moncorvo, não sem que antes passasse o pelotão em Eucísia.
Uma pequena aldeia que encerra uma lenda curiosa sobre um sacerdote do arcebispado de Braga que, incumbido de verificar se tudo corria bem na paróquia, ali jantou e dormiu. Como era pouco resistente aos pecados mundanos da comida e da bebida, terá abusado da boa pinga e, a meio da noite, para satisfazer as necessidades fisiológicas, dirigiu-se às cavalariças onde, embalado pelo sono ou pela bebida, deixou-se adormecer. Manhã bem cedo, quando a população o viu em tais preparos, justificou-se que havia ali sido colocado pelas bruxas. E, assim, Eucísia ficou conhecida como a terra das feiticeiras...
Bifanas acompanhadas de Barca Velha
Bem mais reais são as alterações ao rio Sabor entre Alfândega da Fé e Moncorvo, causadas pela construção da barragem que todos puderam apreciar antes de provar deliciosas amêndoas caramelizadas. Pitéu oferecido por "nobres" do Moto Clube do Porto trajados a rigor, muito perto da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, que é, desde janeiro do ano passado, por decreto assinado pelo Papa Francisco, Basílica Menor de Torre de Moncorvo. Começou a ser construída no século XVI, no tempo do Infante de Sagres, e ergue-se no local onde existiu um templo paroquial primitivo da Idade Média.
Deixando a História e voltando à estrada, degustando as amêndoas na descida até ao Pocinho, tempo para desfrutar da estrada nacional 220 e atravessar o Douro na barragem inaugurada em 1982. No fim da qual estavam os minhotos do Moto Clube de Prado, com deliciosas bifanas para aquecer os estômagos mais protestantes, enquanto se apreciavam as quintas da D. Antónia, onde é produzido o Barca Velha.
Entrando no distrito da Guarda por Vila Nova de Foz Côa, foi a caravana apreciando a mudança de paisagem onde, apesar da chuva, se vê que é notoriamente mais seca! Mas há sempre belezas para apreciar na grande aventura mototurística, como foi o caso Freixo de Numão, antiga sede de concelho, ou a muito panorâmica estrada até Mêda, em região onde abundam fortificações então mais importantes que a agora sede de concelho. Era o caso de Longroiva, Ranhados ou Casteição, bem como da pequena, mas muito interessante, Marialva, com castelo e pelourinho, cruzeiro, igrejas e capelas, solares, cisternas e postigos.
Claro que não podíamos esquecer a importância arqueológica em Moreira de Rei, aldeia onde, em 2018, foi descoberta a maior necrópole de sepulturas antropomórficas da Europa, com 600 sepulturas de adultos e crianças em redor da igreja de Santa Marinha (Séc. XII). As obras desaconselharam a visita, mas houve curiosos que não resistiram, como também quiseram sentir o ambiente do palco da Batalha de Trancoso que, a 29 de maio de 1385, marcou a reviravolta na luta contra o invasor castelhano.
A corte de Barcelos desceu a Trancoso
Na monumental vila de Trancoso, palco para a aparição da corte dos Moto Galos de Barcelos, que não quiseram perder oportunidade de "armar cavaleiros" enquanto picavam as tarjetas, enquanto logo a seguir foi tempo de parar em Celorico da Beira. Na terra que viu nascer Sacadura Cabral, que em fez a primeira travessia do Atlântico Sul com Gago Coutinho, uma surpresa de boa disposição e petiscos, com o queijo da serra de que esta vila se intitula "capital" juntamente com doces e tostas com azeite e boa companhia musical.
No local onde, há 25 anos, o MC Porto passou o testemunho ao MC Estarreja e Mototurismo do Centro, que haveriam de guiar a caravana no 2º setor, até ao pico da Melriça, tempo para um inesperado encontro. Afinal, entre os milhares de anónimos do pelotão, surgiu um campeão nacional de todo-o-terreno. Que, por sinal, faz a sua estreia no Lés-a-Lés e logo da forma mais ousada.
Rodolfo Sampaio, com vários títulos de Enduro e TT, aceitou o desafio do grupo de amigos de Santo Estevão que juntaram 25 cinquentinhas, e decidiu participar aos comandos de uma raríssima Honda tipo "chopper". Máquina com uma curiosa história, tratando-se de um modelo criado em exclusivo para os Estados Unidos, que foi comprada, já em Hong Kong, por um amigo seu que, por sua vez, vendeu-lha há quase 20 anos. E depois de uma paragem que durou os últimos 10 anos, voltou à estrada diretamente para o Portugal de Lés-a-Lés.
Viseu à vista
Seguindo a N16, com a companhia do rio Mondego, atravessado para entrar no distrito de Viseu, momento importante na história da indústria automóvel em Portugal, com a passagem por Mangualde. Sede do primeiro centro de produção automóvel no nosso País, inaugurado em 1962, e lembrada por um Citroën DS colocado numa rotunda.
Desde 1964 fabricou mais de 1,5 milhões de viaturas, a começar pelo mítico 2 Cavalos e, em 2025, será a primeira fábrica em Portugal a produzir furgões totalmente elétricos (Citröen e-Berlingo, Fiat e-Dobló, Opel Combo-e e Peugeot e-Partner) nas versões de comerciais ligeiros e de passageiros.
Bem diferentes as joias e as histórias encontradas após cruzar o rio Dão, rumo ao centro da cidade de Viseu para descobrir o centro histórico, a Sé Catedral (Séc. XII), começada a erigir no reinado de D. Afonso Henriques, e o Museu Grão Vasco. Isto mesmo antes da subida ao palanque, à porta dos Paços do Concelho, na melhor sala de visitas viseense, após nove horas e meia de condução. E antes de um dia que levará a caravana até Ourém, após 240km muito exigentes em termos de condução.
Neve juntou-se à muita chuva na 2ª etapa do Portugal de Lés-a-Lés
Dilúvio de emoções fortes
Com as lembranças do calor da edição de 2022 ainda a causar suores a muitos participantes, o 25º Portugal de Lés-a-Lés está a ser marcado por uma chuva intensa. De água e de emoções! Quase paradoxalmente, as condições meteorológicas adversas parecem proporcionar uma alegria maior na caravana dos 2500 motociclistas que, por estes dias, ligam Bragança a Sagres. Com "apenas" 240 quilómetros de extensão, a segunda tirada, entre Viseu e Ourém, voltou a mostrar essa boa disposição, associada ao desejo de superação e muito companheirismo, num dia em que até a neve fez a sua aparição. Uma jornada muito trabalhosa e exigente, apesar da curta distância a cumprir, com 9 horas para ligar as duas cidades.
De Viseu, começou a sair caravana ainda noite escura e, desde logo, com fortes aguaceiros que tornaram alguns pequenos troços de terra mais complicados. Mas ninguém deu por mal empregue o primeiro esforço do dia, para visitar duas das antas que existem no Circuito Pré-Histórico Fiais/Azenha, parte do importante roteiro megalítico de Carregal do Sal. E logo na primeira, a bem conservada Lapa da Orca apesar de ter mais de 5500 anos, uma enorme surpresa com a descoberta de que os nobres que na véspera "picavam o ponto" em Torre de Moncorvo tinham regredido à pré-história transformando-se em aguerridos, mas simpáticos Cro-Magnon. É a história dos Moto Clubes, neste caso o do Porto, que são, desde o primeiro momento, a alma e o corpo por detrás da grande aventura organizada pela Federação de Motociclismo de Portugal.
Mais um troço de terra, facílimo depois de ter sido alisado pela autarquia tabuense, para descobrir as surpreendentes cascatas de Sevilha, formadas pelo pequeno rio Cavalos, afluente do Mondego, recuperando das primeiras emoções em Tábua. Onde o MK Makinas foi... uma verdadeira máquina, distribuindo fruta, água, sandes e sumos junto à curiosa Capela do Sr. dos Milagres, de planta octogonal.
O herói do holocausto que marca presença no Lés-a-Lés
Mas, claro que entre Viseu e Tábua houve lugar a outras descobertas, bastando atravessar o rio Dão para encontrar estradas com envolvente de maior verdura e lugares de um passado marcante, como a nobre Santar, com os seus solares e as curiosas aldeias de Póvoa Dão e Beijós. Algo que só as etapas mais curtas permitem, descobrindo detalhes nunca antes espreitados no Lés-a-Lés. Ou Cabanas de Viriato, onde pontifica a casa do herói nacional Aristides de Sousa Mendes. Tendo salvo mais de 30 mil judeus condenados à morte pelo regime nazi, o Cônsul de Bordéus morreu na miséria depois de renegado por Salazar, numa história cinematograficamente interpretada por Vítor Norte. Que continua a marcar presença assídua na maior maratona motociclística da Europa, sempre acompanhado pela sua fiel Gina, a Yamaha Virago que nunca quer largar...
Também o sempre simpático ator reparou na placa de Venda da Esperança, onde muitos foram os pensaram numa rápida paragem para comprar um pouco de esperança para o bom tempo que tardava. Mas como as lojas deviam estar fechadas, talvez fazendo "ponte" entre o feriado do Corpo de Deus e o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, seguiram pelo belíssimo tapete da estrada nacional 17 rumo a Lourosa. Não a mais conhecida, de Santa Maria da Feira, mas a de Oliveira do Hospital. Que, apesar de ter 14 vezes menos habitantes, tem quase o triplo da área! E tem também uma Feira Moçárabe, a 12 e 13 de agosto, que merecer honras especiais de divulgação. É que, ao lado de jovens odaliscas, que iam brindando os participantes com água, pão com chouriço e fruta, os presidentes da autarquia oliveirense, José Francisco Rolo, e da Junta de Freguesia de Lourosa, José Carlos Marques, trajavam a rigor de sarracenos. Uma aldeia em festa em redor da Igreja Moçárabe, com 1111 anos, cujos arcos interiores apresentam inconfundível arquitetura árabe, a que se juntam outros motivos de interesse, como os túmulos exteriores ou a torre do relógio.
Inusitada queda de neve na pista do combate a incêndios
Sempre com a chuva no horizonte, desmotivando os motociclistas a despirem os impermeáveis, passagem pela Vila de Coja e Arganil, antes da chegada a Góis. Onde, depois de tantas e tão boas curvas, há sempre a garantia de uma receção calorosa a todos os motociclistas. Nas margens do rio Ceira, no mesmo local onde foi servido o jantar numa das primeiras edições, surgiu um reforço alimentar que viria a revelar-se extremamente útil.
É que, os corajosos que optaram por seguir o itinerário principal traçado pelos elementos da Comissão de Mototurismo da FMP, gastaram todas as calorias para controlar a moto na degradada e lamacenta subida até ao aeródromo de Coentral, onde o Moto Clube de Góis registava a chegada dos mais "loucos". Subida que fez muitos rogarem pragas à organização e que parecia mais própria da versão Off-Road do Portugal de Lés-a-Lés, sobretudo na parte final, onde o muito nevoeiro acrescentava dificuldade ao piso muito estragado. Esforço recompensado pela possibilidade de assistir a um nevão na muito inclinada pista de combates a incêndios no segundo topo da serra da Lousã. Bom, na verdade era neve artificial, mas com o nevoeiro e a descida da temperatura que se fez sentir a 1184 metros de altitude, parecia mesmo verdadeira...
Bem mais simples e com enorme beleza paisagística, a descida para Castanheira de Pera compensou em dobro todo o esforço feito a subir, com estradinhas deliciosas, por Coentral Grande, Sarnada e Pera, rodeadas de árvores autóctones e com muros "decorados" por musgos centenários. A que a chuva e o nevoeiro conferiam um aspeto místico, fazendo recordar tempos de antanho, num momento único que foi perdido pelos que optaram pela alternativa. Que ia diretamente à Praia das Rocas, local que fez pensar do bem que se estaria aqui se fosse um dia de sol e temperaturas mais condizentes com a época do ano.
Perderam ainda a possibilidade de ver a Pena, belíssima aldeia de xisto, ou os poços de neve, junto à igreja de Santo António da Neve, pois claro. No inverno eram estes poços cheios com neve para depois, no verão, serem cortados os cubos de gelo que eram transportados, embrulhados em palha e às costas de jumentos, até ao Zêzere e daí para a capital.
Quando o tamanho não conta para a diversão...
Uma subida que não assustou Rui Rodrigues que trocou as mais adaptadas Africa Twin (uma XRV650 da primeira série de 1988, e uma CRF1000 edição especial do 30º aniversário, de 2018) por uma pequeníssima Honda Monkey de 125cc. Fã incondicional da marca japonesa, decidiu comemorar de forma diferente a edição das Bodas de Prata do Portugal de Lés-a-Lés alinhando com a 25ª Honda que comprou! "Se era mais fácil com a Africa Twin? Talvez, mas, depois de 5 presenças com a AT, perdia toda a piada" contou entusiasmado o motociclista que viajou desde S. Pedro de Moel a Bragança e que, depois do Lés-a-Lés, voltará a casa pelos próprios meios. "Claro! É que nem outra hipótese colocava. E a diversão das passagens em terra, nomeadamente da subida ao aeródromo, são impagáveis. A potência que por vezes pode faltar é colmatada pelo baixo peso e a facilidade em apoiar os pés caso fosse necessário". O que, garante, "não aconteceu na subida, nem na descida ".
Menos sorte tiveram outros participantes que deram trabalho à equipa da Moto Medic, com as 8 motos no terreno a prestarem apoio imediato a partir de um centro de comando móvel e com modernos meios de rastreamento. Presente desde a 7ª edição do Lés-a-Lés, a equipa de Luís Isqueiro teve "mais dificuldades devido à chuva e ao mau tempo, mas apenas por causa das comunicações. Chuva que não aumentou assim tanto os incidentes e o número de assistências pedidas, antes mudou o perfil das lesões, com vários motociclistas a sofrerem quedas a pequenas velocidades ou mesmo parados, com muitos traumatismos e contusões. Aliás, entre os 17 casos do primeiro dia o mais grave foi uma entorse num tornozelo".
E note-se que o pelotão conta ainda com a presença dos osteopadas e massoterapeutas Inês, Miguel, Edgar, Rui, Mauro e Adriana, sempre prontos a recuperar os motociclistas para a etapa seguinte. Todos profissionais formados no Instituto de Medicina Tradicional e que desde 2018 marcam presença.
O campeão trouxe a família
Quem também se divertiu à grande nos pisos de terra foi o pluricampeão nacional de Enduro e Todo-o-Terreno, Paulo Marques, que, pela primeira vez trouxe toda a família. À esposa Elisa, que já alinhava há uma década, juntaram-se os filhos Gil, Francisca (à pendura do namorado Pedro) e a mais jovem Joana. Que sempre juntos e muito divertidos são a prova mais evidente de que este é, sempre e cada vez mais, um evento familiar. E é notório um número crescente de participantes com os filhos à pendura ou mesmo noutras motos.
Todos unidos no prazer do mototurismo como da proteção da natureza, sublinhada na passagem por Adega, Pedrógão Grande, onde em 2017, após a enorme vaga de incêndios foram plantados um carvalho e um sobreiro. Ação incluída no âmbito da campanha de reflorestação da FMP, em que foram distribuídos milhares de árvores autóctones pelos concelhos mais atingidos pelo fogo. Além da natureza há também as descobertas históricas, como nas passagens em Cernache do Bonjardim, terra de Nuno Álvares Pereira, ou em Dornes, uma das grandes estreias deste LaL. Terra de mística templária, ostenta uma curiosa torre pentagonal, numa aldeia que, devido à subida das águas do Zêzere, ficou transformada numa península.
Tudo num dia que, apesar de fustigado por grandes chuvadas, acabou com bom tempo em Ourém, permitindo uma visita opcional ao grande e muito fotogénico castelo. E muitos foram os que, chegando cedo, subiram ao interior das muralhas, em fase de recuperação e dinamização com centro de interpretação, enquanto outros, talvez mais fatigados ou menos afoitos nestas descobertas, estacionaram numa das muitas esplanadas antes do animado jantar Centro Municipal de Exposições.
E bem cedo foram descansar porque a última etapa do 25º Portugal de Lés-a-Lés prevê-se muito exigente. Uma tirada maratona entre Ourém e Sagres, com 425 quilómetros para cumprir em 10 horas e 20 minutos! Vá lá que a meteorologia parece mostrar alguma clemência para o último dia da aventura...
Rei-Sol entregou prémios aos mais resistentes motociclistas do 25º Portugal de Lés-a-Lés
Maratona de aventura até fim do mundo
"Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe" diz a sabedoria popular. Um adágio perfeito para o cenário climatérico que envolveu a especialíssima edição das Bodas de Prata do Portugal de Lés-a-Lés. No Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o Rei-Sol prestou homenagem aos aventureiros descobridores das maravilhas deste "jardim à beira-mar plantado", no final de uma maratona da ponta nordeste do mapa continental até ao local "onde a Terra acaba e o mar começa".
Com a desagradável chuva intensa dos três primeiros como um pesadelo que parecia ficar para trás, a longa (muito longa, mesmo!) terceira e última etapa revelou um epílogo digno de filme galardoado no retrato da ligação entre Bragança e Sagres, com paragens em Viseu e Ourém. Foram 425 quilómetros, é certo, mas que se anteviam "mais curtos" que os 240km da véspera, percorridos debaixo de condições climatéricas particularmente exigentes.
Mesmo assim, foram mais de 10 horas em cima das motos, desde a saída, madrugadora, através do pouco explorado Ribatejo, onde foi "investido" mais tempo para descobrir segredos, seguindo depois a planície alentejana em ritmo certinho para ganhar tempo. Que seria bem aproveitado na parte final, num rendilhando mototurístico pela serra de Monchique, as falésias e praias quase desertas do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, para terminar em grande festa com o Atlântico como pano de fundo.
Sol brindou os resistentes e "Saramago" não deu autógrafos
Num dia em que as temperaturas andaram entre os 20 e os quase 30 graus, com algumas nuvens no céu a proteger os aventureiros da inclemência do sol, havia que gerir esforços. Por isso, as verdejantes estradas encontradas para sair de Ourém fugindo a descaracterizados centros urbanos foram perfeitas.
Condições de excelência para atravessar a lezíria ribatejana, sem ver nenhum dos famosos fenómenos no Entroncamento para os encontrar, isso sim, um pouco mais adiante, na centenária Quinta da Cardiga. Imponente imóvel de história registada desde o tempo de D. Afonso Henriques, começando pelo castelo construído em 1169, e que foi local excelente para o Oásis da BMW, que, desde há vários anos, é um dos principais suportes do Portugal de Lés-a-Lés. Pequena pausa para esticar as pernas e tomar um café antes da entrada triunfal na Golegã, pela imponente Porta de Fernão Lourenço, assinalando nova estreia na maior aventura mototurística da Europa. Na vila onde o cavalo é rei, tempo para apreciar a Igreja Matriz, com magnifico portal manuelino e contemporânea do Infante de Sagres, ou a irreverente casa-estúdio do fotógrafo oitocentista Carlos Relvas.
Com as menções ao eventual pó de alguns pequenos troços de terra batida completamente desajustadas depois das chuvas dos últimos dias, a caravana teria o seu momento cultural um pouco mais adiante. Em Azinhaga, era um "renascido" José Saramago – e com um ar muito saudável, diga-se de passagem! – que esperava os motociclistas, de alicate em punho. Porque era mais importante picar a tarjeta do que levar um autógrafo! Na terra natal do Prémio Nobel da Literatura, o enquadramento foi proporcionado pelos tradicionais campinos da região ribatejana sendo que, só por acaso, vieram de Guimarães, fazer jus ao nome de Conquistadores para arrebatar o coração dos maratonistas com quadros animados e extremamente bem conseguidos.
Mas havia que virar mais uma das 60 páginas do "road-book", rumando a Santarém via Pombalinho, terra de cheias sempre que o Tejo extravasa as margens, mas que nunca tinha vivido tamanha enchente... de motos. Já na "capital" do Ribatejo e depois de uma entrada muito interessante, longe das chegadas tradicionais, toda a monumentalidade foi apreciada em andamento. Já se sabia que o dia era longo pelo que a visita à Igreja de Santa Maria da Graça, um dos mais belos exemplos da arquitetura religiosa do gótico flamejante ou a descoberta do quartel de onde saiu a Revolução dos Cravos ficaria para outra ocasião.
Mas se a alma pode esperar pelas descobertas dos tesouros da nossa História, já o corpo, mundano, pede alimento com mais frequência. Por isso foi fácil aceitar o convite para a pré-estreia do enorme espaço da Bluemotor, representante local da Yamaha. E que sublinha o entusiasmo crescente das marcas, sendo praticamente unânime o entendimento da importância de marcar presença no evento mototuristico que mais motociclistas movimenta em Portugal. E que, além da BMW, o maior suporte desde há vários anos, também a Yamaha, Honda, Suzuki ou Indian se tenham juntado a esta edição.
O "comboio" que fez parar a ponte
Saindo da área urbana escalabitana através de inusitados caminhos rurais até ao Cartaxo, mais uma estreia com a travessia do Tejo através da surpreendente Ponte Rainha D. Amélia. Construída em 1904, a pensar nas necessidades ferroviárias foi adaptada, no início do milénio, à circulação rodoviária após a construção da nova ponte para o comboio. Com 840m de travessia sobre grade, estreita e com semáforos porque apenas passa um automóvel de cada vez, criou natural constrangimento com a passagem das mais de 2000 motos, dando tempo a condutores e passageiros para se prepararem para a mudança de cenário.
Pela frente o extenso Alentejo, de retas intermináveis uma seca para todos, mas, sobretudo para os que conduzem motos mais pequenas, de menor cilindrada. Foi o caso do grupo das "cinquentinhas" de Santo Estevão, com direito a enorme festa familiar à passagem por Coruche, ou de Madalena Casanova. Que numa Yamaha DTR125, partiu sozinha à aventura, aos 18 anos, e quase "empurrada" pela mãe! Tendo descoberto as vantagens das duas rodas "aos 14 anos, para poder criar os próprios horários e ter independência nas deslocações", foi cimentando uma relação forte com as motos. Mesmo se não tem exemplos na família! O "bichinho" foi entrando e "este ano queria fazer uma viagem grande, sozinha, pela costa sul portuguesa e espanhola". Mas a mãe, quiçá preocupada por imaginar a filha em modo solitário na estrada, falou no Lés-a-Lés que havia descoberto, há uns anos, à pendura.
"Acho que, pelo olhar logo depois de ter falado, se arrependeu de imediato". Mas há três coisas que não voltam atrás. A pedra atirada, a palavra dita e a oportunidade perdida. Por isso, sem muitas preocupações com o refrão da música "Para Ti Maria" dos Xutos & Pontapés, saiu de Lisboa rumo a Bragança, sem medo das "nove horas de viagem".
Em Trás-os-Montes a condutora mais jovem deste 25º Portugal de Lés-a-Lés começou a descobrir "um ambiente único, com pessoas excelentes, algo que já imaginava pelo que ia lendo e ouvindo". E no final de "uma excelente e adorável primeira experiência em termos de grandes viagens", garantiu que vai voltar, aproveitando até "a enorme experiência ganha na condução à chuva, algo que fez sentir pouca confiança no início, sobretudo com uns pneus de piso misto, mais próprios para andar na terra". Além disso, a mãe da Madalena que se prepare, é que o convite para a presença no 8º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road no início de Outubro já foi feito e, imagine-se, aceite pela própria!
Os insetos que cortaram a estrada
Sem chuva e sem pó, embalada pela modorra alentejana, foi, porém, a carava surpreendida já no concelho de Évora por uma inusitada manifestação. Os insetos decidiram pronunciar-se contra o extermínio causado pelas motos e motociclistas, cortando a estrada em Valverde. Reclamavam contra os atentados de que são alvo devido à velocidade, esborrachando-se nas viseiras dos capacetes e carenagens das motos. Uma ideia genial dos sempre criativos elementos dos Motards do Ocidente, que teve o condão de todos animar, motivo de todas as conversas no Oásis da Indian, à sombra e com vista sobre o lindo castelo de Alvito transformado em Pousada, e que se prolongou ainda na barragem da ribeira de Odivelas, no concelho de Ferreira do Alentejo. Na represa do afluente do Sado, de enorme importância para a irrigação, permitindo a cultura do arroz, tomate e melão, a Honda tratou da sobremesa, com deliciosas bolas de Berlim e fruta para acompanhar o café, depois das sandes de carne servidas em Alvito. Um luxo!
Com as temperaturas normalmente mais quentes nas intermináveis retas alentejanas, os espíritos iam sendo despertos pelas notas do "road-book", como as que indicavam o caminho para Anta do Livramento ou de S. Brissos. Monumento megalítico, com mais de 5000 anos de existência e transformado em capela, tal como a Anta de Pavia, no concelho de Mora, que a caravana do Lés-a-Lés já visitou por mais de uma vez. Desvio que podia ser aconselhado às dezenas de Mazda MX5 ultrapassados pelo pelotão de duas rodas, já que fica perto da N2 que desciam em caravana de Chaves a Faro.
A beleza do sudoeste alentejano e a homenagem ao campeão
Depois de Viana do Alentejo, Ferreira do Alentejo e Aljustrel, fletindo para sudoeste, por estradas desconhecidas, panorâmicas e bem asfaltadas, começava a 3ª fase da etapa, entre medronheiros, sobreiros e azinheiras. Mas antes de virar para Monchique e daí, por Marmelete, descer rumo à costa, o Oásis BP montado em amplo espaço nas margens do rio Mira, em Santa-Clara-a-Velha, tempo para duas ou três notas. Primeiro: a presença de elementos do MC Porto, sempre prontos a "picar", mesmo tão longe de casa; Segundo: a coincidência com as festas da vila que impediu a travessia do pequeno pontão que já serviu em outras ocasiões, obrigando a uma volta maior; Terceiro: a saída, numa íngreme e curta subida em terra batida assustou os menos experientes, com motivos de receio que se revelaram infundados.
Continuando por estradas de serra recheadas de deliciosas curvinhas até à Fóia, onde a temperatura fez jus aos 902 metros do ponto mais alto do Algarve, tempo para uma fotografia junto à estátua que celebra o triunfo de Remco Evenepoeel, o atual campeão do Mundo de ciclismo, na Volta ao Algarve de 2020 e 2022. Tempo também para apreciar a ampla vista sobre o horizonte, abarcando o Atlântico, ganhando alento para a ponta final e despertando para as maravilhas que aí vinham. E, aconselhados pelos animados elementos do MC Albufeira naquele que era o último controlo em estrada, lá foram os motociclistas até Aljezur, Vila do Bispo e Sagres, onde a terra acaba e o mar começa.
Descida belíssima em direção a praias fabulosas, com falésias e paisagens de cortar a respiração e uma tranquilidade que não se encontra nas superlotadas praias voltadas a sul. Em aconselhada visita opcional, os mais regulares participantes tiveram tempo para pensar nas férias verão, passando pelas praias da Bordeira e do Amado, a meca do surf, ou o Pontal da Carrapateira. E outras, praticamente desertas como Cordoama ou Castelejo, antes de subir ao palanque que marcava o ponto final de 1085 quilómetros de descoberta e aventura. Foi a 25ª edição da maior maratona mototurística da Europa, ao longo de algumas das mais belas estradas nacionais, municipais e regionais. As autoestradas e vias rápidas, essas ficaram para o regresso a casa dos 2500 motociclistas extremamente satisfeitos e de alma cheia depois de mais um extremamente elogiado Portugal de Lés-a-Lés.
Manuel Marinheiro muito orgulhoso no balanço do 25º Portugal de Lés-a-Lés
"Chuva reforçou espírito motociclista"
Visivelmente satisfeito, com um semblante que mesclava o prazer de mais um enorme desafio superado com o desgaste igual ao de todos os participantes do 25º Portugal de Lés-a-Lés, Manuel Marinheiro chegou a Sagres com a certeza de dever cumprido. Tarefa muito exigente desde Bragança, "onde a chuva forte obrigou a mudanças de última hora em toda a logística das verificações e receção aos motociclistas". Foi, apenas, o primeiro de vários desafios surgidos, inesperadamente, ao longo de quatro dias e superados de tal forma que o presidente da Federação de Motociclismo de Portugal deixa bem claro "o enorme orgulho em toda a equipa que montou e conseguiu levar a bom porto este Lés-a-Lés".
Situações de dificuldade exponenciada pelo número de participantes, obrigando a uma gestão de recursos só conseguida graças à grande experiência acumulada ao longo de um quarto de século. "Depois de um Lés-a-Lés um pouco difícil e com alguns problemas devido ao calor excessivo, este ano avizinhava-se uma prova de fogo. Tanto mais que se tratava da 25ª edição, uma data que tínhamos de assinalar com uma grande festa" referiu Manuel Marinheiro, logo exibindo um largo sorriso para rematar: "E penso que foi o que aconteceu, mesmo com a chuva!"
Para o responsável máximo da organização, os comentários de todos foram a prova do acerto das mudanças e da capacidade de reação dos elementos da Comissão de Mototurismo da FMP. "Todos com quem falei o longo dos dias estavam satisfeitos e, no final, muitos foram a dar os parabéns de viva-voz a esta organização. Depois de 3 dias marcados pela chuva e uma última etapa com um tempo fantástico, com uma receção plena de sol no Algarve, a satisfação geral era bem percetível. Aliás, de um ponto de vista global, todos os dias foram muito bons, com um percurso ótimo e os Oásis a um nível muito elevado. Só espero que todos, mas mesmo todos, tenham gostado tanto deste Lés-a-Lés como eu!"
"A chuva é toda uma nova experiência"
Sensação curiosa sentida por toda a ampla equipa organizativa foi a de que os 2250 participantes estiveram muito contentes nos primeiros dias, apesar das condições climatéricas desfavoráveis. Uma perceção partilhada por Manuel Marinheiro, reconhecendo que "talvez pelo facto de, para muitos dos participantes, ser um grande desafio e uma aprendizagem. Até porque, a menos que seja feita uma utilização diária da moto, normalmente as pessoas só vão passear quando está sol. Por isso tiveram aqui uma experiência nova e esse é também, o espírito do Portugal de Lés-a-Lés. De resiliência de superação, de aprender a andar em todas as condições, incluindo conduzir à chuva. Tudo correu bem e todos os motociclistas aprenderam algo que os ajudará a ser condutores ainda mais seguros".
Perante um céu quase sempre carregado, de um impenetrável cinzento-escuro, descarregando quantidades bíblicas de água, uma nota particularmente importante para quem dá horas e horas de grande esforço em prol da camaradagem, da solidariedade e da... diversão. "Os motoclubes são essenciais para o LaL", sublinhou o presidente da Federação de Motociclismo de Portugal, acrescentando que "são peças imprescindíveis na engrenagem, ajudando a controlar a caravana e garantindo uma animação constante ao longo de todo o percurso. Estiveram, uma vez mais ao seu nível, simplesmente fantásticos, e em nome de todos os motociclistas deixo, também a eles, o meu muito obrigado! Voltamos a ver-nos em 2024"
Canícula ampliou dureza do Lés-a-Lés mais exigente dos últimos anos
Paisagens turvas pelo calor escaldante
Já de olhos postos nas bodas de prata do Portugal de Lés-a-Lés, tempo para um balanço da 24.ª edição da aventura que, desde 1999, liga dois extremos do mapa nacional. Uma epopeia marcada pelo calor, muito calor, que acompanhou os 2400 participantes de Faro a Bragança, com paragem em Castelo de Vide e na Covilhã, reforçando a exigência da maratona mototurística. Que, recorde-se, atravessou mais de 40 concelhos ao longo dos 1256 quilómetros percorridos durante mais de 32 horas de condução.
O trajeto delineado pela Comissão de Mototurismo da Federação de Motociclismo de Portugal passou ainda por 33 rios e ribeiras, 5 barragens e albufeiras e rodou nos Parques Naturais da Ria Formosa, Vale do Guadiana, Serra de S. Mamede, Tejo Internacional, Malcata e Douro Internacional. E permitiu a visita a 7 museus (Afonso III, Marítimo, Regional do Algarve, Ruínas de Milreu, do Rio, do Queijo, CEAMA de Almeida) e 4 catedrais, incluindo a ‘sede do MC Faro’ e a Concatedral de Miranda do Douro, além de atravessar 8 fronteiras luso espanholas e passar por territórios onde se falam quatro línguas diferentes: português, mirandês, castelhano e a ‘fala de Xálima’ ou da Extremadura.
Mais do que simples curiosidades, os números espelham a grandeza de um evento que contou com o apoio dos moto clubes de Faro, Albufeira, Falcões das Muralhas (Mértola), Moura, Moto Livres (Mourão), Motards do Ocidente, GM Arronches, Conquistadores (Guimarães), MK Mákinas (Tábua), Porto, Lobos da Neve (Covilhã), Moto Galos (Barcelos), Templários (Mogadouro) e Moto Cruzeiro (Bragança). Clubes que estão na génese do Portugal de Lés-a-Lés e que foram, como sempre, alicerce imprescindível para a organização da maior maratona mototurística da Europa.
As vacas e o javali, a GNR, os romanos e o Astérix
Sempre sob intensa canícula, os participantes que fizeram rolar as mais de 2200 motos foram controlados por umas simpáticas vaquinhas, em Alcoutim, onde viram a Guarda Nacional Republicana e a Guardia Civil a juntarem esforços para apanhar contrabandistas fugidios, encontraram muitos romanos (Milreu ou Penha Garcia) e até duas completas aldeias gaulesas. Junto ao Menir do Outeiro, o Astérix, Obélix e outros personagens ‘ocidentais’ criaram a Aldeia Gaulesa do Ocidente, enquanto em Freixiosa, já no concelho de Miranda do Douro, os Conquistadores continuaram a resistir aos romanos e ao calor, homenageando a tradução das aventuras do Astérix para o mirandês no mais animado controlo deste Lés-a-Lés. Ainda assim, curiosamente, quem encontrou e caçou o verdadeiro javali, aquele que o Obélix tanto gosta, foi o MK Mákinas que durante a noite passada no controlo em Penamacor foi visitado por um porco-bravo que rapidamente virou belo petisco.
Mas houve também reis, rainhas e até bobos da corte ao longo dos 18 pontos de controlos cujas picadelas na tarjeta assinalavam o total e perfeito cumprimento do percurso, tranquilo mesmo para antigos pilotos de renome como Alexandre Laranjeira, Miguel Farrajota, Bernardo Villar ou o virtuoso dos automóveis agora convertido às duas rodas, António Rodrigues. Tudo numa caravana, longa e heterogénea, que contou com atores, políticos, cantores, cientistas, mecânicos, vendedores, presidentes, jornalistas, pedreiros, camionistas, talhantes, carpinteiros e jogadores de futebol. Como Paulo Madeira, o antigo central da Seleção Nacional e do Benfica que, no palanque final, em Bragança, reconhecia “ter sido um Lés-a-Lés bem mais duro do que os treinos com José Mourinho”. Palavras que atestam bem da exigência do evento da FMP, conhecido que é o empenho extremo exigido em todos os treinos pelo ‘Special One’.
Um Portugal de Lés-a-Lés com percurso que mereceu aplausos unânimes, mas que foi fortemente endurecido pelo calor. “A organização e os participantes foram surpreendidos por dias de calor extremo, os mais quentes do ano e isso aumentou a dificuldade para cumprir um trajeto longo no Alentejo e mais trabalhoso nas Beiras e Trás-os-Montes” sublinhou Ernesto Brochado.
Para o principal responsável pelo percurso, “o início do 2.º dia, que foi alvo de várias críticas, foi pensado para desfrutar da paisagem sem grandes paragens, mas o calor complicou as coisas”. Por isso mesmo, o elemento da Comissão de Mototurismo da FMP reforça o pedido “a todos os participantes para que guardem o ‘road-book’ e cumpram o trajeto numa Primavera fresca, verde e florida. E, aí sim, poderão apreciar na plenitude um percurso com tanto de trabalhoso como de belo. Tão exigente em termos de condução como imponente em termos de paisagens”. Em suma, um verdadeiro Portugal de Lés-a-Lés.
Casa cheia na apresentação do Portugal de Lés-a-Lés
No ano em que regressa à quase desabitada zona raiana, garantia de uma edição sem trânsito, por paisagens muitas vezes inóspitas, de perfil quase intimista, o 24º Portugal de Lés-a-Lés reforça o estatuto de grande aventura de descoberta nacional, chegando aos mais remotos pontos do mapa lusitano e passando mesmo para lá da fronteira. Travessias que darão outro colorido e ainda mais motivos de interesse ao evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal, e que viu, este domingo, desvendados muitos dos pormenores em concorrida Apresentação Oficial na Figueira da Foz.
Momento de ganhar apetite para o 'grande prato', de 9 a 12 de junho, quando cerca de 2000 mototuristas ligarão Faro a Bragança, com paragens em Castelo de Vide e Covilhã, e que antecedeu as primeiras inscrições na maratona gizada pela Comissão de Mototurismo da FMP. Altura ideal para todos os gostam de garantir um lugar na parte inicial da grande caravana, que, depois de um Passeio de Abertura de 45 quilómetros, no dia 9 de junho, entre o Centro Histórico, as praias e outros pontos históricos e paisagísticos do concelho farense, deverão cumprir longa tirada, de 460 quilómetros, até Castelo de Vide.
No Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas, tempo para os verdadeiros apreciadores da natureza mas também para os mais dados à História, variando entre os muitos menires e a curiosa igreja acastelada de Terena, a visão da albufeira do Alqueva com invejável nível de água ou as marmoreiras que sustentam a força económica da região. Dia também para várias idas a Espanha, uma delas com direito a passagem pela Ponte Internacional do Marco que, ao contrário do que o nome deixa antever, é tão pequena que apenas é possível passar uma moto de cada vez. Mais desafogadas as estradas na Serra de São Mamede, rumo à "Sintra do Alentejo" onde, em Dia de Portugal, será possível visitar a recém-inaugurada Casa de Cidadania Salgueiro Maia.
Paisagens de um e outro lado da fronteira
Mas a cerimónia que juntou muitos mototuristas no Malibu Foz Hotel e que contou com os presidentes das câmaras da Figueira da Foz (Pedro Santana Lopes), de Faro (Rogério Bacalhau), de Castelo de Vide (António Pita) e do vereador da Covilhã (José Miguel Oliveira), revelou outras surpresas. Como as que serão encontradas na jornada entre Castelo de Vide e a Covilhã, longa de 300 quilómetros apesar da curta distância em linha reta entre as duas localidades. Um ziguezaguear ibérico, com motivos de interesse de um e de outro lado da fronteira, do maior menir da Península Ibérica, na freguesia de Póvoa e Meadas, à curiosa barragem fronteira de Cedillo, que só abre durante os dias da semana e que estará especialmente franqueada para os participantes do Lés-a-Lés. Regresso a Portugal por Segura depois de atravessar a não menos interessante mas muito mais imponente Ponte de Alcântara, ativa da solidez dos seus 1900 anos! Valverde del Fresno ou Navasfrias são apenas dois exemplos de localidades a atravessar antes da visita, de novo no nosso País, à nascente do rio Côa, ao Sabugal, ao Museu do Queijo de Peraboa ainda a tempo de provar as cerejas da Cova da Beira.
No terceiro dia, mais uma etapa longa, de 390 quilómetros, da Covilhã a Bragança, com regresso ao concelho de Miranda do Douro mais de duas décadas depois da última visita. Depois da passagem em Almeida, Castelo Mendo ou Mogadouro, vislumbre do Douro Internacional nos miradouros de Freixiosa, S. João das Arribas e Penha das Torres, em jornada rematada pela passagem em mais pontes romanas e outros pontos de significado histórico sempre com soberba envolvente paisagística.
Uma descrição que reforçou o entusiasmo para a edição 24 do Portugal de Lés-a-Lés, bem refletido nas centenas de inscrições efetuadas de imediato e que deverá fazer esgotar rapidamente as inscrições online (www.les-a-les.com) a partir de 21 de março.
Milhares na invasão à Capital do Motociclismo
Portugal de Lés-a-Lés arrancou em Faro
Foi a Gadir dos Fenícios, a Tartesso dos Gregos, a Ossónoba dos Romanos e é, por estes dias e uma vez mais, a Capital do Motociclismo internacional. Faro, famosa pelo seu Moto Clube e pela Concentração Motociclística que este ano comemora 40 anos de vida, acolheu os mais de 2000 motociclistas que, até domingo, participam na 24.ª edição do Portugal de Lés-a-Lés. Peregrinação mototurística organizada pela Federação de Motociclismo de Portugal que cumpriu os primeiros 56 do total de 1216 quilómetros que levará a grande e heterogénea caravana até Bragança, com passagem por Castelo de Vide de Covilhã.
Um Passeio de Abertura que animou sobremaneira um dia que contemplou ainda as Verificações Técnicas e Documentais, entrecortadas por abraços aos amigos que não se viam há mais de um ano e sempre acompanhadas por algo fresco para molhar a garganta. Que o calor, que promete tornar esta edição numa das mais escaldantes de sempre, já começou a fazer sentir-se. Tempo, porém, para uma passagem tranquila pelo centro histórico farense, com visitas (gratuitas) à Sé e sua altaneira torre, ao Museu Afonso III, ou Museu Marítimo ou ao Museu Regional do Algarve. Com a canícula a servir de motivação para a visita aos espaços museológicos, por força da frescura destes espaços, nada como aproveitar e ficar a conhecer um acervo que conta, de forma ímpar, a história de uma cidade com origens milenares.
Uma pequena tirada que mostrou um Algarve pouco conhecido da maioria, de pomares e laranjais, de noras e estufas, rumo aos vestígios romanos de Milreu. Ruínas de um passado opulento que encantaram pelos painéis de bonitos mosaicos que decoravam as villas construídas vai para dois mil anos. Bem mais conhecida é a fotogénica costa algarvia, onde abundam praias fabulosas, mesmo se poucas revelam tanto cuidado ambiental quanto a do Ancão. Onde muitos foram os motociclistas que não resistiram ao chamamento do amplo areal e de um mar que ajudou a combater os mais de 35.º que se fizeram sentir em boa parte do dia.
Campos de golfe e mais praias, lagoas e até os primeiros quilómetros em caminhos de terra batida foram outras notas de destaque num dia que, saindo da Sé Catedral, terminou na catedral do motociclismo nacional, sede do Moto Clube de Faro. Cujos sócios acolheram de forma calorosa os amigos que, no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, arrancam bem cedo, a partir das 6 horas e 30 rumo a Castelo de Vide. Uma verdadeira maratona de 440 quilómetros de extensão, na zona raiana e com direito a duas incursões em território espanhol, que promete ser literalmente escaldante.
Portugal de Lés-a-Lés arranca no dia mais quente do ano
Uma aventura no Alentejo escaldante
Já se adivinhava calor! Muito calor mesmo, tinham prometido os técnicos da meteorologia e as previsões só pecaram por defeito. É que o dia em que partiu a caravana do Portugal de Lés-a-Lés da veraneante região algarvia rumo à infernal zona alentejana, foi mesmo o mais quente do ano, com temperaturas que ultrapassaram os 40º centígrados. Para trás ficaram as praias e piscinas dos hotéis e complexos turísticos de Faro e, pela frente, os mais de 2000 motociclistas que aceitaram o desafio da Federação de Motociclismo de Portugal, tiveram 440 quilómetros até Castelo de Vide. Manhã bem cedo, mal o sol tinha espreitado no horizonte e já os termómetros marcavam 27º, e ainda antes das 9 horas, em Alcoutim, já ultrapassavam os 30º. E foi subindo até chegar a valores que ainda ninguém por cá tinha experimentado este ano.
Saída serena do Algarve, deixando para trás a serrania que separa o Alentejo e com Espanha sempre no horizonte para, junto ao Guadiana, aproveitar todas as curvas da bela estrada M507 rebatizada de Rita Guerra. Bela, de tons morenos e aroma mediterrânico, encantou pelas curvas e pela brisa que movia veleiros rio acima. Barreira fluvial que foi acompanhando os aventureiros rumo a Alcoutim onde contrabandistas, a portuguesa GNR e a espanhola Guardia Civil juntaram-se aos animados elementos do Moto Clube de Albufeira num divertido posto de controlo. Foi a primeira de muitas tropelias que animaram a caravana e ajudaram a combater a canícula, com muita água para beber e para molhar os pés na praia fluvial na margem da Ribeira de Cadavais.
Proibido era ficar demasiado tempo parado porque, com o relógio a avançar, também a temperatura ia subindo. Entrou-se no Alentejo o que, mesmo sem a já tradicional travessia a vau do Vascão, foi bem percetível pelas estradas menos curvilíneas ainda que sem as intermináveis retas que haveriam de surgir mais tarde. Antes disso, passagem pela islâmica Mértola e o seu altaneiro castelo onde o moto clube Falcões das Muralhas, assumiu a defesa do seu território. Não fossem os muitos espanhóis que conferem um toque internacional à longa caravana ter ideias…
Road-book em castelhano… não fosse algum espanhol perder-se
Espanhóis que foram brindados, logo de seguida, com uma estreia no Portugal de Lés-a-Lés. Se é verdade que, em várias ocasiões, foi a trupe até ao lado de lá da fronteira, não menos verdade é que nunca antes houve notas do road-book escritas em castelhano. Saltos para lá e para cá quase sem dar conta das linhas que outrora eram momento de tensão ibérica. Agora, sem grande espaço nas malas das motos para caramelos, bacalhau ou outro contrabando, a passagem só era notória porque havia avisos… no road-book. De resto, apenas pequenos marcos em pedra, um posto fronteiriço em ruínas ou uma Ponte Internacional (do Marco ou El Marco) em madeira e onde cabe apenas uma moto de cada vez. E automóveis, nem pensar!
Sempre com uma canícula que quase derreteu até os mais veteranos, a aldeia de Safara, bem no coração do concelho de Moura, permitiu saborear os deliciosos enchidos da região. E se pensam que foi uma má opção, lembrem-se que o sal ajuda a minorar os efeitos da desidratação causados pelas altas temperaturas e pelo vento quente que ia secando os corpos. Que o diga o ator Vítor Norte, experiente de muitas Lés-a-Lés sempre com a sua inseparável Gina, a não menos experiente Yamaha Virago 535 que há muito o acompanha. “Foi um dia duro, muito duro, ao nível das mais exigentes jornadas de gravação de um filme ou de uma telenovela”, contou em castelo de Vide o taxista Manel Martins da novela ‘Festa é Festa’.
Sem festa, a passagem pela Amareleja proporcionou o que era esperado! No ponto continental onde são registadas as maiores temperaturas, lá estavam os termómetros para cima dos 40º, abrindo o apetite para a muita água que o Moto Livres Club e a autarquia local disponibilizaram no castelo de Mourão. Com uma vista fabulosa, tempo para apreciar o grande lago do Alqueva que represa o Guadiana e seus afluentes, antes de mais descobertas de um Alentejo que não para de surpreender. Seja no fotogénico monumento de Homenagem ao Cante Alentejano, como nos diversos menires, antes e cromeleques que atestam a existência de civilizações bem antigas na região.
Ainda assim, nada que preparasse os participantes no maior evento mototurístico da Europa para descoberta da Aldeia Gaulesa do Ocidente, bem perto do menir do Outeiro que, com 5,6 metros de altura é o segundo mais imponente de Portugal. Cenário perfeito para um Obélix carregador de menires, o Astérix, o Panoramix, o Ordemalfabétix, a Sr.ª Decanonix e até a bela Falbala, personagens interpretados na perfeição pelos elementos dos Motards do Ocidente. Tempo também para o primeiro troço de terra batida (estas aldeias são mesmo muito antigas…) onde a Jawa 250 de 1952, conduzida por Hélder Alves, ou as muitas Honda PCX 125 não tiveram qualquer problema. Afinal o Portugal de Lés-a-Lés é uma aventura para todas as motos, que não para todos os motociclistas…
O peso da História no Dia de Portugal
No Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, tempo para recordar mais alguns pontos de grande peso histórico na afirmação da independência lusitana, incluindo os castelos de Terena (à distância) ou de Vila Viçosa (por dentro) antes de nova paragem em Borba junto à Fonte das Bicas eu desde 1781 mata a sede a quem por ali passa. Barbacena e Arronches foram pontos do mapa visitados antes de nova entrada em Espanha, que deixou italianos, franceses, suíços, neerlandeses, polacos, romenos, alemães, luxemburgueses, croatas, belgas, estado-unidenses e húngaros mais baralhados. O arrevesado espanholês ou o lírico portunhol utilizado nas notas de navegação aumentou a dificuldade de perceção na mesma medida que exponenciou a diversão para os ibéricos. Que, cansados, mas bem-dispostos, chegaram, todos, a Castelo de Vide, final de uma etapa de 440 quilómetros que será recordada como uma das mais exigentes dos 24 anos de história do Portugal de Lés-a-Lés.
Tal como deverá ficar recordada a ligação entre a Sintra do Alentejo e a Covilhã, com 360 quilómetros de descobertas e emoções, de sabores e paisagens. E muito calor!...
Portugal de Lés-a-Lés continua a bater recordes… de temperatura
Calor marcou viagem até ao covil dos Lobos
A caravana estava avisada. Depois das temperaturas elevadas no primeiro dia, o calor voltou em força na segunda etapa do Portugal de Lés-a-Lés. Entre Castelo de Vide e a Covilhã, 360 quilómetros de estradas fabulosas, paisagens imponentes, e descobertas de cortar o fôlego. Ou a falta de ar seria do calor?... Afinal ainda não eram 10 horas e já os termómetros marcavam mais de 40º centígrados. E haveriam de chegar perto dos 45º em alguns locais, obrigando os participantes a beber muitos milhares de litros de água e procurar umas sombras ou praias fluviais para evitar o sobreaquecimento das máquinas… humanas. Porque as outras, as mecânicas, parecem bem mais habituadas às extremas exigências térmicas.
As estratégias para evitar o calor foram muitas, mas uma das mais utilizadas foi mesmo a partida madrugadora desde Castelo de Vide, aproveitando as temperaturas mais amenas para descobrir as pitorescas estradas desertas até ao mais antigo menir do Mundo. A datação do menir da Meada aponta para um trabalho humano com mais de 7000 anos ao criar aquele que é o monólito pré-histórico mais alto da Península Ibérica. Afinal este monumento megalítico soma os 4 metros que revela acima do solo aos mais de 3,5 metros que esconde debaixo da terra. Números imponentes, é certo, mas que não travaram a caravana por mais tempo do que o necessário para uma foto e a picadela na tarjeta que assegura o cumprimento de todo o percurso elaborado pela Comissão de Mototurismo da Federação de Motociclismo de Portugal.
Espanha foi o destino seguinte, com entrada pela curiosa barragem de Cedillo que tem a particularidade de represar dois rios fazendo aproveitamento hidroelétrico de forma separada. Estradas de excelente piso e curvas largas, bem desenhadas, ‘devolveram’ a heterogénea caravana a Portugal, não sem antes ter direito a um ‘cheirinho’ da histórica cidade de Alcântara e da não menos monumental ponte que, há cerca de 2000 anos, garante o trânsito fronteiriço. Com o calor a intensificar-se, passando muito cedo dos 40º centígrados, nada como atentar nos mais experientes motociclistas.
Luís Simão é um dos quatro participantes totalistas e tem a curiosidade de ter cumprido as 24 edições com a mesma Yamaha Virago 535 e, imagine-se, com o mesmo blusão, bem grosso, de couro. “É a melhor arma contra o calor, evitando a desidratação e as queimaduras da pele além de garantir a segurança em todas as situações”. Ainda assim o experiente motociclista garante que “mesmo tendo sido um dia muito quente, já houve outras edições com temperaturas mais elevadas e um grau de exigência física bem superior”.
Da fria Suíça ao escaldante Portugal
Calor que não impediu a diversão e prazer de condução de dois Carlos Manuel, o Carvalho e o Ferreira, emigrados há décadas na Suíça e que, nos últimos cinco anos, marcam uns dias de férias para rumar ao ‘seu’ Portugal… de Lés-a-Lés. Bom, na verdade, o de apelido Carvalho esteve ausente em 2021, porque “a data coincidiu com a festa de 25 anos de casamento e não era boa ideia sair de casa nesse dia. Não fosse ter que juntar a festa do divórcio!”. Muito divertidos, agradados com as estradas e a animação que os surpreende a cada ano, ficaram espantados com a produção ‘hollywodesca’ preparada pelos Conquistadores de Guimarães em Penha Garcia. Aumento exponencial da população da aldeia famosa pelos vestígios de ocupação milenar e pela imponente posição estratégica, garantido pelos 28 ‘romanos’ que os elementos do moto clube vimaranense interpretaram na perfeição. E onde não faltaram legionários, centuriões, legados, senadores e até mesmo dois… crucificados, que iam picando as tarjetas frente a um cenário geológico criado desde há mais de 4 milhões de anos.
Imagem apaixonante para qualquer geólogo capaz de catalogar as paredes de xisto, como deliciosa, para toda a caravana, foi a sensação aromática das searas recentemente ceifadas, de avaliação bem menos erudita. Como entusiasmante também foi a passagem por Idanha-a-Velha onde a Honda tratou de matar a sede à caravana, antes mesmo de passagem pela pitoresca aldeia de João Pires. Emoções de descoberta ‘amadurecidas’ no aprazível parque de campismo do Freixial, nas margens do rio Bazágueda, com descanso nas tão desejadas sombras no relvado.
A história da rainha, do bobo e da cozinheira premiada
Mas haveria muito mais antes da chegada à Covilhã onde o dinâmico Moto Clube Lobos da Neve preparou uma receção digna de reis. Do chuveiro que ia refrescando a caravana antes de subir ao palanque de chegada ao saboroso Bacalhau à Assis servido ao jantar. Um prato com história única na cidade serrana, que mete um cozinheiro chinês no meio de um grande nevão, e que foi preparado por Patrícia Santos, ‘chef’ ganhador do master Chef em 2010. Comida deliciosa acompanhada por um concerto ao vivo, animando o amplo espaço onde ficou instalado o serviço de assistência mecânica e de recuperação física. A cargo de jovens, mas bem experientes, osteopatas, naturopatas e massoterapeutas que iam minimizando os efeitos de maleitas acabadinhas de arranjar ou algumas mais antigas, carinhosamente ‘trazidas de casa’.
Antes, porém, tempo para uma visita ao mais importante apoio estrangeiro do Lés-a-Lés, com ida às instalações da Motoval em Vilaverde del Fresno. Mas também para incursões mais radicais em caminhos de terra, para a descoberta do célebre forcão das capeias arraianas e até a possibilidade de conhecer a nascente do Rio Côa. Sem esquecer, claro, novo momento histórico protagonizado junto ao castelo de Sabugal, por uma elegante e poderosa rainha e o seu bobo da corte. Dos verdadeiros.
Momentos de diversão que ajudaram a descontrair num dia escaldante, em jeito de preparação para a ‘etapa-rainha’ do 24.º Portugal de Lés-a-Lés, da Covilhã até Bragança. E que, apesar de uma quilometragem semelhante, terá muitos mais horas de condução, com um entusiasmante, mas muito exigente, rendilhado de estradas e estradinhas.
Terminou em festa o Portugal Lés-a-Lés mais exigente dos últimos anos
O genuíno espírito reencontrado numa pequena aldeia transmontana
Num Portugal de Lés-a-Lés marcado por um calor abrasador, atravessando um percurso bem trabalhoso ao longo da zona raiana nos dias mais quentes do ano, os cerca de 2400 participantes precisaram esperar pelos últimos dos 1216 quilómetros do percurso para viver um momento do mais genuíno espírito do evento que a Federação de Motociclismo de Portugal organiza desde 1999. Gigantesca surpresa que transformou a pequena aldeia de Freixiosa, do concelho de Miranda do Douro, no verdadeiro epicentro do universo motociclístico. Os 47 habitantes viram a sua pequena aldeia invadida pelos elementos de um dos mais ativos e criativos clubes que acompanha a Comissão de Mototurismo na FMP, os Conquistadores, de Guimarães, que deram um toque único à povoação, ajudando os mototuristas a esquecer as agruras do calor.
Temperaturas altas que foram companhia constante desde Faro, tornando a edição de 2022 numa das mais duras de sempre (lado a lado com a não menos escaldante 2017 ou a chuvosa 2010), mas que, na última etapa, entre a Covilhã e Bragança deram algumas tréguas. O dia até começou agradável para a ‘prática da modalidade’, com a frescura matinal a ajudar a apreciar tranquilamente as paisagens bucólicas nas faldas do mais alto maciço montanhoso do continente. Tranquilidade que, apesar de todo o cuidado dos mototuristas, não impediu o despertar de curiosidade nas pequenas aldeias atravessadas, com o assomar às portas e janelas de rostos estremunhados pela inusitada agitação. Estradas e estradinhas, variando entre as mais rápidas e outras cheiinhas de prazenteiras curvas, permitindo agradável arredondar dos pneus até Castelo Mendo onde o primeiro controlo do dia fazia companhia ao mais alto pelourinho de Portugal, honrado com a presença da ‘realeza’ do Moto Clube do Porto.
Momento histórico seguido de uma não menos impressionante visita à monumental fortaleza de Almeida, famosa pelas casas com telhados de pedra à prova de bomba, onde marcou presença a NEXX. Que, além da assistência necessária aos capacetes fabricados na Anadia e da indispensável água, propunha um jogo simples e cujo prémio era uma t-shirt exclusiva da marca. Mas as t-shirts voltaram quase todas para casa, tão fraca era a pontaria dos participantes que não conseguiam atirar ao chão umas simples latinhas com as bolas de ténis.
Prazeres escaldantes Portugal acima
Seguiu a longa e heterogénea caravana para norte, rumo ao Parque Natural do Douro Internacional, não sem antes vislumbrar a serra da Marofa, de atravessar o Rio Águeda e abeirar o Douro em Barca de Alva. Pelo caminho tempo para desfrutar da estrada nacional 221, rebatizada de ‘Simone de Oliveira’, por força das semelhanças com a cantora e atriz. Nostálgica, indestrutível e bela, oferecedora de uma elegância única a curvar, que teria como recompensa o café, os pastéis de nata e as águas frescas no Oásis BMW-Antero, a poucos metros de mais uma fronteira luso-espanhola.
Curvas, muitas curvas, que foram palco momentos de grande prazer de condução para os mais experientes como para os novatos, até nova paragem, em Mogadouro. Onde o estreante Alcides Queirós só lamentava “ter desperdiçado, durante 23 anos, a possibilidade de descobrir Portugal de uma forma única”. Com um sorriso jovial e um entusiasmo que disfarçava os 63 anos de idade, exibia orgulhosamente a bandeira da freguesia de Carregosa, Oliveira de Azeméis, enquanto contava a sua história.
“Uns amigos lançaram o desafio e, assim que a vida pessoal e profissional permitiu, fiz a inscrição e lá fui até Faro. Foi o cumprir de um sonho de longa data. Sozinho, e sem ninguém conhecido, coloquei uma questão a uns participantes que estavam por lá e acabei a fazer o percurso com os ‘cinco violinos’, os meus novos amigos. E, para que fique registado, todo o percurso foi cumprido na íntegra e ao minuto, com a Honda 700 Deauville que tem três ou quatro vezes o meu peso…” Mais uma prova de que o Lés-a-Lés é para todas as motos, mas não é para todos os motociclistas!
Amores e tradições que teimam em resistir ao tempo
Em Mogadouro, no preciso local onde arrancou a edição de 2011, a paragem deu para recordar as sensações da estrada ‘Helena Costa’, o troço da N221 até Freixo de Espada à Cinta, curvilínea, elegante e resistente como a atriz que conta no seu ’palmarés’ com os dois Lés-a-Lés mais escaldantes: o de 2017 e de 2022. E que, tal como todos os motociclistas, teve que fazer opções na parte final do percurso, entre as visitas aos miradouros de Picões, Freixiosa e São João de Arribas. Além da imperdível e obrigatória passagem pela espetacular sede do Moto Clube Abutres do Asfalto, na recuperada estação ferroviária de Sendim, onde não faltaram as Pauliteiras de Sendim (sim Pauliteiras!, meninas).
Já os mais conhecidos Pauliteiros de Miranda estavam em força na aldeia da Freixiosa, onde teve lugar uma das mais espetaculares demonstrações de dinamismo e carinho regional de que há memória em mais de duas décadas de Lés-a-Lés. Depois de, na véspera, os Conquistadores de Guimarães terem feito ‘estragos’ em Penha Garcia, ‘voltaram à carga’ com cerca de meia centena de figurantes na mais pequena aldeia da Freguesia de Vila Chã de Braciosa. Onde Dalila Valentim, a ‘filha querida’ que a todos os habitantes da Freixiosa acode, indo muito além das funções de tesoureira da junta não se poupou a esforços para criar um momento inolvidável. Apaixonada pela sua aldeia natal, não esqueceu o berço mesmo depois de passagens da vida por França, Porto e Lisboa. “Há 3 anos surgiu a oportunidade de voltar e logo foi aceite sem hesitar. Daí para cá, todo o trabalho é feito em prol da população, de média etária muito, mas mesmo muito, elevada”. E aqueles que são o casal mais jovem da terra, pais da mais nova habitante da aldeia, Matilde, de 10 anos, tudo fizeram nas últimas semanas para reunir as condições para uma grande festa.
“O desafio lançado pela presidente da autarquia de Miranda do Douro, Dr.ª Helena Barril, foi levado muito a sério, motivando toda a população e artesãos de Freixiosa e Fonte da Aldeia, num evento que será, seguramente, recordado por muitos anos”. Isto é, afinal, a essência do Portugal de Lés-a-Lés, criado em 1999 por força do entusiasmo de cinco motos clubes (Porto, Estarreja, Mototurismo do Centro, Motards do Ocidente e Lisboa). Descobrir a essência de Portugal, as suas paisagens e gentes, as suas estradas e artesanato, como as navalhas de Palaçoulo, as gaitas de foles e castanholas, as peças criadas a partir do burel.
Daí até ao epílogo, em Bragança, a passagem por Miranda do Douro ajudou a perceber a importância do mirandês, a 2.ª língua oficial de Portugal, bem patente na toponímia das terras atravessadas. Bem como o valor dos burros de Miranda, raça que esteve quase extinta e foi recuperada por algumas associações como o Parque Ibérico de Natureza e Aventura de Vimioso onde estava um dos últimos dos 18 controlos que atestavam o cumprimento total do percurso gizado pela Comissão de Mototurismo da FMP.
E, claro, Lés-a-Lés sem caminhos terra não é aventura que se preze. Por isso, ainda antes da chegada a Bragança, tempo para um desvio com direito a passagem pela ponte visigótica sobre o rio Maçãs, construída no século XIV. Sólida como a maior aventura mototurística da Europa e, quiçá, do Mundo. Com novo episódio já marcado para 2024. E com a particularidade de celebrar as bodas de prata.
Por falar em festa, momento alto desta edição foi um insólito pedido de casamento em pleno palanque de chegada do habitué dos moto-ralis João Correia à sua companheira de sempre, Rita Martins. Que disse que sim!
Sorrisos genuínos de participantes e populações foram prémio maior para a organização do 23.º Portugal de Lés-a-Lés
Sucesso em todas as frentes
Se 2020 assistiu à edição de resiliência e do querer, da inquebrantável vontade da organização em colocar na estrada o Portugal de Lés-a-Lés, 2021 provou a importância do evento que a Federação de Motociclismo de Portugal promove há 23 anos. O sucesso foi, mais do que nunca, medido em sorrisos, valor intangível em termos de retorno financeiro, mas que deixou todos de coração cheio. Todos! Dos elementos da eficaz máquina organizativa aos cerca de 2500 participantes, passando pelos elementos das autarquias, freguesias e clubes que apoiaram a grande maratona e, sobretudo, das populações atravessadas pela enorme e heterogénea caravana.
Foram 1027 quilómetros de descoberta e alegria, de História e boa disposição. Incapazes de resistir ao chamamento da grande aventura, atores, músicos, desportistas e outras personalidades marcaram presença na maior festa do mototurismo nacional, alinhando no 23.º Portugal de Lés-a-Lés. Uns pela primeira vez, outros com milhares de quilómetros de experiência, partilharam a estrada com mais 2500 mototuristas que, durante três dias, ligaram Chaves a Faro, com paragem em São Pedro do Sul e Abrantes. Evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal e que, pela primeira vez, assumiu um formato temático, em redor da 3.ª maior estrada do Mundo, a N2.
Promessas de aventura x2
Em verdadeira fórmula de sucesso garantido, a Federação de Motociclismo de Portugal apresentou o 23.º Portugal de Lés-a-Lés, desvendando um percurso que oferece autêntico ‘dois-em-um’. De 2 a 5 de junho, entre Chaves e Faro, com paragens anunciadas em São Pedro do Sul e Abrantes, a grande maratona mototurística volta a atravessar o País com a novidade de, pela primeira e única vez, o fazer ao longo da cada vez mais procurada estrada Nacional 2, ajudando muitos a concretizar um duplo desejo. Novidades comunicadas durante uma sessão online onde o mote “Muito mais que a N2” foi sublinhado ao longo da minuciosa descrição de um trajeto que, sempre ao longo da antiga espinha dorsal do sistema rodoviário nacional, vai derivar muitas vezes, na descoberta de praias fluviais e miradouros, centros históricos e campos de batalha, castelos e outros monumentos.
Ou seja, para muitos que queriam cumprir os 738,5 km da 3.ª maior estrada do Mundo, a Comissão de Mototurismo da FMP juntou agora a possibilidade de o fazerem de uma forma ímpar, proporcionando ao mesmo tempo a presença num evento único como é o Lés-a-Lés. Uma travessia de Portugal Continental onde as monótonas autoestradas, as incaracterísticas SCUT ou os poucos interessantes Itinerários Principais e Secundários são preteridos em favor das mais pitorescas estradas nacionais e regionais ou mesmo de surpreendentes caminhos municipais. Ao todo, mais de 1000 quilómetros em 4 dias de puro prazer de condução e descoberta, num evento apoiado pela Associação de Municípios da Rota da Estrada Nacional 2 e com os patrocínios da BMW Portugal, BP, Viagens Abreu, NEXX, Via Verde e Dunlop. E que já tem as inscrições abertas, exclusivamente no site www.les-a-les.com, prolongando-se até 15 de maio, mantendo-se o limite do pelotão nos 2000 participantes. Número que até poderá obrigar a fechar as inscrições mais cedo! E, como de costume, os primeiros a inscreverem-se, partirão na frente do grande, divertido, heterogéneo e animado pelotão.
Já está na estrada o 23.º Portugal de Lés-a-Lés e foi até à fronteira
Com um pé cá e outro lá…
É, de há cinco anos a esta parte, quando o atual formato de quatro dias substituiu o prólogo mais duas etapas, uma data diferente, marcado pelo reencontro de amizades de longa data. Ou dos amigos que se fizeram no ano passado. É dia do Passeio de Abertura do Portugal de Lés-a-Lés que, na 23.ª edição, rodará, pela primeira vez, em torno de um tema. Ou melhor ao longo dele. Da N2, essa estrada mítica que é a 3.ª mais extensa do Mundo, com 738,5 quilómetros entre Chaves e Faro. Mas o Lés-a-Lés é, sempre, diferente! E em 2021, com entusiasmo acrescido depois de meses de infindável fome de estrada, será ‘Muito Mais Que a N2’.
Claro que, para que tudo decorra na máxima segurança e respeito pelo Código da Estrada, motos e condutores passaram pelas Verificações Técnicas e Documentais, pró-forma cumprido dentro das mais estritas regras de segurança sanitária. Mas nem as máscaras ou os abraços virtuais beliscaram a animação do reencontro antes do arranque rumo a um percurso pelas serranas aldeias do concelho de Chaves, entre soutos de centenários castanheiros e rotas onde os contrabandistas ganhavam o sustento da família. Nada menos de 96 km de deslumbramento, de prazer de condução e de uma alegria em cada aldeia como há muito não se sentia.
Arranque condizente com a resiliência e majestosidade do Lés-a-Lés, bem vincada na concretização da edição 2020, marcada por inúmeras limitações e dificuldades, a passagem pela milenar Ponte de Trajano. E não é todos os dias que um veículo motorizado pode passar a ponte pedonal criada pelos romanos, tal como os muitos troços de calçada romana que por aqui vão resistindo ao passar dos séculos.
As fotos no marco Zero que vão para todo Mundo
Mas, para começar, nada como a passagem pelo marco zero da N2, com mais uns milhares de fotografias para a posteridade daquele que é um dos pontos mais fotografados pelos mototuristas portugueses e pelos muitos estrangeiros que aqui acorrem em número crescente. Só nesta edição do Lés-a-Lés, além de muitos e cada vez mais espanhóis, motociclistas que vieram desde França, Itália, Hungria, Suíça, Alemanha, Inglaterra ou Bélgica, para, logo de entrada, apreciarem a vistas desafogadas sobre o vale do Tâmega até ao lado de lá da fronteira, a partir do Miradouro de São Lourenço. Momento de deslumbre ligeiramente ensombrado pelo aberrante castelo que um americano está a construir à imagem das fortificações do Séc. XII para tornar num polo de atração turística. Mais modesta, mas bem terrena e simpática, a sede do Clube Motard de Chaves, presidido por Filipe Carvalhal, recebeu a longa e heterogénea caravana, que vai desde as pequenas Sachs V5, Casal e Zundapp XF-17 de 50 cc ou várias Honda 125 PCX até às maiores Honda Gold Wing de 1800 cc, passando por muitas BMW (a marca mais representada) num carrossel de modelos, cores e cilindradas bem diversificados.
Mas nem só de N2 vive o Homem, tão pouco o Lés-a-Lés. Mesmo sendo este um passeio temático teve, logo no primeiro dia, um toque de diversidade na bonita EN 103, que liga Viana do Castelo a Bragança, antes da passagem pelo castelo em Santo Estêvão, uma das três fortificações que existem no concelho, palco de muitas investidas das tropas castelhanas e onde o Rei D. Afonso II viveu na sua juventude. Passagem ainda pelo Castelo de Monforte de Rio Livre, epicentro do concelho e de onde se avista uma paisagem deslumbrante, que bem valeu a passagem pelos caminhos de terra batida, ou pela curiosa pedra bolideira em plena serra do Brunheiro. Um enorme bloco granítico de forma arredondada, com mais de 3 metros de altura e cerca de 10 de comprimento, que, mesmo pesando várias toneladas, é possível mover apenas com um empurrão de qualquer pessoa. E muitos o comprovaram.
Arte de um flaviense em todo o seu esplendor
Num dia de temperatura agradável para a ‘prática da modalidade’, com o sol tímido a garantir uma fresca agradável para andar de moto, deleite com pormenores de histórica beleza em aldeias como Faiões, Oucidres, Mairos ou, outras ainda, carregadas de estórias transfronteiriças, Vilarinho da Raia, Vilarelho, Cambedo e Soutelinho da Raia. Onde bombardeamentos das tropas franquistas, aventuras de contrabandistas ou povoações onde se fala uma espécie de dialeto luso-galaico foram alvo de toda a atenção
Regresso a Chaves, com passagem pelo Forte de S. Francisco e, num registo mais artístico, a possibilidade de visitar o Museu Nadir Afonso, o flaviense nascido em finais de 1920 e que faleceu poucos dias depois de completar 93 anos. Foi arquiteto e filósofo, mas foi a pintura que o tornou mais conhecido, estando agora toda a riquíssima obra bem exposta, beneficiando da riqueza da luz natural em ambiente ímpar criado por Siza Vieira. E houve, também, quem optasse por descobrir os vestígios medievais da Igreja Matriz ou, os mais preguiçosos, dados a outras descobertas, pelas famosos e originais Pastéis de Chaves Produto de pastelaria com Indicação Geográfica Protegida (IGP) a nível nacional desde 2012, e pela União Europeia desde 27 de maio de 2015.
Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, realça importância do Portugal de Lés-a-Lés em ano de pandemia
Descansar nas termas como reis
Os tesouros mais ou menos escondidos de Portugal, ou, simplesmente, quase ignorados por muitos portugueses são, afinal, uma das receitas para ultrapassar a crise económica instalada por força da situação pandémica que ensombrou o Mundo no último ano e meio. À diversidade e beleza natural da maioria das regiões do País, juntam-se atrativos de peso para a promoção do turismo seja de origem nacional ou internacional. Na sua 23.ª edição, o Portugal de Lés-a-Lés juntou ainda mais trunfos para contribuir na dinamização do interior, criando a primeira edição temática da grande maratona mototuristíca, a maior do género em toda a Europa.
Em conjunto com a Associação de Municípios da Rota da estrada Nacional 2 (AMREN2) e com autarquias atravessadas, renovou o desafio da travessia do mapa continental, de Chaves a Faro, utilizando exatamente essa via estruturante, a terceira maior do Mundo em termos de extensão. Mas juntou outros atributos a este passeio motociclístico, a começar pela divulgação das regiões termais. Na primeira etapa do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal, a ligação entre Chaves e S. Pedro do Sul tocou nada menos que cinco locais onde brotam essas nascentes de águas medicinais. Em dia de carvalhais e bosques seculares, das estradas mais recortadas em redor da N2, de aldeias graníticas e vales encantados, a longa e heterogénea caravana atravessou Vidago e Pedras Salgadas, logo à saída de Chaves, passando ainda em Carvalhal, já no distrito de Viseu, pouco antes da chegada às milenares águas curativas que atraem cerca de 16 mil aquistas por ano.
As curas pelas águas e… pelas motos
A ‘jogar em casa’ esteve o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto que ao chegar a casa, ao seu distrito, «a um concelho vizinho de Viseu e que tão bem conheço», não deixou de manifestar grande satisfação por sentir o impacto imediato deste evento motociclístico em que, enquanto membro do executivo, participa desde 2017». João Paulo Rebelo confirmou junto do presidente da autarquia que «a capacidade hoteleira de S. Pedro do Sul – e que é bem significativa – estava completamente esgotada. Até porque», acrescentou, «é importante ir animando a economia, algo que é bem necessário para mais rapidamente conseguirmos ultrapassar estes momentos menos bons».
Um dia de termas e de serras antes da passagem para as planícies alentejanas que contou com 245 quilómetros repletos de motivos de interesse, que levaram os aventureiros a fazer-se à estrada bem cedo, com os primeiros participantes a arrancarem às 6 horas de Chaves. Partida madrugadora que conferiu outra mística aos primeiros bosques atravessados e sublinhou a imponência arquitetónica do Palace Hotel de Vidago, em tempos tido como o mais luxuoso de toda a Península Ibérica, ou do Hotel Avelames, em Pedras Salgadas, frequentado pelo Rei D. Carlos que se ali hospedava quando ia a banhos. Saída pela fresquinha que ajudou também a que as pequenas cinquentinhas do animado grupo de Santo Estevão que há muitos anos participam no Lés-a-Lés não aquecessem em demasia. E por lá foram, no seu inconfundível zumbido, galgando quilómetros rumo ao centro do País.
Com um pelotão cuja passagem leva cerca de seis horas, aqueles que partiram mais tarde escaparam à frescura matinal num dia marcado pelo verde de tom forte, pintalgado pelo amarelo-limão das flores das giestas (Cytisus striatus) mais conhecidas como maias, em contraste com a limpidez de um céu azul bem claro onde surgiam, aqui e ali, algumas nuvens que mais pareciam algodão bem fofo. Um dia fabuloso para andar de moto, com inúmeras saídas e regressos à N2, sempre por estradinhas não menos agradáveis e ainda mais surpreendentes.
Prazeres em todos os sentidos
Dia variado em termos de gastronomia, com destaque para o doce de castanha e a empada de cogumelos, em Vila Pouca de Aguiar, ou o famoso bolo podre de Castro Daire, onde todos os sentidos foram premiados. Além do paladar, oportunidade única para usufruir de um aroma único de primavera ou da visão prazenteira da descida rumo a Pontido, onde está sedeada a mais antiga banda de Música do País, criada em 1765. Vila Real foi a paragem seguinte, com um olhar sobre as emblemáticas bancadas do antigo circuito de velocidade, que tantas corridas de carros e motos acolheu, e as ruínas do castelo que serviu de berço à cidade, num promontório cujas escarpas deixam ver o encontro entre o rio Cabril e o Corgo. Por descobrir (ou revisitar) ficaram os não menos famosos covilhetes ou as cristas de galo… num dia de descobertas de verdadeiros oásis no meio das serranias como a praia fluvial de Fornelos, no rio Aguilhão. Onde o ex nadador olímpico Nuno Laurentino (1996, Atlanta e 2000, Sidney) só não parou para mergulhar porque estava demasiado entusiasmado com o percurso. Encartado desde 2017 «propositadamente para fazer o Lés-a-Lés» volta a cada ano para «perfurar o País como não é possível fazer de outra forma». O nadador que chegou a ter em simultâneo, mais de metade dos recordes lusitanos e que conta com mais de uma centena de títulos nacionais, reconhece que «o maior prazer é encontrado nas estradinhas interiores, estreitas, mas muito recurvadas, praticamente sem trânsito». Como aquelas que levaram a passar pela Nossa Senhora do Viso ou por Fontes, terra do Xassos Urban Cup, essas alucinantes corridas de motorizadas onde só os mais intrépidos vencem.
Menos intimista, a descida para a Régua, com paisagens de deslumbramento absoluto a cada curva, seguindo-se a subida até à monumental cidade de Lamego, palco ideal para arredondar os pneus. Mais tranquila a passagem pela Senhora dos Remédios ou pelo Rio Balsemão, um dos 13 referenciados na edição especial do Passaporte que serve como comprovativo do cumprimento da totalidade do percurso, recolhendo carimbos em cada um dos 35 concelhos atravessados. Tempo ainda para uma agradável e muito interessante visita ao Centro de Interpretação da Máscara Ibérica, em Lazarim, onde estão expostos muitos exemplares de máscaras talhadas em madeira de amieiro, antes da passagem por Castro Daire rumo à Serra de Montemuro. Das aldeias mais altas de Portugal Continental, superando mesmo os 1120 metros do Sabugueiro (Gralheira está a 1130 metros de altitude) desceu a caravana, longa de 2250 motos e mais de 2500 motociclistas, até São Pedro do Sul, ainda a tempo de aproveitar a oferta de uma experiência em termas que contam mais de dois mil anos de existência e reconhecimento, e que, então apodadas de Caldas Lafonenses na Vila do Banho, recebiam amiúde D. Afonso Henriques para recuperar das mazelas de muitas batalhas. E onde os motociclistas repousaram no final da 1.ª etapa, plena de emoções, preparando-se para regressar à estrada em viagem longa de 299 quilómetros até Abrantes, ponto terminal da 2.ª jornada do 23.º Portugal de Lés-a-Lés.
Das serras às planícies, com passagem pelo Centro de todos os encantos
Como é variado o nosso Portugal
Um dia diversificado, com subidas a miradouros e descidas a praias fluviais, com palácios centenários e fortalezas milenares. Assim foi a 2.ª etapa do 23.º Portugal de Lés-a-Lés, com 299 quilómetros na ligação de São Pedro do Sul a Abrantes. Transição da rude paisagem serrana a norte para as douradas planícies alentejanas, deixando para trás bosques e carvalhais e penetrando no reino do eucaliptal.
Retomada a aventura onde havia ficado na véspera, saiu a caravana da Capital do Termalismo fazendo a devida vénia à passagem pelo nobre Palácio do Marquês de Reriz, onde a Rainha D. Amélia e o Rei D. Carlos I mais os Príncipes Reais, Luís Filipe de Bragança, Maria Ana de Bragança e Manuel II de Portugal, pernoitavam quando vinham a banhos, em finais do século XIX. A arquitetura barroca deste palácio de longa fachada e linhas sóbrias passou quase despercebida ao rapidíssimo grupo das cinquentinhas de Benavente e St.º Estevão. É que as Famel XF-17, Sachs V5, Sachs Fuego e Sachs Motozax de Telmo Costa, Carlos Cachulo, Tiago Francisco e Vítor Ferreira passaram por ali ainda a noite estava, parcimoniosamente, a ceder o seu lugar ao dia.
Dealbar de uma etapa que haveria de prosseguir por Viseu, com tempo para espreitar a imponência dos muros de terra batida da cava do Viriato ou a majestosidade da Sé Catedral, paragem em estreia absoluta na aventura organizada pela Federação de Motociclismo de Portugal. E que, desde logo, deixou em muitos participantes a vontade de voltar, quanto mais não fosse para descobrir essa fortaleza com 2 quilómetros de taludes em terra batida, rodeados de um fosso defensivo, com uma forma de octógono perfeito – dos quais seis lados continuam em condições de ser visitados – e que terá sido criado como acampamento militar na época romana, nos Séculos II ou I A.C.
Deixando para trás as muitas rotundas viseenses, passagem dos carvalhais para o reino do eucalipto, entre Tondela e Vila de Rei, onde as divertidas curvas da N2 ajudam a disfarçar tão desinteressante paisagem, minimizada pelo bem tratado centro de Santa Comba Dão. Onde o grande ajuntamento de motos levou grande parte da caravana a seguir o conselho para degustar o reforço alimentar ali oferecido, mais adiante, na Barragem da Aguieira, a comemorar os 40 anos de entrada ao serviço. Obra imponente inserida numa localização privilegiada, com cerca de 90 metros de altura, retendo as águas do Mondego para criar uma albufeira que se estende por mais de 2000 hectares abrangendo os concelhos de Carregal do Sal, Mortágua, Penacova, Santa Comba Dão, Tábua e Tondela. E se, inicialmente, a água aqui travada de destinava essencialmente ao abastecimento das populações, à irrigação agrícola, à regulação do próprio caudal do rio e, claro, também à produção de energia elétrica, hoje oferece ainda condições de eleição para as mais diversas atividades aquáticas, de lazer ou desporto.
Da grandeza do Mondego ao paraíso do Alva
Dimensão imponente do maior rio de curso inteiramente em Portugal em contraste absoluto com o pequeno e bucólico paraíso encontrado na praia fluvial do Vimieiro, nas margens do rio Alva que, nascido na Serra da Estrela, atravessa paraísos como a carismática Ponte das Três Entradas ou as belíssimas aldeias de xisto, antes de desaguar no Mondego. Ali, num cenário ímpar, tempo para uma água (de Penacova, pois claro) e um delicioso pastel de Lorvão, doce conventual à base de amêndoa e ovos, nascido pelas mãos das freiras do Mosteiro de Santa Maria de Lorvão, e que deliciou os 2500 participantes neste 23.º Portugal de Lés-a-Lés como outrora conquistou o General Wellington que por aqui andou aquando da sua defesa dos interesses portugueses na Guerra Peninsular.
Seguindo ao longo do Mondego, tempo para apreciar a monumental Livraria do Mondego, obra que foi esculpida pela natureza desde há mais 400 milhões de anos, cientificamente falando assentadas de quartzíticos do Ordovícico dispostos quase verticalmente, como se de livros numa estante se tratasse. Sem tempo ou vontade para grandes leituras, seguiu a caravana rio abaixo, rumo a Vila Nova de Poiares e passagem pelo alto da Sr.ª da Candosa antes da paragem em Góis. Claro que era impensável passar por terra tão acolhedora, simpática vila com mais de 800 anos de história, sem visitar a sede o Moto Clube de Góis e o relaxante Parque do Cerejal. Onde, aproveitando a frescura do rio Ceira, se podia piquenicar (e que deliciosas estavam as Gamelinhas de Góis, com equilibrada mescla de paladares entre o mel, castanha, noz e canela!) ao mesmo que era possível descobrir as novidades da coleção 2021 dos capacetes NEXX. Para aqueles que não estavam ainda com apetite suficiente, surgia a possibilidade de paragem mais adiante, nas praias fluviais em Tulhas da Cabreira, no Colmeal ou em Alvares, onde às águas cristalinas se juntam a uma paisagem única e a curiosidades arquitetónicas como lagares de azeite, moinhos de água, pontes seculares (caso da do Soito, onde outrora passava a N2) ou as tulhas, pequenas construções em xisto, onde antigamente se guardavam as azeitonas.
Rumo ao Tejo… mas sem o atravessar
Seguia assim, rumo a sul, o internacional pelotão, onde os motociclistas portugueses eram acompanhados por matrículas de todo o Mundo, da vizinha Espanha às mais afastadas ilhas britânicas, mas também do Luxemburgo, França, Suíça, Alemanha ou Itália. Além de amigos de Cuba, Brasil ou Angola numa das mais internacionais caravanas de sempre, deleitada com paisagens como as oferecidas no miradouro da Sr.ª dos Milagres, por onde passava a N2 antes de descer pelos ganchos em calçada escorregadia até à Ponte Filipina. Ancestral travessia do Zêzere – inesquecível para os participantes do 18.º Lés-a-Lés! – antes da construção da Barragem do Cabril, iniciada em 1950, agora utilizada na viagem com a Sertã como destino. Nome nascido de uma lenda com toques gastronómicos já que tal se deveria ao utensílio que a jovem princesa Celinda defendeu o castelo do assalto das tropas romanas, primeiro com o azeite que fervia para cozinhas os ovos e depois com a própria sertã quase brasa. Estória que parece ter aberto o apetite para o lanche desfrutado nas margens da Ribeira da Sertã, com direito a travessia da ponte da Carvalha, construída no Séc. XVII em plena Dinastia Filipina.
Com o tempo a aquecer, a passagem por Vila de Rei e a obrigatória subida ao Centro Geodésico de Portugal, marco inesquecível das duas primeiras edições do Portugal de Lés-a-Lés que por aqui passaram à meia-noite, exatamente a meio das 24 horas gastas na ligação entre os dois extremos do mapa Continental. Um ponto determinado há mais de dois séculos (em 1802), com equipamentos escassos e de precisão infinitamente menor que atualmente mas que, só muito recentemente, levantou alguma dúvida com um estudo matemático a determinar o centro geométrico do País ligeiramente ao lado, no concelho de Mação. Polémicas à parte sobre o umbigo de Portugal, a verdade é que no alto do Picoto da Milriça, mesmo ao lado do Museu da Geodesia, está a coordenada zero em termos cartográficos, sendo a partir daquele ponto que são feitas as medições da cartografia nacional. Está, pois, localizado no concelho de Vila de Rei, o mesmo que ofereceu não só um apetitoso lanche como locais espetaculares para o degustar. Da aldeia de xisto de Água Formosa, aos miradouros das Fragas do Rabadão, com vistas sobre o Zêzere, ou no miradouro e praia do Penedo Furado, verdadeiros ex-libris do concelho
Já com o dia longo, teve a caravana direito a brinde especial à passagem do Sardoal, com inesquecível festa da população à passagem da heterogénea e colorida caravana, com indicações em todas as viragens dentro da pequena e lindíssima povoação. Ficaram assim os motociclistas mais à vontade para retribuir aos acenos e aplausos da população, com destaque para as muitas crianças que, em alegre algazarra, acolhiam os aventureiros da maior maratona mototurística da Europa. Uma última paragem para a fotografia no oásis com vista so montados, antes do final em Abrantes, na margem direita (ou norte..) do Tejo, preparando a mudança na paisagem e na viagem, guardada para a última tirada deste 23.º Portugal de Lés, com destino a Faro.
Maior maratona mototurística da Europa saldou-se por sucesso absoluto
Das longas retas às curvas de enorme prazer
Foi um dia quente, muito quente, com temperaturas acima dos 30.º centígrados durante a maior parte da 3.ª e última etapa do 23.º Portugal de Lés-a-Lés, aquela que levou o pelotão com quase 2500 motociclistas de Abrantes até Faro. Uma jornada, longa de 387 quilómetros, que começou com o a passagem pela charneca antes das longas retas alentejanas, entrecortadas por escapadinhas à descoberta de surpreendentes tesouros de paisagens e monumentos pouco conhecidos. Porque, esta edição, a primeira de cariz temático, garantia “Muito mais Que a N2” mesmo se, qual cereja no topo do bolo, terminou com 56 km de absoluto prazer de condução ao longo das curvas da Estrada Património, autêntico paraíso para milhares de motociclistas que anualmente aqui vêm arredondar os pneus.
Um dia de enorme diversão para os mais experientes, como Hélder Alves que vai na nona participação, sempre aos comandos de uma Jawa 250 fabricada em 1952, “e que voltou a terminar sem qualquer problema», como dos estreantes, mesmo sendo ex-pilotos. Como Luís Filipe Santos que, depois de deixar as pistas de motocrosse em 2012, e os trilhos de enduro em 2014 adorou «uma experiência realmente diferente, com um ambiente muito salutar e onde é visível o prazer em andar de moto, mas também em estar com os amigos, e assim comungar da paixão mototurística de uma forma ímpar».
Com Abrantes pelas costas, a travessia do Tejo foi, para muitos, o despertar para uma etapa de vistas largas, de paisagens com longínquo fio de horizonte e retas a perder de vista. E muitas surpresas, sim, porque há sempre surpresas nos eventos delineados pela Comissão de Mototurismo da Federação de Motociclismo de Portugal, como a passagem pela modernaça ponte pedonal de Ponte de Sor ou a travessia na Ribeira do Andreu que deu para mais do que simplesmente arrefecer motores. Muitos houve que também ficaram com os pés frios depois de molhados nas gélidas águas matinais de um dos afluentes da Ribeira de Sor.
Fortunas e contas de outras letras
Manhã fresca antes de uma tarde que haveria de ser abrasadora, através de um Alentejo que parecia aguardar a passagem da caravana para transformar em amarelo seco, o verde dos cereais, com colheita adiada por força das chuvas tardias. E continuaram as surpresas, seguindo com a fortuna da freguesia de Galveias, uma das mais ricas do País graças à herança deixada há 50 anos pelo comendador José Godinho de Campos Marques, e que tem no escritor José Luís Peixoto, um dos galveenses mais ilustres, e, logo a seguir, a extrema simpatia de Aldeia Velha que viveu o maior engarrafamento da história. Bem menor a confusão na passagem por Ciborro, única localidade na N2 que tem um marco miriamétrico das centenas. E logo do km 500, sendo o único em mármore, principal fonte de sustento da região.
Montemor-o-Novo e o altaneiro castelo, a passagem por um troço da original N2, com direito a cruzamento com uma linha de água que, em invernos normais, torna impraticável a estrada por inundação, foram as notas seguintes de um road-book que até poderia ter uma página inteira dedicada á Gruta do Escoural. Não fosse dar-se o caso desta ser uma caravana de dimensões recordistas, inviabilizando qualquer possibilidade de visita ao espaço. Menos limitações no jardim central de Alcáçovas, onde a doçaria regional fez as delícias de todos. Tal como aliás o Museu dos Chocalhos, instalado no Paço dos Henriques, onde foi selado o acordo em que Portugal e Castelo dividiram o Mundo na horizontal com linha logo abaixo das Canárias.
Histórias que abriram o apetite para o lanche oferecido no Oásis Honda, na Barragem de Odivelas, construída em 1972 com água represada da ribeira de Odivelas, usada principalmente para a irrigação, tem um paredão com 500 metros de comprimento e 55 metros de altura, com depois desaguar no rio Sado depois de cumprir os 70 km desde a nascente. Imponente também as minas de Aljustrel, terras esventradas desde o tempo dos romanos, com centenas de quilómetros de túneis ramificados ao longo de extensa área. Uma zona que guarda outras memórias de tempos ancestrais, como a sangrenta batalha de 1139, quando D. Afonso Henriques venceu exército muito mais numerosos dos reis mouros de Sevilha Badajoz, Elvas, Évora e Beja. Mural de S. Pedro das Cabeças, recordada no Mural de S. Pedro das Cabeças. Batalha de Ourique que, pelo significado que encerra e pelas características simbólicas a que está associada, é a principal lenda épica da história portuguesa: a gesta de D. Afonso Henriques que, sob a proteção divina, dá corpo ao ato heroico e audaz de pelejar e derrotar o inimigo mourisco, lançado os alicerces que sustentam a identidade nacional. Claro que depois ia curar-se para as Termas de S. Pedro do Sul…
Painel bem diferente, muito mais pacífico, à entrada de Almodôvar, com a representação mototuristas no adeus às planícies deste Lés-a-Lés, entrando na Estrada Património, pouco mais de meia centena de quilómetros (56 km para ser rigoroso tem o troço classificado em 2003), de absoluto prazer de condução até S. Brás de Alportel. Localidade onde a Casa da Memória da N2 guardava o penúltimo carimbo, começando a deixar, desde logo, saudades de mais um Portugal de Lés-a-Lés. Que, desta feita, terminou em Faro onde 35 carimbos em passaporte exclusivo substituíram os tradicionais controlos com os alicates sendo certo que, em 2022, a apital algarvia será palco de partida para mais uma edição da grande aventura.
A coragem de acreditar
A vitória da resiliência numa aventura sem igual permitiu levar a bom porto a 22ª edição do Portugal Lés-a-Lés.
Nunca, em 22 edições, foi tão genuíno e esclarecedor o sorriso dos participantes na chegada ao final do Portugal de Lés-a-Lés. As caras de satisfação e os comentários de todos os aventureiros foram, sem dúvida, o prémio mais saboroso para uma organização que, contra ventos e marés, teimou e conseguiu dar um sinal positivo aos motociclistas, criando as condições para que todos voltassem aos grandes passeios. Um evento bem diferente de todos os anteriores, com limitações e cuidados redobrados, mil cautelas e o respeito absoluto pelas normas em tempo de pandemia, mas que se saldou por um êxito tremendo.
Uma resposta positiva à coragem de Federação de Motociclismo de Portugal em colocar na estrada a grande maratona mototurística, traduzida não só na adesão como, mais importante, no cumprimento das regras sanitárias e de todas as indicações dadas ao longo do evento. Foram pouco mais de mil, cerca de metade de anos anteriores, mas divertiram-se por dez mil e nem a chuva, o vento, o nevoeiro ou todas as incertezas minimizaram o prazer, há tanto adiado, de passear de moto.
22º Portugal de Lés-a-Lés revelado
Com muitas novidades, surpresas bem guardadas e a promessa de mais uma edição memorável, a apresentação oficial do 22º Portugal de Lés-a-Lés levou mais de 500 motociclistas à Figueira da Foz para o pontapé de saída de mais uma edição da grande maratona mototurística organizada pela Federação de Motociclismo de Portugal. Dia bem empregue pelos muitos que se deslocaram ao Malibu Foz Hotel, tendo como anfitriões Manuel Marinheiro, presidente da FMP, e Fernando Cardoso, Chefe do Gabinete de Apoio à Presidência da edilidade figueirense, para ficar a conhecer os traços gerais de um percurso que regressa ao interior do País depois da inovadora versão litoral em 2019 bem como para concretizar a inscrição.
Oportunidade única para rolar na dianteira do heterogéneo e muito colorido pelotão que, uma vez mais, deverá ultrapassar as 2000 motos, rumo a aventura com arranque marcado para Lagos. Daquela que foi em tempos a mais importante cidade do Algarve, de onde partiram as naus e caravelas para dar novos mundos ao mundo, vão partir agora os aventureiros à descoberta de um Portugal diferente, pouco conhecido, longe das mais conhecidas rotas turísticas e sem tocar em auto-estradas, SCUT’s, Itinerários Principais ou Secundários. Demanda que começa logo a 1 de Outubro, com o Passeio de Abertura, curto de 65 quilómetros, a revelar tesouros do concelho lacobrigense, enaltecidos por Paulo Jorge Reis, vice-presidente da Câmara Municipal de Lagos. Das grutas bem escondidas ao longo da costa e onde se chega apenas de barco ao ‘mercado dos escravos’, do Museu de Cera à Ponta da Piedade, para rumar ao centro de Lagos através de campos de golfe, ajudando a melhor perceber o contraste face aos dias seguintes.
De Lagos, junto aos baluartes da muralha, do mesmo local onde arrancou a edição de 2004, será dada também a partida para a 1ª etapa, no dia 2 de Outubro, que levará a caravana até à histórica cidade de Évora. Novidade guardada até à última hora, em tirada apresentada como «tranquila e bastante relaxada, com grande variedade de paisagens entre a serra de Monchique e as vastas planícies cerealíferas» cumprindo 300 quilómetros ao longo de cerca de 9 horas. Entre condução e paragens nos muitos Oásis, incluindo os muitos que a BMW Motorrad Portugal vai instalar, anunciados pelo novo Country Manager da marca, Rogério Mota, tempo para conhecer o Autódromo Internacional do Algarve subir ao alto da Foia, descobrir a barragem de Santa Clara-a-Velha onde o rio Mira é represado bem perto da sua nascente, e a barragem do Monte da Rocha. Mas também vilas incontornáveis do mapa alentejano como Messejana, Aljustrel, Alfundão, Ferreira do Alentejo ou Alvito, com tempo para ver o deslumbrante santuário de Nossa Senhora de Aires. Pontos altos de um dia que termina em cidade que foi declarada pela UNESCO como Património da Humanidade, com palanque instalado na monumental Praça de São Francisco.
Surpresas guardadas nas páginas do livro de todas as revelações
No dia seguinte, 3 de Outubro, o ‘road-book’, livro que vai revelando toda a riqueza do percurso, com a história dos locais atravessados e explicações sobre a fauna, flora ou etnografia locais, indicará o caminho entre Évora e a Guarda. Cerca de 370 quilómetros entre a Ebora Liberalitas Julia do tempo dos romanos até à cidade dos 5 F’s – forte, farta, fria, fiel e formosa – num dia que Cecília Amaro, vereadora da edilidade egitaniense antevê como ‘um passeio altamente até à cidade mais alta de Portugal.’ Vimieiro, Avis e o seu belo centro histórico, Vale do Açor, Gavião, Belver ou Mação são alguns dos pontos que ajudam a traçar o mapa do dia, com algumas surpreendentes curiosidades pelo caminho como a ribeira de Sume. Designação dada a um troço da Ribeira de Sor que, em determinada altura desaparece literalmente debaixo do solo (fica sumida ou sume-se) naquela que é uma das maiores grutas graníticas da Península Ibérica. Dia de contrastes com a passagem do Tejo, na ponte de Belver, construída em 1905, a funcionar como zona de transição entre o Alentejo e os pinhais e eucaliptais da região centro, fortemente atacados pelos incêndios dos últimos anos e onde é possível, com boa vontade e tempo, descobrir algumas das muitas casas de xisto que moldavam a imagem da região. Tempo ainda para apreciar a homenagem feita pelos motociclistas da pequena aldeia de Tinalhas, recordando o santo padroeiro dos motociclistas, Arcanjo São Rafael, e evocando a memória do Padre Zé Fernando, bem conhecido de toda a comunidade motard. Apoio espiritual para o resto da tirada por S. Vicente de Beira, atravessando o vale do Zêzere antes da subida para a Serra da Estrela, através de Unhais da Serra, com passagem pelos covões do Ferro e da Mulher antes da visita a Piornos e Manteigas em preparação para a chegada ao palanque montado junto aos Paços do Concelho.
Derradeiro dia do 22º Portugal de Lés-a-Lés, a ª etapa será a rainha da edição de 2020, com muitas curvas e sobe-e-desce constante ao longo de 350 quilómetros de paisagens grandiosas. Com muitos carvalhais, soutos e outras árvores autóctones e quase nada de eucaliptos, o dia começa com a descida a Pinhel onde o presidente da autarquia, o dinâmico e bem conhecido motociclista Rui Ventura, promete recepção à medida da grande aventura. Tempo de recordar sensações da visita à Anta de Pêro do Moço, de conhecer um castanheiro gigante ou visitar Pinhel, a ‘Cidade Falcão’ recentemente eleita como a Cidade do Vinho 2020. De vinhos e vinhedos muito se falará ao longo de uma jornada que passando o Vale do Coa, subirá à aldeia histórica de Castelo Rodrigo e depois a Barca d’Alva antes de descer até ao Douro Internacional. Freixo de Espada-à-Cinta, Mazouco, Mogadouro, barragem do Azibo, Podence e os famosos caretos que são Património Imaterial da Humanidade desde o ano passado, Torre Dona Chama e Segirei o outras visitas previstas antes de… internacionalização. Momento agendado para Fervenza da Cidadella já na província espanhola de Ourense em saltinho ibérico com regresso à Lusitânia a tempo de conhecer o fenómeno da pedra bolideira ou o abandonado castelo de Monforte de Rio Frio. Quase a completar o intenso périplo descerá então a caravana até à Aquae Flaviae dos romanos, rumo ao palanque final montado na histórica Ponte de Trajano, Chaves do contentamento de todos os aventureiros após três dias de viagem e descoberta pelas mais recônditas estradas nacionais e municipais desde Lagos. Com a certeza de que, em 2021, voltarão a Chaves para arrancar para mais uma edição do Portugal de Lés-a-Lés, rumo a terras algarvias.
Podendo ainda contar com a ajuda da Agência Abreu na marcação de estadia nas várias cidades-etapa, confirmada por Salvador Dagnino durante a apresentação, a segunda fase de inscrições decorrerá de 24 de Fevereiro a 1 de Setembro, através do site www.fmp.pt, página onde já é possível consultar o regulamento do 22º Portugal de Lés-a-Lés.regulamento do 22º Portugal de Lés-a-Lés.
Ainda a apresentação do 22.º Portugal de Lés-a-Lés
Quem foi (à Figueira)... ganhou!!!
Entre as centenas de motociclistas que se deslocaram à Figueira da Foz alguns saíram do Malibu Foz Hotel com redobrados motivos para sorrir! É que se todos tiveram direito a uma apresentação repleta de novidades e boa disposição, além de poderem garantir de imediato a inscrição no evento organizado pela Comissão de Mototurismo da Federação de Motociclismo de Portugal, alguns houve que foram bafejados pela sorte... de, simplesmente, marcarem presença.
É que alguns dos principais patrocinadores do Lés-a-Lés quiseram premiar a fidelidade daqueles que, ano após ano, não perdem a cerimónia da Apresentação Oficial, sorteando alguns prémios entre os presentes. Foi o caso da BMW Motorrad Portugal que ofereceu três kits especiais e muito completos para limpeza das motos, entregues pelo responsável máximo das 'duas rodas' em Portugal, Rogério Mota.
Um brilho especial para as máquinas que foi muito apreciado pelos vencedores tal como o novíssimo Nexx X.Vilijord prémio que muita atenção despertou em todos os presentes. Incluindo as personalidades que marcaram presença, dos 'anfitriões' Manuel Marinheiro, presidente da Federação de Motociclismo de Portugal, e Fernando Cardoso, Chefe do Gabinete de Apoio à Presidência da Câmara Municipal da Figueira da Foz, ao vice-presidente da Câmara Municipal de Lagos, Paulo Jorge Reis, à vereadora da Câmara Municipal da Guarda, Cecília Amaro. Que prometem uma receção à medida da grandeza da caravana de mais um Portugal de Lés-a-Lés.
E todos disseram presente!
Adiado de junho para o início de outubro, o Lés-a-Lés versão 2020 descobriu um Algarve bem diferente, com um tempo menos convidativo para uns banhos de mar, é certo, mas nem por isso menos interessante. A prova foi dada durante os 79 quilómetros do Passeio de Abertura, com passagem pelas históricas ruas de Lagos antes de um saltinho à costa lacobrigense, com tempo para desfrutar da imensidão atlântica a partir do novo passadiço da Ponta da Piedade. Mas também do areal e esplanadas da praia de Porto de Mós ou miradouro da Atalaia, de onde foi possível ver boa parte da costa finamente recortada, desde a praia da Luz até à ponta de Sagres. Paisagem soberba que se fez ‘cobrar’ com uma relaxante passeata pedonal até ao cimo da Rocha Negra, seguindo-se interessante visita à aldeia do Barão de São João onde os hippies dão um colorido especial e onde nem falta um Cristo de traços pós-modernos a tentar fugir da Cruz. Vá-se lá saber de quê
Mas nem só de costa vive a região algarvia, e a subida à Serra de Espinhaço de Cão fez questão de o recordar uma vez mais. Apesar da pouca altitude, sem nunca chegar aos 300 metros, revelou zonas bastante ventosas. Justificação lógica para uma vegetação tipicamente mediterrânica, paisagem predominante em direção à Barragem da Bravura, obra do Estado Novo para represar a Ribeira de Odiáxere que, nesta altura, pouca água recolhe. Do ponto mais a norte deste passeio, seguiu-se rumo ao mar, não sem antes dar um salto à... Escócia, aldeia que deu o primeiro cunho internacional à grande aventura. E que muito alegrou dois escoceses! Naturais de Edimburgo, Rob e Zayne Dagher assentaram arraiais em Pombal, há cerca de dois anos, dando seguimento a uma paixão de toda a vida. Criaram a Gusto Motorcycle que cria veículos exclusivos de três rodas, organiza passeios e representa a Ural, marca dos side-cars com que fizeram a estreia no Lés-a-Lés. No de estrada, porque no Off-Road já haviam participado em 2019, «para descobrir um País fantástico, belíssimo e com paisagens muito diversificadas. E gente tão acolhedora que dá vontade de regressar sempre». Claro que fizeram a foto junto à placa da pequena aldeia serrana e sentiram-se mais em casa. Tal como no dia seguinte, debaixo de chuva e nevoeiro em clima tão tipicamente escocês.
Depois, já no regresso à beira-mar, duas visões bem diferentes do Algarve, em perfeita complementaridade, com o que de mais puro e genuíno tem para oferecer, da história a tradições bem expressas no moinho de Odiáxere - propositadamente aberto para os participantes do Lés-a-Lés - até ao turismo, de vital importância na economia de toda a região. Aproveitando uma fantástica localização entre a Reserva Natural da Ria de Alvor e a Meia Praia, surge um conjunto residencial englobando um campo de golfe oferecedor de surpreendente harmonia entre os bem cuidados 'greens' e a vegetação autóctone. Além do mais com vistas fantásticas sobre o mar e toda a alvura de Lagos. Cidade que tão bem acolheu a caravana, oferecendo possibilidade de mais descobertas no Museu de Cera, na visita à caravela Boa Esperança, réplica daquela com Gil Eanes, famoso cidadão lacobrigense, dobrou o Cabo Bojador, ou no passeio de barco às grutas da Ponta da Piedade.
Nem o mau tempo roubou brilho ao 22.º Portugal de Lés-a-Lés
Sorrisos à chuva
Esmiuçado o concelho de Lagos, mesmo se muito ficou por descobrir, rumou a norte a caravana, com saída madrugadora daquela que foi a capital do Algarve entre 1573 e 1755, perdendo o estatuto ao ser arrasada pelo tristemente mais famoso terramoto em Portugal. Sem tremores de terra ou temporais bíblicos, mas com chuva que haveria de acompanhar a caravana durante boa parte de uma etapa curta, de apenas 286 km, mas bem variada, o dia começou com uma rápida passagem pelo Autódromo Internacional do Algarve antes do início da subida da Serra de Monchique, com subida ao alto da Fóia, juntando-se aqui o nevoeiro e, logo à frente, o vento forte. Diluía-se assim uma boa hipótese para desfrutar das fantásticas paisagens prometidas pelo detalhado e bem ilustrado road-book. Vá lá que D. Sebastião, que daqui partiu com a poderosa armada de 800 barcos rumo a Alcácer Quibir, não surpreendeu nenhum motociclista, aparecendo do meio de tão denso nevoeiro, montado no seu garboso cavalo.
Condições climatéricas que aumentaram a exigência de um início já de si bem trabalhoso, em algumas passagens no meio de quintais, através de pequenos troços de empedrado e até terra batida transformada em traiçoeira lama que valeu as primeiras quedas, pequenas e sem qualquer gravidade. Haveria de continuar o vento forte, a puxar uns aguaceiros repentinos e muito intensos, surpreendendo aqui e ali na travessia de um Alentejo diferente do que é habitual ver no Lés-a-Lés, com o verde a dar lugar ao castanho escuro das terras revolvidas em tempo de preparação das sementeiras cerealíferas.
Paisagem que servia de mote a etapa com final na Ebora Cerealis, um dos celeiros nos tempos de presença romana na Península Ibérica, mas que antes ofereceria importantes brindes a um pelotão internacional que juntou norte-americanos, alemães, brasileiros, gregos, venezuelanos, franceses e suíços aos já referidos escoceses e a muitos espanhóis. Da Corunha a Barcelona, de Cáceres a Miranda do Ebro, de Barcelona a Tuy, de Málaga e Bilbao, de Granada a Madrid, de Valladolid a Valência, de San Sebastian a Salamanca. Mas também muitos portugueses emigrados na Suíça, França, Luxemburgo, Bélgica e Inglaterra que não perdem oportunidade de melhor conhecer as belezas da Pátria-mãe.
Passada a intricada, por vezes labiríntica serra de Monchique, onde o prazer de condução é oferecido em estradas como a N266 que haveria de levar até à Barragem de Santa Clara e depois na N123, rumo a outra represa artificial, a do Monte da Rocha que segura a escassa água do rio Sado que nasce por ali perto, seguiu-se o Alentejo. Mudança natural nas paisagens e dificuldades exponenciadas para os maiores aventureiros, aqueles que ousam atravessar o País em pequenas máquinas de 125 cc. Como o Miguel, de Sintra, que ‘viu-se e desejou-se’ «para manter o ritmo e não perder o contacto nem atrasar o grupo» aos comandos da pequena mas resistente Honda PCX. Com uma moto mais potente, a estreante Susana, colega de equipa e também sintrense de gema, já com mais de 100 mil quilómetros de experiência, não escondia o prazer da aventura «que devia ser obrigatoriamente realizado por todos os motociclistas pelo menos uma vez na vida! É duro, mas revelador de um Portugal extremamente bonito e muitas vezes desconhecido». Como as Minas de Aljustrel, a surpreendente Capela do Calvário, em Ferreira do Alentejo ou a ponte romana de Alfundão. Descobertas para guardar na memória durante a paragem na bonita vila de Alvito, em mais um Oásis onde água e sumos acompanham mais uma sande ou outro petisco regional, seguindo-se a passagem por Viana do Alentejo e pelo imponente Santuário de Nossa Senhora de Aires, um dos mais importantes no Alentejo dedicados ao culto mariano construído durante toda a segunda metade do século XVIII.
E, finalmente, Évora. Ou melhor, o palanque de chegada, porque a verdadeira descoberta da única cidade portuguesa que faz parte da Rede de Cidades Europeias Mais Antigas foi feito a pé. Do templo romano que muitos conhecem como sendo de Diana aos cafés da praça do Giraldo, da Capela dos Ossos à Sé, muitos são os atrativos de um centro histórico que foi declarado Património Mundial pela UNESCO, em 1986.
Lés-a-Lés 2020 foi antídoto de eleição para os mototuristas
Mais dureza que revelou ainda mais beleza
O aviso já tinha sido dado na véspera. A partir da 2.ª etapa cresciam as exigências. Por força do superior número de quilómetros, mas também das estradas cada vez mais recurvadas à medida que se ia subindo no mapa nacional. A concentração e pontualidade eram altamente aconselhadas, perdendo o menos tempo possível com paragens desnecessárias para aproveitar o que realmente interessava. Como era o caso da parte final, na passagem pela Serra da Estrela.
Mas isso era apenas no final. Antes, na saída de Évora, temperaturas bem amenas, mesmo demasiado baixas para alguns participantes, próprias da época do ano, mas pouco usuais num Lés-a-Lés, que jamais fora realizado em outubro. As temperaturas podiam ser diferentes mas as estradas, essas não enganavam, com as longas retas ligando aldeias pontilhadas com casas brancas, de rodapés e molduras de portas e janelas em cores vivas. Como é o caso de Igrejinha, mesmo antes da chegada a Casa Branca onde Donald Trump não compareceu devido ao internamento hospitalar após ter testado positivo para o Covid-19. E como o respeito pelas normas sanitárias ditadas pelo DGS era imprescindível em defesa da saúde dos participantes, havia, pois, que arrepiar caminho até Aviz. O pequeno almoço, mudado do belíssimo centro histórico para o Oásis Honda – BP, podia ser saboreado logo à frente, nas margens da albufeira do Maranhão recuperando forças para apreciar a Ribeira de Sume, fenómeno geológico pouco depois de Vale de Açor, onde uma das maiores grutas graníticas da Península Ibérica faz com que as águas da Ribeira de Sôr desapareçam (ou sumam) durante 250 metros, debaixo daquilo que parece o leito seco de um rio.
Gavião e Belver foram, por seu turno, mais um prova evidente dos enormes cuidados no respeito pelas regras de distanciamento aconselhadas nesta fase, ditando a mudança de um Oásis e de uma visita ao castelo. Mas não obrigaram a alterar as espetaculares descidas para o rio Tejo e rumo à Ribeira de Eiras, onde a mudança de paisagem era cada vez mais evidente. Estradas muito interessantes em termos de condução, mas com um enquadramento por vezes deprimente, culpa dos incêndios que, ano após ano, queimam aquilo que parece já não poder arder. Estradas quase desertas, para desfrutar até chegar a Tinalhas e a um dos mais impressionantes Oásis do ano, montado pelo Moto Clube d’Atestar. Que fez questão de mostrar ao mundo a indelével homenagem à FMP e ao Lés-a-Lés gravada no granito, juntamente com a majestosa estátua do Arcanjo S. Rafael, designado em 2003, pelo Papa João Paulo II, como padroeiro dos motociclistas. E onde, além de deliciosa bifana, foi possível apreciar as grandes novidades para 2021 do catálogo de capacetes da NEXX.
Depois de um dia particularmente solarengo na travessia do Alentejo, a aproximação à Estrela fez reaparecer o temor da chuva, com as nuvens cobrirem a serra mais alta de Portugal Continental, antes mesmo da chegada a Unhais da Serra onde o Moto Clube da Covilhã - Lobos da Neve preparara excelente receção, condizente com o enorme entusiasmo que vêm mostrando em prol do motociclismo. Aconchego ao estômago em local muito agradável antes de atacar os quilómetros finais, rumo à Guarda, com promissora passagem pela Serra da Estrela.
E se muito prometia, mais cumpriu com espetacular passagem pelo vale glaciar da Ribeira de Altorfa, com direito a um pouco de off-road, subindo ao ponto mais alto deste Lés-a-Lés, a cerca de 1600 metros de altitude, antes de iniciar a descida para a Guarda. Viagem pela Nave de Santo António, passagem em Manteigas e continuação pelas N232, ao longo do rio Zêzere, e pela N18-1, estradas que não ficam nada atrás, em termos de espetacularidade e condução, das míticas Transfagarasan, na Roménia, a francesa Grand Corniche ou a austríaca GrossGlockner. Uma chegada à cidade mais alta de Portugal a fazer jus a um dos cinco F’s que a caraterizam, com muito Frio, para, ao jantar, nos mais diversos restaurantes, recordar outros dos F’s, de Farta.
E milhares de fotografias depois, final apoteótico do 22.º Portugal de Lés-a-Lés
Chegada triunfal a Chaves
Continuando a fotogenia do dia anterior, a 3.ª etapa partia cedo da Guarda, mas ainda a tempo de confirmar outro F, de Formosa. Voltaremos para atestar os epítetos de Forte e Fiel da antiga Oppidana, talvez com um tempo mais agradável que o desta despedida, obrigando a vestir os fatos de chuva para rumar a Pinhel, sempre com temperaturas bem baixas. Condições que desencorajaram a que se juntassem diversos participantes para, todos juntos e pelo menos em número de 9, conseguirem abraçar os quase dez metros do tronco do castanheiro gigante de Guilhafonso que conta, segundo dizem, mais de 400 anos de vida. Um dos maiores exemplares da Castanea sativa existente na Europa foi um dos primeiros atrativos de etapa muito fotogénica, que continuou com a anta da Pêra do Moço, monumento funerário do Período Neo-Calcolítico.
Maior animação em Pinhel onde, após a passagem pelo castelo, houve direito a reforço alimentar bem no centro da cidade Falcão, com o pequeno-almoço entregue sob olhar atento de uma ave de rapina à escala real… humana. Boa disposição materializada num boneco, vestido por uma voluntária, e que há mais de 700 anos representa a cidade beirã, estando mesmo presente no brasão concelhio, depois do título outorgado por D. João I e que os pinhelenses usam com orgulho. Momento histórico na Cidade do Vinho 2020-2021 antes de voltar à estrada, pela fantástica N221 em direção ao rio Côa, quando o sol já secava o asfalto e levava muitos participantes a despir os fatos de chuva. Paragem aproveitada para trincar uma peça de fruta ou uma sande com contorno paisagístico de eleição e onde nem faltou a visita de numeroso bando de grifos. Imagens bem diferentes dos dias anteriores na abordagem a Castelo Rodrigo, uma das 7 Maravilhas de Portugal no que às aldeias históricas diz respeito.
Do castelo à sede de concelho, Figueira de Castelo Rodrigo, a entrada no Parque Natural do Douro Internacional reforçou a mudança paisagística, bem apreciado no miradouro da Sapinha, com vistas desanuviadas sobre o rio Águeda no preciso local onde aumenta o caudal do Douro. Local de eleição para mais uma paragem, em Oásis estrategicamente colocado para permitir a internacionalização do Portugal de Lés-a-Lés, autorizando um saltinho a Espanha para o que bastava cruzar a ponte sobre o Águeda. Mas, numa etapa altamente fotogénica, muito mais estava por ver, começando nas imponentes escarpas que ladeiam o Ribeiro de Mosteiro, formação geológica de quartzitos com 450 milhões de anos, e continuando pelas marcas deixadas pelos romanos na região, como a pequena ponte e a Calçada de Alpajares ou Calçada do Diabo.
Para digerir tamanha imponência geológica e histórica, nada como umas curvas deliciosas, rumo a Freixo-de-Espada-à-Cinta, no regresso à rápida e bonita N221 que haveria de acompanhar a caravana até Mogadouro. Pelo meio, duas escapadas de ‘luxo’ através de algumas estradinhas municipais, mais lentas e contemplativas: a primeira para ver o Cavalo de Mazouco, por muitos apontada como a primeira gravura rupestre ao ar livre em toda a Europa; a segunda para vislumbrar o vale do Douro numa das suas vistas mais imponentes a partir do Miradouro do Carrascalinho.
Sempre com a N221 como linha orientadora, Mogadouro foi paragem para retemperar muitos estômagos mais carentes antes da descida ao Rio Sabor, com algumas nuvens ameaçadoras no horizonte, mas que, felizmente, haveriam de dar em nada. Já dentro do concelho de Macedo de Cavaleiros, nova paragem na albufeira do Azibo onde o moto clube local deu as boas-vindas ao Nordeste Transmontano, seguindo-se, poucos quilómetros adiante, a visita mais carnavalesca de todas, a Podence, cujos famosos caretos com que festejam o Entrudo são, desde fevereiro, Património Imaterial da Humanidade. De Macedo a Torre de Dona Chama, sempre por estradas secundárias bem interessantes, oportunidade para apreciar nova mudança de paisagem, com os grandes vinhedos do Côa a darem lugar a olivais e vinhas bem mais pequenas, dos produtores locais e destinadas, sobretudo, a consumo próprio. E com o sol a brincar as escondidas, ora aparecendo em força, ora dissimulando-se atrás de ameaçadoras nuvens negras, lá seguiu o pelotão para apreciar a famosa Berroa ou Porca (ou será uma ursa?) e o Pelourinho da vila do concelho de Mirandela cuja lenda aponta a origem do nome para a fundação por uma nobre senhora, Dona Châmoa Rodrigues. Que, conta a fábula, tinha um rosto tão bonito quanto feios eram os pés, que de defeituosos mais pareciam os de uma cabra.
Incólumes às ameaças de chuva e animados por ter Chaves cada vez mais perto, cumprindo a totalidade do percurso, algo que à partida muitos colocavam ainda em dúvida, os maratonistas viveram final espetacular, sempre junto à fronteira com Espanha, de beleza condizente com a excelente jornada mototurística que foi o 22.º Portugal de Lés-a-Lés. Na cascata de Segirei apreciando território de nuestros hermanos, tentando mover a famosa Pedra Bolideira ou fotografando o célebre marco zero da cada vez mais concorrida N2, os participantes iam dizendo adeus a evento único, com uma organização que encontrou imensas dificuldades para levar o evento a ‘bom porto’ mas que, finalmente, nas margens do Tâmega depois da passagem exclusiva pela ponte romana de Trajano, mereceu aplausos de todos. O adiamento desde junho para esta altura do ano, por força da pandemia que parou o Mundo, criou muitas dores de cabeça, é certo, mas deixou uma boa notícia:
É que só já faltam 9 meses para a próxima edição.
Foi um Lés-a-Lés com um sabor muito especial e isso foi notório na cara de satisfação de todos os participantes à chegada ao palanque no final de cada etapa. Em Chaves houve mesmo grandes momentos de emoção por parte de muitos participantes e em especial dos membros da organização que acreditaram sempre ser possível fazer um Lés-a-Lés nos tempos difíceis que atravessamos... e fez-se, com alguns condicionalismos mas... ESTÁ FEITO.... e, como em tudo na vida, foi o muito querer que o fez acontecer.
Obrigado a todos os elementos da organização e obrigado sobretudo aos muitos participantes que acreditaram na nossa capacidade de fazer acontecer este memorável 22° LÉS-A-LÉS.
Cumprindo promessa de ser a mais costeira das 21 edições do Portugal de Lés-a-Lés, a grande maratona mototurística que, de 9 a 12 de junho ligou Felgueiras a Lagos. Figueira da Foz e Arruda dos Vinhos foram palco da chegada da 1.ª e 2.ª etapas e, naturalmente, da partida para o dia seguinte no evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal. Percurso a rondar os 1200 quilómetros de extensão e quase totalmente desenhado junto ao oceano Atlântico, naquele que é o maior evento mototurístico da Europa, com os 2000 participantes a totalizarem cerca de 2,5 milhões de quilómetros. E isto sem contar com as deslocações para o local de partida e o regresso a casa! Com três etapas e o Passeio de Abertura pelo concelho de Felgueiras, o 21.º Portugal de Lés-a-Lés proporcionou 35 horas de puro mototurísmo, em trajeto que permitiu a descoberta das paisagens e património, da gastronomia e das gentes, de norte a sul do mapa continental.
Surpresas - e grandes! - na apresentação oficial do 21º Portugal de Lés-a-Lés, no dia em que foi desvendado o percurso que de 9 a 12 de Junho vai ligar Felgueiras a Lagos. A cidade algarvia foi uma das novidades reveladas na cerimónia que decorreu na Figueira da Foz, que também acolherá o final de uma etapa, a primeira, com ligação desde Felgueiras. Num percurso quase integralmente desenhado junto ao oceano Atlântico, o maior momento de admiração foi o anúncio de Arruda dos Vinhos como ponto final da segunda etapa. Afastada da costa, é certo, mas verdadeira porta de entrada rumo à descoberta do estuário do Tejo na edição 2019 da grande aventura que, quando não andar junto ao mar, estará a descobrir rios e ribeiros, espelhando não só a missão de dar a conhecer os recantos mais discretos do País como a preocupação ambiental da Comissão de Mototurismo da Federação de Motociclismo de Portugal.
Anfitrião da apresentação do mais costeiro Lés-a-Lés de sempre, João Ataíde, presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, não escondeu grande satisfação, «…tal como todos os figueirenses, em receber a grande caravana e mostrar o muito que a Figueira da Foz tem de interessante. E que é, realmente, muito!» Promessas de uma recepção condizente com a animação esperada no final da segunda etapa, no dia 10 de Junho, o mesmo acontecendo no dia seguinte, em Arruda dos Vinhos. Vila que o presidente da autarquia, André Rijo, garantiu que «…vai crescer para acolher, com amizade e carinho, todo o enorme pelotão do Portugal de Lés-a-Lés». Garantias sublinhadas por outras entidades diretamente envolvidas no evento, como a Câmara Municipal de Felgueiras e do motoclube Felroad, representado pelo seu presidente Luís Mendes, ou a Câmara Municipal de Esposende que, através do seu vereador do pelouro do Desporto, Rui Losa, desvendou que «…a recepção em terras esposendenses será de molde a deixar todos os participantes com vontade de voltar para descobrir, ao pormenor, todas as maravilhas do concelho.» Numa cerimónia dinâmica e muito envolvente, presença notada dos patrocinadores e apoiantes do Portugal de Lés-a-Lés, da BMW à BP, passando pela Dunlop, Touratech, Agência Abreu e NEXX, com esta a proporcionar um momento de enorme expectativa, com o sorteio de um capacete modular, o NEXX Villitur, entre os muito presentes no salão do hotel figueirense.
Evento mototurístico que é o maior da Europa, cumprindo cerca de 2,5 milhões de quilómetros – sem contar com as deslocações para o local de partida e o regresso a casa! – e que tem grandes preocupações ambientais. Assim, depois do contributo para reflorestação das áreas ardidas em 2016 e 2017 com distribuição de árvores autóctones e forte campanha de sensibilização efectuada em 2017 e 2018, a edição de 2019 será palco da divulgação do Projeto Rios+. Iniciativa que aposta na chama de atenção das populações mas, sobretudo, das autarquias, proprietários e empresas locais para a preservação e requalificação das linhas de água.
Ocasião também, num Domingo verdadeiramente primaveril, para garantir um lugar na heterogénea caravana, com as primeiras inscrições efectuadas logo após a apresentação no Grande Hotel da Figueira. Momento aproveitado por mais de meio milhar de motociclistas que, assim, garantiram o arranque para cada uma das etapas na dianteira do pelotão que, por questões de segurança e qualidade do evento, é limitado a 2000 mototuristas.
Felgueiras pronta para festa rija
A cidade de Felgueiras acolhe o arranque do Portugal de Lés-a-Lés 2019.
Já mexe a maior aventura mototurística da Europa! Se, a partir de Sábado, todos os caminhos vão dar a Felgueiras, destino de mais de 2000 motociclistas, a verdade é que, na Capital do Calçado já se trabalha para um arranque perfeito do 21º Portugal de Lés-a-Lés. A preparação dos materiais a entregar aos elementos das 907 equipas, nomeadamente o mais extenso ‘road-book’ de sempre, com 71 páginas cada, em total superior a 700kg de papel, ocupa duas dezenas de elementos de clubes, nomeadamente do local Felroad, e da Comissão de Mototurismo da Federação de Motociclismo de Portugal, elementos que não se poupam a esforços para que, na manhã de Domingo, a partir das 9 horas, tudo esteja pronto para as Verificações Técnicas e Documentais na muito agradável Praça Doutor Machado de Matos, disponibilizada e engalanada pela Câmara Municipal de Felgueiras. Depois, e enquanto os primeiros participantes arrancam para o Passeio de Abertura, outros, as equipas com números mais altos, continuarão a comprovar as boas condições de circulação das suas motos, imprescindível para máxima segurança ao longo dos 1255 quilómetros do evento que, multiplicados pelas mais de 1900 motos inscritas, acumulam 2,4 milhões de quilómetros. Sem contar com a ida até ao local de partida e o regresso a casa…
Esta praça será, aliás, palco de toda a acção ao longo do fim-de-semana, onde terão lugar as verificações, mas também onde estarão os espaços dos patrocinadores BMW, BP, Dunlop, NEXX, Touratech e Agência Abreu, além da presença de apoiantes como a Brisa, Ducati, Yamaha, Suzuki ou Kawasaki entre outras e, não menos importante, onde estará instalado o palanque do qual serão dadas as partidas para o Passeio de Abertura, no Domingo, e para a 1º etapa, na madrugada de segunda-feira.
Música, muita música, e os golos da seleção de todos nós
No local haverá ainda palco especial, no qual atuarão os Fly Tribute U2, às 22 horas de sábado, seguindo a festa com diversos DJ’s, enquanto no Domingo, a partir das 19h45m, será possível assistir, em ecrã gigante e ambiente único, à Final da Liga das Nações, em jogo de enorme expectativa que opõe Portugal e Holanda. Além de ali estarem instaladas muitas tasquinhas onde é possível ir ‘mordendo’ qualquer coisa, para compor o estômago e afastar os nervos e para descontrair, mais tarde, a partir das 22 horas, com concerto protagonizado pelo grupo Sons do Minho.
Mas isto só depois de um muito promissor Passeio de Abertura que, ao longo de 70 quilómetros promete enorme surpresa, mostrando imensos pontos de interesse arquitetónico, paisagístico e histórico, estilhaçando o mito de que Felgueiras é concelho limitado a instalações fabris vocacionadas para o têxtil e calçado e unidades industriais de outras áreas. E que vai deixar saudades quando a enorme caravana internacional de despedir rumo a Lagos, onde chega no dia 12 de junho, quarta-feira, não sem antes parar na Figueira da Foz e Arruda dos Vinhos.
Surpresas naturais em Felgueiras
No arranque da sua 21ª edição o Portugal Lés-a-Lés percorreu a Rota do Românico.
Conhecida como Capital do Calçado, Felgueiras mostrou, durante o Passeio de Abertura do 21º Portugal de Lés-a-Lés, ser muito mais que o somatório de inúmeras unidades fabris num dos mais produtivos pólos industriais do País. Aos mais de 2.100 motociclistas que participam na maratona mototurística organizada pela Federação de Motociclismo de Portugal, revelou ser terra de entusiasmo, dinamismo e empreendedorismo e onde existem belezas naturais, arquitetónicas e históricas que deram outro sabor ao aperitivo para a grande aventura, ao longo de 70 quilómetros em plena Rota do Românico. Mas onde não faltaram pontes e ruínas romanas, igrejas e mosteiros, motos antigas e Ferrari.
Ao longo de meia-dúzia de horas, de tranquilidade e diversão, com nada menos de 11 paragens para visitas, literalmente para todos gostos, revelou-se um passeio com duas fases distintas, começando pela parte industrial e vinhateira, seguindo depois para norte, desfrutando das paisagens mais verdes e oxigenantes na bacia do rio Vizela. Tudo num dia que contou com forte apoio Câmara Municipal de Felgueiras e dos entusiastas sócios do Felroad, jovem motoclube local, onde a caravana visitou alguns dos 58 monumentos referenciados na Rota do Românico como a Igreja de São Vicente de Sousa, datada de 1162 e monumento nacional desde 1977, a Igreja do Salvador de Unhão, de 1165, ou o imponente Mosteiro de Pombeiro, o mais notável mosteiro beneditino no norte do País, fundado em 1059, no cruzamento de duas importantes vias medievais, acolhendo reis e peregrinos ao longo de séculos.
Património histórico a merecer regresso com mais tempo para apreciar, por exemplo, os caixotões que cobrem o altar da Igreja de S. Vicente, datadas de 1694, com 20 pinturas que retratam a vida de S. Vicente, desde o momento em que foi ordenado diácono até à feroz perseguição e tortura pelos soldados romanos, sendo depois de morto, ao descansar numa cama e sem nunca se converter aos deuses pagãos dos romanos, lançado a um pantanal que deveria acelerar a decomposição para evitar que os cristãos recolhessem as suas relíquias. Mas, diz a lenda, que o corpo não se decompôs e foi sempre guardado por um corvo – o mesmo que aparece no brasão de Lisboa, de que S. Vicente é padroeiro – continuando a história, contada por José Augusto Costa, com o lançamento do corpo ao Mediterrâneo pelos muçulmanos que tomaram Valência. Mas o cadáver do santo chegaria a boiar ao Cabo de Sagres, que passaria a chamar-se de S. Vicente, tendo as suas relíquias chegado muito mais tarde a Lisboa, com a nau que transportava o corpo a aportar àquela que é agora a freguesia de S. Vicente de Fora, tornando-se padroeiro da cidade por ordem de D. Afonso Henriques, em 1173, mais de 800 anos depois de ter morrido.
Um museu do outro mundo e a surpresa de andar de moto… dentro de uma fábrica
Tempo ainda para uma paragem mais demorada junto à robusta Igreja de Santa Maria de Airães, do início do século XIII, verdadeiro ex-libris da de Airães cuja Junta de Freguesia proporcionou o primeiro dos Oásis que, ao longo de todo o País, vão ajudar os participantes a mitigar o esforço, a sede e a fome, com paragens estratégicas. Outro Oásis deste Passeio de Abertura foi montado na unidade industrial da Irmalex, maior fabricante nacional de painel sanduiche, coberturas climatizantes para casas, fábricas e pavilhões, com direito a deliciosa sanduíche… comestível – de porco no espeto – a juntar à muita doçaria e à actuação da banda Fulltrack de Famalicão, além de inédita visita à maior fábrica nacional do ramo, em cima da moto, com 10 mil metros quadrados de área e mais de 3 milhões de metros de painel produzidos anualmente! Momento ímpar proporcionado por Júlio Martins, que além de empresário de sucesso é apaixonadissimo motociclista, tal como o foi a visita ao Museu de Motos Antigas de José Pereira, onde muitas, mas mesmo muitas centenas de máquinas restauradas – dizem que é o mais recheado do Mundo – fizeram as delícias de todos, ou a passagem pelo Stand Terror, o maior vendedor de Ferrari em Portugal, com mais de 300 unidades seminovas e impecáveis entregues nos últimos anos.
Mistura entre o profano e o sagrado no evento apoiado pela BMW, BP, Dunlop, NEXX, Touratech e Agência Abreu, que continuaria com a visita à Igreja de Santa Quitéria, santuário que é verdadeira sala de visitas felgueirense, erigido no local onde se crê ter sido enterrada a mártir com o mesmo nome, que, em 135 DC foi mandada executar pelo pai, quando tinha 15 anos, por não aceitar o acordo para o casamento com um cortesão. E onde elementos do Moto Clube do Porto montaram o primeiro controlo de passagem sob o signo do ‘saco azul’, triste estória que colocou Felgueiras nas aberturas de muitos telejornais… De história mais sólida e terrena, as importantes pontes da Veiga, construída no séc. XIV sobre o Rio Sousa ou a ponte romana do Arco, sobre o Rio Vizela, ladeado de belíssimas casas medievais a pedir urgente recuperação. Além da Villa Romana de Sendim, onde simpáticas arqueólogas desvendaram história com mais de 1700 anos daquela que foi uma abastada quinta agrícola. Ou da Quinta da Lixa, onde foi possível saborear um dos mais famosos vinhos verdes de Portugal, com capacidade de engarrafamento de 9000 garrafas por hora (!) em linha de produção que exigiu 1,5 milhões de euros de investimento. Provar o vinho do maior produtor da região, elaborado com castas dos 105 hectares das vinhas locais mas também das catas Avesso, de Resende, e Loureiro, oriunda de vinhedos de Braga, mas sem exageros porque havia que chegar a Felgueiras a tempo da Final da Liga das Nações, onde grandes eram as expectativas que rodeavam o desempenho da Seleção Nacional.
Pão de ló, de Margaride, para adoçar a alma e mãos milagrosas, dos técnicos do IMT, para recuperar o corpo
Momento preparado com o mais emblemático doce regional, o Pão de Ló de Margaride, fabricado segundo receita secreta de Clara Maria e sempre no mesmo local desde 1730. Tempo mesmo para visitar a cozinha, inalterada desde o ano de 1888, altura em que, graças ao empenhado e entusiasmante trabalho de Leonor Rosa da Silva, foi nomeada Fornecedora da Casa Real Portuguesa. Depois, tempo para o futebol, com o resultado que se conhece, e para o concerto com a banda Sons do Minho que animou as hostes até bem depois da meia-noite. E só não durou mais porque era tempo de descansar já que a primeira etapa da longa maratona até Lagos, que levaria a caravana até à Figueira da Foz, sempre pelo litoral no mais costeiro Lés-a-Lés, tinha partida madrugadora, com saída às 6 horas para as primeiras equipas. E passagens por Póvoa de Lanhoso, Vila Verde, Prado, Esposende, Vila do Conde, Matosinhos, Porto, Ria de Aveiro, Murtosa, Aveiro até à Figueira da Foz onde os primeiros chegaram por volta das 17 horas, seguindo-se animada e colorida procissão (como em todos os locais…) com mais de 5 horas de extensão.
Mais de 2000 mototuristas iniciam grande aventura anual ligando Felgueiras à Figueira da Foz
Desde o verde Minho por terras de pescadores
Eram precisamente 6.00 da madrugada, ainda fresca, e já Felgueiras aquecia com o arranque da 1.ª das 907 equipas inscritas no 21.º Portugal de Lés-a-Lés, em animada procissão de partidas, à cadência de 6 motos por minuto, que se prolongou para lá das 11 horas, já o sol ia alto, prometendo um dia bem quente. Jornada que se confirmou de excelência, a começar pelo tempo, com temperaturas de 20.º na ligação até à Figueira da Foz e céu muito claro, sem qualquer nuvem, excelente para a prática da modalidade, e sempre com o Oceano Atlântico como companhia. Depois, claro está, da ligação até à orla marítima porque, como se sabe, Felgueiras fica a uns quilómetros do mar. Passeio matinal através do verdejante Minho, com surpreendentes estradas que a Federação de Motociclismo de Portugal escolheu para reforçar toque turístico do evento que, ano após ano, desde 1999, junta centenas e depois milhares de motociclistas na ligação entre norte e sul do País. E com paragens em Oásis de diversão acrescida e reconforto gastronómico, solidariedade reforçada e novas amizades. Caravana com mais de 1900 motos, transportando 2115 motociclistas, incluindo mais de duas centenas de estrangeiros. De Espanha chegou o maior contingente – 159 participantes – de uma babel composta por norte-americanos, canadianos, ucranianos, alemães, húngaros, suiços, ingleses, franceses, italianos, gregos, croatas e belgas.
Pequeno almoço real em S. Torcato
Da Capital do Calçado rumou a norte a enorme caravana internacional, aproveitando as paragens no santuário de São Torcato, no castelo de Póvoa de Lanhoso ou na praia fluvial de Adaúfe, para comer o primeiro de vários reforços ao pequeno-almoço entregue pela organização em Felgueiras. Momentos para digerir - além de requintada lista de doçaria, sanduíches, sumos, enchidos, café, e muitas outras ao nivel de hotel de 5 estreslas... - as primeiras emoções de uma viagem sempre ladeada por paisagens verdejantes, da descida ao Rio Vizela à sinuosa subida a Guimarães. Mas passando ao lado da histórica cidade em direção a S. Torcato e ao enorme templo cuja demora na construção justifica a profusão de estilos, do neoclássico, gótico, renascentista e romântico. Espaço onde o MC Conquistadores de Guimarães montou espetacular controlo de passagem, superando mesmo o elevado nível da produção apresentada em 2018 no castelo de Montalegre. Depois da uma boa mão-cheia de agradáveis curvinhas, a primeira grande surpresa do dia levou muitos participantes a esfregar os olhos de espanto, tal era o 'teatro' armado pelos Conquistadores. Estariam bem acordados? Um controlo que, sem exagero e antes a pecar por defeito, fica na história do Lés-a-Lés, com príncipes e princesas, serviçais e feirantes, ciganos e bispos, emigrantes preparados para fugir 'a salto' da miséria que grassava em Portugal na década de 1960, um quarto de dormir decorado a preceito segundo os cânones de outros tempos, com toda a família em pijama e até o penico. E sem esquecer o temível Zé do Telhado que, armado de imponente pistolão, ditava leis para um estacionamento perfeito das muitas motos que ali se acumularam.
Terra de fortificação é também a Póvoa de Lanhoso, assente no maior monólito da Península Ibérica, com a pequena vila minhota famosa também por ser o berço da Revolta da Maria da Fonte, quando, em 1846, os populares, liderados por desassombrada mulher, se insurgiram contra o governo que, alegando razões de saúde pública, proibiu a sepultura de mais mortos dentro da igrejas. Mulher de armas como as muitas minhotas que, durante décadas, impulsionaram a indústria têxtil que deu novo significado ao Vale do Ave. Rio que, nascendo na Serra da Cabreira, foi acompanhado pelos participantes em boa parte dos 94 quilómetros de extensão, com direito a passagem pela foz, em Vila do Conde.
Mas, enquanto não chegavam as ondas do oceano, tempo para apreciar as importantes linhas de água como o Rio Homem, que apesar de curto de 39 km desde a nascente na Serra do Gerês, bem perto da fronteira, e de represado na Barragem de Vilarinho das Furnas, tem forte caudal ou não fosse oriundo da zona mais pluviosa de Portugal. Rio que é um dos três que atravessa o enorme concelho de Vila Verde (os outros são o Cávado e o Neiva), onde não falta montanha, vales de verdejantes veigas e muita… indústria. Claro que, em Minho de muitas surpresas, um ponto haveria de merecer exclamações de espanto, a Praia Fluvial do Faial, em Prado, onde a CM de Vila Verde, com o apoio do Moto Clube do Prado montou o primeiro Oásis da etapa, com vista para a ponte românica mandada construir por Filipe I em 1615, e muitas vezes destruída pela violência do Cávado, antes de serem instaladas 8 barragens na sua bacia hidrográfica. E com o road-book a indicar o caminho de Panque, mais curvas, paralelo e estradinhas reviradas entre muitos campos agrícolas, obrigando a acrescido trabalho de condução. Mas que não intimidou a mais jovem condutora, Sofia Baqué, que aos 18 anos concretizou desejada estreia aos comandos depois de dois anos de experiênca à pendura do pai
Ciclistas e outros campeões de duas rodas
Verdura e muitos rios nesta fase inicial do 21.º Portugal de Lés-a-Lés, como o Neiva, de enorme beleza ao longos dos seus 45 km de extensão e onde existem duas pontes romanas e muitas outras seculares além mais de 150 engenhos, e que o pelotão haveria de atravessar por seis vezes. Até Tregosa onde os Moto Galos de Barcelos tinham preparado mais uma surpresa antes da parte decisiva na aproximação ao mar com a estreante passagem no concelho de Barroselas que tem a particularidade de ser presidida pelo ex-ciclista Rui Sousa, verdadeiro campeão de popularidade a pedir meças a Cândido Barbosa, participante habitual do Lés-a-Lés.
Mas seria Esposende a marcar a mudança de cenário na tirada inaugural da maratona mototurística, deixando para trás o Verde Minho e passando a ter o Atlântico como companhia, entrando no concelho por Forjães, S. Paio de Antas, terra do campeão Nacional de Velocidade em 1988 e 1991, Alex Laranjeira, e Vila Chã, vendo pela primeira vez o mar em Abelheira. E que vista! Deslumbrante! Aliás, não podia ser mais espetacular o primeiro contacto com o oceano, passando ainda por Marinhas rumo ao Oásis da CM de Esposende, fortemente apoiado pelo Grupo Motard da Guia, no espaço Pé no Rio. Onde a caravana pode apreciar a moto da equipa Suzuki Shell com que Laranjeira correu no Mundial de Endurance e que ganhou as 24 Horas de Spa-Francorchamps em 1999, tendo lutado pelo título mundial até à última prova da temporada. Máquina que, como muitas outras, pôde ser apreciada nas duas edições do Salão de Motos de Competição de Esposende que o próprio piloto quer continuar a organizar de forma entusiasmada.
Junto ao mar, sem peixe mas com... a nortada
Atravessado o Cávado, seguiu-se Fão e Ofir, os moinhos da Apúlia e o direito a entrar na lota e apreciar peixe fresco… apesar de ser segunda feira e ainda por cima feriado. Mau dia, dizem as varinas. Por isso, tempo apenas para mais umas fotos que o peixe por lá ficou, rumando a Vila do Conde de forma mais despachada, fugindo às belíssimas e pacatas estradinhas entre as veigas bem como à marginal da Póvoa de Varzim, ganhando assim tempo que a Figueira da Foz ainda estava longe. Das Caxinas, de fama assente na Seleção Nacional de futebol, sendo a freguesia que mais jogadores cedeu, de André a Bruno Alves, passando por Paulinho Santos, Hélder Postiga ou Fábio Coentrão, até à Marginal de Vila do Conde, com circuito onde brilharam nomes como Jorge Viegas, tendo o fundador da Federação de Motociclismo de Portugal e atual Presidente da Federação Internacional de Motociclismo aliás corrido por diversas ocasiões. Vedeta foi também a nau quinhentista, excecionalmente aberta pela CM de Vila do Conde para que os viajantes dos tempos modernos pudessem perceber como era difícil, trágico até, atravessar os mares na época dos Descobrimentos.
Atravessada a foz do Rio Ave, sob a vigilância do imponente Convento de Santa Clara, passagem pela Reserva Ornitológica do Mindelo, a primeira área protegida criada em Portugal, em 1957, seguindo-se por Leça da Palmeira, apreciando a original Piscina das Marés, desenha por Siza Vieira e Monumento Nacional desde 2011, ano em que foi inaugurado o Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões. Reforço importante para o turismo naquele que é o segundo maior porto artificial do País, acolhendo mais de 3000 navios e 14 milhões de toneladas de mercadorias por ano, a seguir ao de Sines, a visitar na última etapa deste Lés-a-Lés. Além da 4.ª maior ponte móvel do Mundo que, atravessando o Rio Leça, levou a caravana a Matosinhos, terra de pescadores e futebolistas, restaurantes especializados em peixe, surfistas, conservas e tudo o mais relacionado com o mar. Mais um saltinho e a entrada no Porto, junto à frente marítima do Parque da Cidade, o maior espaço verde do País em meio urbano, com 83 hectares de área, com 10 km de caminhos, vários lagos e pequenos bosques.
Da elegância da Foz à faina da Afurada
Sempre com o mar ao lado, travessia da elegante Avenida Brasil, entre o Castelo do Queijo e a Fortaleza de S. João da Foz, apreciando o local onde desagua o rio de maior caudal da Península Ibérica. O Douro, atravessado pela Ponte da Arrábida, criação genial de Edgar Cardoso que, em 1963, tinha o maior arco em betão armado a nível mundial. Repleta de turistas – que torna a visita à belíssima Ribeira quase impossível com tão pouco tempo… – rápida travessia para Vila Nova de Gaia através da Ponte Luís I, inaugurada em 1886, com passagem pelas ruelas estreitas e centenários armazéns de Vinho do Porto. Zona histórica de menos à vontade para... uma histórica. É que a Jawa 250 de 1952, a mais antiga moto presente no evento, «a menina dos olhos entre as várias clássicas lá por casa» que Hélder Alves trouxe pela 5.ª vez à maior maratona mototurística da Europa, não gosta de semáforos, para-arranca no trânsito ou subidas muito íngremes porque sobem-lhe logos uns calores à cabeça... do motor!
Sem vinho ou outras bebidas alcoólicas, naturalmente proibidas durante o evento, surpresa na chegada à Marina da Afurada, simpático e versátil espaço onde o conhecido concessionário Antero, dos Carvalhos proporcionou muito agradável Oásis, povoado por muitos ‘pescadores’ do Moto Clube do Porto. Mais divertidos e de estomago reconfortado, foi partindo o pelotão, ao longo de mais de 5 horas, pela marginal marítima, passando pelas praias da Madalena, Valadares, Francelos, Miramar e a curiosa Capela do Senhor da Pedra, erigida em 1686 dentro do mar, Aguda e o seu Parque das Dunas, criado em 1997 pelo Parque Biológico de Gaia, e Granja, local onde o casario evidencia a importância das famílias que ali passavam férias.
Mais eclética, a cidade de Espinho – onde, à imagem de Nova Iorque, as ruas não têm nomes mas sim números – foi contornada para evitar a estreita e apinhada marginal rumo à estrada florestal de Esmoriz, Maceda e Cortegaça, passando pela pista militar sem vislumbrar os bem escondidos hangares, enterrados no solo. No mais costeiro Lés-a-Lés de sempre, um dos ex-libris do evento apoiado pela BMW, BP, Dunlop, NEXX, Touratech e Agência Abreu, foi a Ria de Aveiro, estuário com 41 km de comprimento, juntando as águas dos rios Vouga, Antuã, Boco e Fontão. A grande biodiversidade tornam-na num local de imenso interesse ao longo de todo o ano, sendo possível apreciar flamingos no inverno, além de várias espécies de garças, guarda-rios e muitas aves limícolas. Mas há mais para ver, do Cais da Béstida ao de Pardelhas, passando por Mamaparda ou pela Cicloria, com descoberta através de bicicletas gratuitas proporcionadas pela CM da Murtosa. Que, por isso mesmo, aqui instalou um Oásis, no Cais do Bico, com apoio do Rancho Folclórico As Andorinhas de S. Silvestre, do Bunheiro e onde os Moto Clubes de Estarreja e Murtosa foram imprescindíveis na organização do estacionamento de tantas motos. E no controlo de mais um ponto de passagem, o 6.º dos 18 furos previstos na tarjeta comprovando a realização de todo o percurso entre Felgueiras e Lagos.
Retas e pinhais até ao prémio final
Passagem pela Murtosa, o concelho mais plano de Portugal, que prosseguiu pelos campos de Salreu e de Canelas, com caminhos a ladear esteiros, sombreados por salgueiros e carvalhos. Zona verde e plana onde foi possível ver as primeiras cegonha-branca deste Lés-a-Lés, abordando Aveiro de forma bem diferente da habitual e pouco interessante entrada pela A25, através de um caminho em terra pelas margens do Rio Vouga mas sem escapar ao aroma proveniente da fábrica da Portucel que anuncia a proximidade de Cacia. Que rapidamente foi deixado para trás, ganhando ar bem mais respirável ao chegar ao farol mais alto de Portugal, o da Costa Nova com os seus 62 metros de altura. Ali bem perto, em zona ampla e muito agradável, ainda antes da bonita e fotogénica povoação balnear do concelho de Ílhavo, onde os palheiros, armazéns de sal e de utensílios de pesca, deram origem a casas de habitação de cores fortes, espaço para o Oásis da NEXX, mostrando a completa e muito moderna gama de capacetes incluindo o best-seller X.Wed 2 e o novíssimo modular X.Vilitur. Para melhor refletir na aquisição de novo capacete, nada como a viagem pela Vagueira e Praia de Mira, com passagem pela sensível Lagoa de Mira, habitat de água doce, e por estradas florestais que são autêntica… desgraça. Do pior que se viu em muitos anos de Lés-a-Lés mas impossíveis de evitar. Obrigatório rolar muito devagar para evitar as muitas armadilhas de um asfalto mais que irregular emoldurados por pinheiros, muitos deles ardidos, e acácias, aconselhando a fuga pela também pouco interessante N109. Aconselhada, mas só a quem tinha tempo e fôlego, a escapa à praia de Palheiros da Tocha, no concelho de Cantanhede, com interessante arquitetura tradicional.
O maior e mais desejado areal
Já com a chegada à Figueira da Foz no pensamento, tempo para desfrutar das vistas de um dos areais mais longos de Portugal, com 53 km, do Rio Vouga ao Cabo Mondego, apenas interrompido ao de leve por algumas pequenas ribeiras. Que seria cenário da entrada na cidade que acolheu o final desta primeira etapa não fosse o facto desta estrada, macabramente conhecida como «enforca-cães» ter sido fechada ao trânsito poucas semanas antes. Que levou a organização, com apoio do Moto Clube de Coimbra, a optar pela Serra da Boa Viagem, obrigada a ‘inventar’ face à desolação lançada pelo Furacão Leslie, que a destruiu a 13 de outubro de 2018. Mas valeu pela paragem junto das «pimpinetes» ululantes do MC Coimbra e no Miradouro da Serra da Boa Viagem que, apesar dos apenas 261 metros de altitude, permite apreciar a Figueira da Foz, o Oceano Atlântico em toda a sua magnitude e o imenso areal de Buarcos. Derradeiras recordações de um dia muito exigente, para o físico como para as motos, efeitos minimizados pelos terapeutas e massagistas do Instituto de Medicina Tradicional e pelos mecânicos da equipa que acompanha a caravana do Lés-a-Lés. E com tudo preparada, nada como um bom descanso porque a 2.ª etapa, com 345 km até Arruda dos Vinhos promete mais emoções, com partidas desde as 6 horas para uma viagem que vai durar cerca de 10 horas e 20 minutos. E com passagem pela Praia de Vieira, S. Pedro de Muel (a partir das 7.00 horas), Nazaré (7.50 h), S. Martinho do Porto (9.00 h), praias de Porto Novo (11.00 h), de Santa Cruz (11.10 h), da Ericeira e das Maçãs (12.35 h). O Cabo da Roca (às 12.50 h) ou Cascais (13.50 h) são outros locais com paragem antes da travessia de Lisboa, entre a Marginal e a Expo, sempre junto ao rio Tejo, atravessando depois o rio Trancão em direção à Arruda dos Vinhos onde os primeiros começarão a chegar às 16.30 h.
Vendaval de emoções da Figueira da Foz até Arruda dos Vinhos passou em grande estilo por Lisboa
À descoberta do paraíso… do surf
Mar, mar e mais mar. Povo de aventureiros, de ousados navegantes prontos a ‘dar novos mundos ao Mundo’, os lusitanos voltaram a fazer história no mais ‘oceânico’ Portugal de Lés-a-Lés de sempre. Nunca, em 21 anos, a enorme e heterogénea caravana de 2115 motociclistas tinha andado tanto tempo junto à costa, descobrindo paisagens realmente ímpares. 'postais' que fizeram as delícias, também, dos mais de 200 participantes estrangeiros, vindos em grande número de Espanha, mas também de França, Itália, Suíça, Alemanha, Holanda, Ucrânia, Hungria, Grécia, Inglaterra, Bélgica, Croácia, e ainda de mais longe, desde os Estados Unidos, Canadá, Angola ou Moçambique. Prova que Portugal não só está na moda como há muito para descobrir… em duas rodas. Foi o caso da ligação entre a Figueira da Foz e Arruda dos Vinhos, ao longo de 345 quilómetros de paisagens fabulosas, saboreadas em animada solidariedade e com muita animação ao longo de descoberta que foi, também, gastronómica. Percurso muito interessante mas trabalhoso o que a Federação de Motociclismo de Portugal gizou em locais por onde nunca o Lés-a-Lés havia andado, para mostrar praias que são atração enorme para surfistas de todo o Mundo, e onde se pesca e come o melhor peixe. Afinal, dois importantes cartões de visita que ficam mais fáceis de conhecer de moto, como ficou provado num dia em que o Litoral, muitas vezes superpovoado e sem ordenamento, também pode ser simples e belo. E ventoso! Muito vento ao longo de praticamente toda a etapa mas que não fez 'voar' a animação do pelotão que, depois da paciência gasta na travessia do Grande Porto na véspera, queria mesmo era... andar de moto.
Animação que começou cedinho, com partida para a primeira das 907 equipas às 6 horas, continuando, a uma cadência de 6 motos por minuto, durante mais de 5 horas. Gigantesca caravana que aproveitou as estradas mais despachadas entre a Figueira da Foz e S. Pedro de Moel para 'despachar serviço' pela fresquinha, olhando de soslaio e com tristeza para os muitos pinheiros partidos pelo furacão Leslie, com rajadas de mais de 150 km/h, ou para os efeitos do incêndio que destruiu o Pinhal de Leiria. Mas que não tiveram tempo para apreciar condignamente as praias da Costa de Lavos, Leirosa e Osso da Baleia ou o Ecomuseu do Sal, propostas para um regresso a terras figueirenses em escapadinha de fim de semana porque o dia era curto para tudo conhecer. Locais onde resistem paraísos como a Lagoa da Ervideira, verdadeiro oásis entre hectares de pinhais ardidos. Mas era preciso ‘dar da perna’ passando ao lado, mas em ritmo de passeio que permitiu apreciar o Farol do Penedo da Saudade, um dos muitos encontrados em ano de viagem junto ao mar, ou areal até S. Pedro de Moel. Onde foi descoberto outro Oásis, montado pela Câmara Municipal com o apoio do Moto Clube da Marinha Grande, com tempo para visita à interessante Casa-Museu Afonso Lopes Vieira.
De barriga mais composta, tempo para continuar até Nazaré, ancestral vila piscatória que as ondas gigantes da Praia do Norte, formadas pelo canhão submarino e aclamadas aos sete ventos por Garret McNamara, puseram nas bocas do mundo. E onde não faltou a visita a um interessante museu dedicado, pois claro, às Ondas Gigantes, além de um Porto de Abrigo construído no início dos anos 80 do século passado para abrigar em segurança os marinheiros e que agora ganhou outra expressão com a chegada dos barcos de recreio. Espaço eclético que serviu para acolher os motociclistas em mais um Oásis, organizado pela Yamaha e onde não faltou a novíssima Ténéré 700 que, de tanta curiosidade despertada, quase fazia esquecer o lanche preparado. Pequenas refeições, ligeiras e sempre com águas ou sumos, porque um almoço, pesado, a meio do dia iria ditar significativa quebra de ritmo, desperdiçando-se o intuito de descobrir o máximo de Portugal em tão pouco tempo. Tempo e leveza (do estômago) que se agradeceu na subida da Serra da Pescaria, onde o vento começou a soprar com mais intensidade, ou em direção a S. Martinho do Porto, cuja baía vista do alto da serra revela uma perfeita forma circular. ‘Milagres’ da natureza…
Do Oeste à capital, 'guardados' pela majestosa serra de Sintra
Mapa de belezas naturais que não parou de surpreender, voltando ‘a fazer das suas’ em Salir do Porto onde a autarquia das Caldas da Rainha fez questão de em receber os visitantes em grande estilo e com o apoio do Moto Clube do Porto, antes da visita à Foz do Arelho (com direito a ver, ao longe, as Berlengas) e à Lagoa de Óbidos, o mais extenso sistema lagunar da costa portuguesa, com cerca de 7 km quadrados. Seguiu-se Caldas da Rainha, onde curiosamente se faz a única feira diária de legumes e outras verduras em Portugal; um olhar à distância sobre a bela fortaleza de Óbidos, com convite para descoberta mais demorada para os atempados, passagem pelas vinhas e pomares a caminho do Bombarral – terra de boa pera e curvas excelentes na N8, bem aproveitadas por Joaquim Horta, o actor que depois de tanto ouvir falar do Lés-a-Lés não foi capaz de recusar o convite e alinhar à partida de «uma aventura fabulosa, divertida e onde se descobrem inúmeros locais de grande beleza, verdadeiros tesouros bem guardados do nosso País».
E de novo o mar, na praia de Porto Novo, depois da passagem pelo Vimeiro e do rio Alcabrichel, conduzindo num vale, fechado ao trânsito mas aberto para as motos do Lés-a-Lés, onde a vegetação autóctone garante cenário paradisíaco e de enorme frescura. Tudo porque o dia era de surf, dos melhores spots nacionais, e por isso, paragem ‘obrigatória’ na praia de Santa Cruz, onde a BP deu outro colorido à paisagem com novo e já tradicional Oásis, mas também em Ribeira de Ilhas ou na Ericeira, cujas características naturais valeram título de Reserva Mundial de Surf, a única na Europa das 6 que existem a nível mundial, com as outras situadas na costa Oeste americana e na Austrália. Apreciar o mar, mais sereno que o habitual por estas bandas, foi tarefa prazenteira na ligação até Sintra, com descida ao Rio Lizando e à Praia de São Julião antes da prazenteira e pitoresca estrada através de São João das Lampas, a inimitável vista sobre Azenhas do Mar, a Praia das Maçãs e as casas de uma arquitectura de marcado bom gosto ou a linha de elétrico que leva os veraneantes e turistas desde Sintra.
Momento alto, para muitos que só conheciam o Cabo da Roca de ouvido, a passagem pelo ponto mais ocidental da Europa Continental revelou o porquê da fama que concentra milhares de motociclistas todos os domingos desde há muitos anos. Além da beleza natural da zona do local onde, como escreveu Camões «a terra acaba e o mar começa», animação acrescida graças a de um dos mais antigos clubes nacionais e um dos criadores do Lés-a-Lés em 1999, o MC Motards do Ocidente que levou rebanho e pastores, bruxas e até a Virgem Maria, entre muitas figuras que mereceram fotografias dos participantes como das centenas de turistas que por ali andavam de máquinas e telemóveis em punho. Já com o diploma que atesta a presença na pontinha ocidental da Europa continental, muitos curvas de excelente recorte, já dentro do Parque Natural Sintra Cascais, rumo à vila que é a mais famosa estância balnear da zona de Lisboa não sem antes passar pelo sempre ventoso Guincho. Tempo para descobrir ou recordar as deliciosas curvas que fazem as delícias dos milhares de motociclistas que se juntam no afamado ponto de encontro domingueiro, rumando à Arruda dos Vinhos num trajeto urbano, pois claro, mas surpreendentemente verde, com troços oxigenantes e uma marginal, entre Cascais e Lisboa que, sem o trânsito que a torna tristemente famosa, pôde ser apreciada com outros olhos. O vento, sempre presente, ajudou a refrescar a extensa caravana de mais de 1900 motos, e, para aqueles que optaram pela paragem em sítio que nem sempre é fácil estacionar, tornou ainda mais impressionantes as vistas sobre a Boca do Inferno, com impressionante ruído oriundo das grutas causadas pela erosão das rochas carbonatas que formam esta costa.
Lisboa como nunca foi vista... de moto
Lisboa estava perto mas antes paragem em local nobre de Cascais, no Oásis Via Verde - porquê parar se pode ter a Via Verde ?!... - onde a originalidade voltou a marcar pontos, e a passagem pelo Estoril, terra de palácios, casinos, grandes hóteis, um autódromo, campos de golfe e muito mais. E que tem, também, uma belíssima estrada marginal, a N6 em ligação até à capital, apreciada de forma tranquila, vendo praias e faróis, fortes e restaurantes famosos. E muitos pormenores que, não raras vezes, passam despercebidos mesmo a quem aqui rola diariamente. Já dentro de Lisboa, passagem pelo Estádio Nacional, em Oeiras, pelo Aquário Vasco da Gama, mandado construir pelo Rei D. Carlos, e pela Torre de Belém, construída em 1520 com o nome de Torre de S. Vicente, antes da paragem em agradável Oásis Honda, com a Ponte 25 de Abril, como pano de fundo. Tempo para respirar fundo antes de enfrentar o trânsito da maior cidade portuguesa e ainda mais complicado com a massificação do turismo, dos 'tuk-tuk' aos autocarros e mini-vans privados, passando por Alcântara, Cais do Sodré, Zona das Naus, gira mas com muito mau piso. Ou a estreia absoluta com um olhar da caravana do Portugal de Lés-a-Lés sobre o Terreiro do Paço, uma das maiores praças da Europa, com 3,6 hectares. 'Aberto' ao Tejo pelo Cais das Colunas, ganhou assim mais um registo histórico o local onde D. Carlos foi assassinado, onde Miguel de Vasconcelos foi atirado de uma janela no fim da União Ibérica, ou onde Fernando Pessoa parava para o café da praxe no Martinho da Arcada. Mais moderno, com outra arrumação urbanística, o Parque das Nações, nascido para a Expo 98, revelou uma Lisboa diferente, onde brilha a Estação do Oriente, obra do arquiteto Santiago Calatrava, que continua a fascinar portugueses e estrangeiros.
Com a passagem sobre o rio Trancão, nova mudança de enquadramento paisagístico, com passagem por Sacavém antes da entrada em Bucelas, chegando finalmente ao concelho da Arruda dos Vinhos. Onde a primeira função passou pela ajuda à defesa dos exércitos napoleónicos, com subida, em piso de terra, ao muito maltratado Forte da Carvalha. Uma das muitas fortificações, de planta em estrela e que tinha uma guarnição de 400 homens, que compunham as Linhas de Torres, erigidas no início do século XIX para defender a capital perante a pretensões invasivas napoleónicas. Espírito combativo mostrado pelos elementos do Moto Clube da Arruda dos Vinhos que nem precisaram de recorrer à eficiente forma de comunicação daqueles tempos, passando rapidamente mensagens entre Torres Vedras e Lisboa através de bandeiras. Bastaram dois dedos de conversa, em jeito de preparação para a festa montada no final da 2.ª etapa, onde não faltou a presença dos Rock em Stock, uma banda de Almada especializada em 'covers' de rock português, uma interessante exposição de motos clássicas além de equipamentos e acessórios para máquinas e condutores. E antes do jantar, tempo para pequenas reparações nas motos, mecânicas ou de pneus, com a presença da Dunlop, mas também para tratar do corpo, com apoio de terapeutas, osteopatas, técnicos de acupuntura e massagistas do Instituto de Medicina Tradicional.
E com tudo preparado, nada como um bom descanso porque a 3.ª etapa, com 466 km até Lagos, apesar de mais rolante através da costa alentejana e vicentina, promete mais emoções, com partidas desde as 5.30 horas da madrugada para uma viagem que vai durar cerca de 10 horas e 20 minutos. A começar pela travessia do Rio Tejo em Vila Franca de Xira (a partir das 6 horas), a paragem em Santo Estevão (6.50 h), terra do MC Almansor, grandes animadores do Lés-a-Lés aos comandos das eternas cinquentinhas, Alcácer do Sal (8 h) ou o cais palafítico da Carrasqueira (8.40 h). Depois, Melides e a sua lagoa, Santo André rumo ao forte de Sines (9.55 h), Porto Covo e Ilha do Pessegueiro até Vila Nova de Milfontes (11.15 h). Na Zambujeira do Mar, a partir do meio-dia, a Touratech vais mostrar enorme surpresa gastronómica no seu Oásis, antes de Odeceixe, Carrapateira e Vila do Bispo com paragem no Forte de Beliche (14.25 h). Depois, remate final até Lagos, com passagem por praias de enorme beleza, como Beliche, Sagres, Ingrina, Zavial, Burgau ou Luz antes da festa final que tem início marcado para as 16.30 horas e de prolongará noite dentro, com música, fogo de artifício e muita animação.
Marinheiros, motociclistas e outros aventureiros concluíram em festa o mais costeiro Portugal de Lés-a-Lés de sempre
Sucesso à beira-mar plantado
Ambiente de enorme festa na chegada a Lagos foi prova evidente do sucesso da 21.ª edição do Portugal de Lés-Lés, o mais próximo de sempre do Oceano Atlântico, em aventura de recordação e homenagem a povo de forte pendor marítimo. Dos marinheiros que deram novos mundos ao Mundo aos pescadores, dos surfistas bronzeados às peixeiras de pele tisnada pela inclemência do sol e sal, de todos se falou ao longo das 71 páginas do 'road-book' que indicou o caminho de 1225 quilómetros entre Felgueiras e Lagos, com paragens na Figueira da Foz e Arruda dos Vinhos. Festa gigantesca, com mais de 2100 motociclistas em 1900 motos naquela que reforçou estatuto de maior maratona mototurística da Europa. E, quiçá, do Mundo! Pelo menos a julgar pela crescente adesão internacional a caravana que, em 2019, contou mais de duas centenas de estrangeiros, da vasta comitiva espanhola representando quase 10 por cento do pelotão, até participantes norte-americanos, canadianos, angolanos, ucranianos, alemães, holandeses, moçambicanos, húngaros, suiços, ingleses, franceses, italianos, gregos, croatas e belgas.
Aposta claramente ganha pela Federação de Motociclismo de Portugal que «apesar de saber de antemão as dificuldades acrescidas que a decisão de realizar o Lés-a-Lés em dias da semana iria criar, tanto mais que atravessou zonas densamente povoadas, provou-se que era possível fazê-lo. E com sucesso». Para António Manuel Francisco, presidente da Comissão de Mototurismo da FMP, «esta foi mesmo a hipótese mais viável de concretizar um desejo antigo de atravessar o País o mais junto possível à costa. Não foi fácil porque implicava atravessar as duas maiores cidades do País e muitas zonas balneares, mas era uma experiência que a FMP queria oferecer aos participantes». Quatro dias de características bem diferenciadas, da verdura do Minho no Passeio de Abertura e no arranque da primeira etapa, à travessia complicada do Grande Porto no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, ao mais recôndito Algarve passando bem perto de algumas das mais belas praias da Costa Alentejana e Vicentina. E sempre com monumentos históricos e outros pontos de interesse a juntar a paisagens de beleza ímpar.
Sob o signo da água. E do vento!
Na terceira etapa, que haveria de levar a caravana até Lagos, 466 quilómetros de extensão obrigaram a saída madrugadora de Arruda dos Vinhos, com sereno serpentear entre casas para fugir ao trânsito das estradas mais usuais. E se as primeiras equipas a partir puderam apreciar o espetáculo do sol que começava a subir no horizonte, gozando vista privilegiada sobre a lezíria e o Tejo, já os que passaram mais tarde pelo pórtico de saída foram bafejados com... temperaturas mais agradáveis face à frescura que se fazia sentir às 5.30 h. da manhã. Depois do verdadeiro carrossel até Vila Franca de Xira, e da rápida 'fuga' através da Ponte Marechal Carmona, seguiram-se as menos interessantes retas em redor do delta do Tejo, aproveitando a Nacional 10 para encurtar a viagem. Tempo, ainda assim, para apreciar outras cores com a volta ao estuário através de campos, rumo a Santo Estevão onde nem um original sinal de trânsito, com placa indicando o caminho do Lés-a-Lés montado sobre uma antiga motorizada de origem nacional, impediu o engano de muitos apressados. Sobretudo daqueles que não sabem desfrutar a grande aventura com serenidade, ou dos que... ainda estavam a dormir. Mas todos acabaram por encontrar o espaço onde o MC Almansor e o rancho folclórico de Benavente montaram espetacular Oásis e onde todos demoraram bem mais do que os 15 minutos previstos e aconselhados no 'road-book'. E todos desfrutaram de uma rápida e divertida iniciação à arte do toureio, abrindo o apetite para verdadeiro festival gastronómico onde nem faltou completo cardápio de doçaria caseira, feita pelas senhoras da terra, felizes de acolher a caravana. E que bem se esteve em St. Estevão!
Depois as entediantes retas da N10 e IC1, mal necessário para mais rapidamente chegar à beira-mar, entrecortadas pela magnificência da paisagem apreciada desde o castelo de Alcácer do Sal, rolando ao longo da muralha com paragem junto ao rio para original prova de azeite. Mais retas rumo à Comporta, passando junto ao Parque Natural do Estuário do Sado, com paragem no Cais Palafitico. Onde o divertido controlo montado pelo Moto Clube do Porto assentava em bem apicantados motivos de pesca e do berbigão. Ou não estivéssemos em terra de pescadores.
Mais vias rápidas até Sines porque Porto Covo e a Ilha do Pessegueiro estavam à espera, mas não sem antes visitar o Castelo acedendo a simpático convite da autarquia. Que até disponibilizou o espaço interior da fortaleza para aparcar as motos! Já em Porto Covo, obrigatório molhar os pés para merecer o furo na tarjeta que garantia a passagem no posto do Moto Clube do Coimbra. Praia das Furnas ou o Cabo Sardão foram os pontos seguintes no mapa desta travessia costeira, antes da paragem na Zambujeira do Mar. A mais famosa terra dos festivais de verão tornou-se no palco mais desejado da hora de almoço graças à feliz associação entre a Longitude 009 e o chef Chakall, com propostas gourmet, de requintada cozinha, no Oasis Touratech. Que, diga-se, muitos comentários de regozijo motivaram numa altura em que se cumpriam os últimos quilómetros no Alentejo.
Entrada no Algarve com visita 'obrigatória' a Odeceixe onde a temperatura já mais elevada, convidava a um mergulho, até porque as ondas de mar muito 'flat' apesar do vento intenso que teimava em não largar a caravana, impedia as mais radicais manobras surfistas. E num final com intenso sabor a Lés-a-Lés, de estradinha desertas, estreitas e cheias de curvinhas, rodeadas da vegetação rasteira que consegue sobreviver ao vento agreste que as fustiga, tempo até para algumas passagens em terra e areia. Claro que, pelo caminho, não podia perder-se tamanha oportunidade de regressar ao canto mais sudoeste da Europa, com controlo final no farol da Ponta da Piedade, no Cabo de S. Vicente, onde até um renascido Gil Eanes se associou ao MC Lagos em tão importante tarefa. Afinal, era o último dos 18 furos efetuados na tarjeta de plástico que atesta o cumprimento, na íntegra, do percurso que levou heterogénea e colorida caravana desde Felgueiras até Lagos. De onde, já se pode adiantar, partirá a edição de 2020...