O Portugal de Lés-a-Lés é uma aventura anual mototurística que desde 1999 concilia a resistência física à vertente turística com o objectivo de cruzar Portugal de extremo a extremo contemplando paisagens e lugares de enorme esplendor. Aquela que se tornou a maior caravana mototurística do mundo passou agora também a pontuar para o World Touring Challenge da FIM!

INSCRIÇÕES ESGOTADAS para o 8º PORTUGAL LÉS-A-LÉS OFFROAD 2023
Estão oficialmente encerradas as inscrições para o 8º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road 2023 que vai acontecer de 1 a 4 de Outubro. Os horários ficarão disponíveis para consulta nesta página até 5 dias antes do dia das Verificações Técnicas (V.T.)
O Lés-a-Lés Off-Road é feito à medida de todos, contudo a característica Off-Road deste tipo de aventura leva a que seja mais exigente para com o piloto e a máquina. Recomendamos por isso que os participantes tenham já alguma experiência em Off Road e noções básicas de mecânica, para desfrutarem ao máximo cada etapa desta grande aventura.
Programa:
Dia 1 – Penafiel - Check-In dos participantes
Dia 2 – 1ª Etapa – Penafiel - Figueira da Foz
Dia 3 – 2ª Etapa – Figueira da Foz - Estremoz
Dia 4 – 3ª Etapa – Estremoz - Portimão
Para mais esclarecimentos recomendamos a leitura do Regulamento.
Qualquer dúvida estamos ao vosso dispor em: Federação de Motociclismo de Portugal - Largo Vitorino Damásio, 3 C - Pavilhão 1 - 1200-872 Lisboa - Telf: 213936030 - Fax: 213971457 www.fmp.pt / geral@fmp.pt
"Casa cheia" nas Bodas de Prata do Portugal de Lés-a-Lés
Dois milhões e meio de quilómetros para descobrir Portugal
Uma vez mais a lista de entusiastas que não querem perder a maior maratona mototurística da Europa fez transbordar a lista de inscritos para o Portugal de Lés-a-Lés cuja 25.ª edição vai para a estrada de 7 a 10 de junho. Uma ligação de 1144 quilómetros entre Bragança e Vila do Bispo, com passagem por Ourém e Viseu, que será cumprida por 2185 motociclistas, totalizando, imagine-se, um total de 2.499.640 quilómetros. E isto sem contar com os quilómetros desde casa ou com a equipa organizativa e vários convidados, entre artistas e atores, pilotos e políticos, desportistas e até 'chefs' de renome internacional.
Um entusiasmo enorme em redor da edição das Bodas de Prata do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal, que começou em 1999 pela mão de cinco motoclubes. Agora, um quarto de século depois, e além de vários elementos da organização presentes desde o primeiro momento, há apenas quatro participantes totalistas que contam, só no Portugal de Lés-a-Lés, com mais de 30 mil quilómetros pelas mais recônditas estradas nacionais, regionais e municipais de um País desconhecido de muitos.
Para aqueles que gostam de descobrir novos recantos, as mais imponentes paisagens, os mais significativos monumentos da História de Portugal ou simplesmente conduzir nas mais deliciosas estradinhas, esta é uma oportunidade realmente única de descoberta. Mas, para aqueles que não se inscreveram até às 00.00 horas do dia 15 de maio, bom, para esses a aventura terá que ficar para 2024!
Centenas de motociclistas na apresentação do 25.º Portugal de Lés-a-Lés
Aí estão as novidades da grande aventura!
Começou a mais desejada aventura do ano! A Apresentação Oficial do 25.º Portugal de Lés-a-Lés, perante centenas de entusiastas na Figueira da Foz, marcou o arranque da grande maratona mototurística organizada desde 1999 pela Federação de Motociclismo de Portugal. Para 2023, o objetivo passa por festejar as Bodas de Prata com uma festa ímpar, num percurso evocativo da ‘saudável loucura’ levada a cabo por 100 motociclistas ao ligar Bragança a Sagres em 24 horas de aventura ‘non-stop’. Agora serão 1110 quilómetros, para cumprir entre os dias 7 e 10 de junho, através de paisagens ímpares, passando por serras, vales e planícies, rios, lagos e barragens, numa oportunidade única para uma descoberta diferente de um Portugal pouco conhecido.
Numa sala transbordante de expetativa e animação, foi apresentado o percurso que, mantendo alguns pontos coincidentes com a 1.ª edição, mostrará muitas novidades ao longo de 4 dias. Um trajeto que, já se sabia, parte de Bragança, concelho que acolhe também o já tradicional Passeio de Abertura, daí seguindo para Viseu e Ourém, palco do final das etapas seguintes, antes da grande festa montada em Sagres.
Numa cerimónia que contou com a presença de Pedro Santana Lopes, presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz (que fez questão de deslocar-se de moto até ao Malibu Foz Hotel), coube ao presidente da autarquia de Bragança, Hernâni Dias, agradecer a visita para a partida da edição de 2023 do Portugal de Lés-a-Lés. Que, pela primeira vez, vai passar na aldeia que dá nome ao Parque Natural de Montesinho, recordando ainda o ponto de arranque de 1999, Rio de Onor. Isto num Passeio de Abertura com pouco mais de uma centena de quilómetros que terminará no Centro Histórico de Bragança, com visita ao castelo e à Sé, perto do local onde serão efetuadas as Verificações Técnicas e Documentais.
Aperitivo de luxo para um manjar de paisagens
Aperitivo para a primeira etapa que levará a caravana de Bragança a Viseu, ao longo de 310 quilómetros de estradas inéditas no Lés-a-Lés e outros locais já conhecidos. Como Podence onde os tradicionais caretos podem sempre ‘fazer das suas’.
Numa tirada panorâmica, tempo para desfrutar da Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo, rio que será atravessado a vau em Vale da Porca, antes de conhecer a nova barragem do Sabor, entre Alfandega da Fé e Torre de Moncorvo. Já a sul do rio Douro, visita ao Castelo Velho de Freixo de Numão, atravessando o troço final da estrada nacional 222, rumo a Moreira de Rei, outra novidade, já no concelho de Trancoso.
Celorico da Beira que tão bem acolheu a caravana na 1.ª edição do Lés-a-Lés volta a receber os participantes que, aqui, infletem para Oeste, bordejando o rio Mondego até Viseu. Em terras de Viriato, um final de dia carregado de história, passagem pela Sé Catedral e Museu Grão Vasco, numa descoberta do centro histórico que terminará no palanque junto aos Paços do Concelho.
Tal como a etapa da véspera, também a do 2.ª dia será exigente em termos de condução, com ‘apenas’ 280 quilómetros, mas muitas descobertas por locais nunca antes espreitados pelo pelotão do Lés-a-Lés. Do megalitismo de Carregal do Sal, através de vários dólmens ou orcas, às cascatas do rio Cavalos, em Sevilha, no concelho de Tábua. Depois da ida a França no Passeio de Abertura, esta visita à homónima da capital da Andaluzia, reforça o toque internacional do 25.º Portugal de Lés-a-Lés que, para entrar na fase montanhosa, passará por Arganil e Góis. Locais com garantia de forte ‘calor motociclístico’ e onde não faltará mesmo uma ‘apetitosa’ feira gastronómica.
Tempo para paisagens soberbas e enormes surpresas até Castanheira de Pera, com direito a Oásis na Praia das Rocas, onde será servido mais um aperitivo. Que a fome e a sede são sempre maus companheiros de viagem e há que arrepiar caminho até Dornes, uma das grandes novidades deste Lés-a-Lés e que marca a entrada no distrito de Santarém. Um dia que termina em Ourém, ainda a tempo para uma visita ao centro histórico, nomeadamente ao castelo em fase de recuperação e dinamização.
Homenagem mais que merecida
Para finalizar a maior maratona mototurística da Europa, uma tirada longa de 410 quilómetros entre Ourém e Vila do Bispo. Algo que não assusta os experientes Luís Santos, Paulo Mendes, Ângelo Moura e Luís Simão, os quatro totalistas das edições do Portugal de Lés-a-Lés e que foram homenageados na Figueira da Foz. Juntamente com o Moto Clube do Porto, único clube presente ao longo dos 25 anos, e a Lidergraf, empresa que mantém o nome ligado ao evento desde 1999. Bem como os moto clubes de Albufeira, Guimarães e Motards do Ocidente, os que mais se distinguiram pela animação proporcionada em 2022.
Uma etapa longa, mas bastante rolante, que começa no Ribatejo, desfrutando da tranquilidade das zonas campestres do Vale do Tejo, com paragens em Azinhaga do Ribatejo, terra natal de José Saramago, e na Golegã, outras estreias no Lés-a-Lés. Depois, e deixando Santarém para trás, sem muito tempo a perder em algumas belas estradas na zona de Coruche ou Montemor-o-Novo (boa desculpa para voltar outra vez…), segue a viagem por Viana do Alentejo, Ferreira do Alentejo e Aljustrel. Altura de nova inflexão no trajeto, rumo ao sudoeste alentejano, por estradas pouco conhecidas, muito panorâmicas e bem asfaltadas em direção a Monchique.
Com os aromas da maresia a despertar os sentidos dos mais de 2000 motociclistas, a passagem por Marmelete marca a descida rumo à costa, seguindo sempre por perto de imponentes falésias até ao cabo de São Vicente. Onde, tal como há 25 anos, à porta da fortaleza de Sagres, termina a grande aventura gizada pela Comissão de Mototurismo da FMP, através de estradas nacionais, regionais, municipais e até alguns caminhos de terra batida, mas sem pisar autoestradas ou vias rápidas.
Viagem de sonho numa travessia ímpar, através de um percurso inovador, divertido e desafiante, recuperando o espírito da edição inaugural em 1999, mas agora com muitos mais participantes e uma animação redobrada. Sobretudo nas partidas e chegadas onde a música, a dança e outros atrativos serão pontos de relevo na cuidada produção de um evento apoiado pela Agência Abreu, BMW, BP, Dunlop, NEXX e Via Verde. E cujas ‘vantagens’ se começaram a fazer sentir logo no dia da apresentação, com o sorteio de um jogo de pneus Dunlop, de um capacete NEXX, juntamente com uma inscrição para o Lés-a-Lés
Evento que, logo após a apresentação oficial, ganhou os primeiros inscritos, que partirão bem cedo para as etapas, às 6 horas, na frente de um pelotão de 2000 motos. Quanto aos restantes, poderão inscrever-se a partir do dia 27 de março, no site www.les-a-les.com.
Todos os caminhos vão dar a Bragança
Por estes dias, Bragança é a "Meca" de todos os motociclistas. De todo o País e de muitos pontos da Europa, mais de 2500 são esperados a partir de hoje para o início do 25º Portugal de Lés-a-Lés. A edição das Bodas de Prata do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal volta a bater recordes e promete ser uma festa grandiosa até Sagres, onde termina no dia 10 de junho.
Pelo caminho, 1085 quilómetros de descoberta e aventura, na maior maratona mototurística da Europa, ao longo de algumas das mais belas estradas nacionais, municipais e regionais. As autoestradas e outros sinais de modernidade rodoviária ficam, quando muito, para as viagens de ida e regresso a casa. Porque há muito para ver e descobrir, num trajeto descrito ao longo das 60 páginas do "road-book" entregue pela organização a todos os participantes.
Uma descoberta que começa na manhã do dia 7 de junho, com o arranque das Verificações Técnicas e Documentais aos 2185 participantes, entre as 9h e as 14h no Parque do Eixo Atlântico. Local onde estará montado o palanque de partida e chegada do Passeio de Abertura que, a partir das 10h verá os motociclistas arrancarem à descoberta do Parque Natural de Montesinho. Um aperitivo de 116 quilómetros, que cada um pode degustar ao ritmo que mais aprouver, desfrutando de paisagens ímpares no primeiro momento de homenagem à edição inaugural de 1999. A passagem por Rio de Onor, onde há 25 anos foi dada a partida para o Portugal de Lés-a-Lés será ponto alto, com fotografias para recordar... daqui a 25 anos!
Um passeio de enorme beleza natural antes do regresso ao Parque do Eixo Atlântico para o jantar de boas-vindas, no Pavilhão Gimnodesportivo do Clube Académico de Bragança. Ali mesmo ao lado do local onde, na quinta-feira, dia 8 de junho, será dada a madrugadora partida (às 6h) rumo a Viseu, final da primeira etapa. De Viseu a Ourém terá lugar a segunda tirada de um evento que termina em Sagres, após cerca de 28 horas e 50 minutos de condução previstas.
Nem a chuva diluiu entusiasmo no arranque para o Portugal de Lés-a-Lés
Óscar, a visita que ninguém convidou
Ninguém a conhecia mesmo se alguns já tinham ouvido falar dela. Óscar é o nome da depressão atmosférica que atingiu fortemente o arquipélago da Madeira e que, por estes dias, vai influenciar o clima na região nordestina do continente. Bragança está mesmo sob aviso amarelo, devido à previsão de aguaceiros fortes, possibilidade de queda de granizo e trovoadas, mas nem isso arrefeceu os ânimos dos milhares de participantes que, durante toda a manhã e início da tarde, se deslocaram para o arranque do 25º Portugal de Lés-a-Lés.
Chuva que obrigou a alterações de última hora e comprovou toda a experiência da equipa organizativa, obrigado a trabalhos dobrados para concretizar todas as mudanças necessárias. Inicialmente previstas para o Parque do Eixo Atlântico, local verdejante e bastante aprazível no centro da cidade brigantina, as Verificações Técnicas e Documentais foram transferidas para o pavilhão do NERBA - Associação Empresarial do Distrito de Bragança.
Momento em que são conferidos os documentos das máquinas e dos participantes, bem como o estado geral das motos, em prol de maior segurança na estrada. E que são bem diferentes do que aconteceu há 25 anos, com "um simples olhar de relance para as luzes, piscas e pneus, mesmo antes do arranque já sobre a ponte de Rio de Onor" como recordou José Valença, um dos 3 elementos que está na organização desde o primeiro momento. Agora, as inusitadas verificações indoor, garantiram maior conforto para os participantes antes do arranque para a festiva edição das Bodas de Prata, com Passeio de Abertura pelo Parque Natural de Montesinho, com total de 116 quilómetros e passagem por local emblemático do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal.
Partida molhada, edição abençoada
Foi, há 25 anos, o local de partida de uma ideia maluca de 5 motoclubes, ligados pela aventura e pela paixão mototurística. Elementos do MC Porto, Estarreja, Centro, Lisboa e Ocidente, sonharam, idealizaram e concretizaram a ligação entre dois extremos do mapa continental, ao longo de 24 horas "non-stop". Nascia o Portugal de Lés-a-Lés que, partindo da emblemática ponte de Rio de Onor, haveria de levar 120 motociclistas numa centena de motos até ao cabo de S. Vicente.
Palco singelo, mas de tamanho significado para uma maratona que, rapidamente, ganhou inusitada dimensão. Nacional e internacional. Para ter noção da escala de grandeza basta olhar para o total de quilómetros percorridos durante as 24 edições: 24 546! E isto apenas durante o percurso efetuado pelos 27 551 participantes inscritos, sem contar com as viagens de ida e regresso a casa.
Milhares de portugueses e portuguesas, como muitos espanhóis, franceses, italianos, ingleses, escoceses, alemães, belgas, estado-unidenses, canadianos, brasileiros, venezuelanos, peruanos, sul-africanos, angolanos, austríacos, neerlandeses, romenos, ucranianos, polacos, húngaros, neozelandeses marcaram presença, por uma vez que fosse, na grande maratona. Mas foram apenas 4 os que, estando à partida de Rio de Onor, às 12 horas do dia 11 de junho de 1999, repetiram a dose nos anos seguintes. Em todos! Desde as 4 seções de 6 horas cada que marcaram a edição estreante, com paragens em Celorico da Beira, Picoto da Melriça, Viana do Alentejo e Cabo de S. Vicente, em formato que foi mantido em mais três edições, com perguntas e surpresas para manter a animação e os participantes bem acordados.
Inspiração nos moto-ralis que então davam também os primeiros passos que foi sofrendo modificações ao longo dos anos. Adaptações em nome da segurança e do número crescente de entusiastas. Em 2003, Chaves acolhia novo formato, com duas etapas de 12 horas que levaria a caravana até Albufeira, para, em 2007, ser criado um prólogo antes das duas tiradas. Forma de dar a conhecer o concelho de partida e de entreter os participantes no dia das verificações.
Configuração que se manteve durante uma década para, em 2017, ganhar mais uma etapa. Três dias de aventura a que se juntava um Passeio de Abertura, em fórmula que consolidou a maior aventura mototurística da Europa. Em participantes como no total de quilómetros percorridos. Que, em 2023, na edição das Bodas de Prata da maior aventura mototurística de que há registo, fica marcada pelo regresso a Rio de Onor, aproveitando para respirar o ar puro do Parque Natural de Montesinho.
Chuva acentuou beleza natural do Parque de Montesinho
A sorte protege os audazes
Se é verdade que a sorte protege os audazes, não menos verdade parece ser a adaptação livre de outra máxima do exército: "chuva civil não molha motard". O lema do Corpo de Comandos, adaptação do verso do poeta latino Virgílio, no poema épico Eneida, encaixa na perfeição aos participantes do 25º Portugal de Lés-a-Lés que desafiaram os elementos e, sem medo à chuva, partiram à descoberta do Parque Natural de Montesinho.
A forte intempérie, prometida pela depressão atmosférica Óscar não demoveu os cerca de 2500 motociclistas a fazerem-se à estrada para o Passeio de Abertura da edição das Bodas de Prata do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal. E por bem empregue deram a ousadia já que a chuva, sob a forma de esparsos e leves aguaceiros, não incomodou quem na estrada passeava. Antes teve o condão de sublinhar os tons de verde e castanho de paisagens de encantar. Uma passeata a dois tempos, com início mais revirado até Montesinho, a aldeia que dá o nome ao parque e que foi visitada pela primeira vez pela longa e heterogénea caravana, e com paisagens imponentes e mais desafogadas no regresso a Bragança com passagem em Rio de Onor.
Foram 116 quilómetros, por entre soutos de enormes castanheiros e centenários carvalhais, visitando aldeias de gentes rijas e afáveis, que sabem receber como poucos. Foi o caso de Donai, onde poucos resistiram a fotografar as vetustas varandas de madeira, ou Vilarinho, onde era dada a descobrir a história dos "pica-burros". Aqueles aldeãos que iam até Bragança vender carvão, picando aqueles animais para que se despachassem... Bem precisavam de despachar alguns participantes, que não resistiram a provar o mel da Apimonte e descobrir mais sobre a região, fortemente dinamizada pelo apicultor local Luís Correia.
Santuário bem preservado
Comecemos pelos soutos, cuja sucessão dos portentosos castanheiros está já assegurada com a plantação de jovens árvores Castanea sativa. Frondosos, proporcionariam boas sombras e uma frescura que se agradeceria nesta altura do ano. Isso em condições normais, porque assim, com tempo farrusco e algumas gotas de chuva, ofereciam um cenário místico, para apreciar com tranquilidade. E, dessa forma serena, poder encontrar veados ou corços, javalis ou águias-reais, cegonhas-negras ou até um lobo-ibérico! Afinal, nos 75 mil hectares do Parque Natural de Montesinho habitam 80% das raças de mamíferos conhecidas em Portugal e mais de 160 espécies de aves. O que é constantemente recordado com pinturas em paragens de autocarros e outras paredes, evocando motivos da fauna e flora locais ou, simplesmente, temas da vida transmontana.
Ora entre bosques, ora por entre lameiros, aproveitando a agradável estrada nacional 308, sempre com a fronteira espanhola por perto, lá foi a caravana até Meixedo, seguindo depois, lado a lado com o rio Sabor, até França e o seu casario típico. Depois, a subida a Montesinho, aldeia de granito e lousa, materiais mais resistentes ao calor e ao gelo, para fazer frente aos nove meses de inverno e três de inferno que cada ano traz.
As ruelas estreitas e inclinadas anteciparam a conversa de café onde, entre anedotas e curiosidades, ia-se descobrindo a dureza da vida destas gentes. Curtidas pelo isolamento e pelo frio de uma serra cujo pico mais alto, na Lombada Grande chega aos 1486 metros de altitude. É a 4ª mais alta de Portugal, depois da Estrela, Gerês e Larouco, e se pensarmos que do lado espanhol (Sierra de la Parada) existe um pico que se eleva aos 1735 metros seria apenas ultrapassada pelo Alto da Torre.
Os caretos e uma língua que une povos
Descendo novamente ao vale do Sabor, rio que é companhia omnipresente nos dois primeiros dias da grande aventura mototurística, Aveleda e Varge, duas das 92 aldeias englobadas no Parque, mostraram mais animação, com os seus caretos, antes da entrada na segunda parte deste Passeio de Abertura. Com estradas panorâmicas no topo das serras, rumo a Rio de Onor. A famosa aldeia que pertence a dois países, com metade da população a viver em cada lado da fronteira e onde a língua é só uma. O rionorês é o dialeto local que todos, portugueses e espanhóis, entendem e que alguns dos aventureiros do Lés-a-Lés quiseram aprender. Nem sempre com os melhores resultados.
Após a marcante passagem na ponte que corta as águas do rio de Onor, onde teve início a grande aventura, em junho de 1999, iniciava-se o regresso a Bragança. Com passagem por Guadramil, onde o abandono a que tem sido votada esta aldeia reforça o misticismo, e Gimonde, cada vez mais conhecida pela famosa posta de vitela mirandesa. Que, atendendo à hora a que alguns participantes cumpriram o Passeio de Abertura, serviu na perfeição para o jantar. E se não fosse a posta, havia sempre a oportunidade de experimentar a rica gastronomia nordestina, do cordeiro bragançano ao cabrito de Montesinho, das alheiras de caça aos enchidos de porco bísaro. Ou das trutas, em escabeche ou assadas, saídas das águas frias dos límpidos ribeiros locais, ao fumeiro, desde as tradicionais alheiras ao menos conhecido butelo, acompanhado por casulos (cascas de feijão secas).
Houve quem logo ali jantasse, com apetite que esquecer o repasto de boas-vindas a todos os participantes, e houve quem seguisse o "road-book" até à bem preservada Cidadela de Bragança. No casario envolvente a um dos mais bem preservados castelos portugueses, quase mil anos de história foram mostrados em detalhes de inesquecível riqueza. Como a Domus Municipalis, Monumento Nacional desde 1910 e um exemplar único da arquitetura civil de estilo Românico na Península Ibérica. Edifício que teve a dupla função de cisterna, de perfil abobadado e subterrânea que permitia o abastecimento de água da cidade, e sede das reuniões municipais de "homens-bons".
Construída por volta do Séc. XII ou XIII, com planta em forma e pentágono irregular, é em alvenaria de pedra, razão da excelente conservação até à atualidade. Isto porque este tipo de edifícios era habitualmente feito de madeira, uma vez que nem o poder municipal nem o Estado tinham meios para financiar obras civis deste género.
Curiosidade rodeou também o pelourinho apoiado numa tosca estátua zoomórfica proto-histórica: um "berrão". Semelhante a outras figuras conhecidas na região transmontana, como em Murça ou Torre de Dona Chama, há quem a veja como a "porca da vila" da Idade do Ferro, sendo neste caso, muito mais antiga do que o próprio pelourinho. Terá sido esculpida, em granito, cerca de 200 ou 300 anos antes do nascimento de Cristo, e a designação deriva do termo popular usado para os porcos não castrados. No entanto há autores que defendam que este "berrão" possa representar um urso...
A pensar na espécie animal que terá dado origem ao "berrão", foram os participantes até à sede do Moto Clube Cruzeiro, brindar a um Passeio de Abertura de deliciosas paisagens, antecâmara de uma etapa que, a partir das 6 horas da madrugada, levará os cerca de 2500 motociclistas, organização incluída, até Viseu. No programa, 304 km com passagem por Macedo de cavaleiros, Alfandega da Fé, Torre de Moncorvo, Pocinho, Meda ou Celorico da Beira, antes da chegada a Viseu, a partir das 15.30h.
Nem a intempérie entre Bragança e Viseu arrefeceu o entusiasmo
Sorrisos entre os pingos da chuva
A chuva da véspera, durante o Passeio de Abertura, e as ameaçadoras previsões de inclemência meteorológica tiveram o condão de alertar os 2250 participantes no 25º Portugal de Lés-a-Lés para uma etapa que poderia ter dose extra de aventura. De Bragança a Viseu, foram 304 quilómetros de estradas panorâmicas, muitas delas inéditas nos mapas da maratona mototurística organizada pela Federação de Motociclismo de Portugal. Que todos desfrutaram mesmo se, em algum momento do dia, ninguém conseguiu escapar às fortes bátegas de água. Chuva por vezes muito forte e céu sempre em tons de cinza carregado que não ensombraram os semblantes sorridentes com o desafio acrescido.
Em dia de trautear a canção tradicional portuguesa, associada a uma dança de roda, "Indo eu, indo eu, a caminho de Viseu", a partida foi madrugadora, com os primeiros a lançarem-se à estrada, noite cerrada, ainda batiam as 6 horas no relógio da Catedral de Bragança, a primeira a ser inaugurada em Portugal no século XXI. As serpenteantes estradas da serra de Nogueira, completamente desertas numa manhã de feriado, acordaram com a passagem de mais de 2000 motos. A chuva caída durante a noite levou muita terra e detritos para a estrada, exigindo cautelas redobradas, mas sem roubar a oportunidade para apreciar os densos bosques de carvalho-negral (Quercus pyrenaica) naquela que é maior mancha europeia de uma espécie bem-adaptada à altitude.
Os Conquistadores, Marcelo e Ronaldo
Soutos de monumentais castanheiros ajudavam a tranquilidade que estava prestes a ser "perturbada" em Celas, onde os Conquistadores de Guimarães protagonizavam a primeira traquinice do dia, oferecida juntamente com um café bem quente. Foi o "clero" em peso até à estrada, com direito a bênção do bispo com água mundana como a chuva que caía, e aos furos na tarjeta que atesta o bom cumprimento do percurso, a cargo das freiras. Incluindo uma irmã prestes a ter "uma boa horinha"...
Ainda mais animada seguiu a caravana, sempre com sorrisos que nem a chuva conseguia afogar, continuando a desfrutar paisagens soberbas num dia que foi de "verdadeiro Lés-a-Lés". Podence, terra de caretos, ficava no caminho e houve quem não desperdiçasse oportunidade de tirar uma "selfie" com o presidente Marcelo ou com o craque Ronaldo. Paisagens que eram verdadeiro conforto para a alma, mas que pediam algo mais para o estômago. Aconchego que estava à espera no Oásis em Macedo de Cavaleiros, no preciso local onde começou o 7º Lés-a-Lés em 2005, antes da passagem bem próxima do "umbigo do Mundo". O quê?, perguntarão. E o Lés-a-Lés, que se quer um evento de descoberta explica.
Morais, aldeia do concelho mogadourense, revela de forma única a dinâmica geológica dos continentes, sendo o local exato onde, há mais de 400 milhões de anos, muito antes de surgirem os dinossauros, se deu a colisão de massas que originou uma cadeia de montanhas, designada pelos cientistas por sutura do Orógeno Varisco.
Existem apenas cinco lugares com características semelhantes a este, mas, em Morais, as sequências estão contidas num espaço menor e os testemunhos são mais percetíveis. Testemunho da colisão dos dois continentes então existentes, Laurússia (América do Norte, Europa e Ásia do Norte) e Gondwana (África, Madagáscar, Índia, Austrália e Antárctida), e do único oceano, o Rheic, que terá estado na origem do Oceano Atlântico. O choque fechou o oceano criando um supercontinente, dando início à reorganização que, milhões de anos mais tarde, deu origem à cartografia do Mundo, dividido em cinco continentes. Morais oferece, pois, uma viagem aos primórdios da Terra enquanto planeta, concentrando em poucos quilómetros aquilo que, normalmente, só se vê em milhares de quilómetros de extensão.
Cultura geral e um padre... bêbado
Conhecimento que fará com que muitos dos participantes voltem, cumprindo assim uma das motivações da equipa organizativa da Federação de Motociclismo de Portugal. Mostrar um País que muitos desconhecem, deixando o desejo de regressar para mais descobertas.
Com o tempo a variar entre algumas abertas e monumentais cargas d'água, tempo para alguns contratempos, como os travões de tambor de algumas cinquentinhas que iam perdendo eficácia. Ou a vela de ignição isolada na Jawa 250 de Hélder Alves, obrigando "a uma mecânica básica, para, em menos de cinco minutos, voltar à estrada. Afinal, trata-se de uma máquina de 1952, que cumpre o Lés-a-Lés pela 9ª vez e que nunca deixou ficar mal o proprietário". Incluindo as viagens entre Santa Maria da Feira e os locais de partida e chegada.
Mas a chuva, com presença forte a espaços, como que a brincar com os participantes, não roubou espetacularidade à passagem pelo vale do Sabor e do seu afluente, o Azibo, cuja albufeira reforça os argumentos desta região enquanto excelente destino turístico. Incluindo o belíssimo parque de merendas de Vale da Porca, onde os mais corajosos, lançaram-se na travessia a vau do ainda pequeno caudal do Azibo.
E seria também o local da primeira passagem pela terra, 600 curtos metros que revelam a essência da maior maratona mototurística da Europa, não fosse a chuva ter desaconselhado este desvio, mantendo a caravana em estrada firme.
Estradinhas de deliciosas curvinhas, com passagem por Chacim e pelo Real Filatório (fábrica do fio de seda mandada erigir pela Rainha D. Maria, em 1788, com amoreiras para alimentar os bichos-da-seda), até Alfandega da Fé. Onde foi possível provar as cerejas cultivadas nas faldas da serra de Bornes. Fruto a que se juntariam as famosas amêndoas de Torre de Moncorvo, não sem que antes passasse o pelotão em Eucísia.
Uma pequena aldeia que encerra uma lenda curiosa sobre um sacerdote do arcebispado de Braga que, incumbido de verificar se tudo corria bem na paróquia, ali jantou e dormiu. Como era pouco resistente aos pecados mundanos da comida e da bebida, terá abusado da boa pinga e, a meio da noite, para satisfazer as necessidades fisiológicas, dirigiu-se às cavalariças onde, embalado pelo sono ou pela bebida, deixou-se adormecer. Manhã bem cedo, quando a população o viu em tais preparos, justificou-se que havia ali sido colocado pelas bruxas. E, assim, Eucísia ficou conhecida como a terra das feiticeiras...
Bifanas acompanhadas de Barca Velha
Bem mais reais são as alterações ao rio Sabor entre Alfândega da Fé e Moncorvo, causadas pela construção da barragem que todos puderam apreciar antes de provar deliciosas amêndoas caramelizadas. Pitéu oferecido por "nobres" do Moto Clube do Porto trajados a rigor, muito perto da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, que é, desde janeiro do ano passado, por decreto assinado pelo Papa Francisco, Basílica Menor de Torre de Moncorvo. Começou a ser construída no século XVI, no tempo do Infante de Sagres, e ergue-se no local onde existiu um templo paroquial primitivo da Idade Média.
Deixando a História e voltando à estrada, degustando as amêndoas na descida até ao Pocinho, tempo para desfrutar da estrada nacional 220 e atravessar o Douro na barragem inaugurada em 1982. No fim da qual estavam os minhotos do Moto Clube de Prado, com deliciosas bifanas para aquecer os estômagos mais protestantes, enquanto se apreciavam as quintas da D. Antónia, onde é produzido o Barca Velha.
Entrando no distrito da Guarda por Vila Nova de Foz Côa, foi a caravana apreciando a mudança de paisagem onde, apesar da chuva, se vê que é notoriamente mais seca! Mas há sempre belezas para apreciar na grande aventura mototurística, como foi o caso Freixo de Numão, antiga sede de concelho, ou a muito panorâmica estrada até Mêda, em região onde abundam fortificações então mais importantes que a agora sede de concelho. Era o caso de Longroiva, Ranhados ou Casteição, bem como da pequena, mas muito interessante, Marialva, com castelo e pelourinho, cruzeiro, igrejas e capelas, solares, cisternas e postigos.
Claro que não podíamos esquecer a importância arqueológica em Moreira de Rei, aldeia onde, em 2018, foi descoberta a maior necrópole de sepulturas antropomórficas da Europa, com 600 sepulturas de adultos e crianças em redor da igreja de Santa Marinha (Séc. XII). As obras desaconselharam a visita, mas houve curiosos que não resistiram, como também quiseram sentir o ambiente do palco da Batalha de Trancoso que, a 29 de maio de 1385, marcou a reviravolta na luta contra o invasor castelhano.
A corte de Barcelos desceu a Trancoso
Na monumental vila de Trancoso, palco para a aparição da corte dos Moto Galos de Barcelos, que não quiseram perder oportunidade de "armar cavaleiros" enquanto picavam as tarjetas, enquanto logo a seguir foi tempo de parar em Celorico da Beira. Na terra que viu nascer Sacadura Cabral, que em fez a primeira travessia do Atlântico Sul com Gago Coutinho, uma surpresa de boa disposição e petiscos, com o queijo da serra de que esta vila se intitula "capital" juntamente com doces e tostas com azeite e boa companhia musical.
No local onde, há 25 anos, o MC Porto passou o testemunho ao MC Estarreja e Mototurismo do Centro, que haveriam de guiar a caravana no 2º setor, até ao pico da Melriça, tempo para um inesperado encontro. Afinal, entre os milhares de anónimos do pelotão, surgiu um campeão nacional de todo-o-terreno. Que, por sinal, faz a sua estreia no Lés-a-Lés e logo da forma mais ousada.
Rodolfo Sampaio, com vários títulos de Enduro e TT, aceitou o desafio do grupo de amigos de Santo Estevão que juntaram 25 cinquentinhas, e decidiu participar aos comandos de uma raríssima Honda tipo "chopper". Máquina com uma curiosa história, tratando-se de um modelo criado em exclusivo para os Estados Unidos, que foi comprada, já em Hong Kong, por um amigo seu que, por sua vez, vendeu-lha há quase 20 anos. E depois de uma paragem que durou os últimos 10 anos, voltou à estrada diretamente para o Portugal de Lés-a-Lés.
Viseu à vista
Seguindo a N16, com a companhia do rio Mondego, atravessado para entrar no distrito de Viseu, momento importante na história da indústria automóvel em Portugal, com a passagem por Mangualde. Sede do primeiro centro de produção automóvel no nosso País, inaugurado em 1962, e lembrada por um Citroën DS colocado numa rotunda.
Desde 1964 fabricou mais de 1,5 milhões de viaturas, a começar pelo mítico 2 Cavalos e, em 2025, será a primeira fábrica em Portugal a produzir furgões totalmente elétricos (Citröen e-Berlingo, Fiat e-Dobló, Opel Combo-e e Peugeot e-Partner) nas versões de comerciais ligeiros e de passageiros.
Bem diferentes as joias e as histórias encontradas após cruzar o rio Dão, rumo ao centro da cidade de Viseu para descobrir o centro histórico, a Sé Catedral (Séc. XII), começada a erigir no reinado de D. Afonso Henriques, e o Museu Grão Vasco. Isto mesmo antes da subida ao palanque, à porta dos Paços do Concelho, na melhor sala de visitas viseense, após nove horas e meia de condução. E antes de um dia que levará a caravana até Ourém, após 240km muito exigentes em termos de condução.
Neve juntou-se à muita chuva na 2ª etapa do Portugal de Lés-a-Lés
Dilúvio de emoções fortes
Com as lembranças do calor da edição de 2022 ainda a causar suores a muitos participantes, o 25º Portugal de Lés-a-Lés está a ser marcado por uma chuva intensa. De água e de emoções! Quase paradoxalmente, as condições meteorológicas adversas parecem proporcionar uma alegria maior na caravana dos 2500 motociclistas que, por estes dias, ligam Bragança a Sagres. Com "apenas" 240 quilómetros de extensão, a segunda tirada, entre Viseu e Ourém, voltou a mostrar essa boa disposição, associada ao desejo de superação e muito companheirismo, num dia em que até a neve fez a sua aparição. Uma jornada muito trabalhosa e exigente, apesar da curta distância a cumprir, com 9 horas para ligar as duas cidades.
De Viseu, começou a sair caravana ainda noite escura e, desde logo, com fortes aguaceiros que tornaram alguns pequenos troços de terra mais complicados. Mas ninguém deu por mal empregue o primeiro esforço do dia, para visitar duas das antas que existem no Circuito Pré-Histórico Fiais/Azenha, parte do importante roteiro megalítico de Carregal do Sal. E logo na primeira, a bem conservada Lapa da Orca apesar de ter mais de 5500 anos, uma enorme surpresa com a descoberta de que os nobres que na véspera "picavam o ponto" em Torre de Moncorvo tinham regredido à pré-história transformando-se em aguerridos, mas simpáticos Cro-Magnon. É a história dos Moto Clubes, neste caso o do Porto, que são, desde o primeiro momento, a alma e o corpo por detrás da grande aventura organizada pela Federação de Motociclismo de Portugal.
Mais um troço de terra, facílimo depois de ter sido alisado pela autarquia tabuense, para descobrir as surpreendentes cascatas de Sevilha, formadas pelo pequeno rio Cavalos, afluente do Mondego, recuperando das primeiras emoções em Tábua. Onde o MK Makinas foi... uma verdadeira máquina, distribuindo fruta, água, sandes e sumos junto à curiosa Capela do Sr. dos Milagres, de planta octogonal.
O herói do holocausto que marca presença no Lés-a-Lés
Mas, claro que entre Viseu e Tábua houve lugar a outras descobertas, bastando atravessar o rio Dão para encontrar estradas com envolvente de maior verdura e lugares de um passado marcante, como a nobre Santar, com os seus solares e as curiosas aldeias de Póvoa Dão e Beijós. Algo que só as etapas mais curtas permitem, descobrindo detalhes nunca antes espreitados no Lés-a-Lés. Ou Cabanas de Viriato, onde pontifica a casa do herói nacional Aristides de Sousa Mendes. Tendo salvo mais de 30 mil judeus condenados à morte pelo regime nazi, o Cônsul de Bordéus morreu na miséria depois de renegado por Salazar, numa história cinematograficamente interpretada por Vítor Norte. Que continua a marcar presença assídua na maior maratona motociclística da Europa, sempre acompanhado pela sua fiel Gina, a Yamaha Virago que nunca quer largar...
Também o sempre simpático ator reparou na placa de Venda da Esperança, onde muitos foram os pensaram numa rápida paragem para comprar um pouco de esperança para o bom tempo que tardava. Mas como as lojas deviam estar fechadas, talvez fazendo "ponte" entre o feriado do Corpo de Deus e o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, seguiram pelo belíssimo tapete da estrada nacional 17 rumo a Lourosa. Não a mais conhecida, de Santa Maria da Feira, mas a de Oliveira do Hospital. Que, apesar de ter 14 vezes menos habitantes, tem quase o triplo da área! E tem também uma Feira Moçárabe, a 12 e 13 de agosto, que merecer honras especiais de divulgação. É que, ao lado de jovens odaliscas, que iam brindando os participantes com água, pão com chouriço e fruta, os presidentes da autarquia oliveirense, José Francisco Rolo, e da Junta de Freguesia de Lourosa, José Carlos Marques, trajavam a rigor de sarracenos. Uma aldeia em festa em redor da Igreja Moçárabe, com 1111 anos, cujos arcos interiores apresentam inconfundível arquitetura árabe, a que se juntam outros motivos de interesse, como os túmulos exteriores ou a torre do relógio.
Inusitada queda de neve na pista do combate a incêndios
Sempre com a chuva no horizonte, desmotivando os motociclistas a despirem os impermeáveis, passagem pela Vila de Coja e Arganil, antes da chegada a Góis. Onde, depois de tantas e tão boas curvas, há sempre a garantia de uma receção calorosa a todos os motociclistas. Nas margens do rio Ceira, no mesmo local onde foi servido o jantar numa das primeiras edições, surgiu um reforço alimentar que viria a revelar-se extremamente útil.
É que, os corajosos que optaram por seguir o itinerário principal traçado pelos elementos da Comissão de Mototurismo da FMP, gastaram todas as calorias para controlar a moto na degradada e lamacenta subida até ao aeródromo de Coentral, onde o Moto Clube de Góis registava a chegada dos mais "loucos". Subida que fez muitos rogarem pragas à organização e que parecia mais própria da versão Off-Road do Portugal de Lés-a-Lés, sobretudo na parte final, onde o muito nevoeiro acrescentava dificuldade ao piso muito estragado. Esforço recompensado pela possibilidade de assistir a um nevão na muito inclinada pista de combates a incêndios no segundo topo da serra da Lousã. Bom, na verdade era neve artificial, mas com o nevoeiro e a descida da temperatura que se fez sentir a 1184 metros de altitude, parecia mesmo verdadeira...
Bem mais simples e com enorme beleza paisagística, a descida para Castanheira de Pera compensou em dobro todo o esforço feito a subir, com estradinhas deliciosas, por Coentral Grande, Sarnada e Pera, rodeadas de árvores autóctones e com muros "decorados" por musgos centenários. A que a chuva e o nevoeiro conferiam um aspeto místico, fazendo recordar tempos de antanho, num momento único que foi perdido pelos que optaram pela alternativa. Que ia diretamente à Praia das Rocas, local que fez pensar do bem que se estaria aqui se fosse um dia de sol e temperaturas mais condizentes com a época do ano.
Perderam ainda a possibilidade de ver a Pena, belíssima aldeia de xisto, ou os poços de neve, junto à igreja de Santo António da Neve, pois claro. No inverno eram estes poços cheios com neve para depois, no verão, serem cortados os cubos de gelo que eram transportados, embrulhados em palha e às costas de jumentos, até ao Zêzere e daí para a capital.
Quando o tamanho não conta para a diversão...
Uma subida que não assustou Rui Rodrigues que trocou as mais adaptadas Africa Twin (uma XRV650 da primeira série de 1988, e uma CRF1000 edição especial do 30º aniversário, de 2018) por uma pequeníssima Honda Monkey de 125cc. Fã incondicional da marca japonesa, decidiu comemorar de forma diferente a edição das Bodas de Prata do Portugal de Lés-a-Lés alinhando com a 25ª Honda que comprou! "Se era mais fácil com a Africa Twin? Talvez, mas, depois de 5 presenças com a AT, perdia toda a piada" contou entusiasmado o motociclista que viajou desde S. Pedro de Moel a Bragança e que, depois do Lés-a-Lés, voltará a casa pelos próprios meios. "Claro! É que nem outra hipótese colocava. E a diversão das passagens em terra, nomeadamente da subida ao aeródromo, são impagáveis. A potência que por vezes pode faltar é colmatada pelo baixo peso e a facilidade em apoiar os pés caso fosse necessário". O que, garante, "não aconteceu na subida, nem na descida ".
Menos sorte tiveram outros participantes que deram trabalho à equipa da Moto Medic, com as 8 motos no terreno a prestarem apoio imediato a partir de um centro de comando móvel e com modernos meios de rastreamento. Presente desde a 7ª edição do Lés-a-Lés, a equipa de Luís Isqueiro teve "mais dificuldades devido à chuva e ao mau tempo, mas apenas por causa das comunicações. Chuva que não aumentou assim tanto os incidentes e o número de assistências pedidas, antes mudou o perfil das lesões, com vários motociclistas a sofrerem quedas a pequenas velocidades ou mesmo parados, com muitos traumatismos e contusões. Aliás, entre os 17 casos do primeiro dia o mais grave foi uma entorse num tornozelo".
E note-se que o pelotão conta ainda com a presença dos osteopadas e massoterapeutas Inês, Miguel, Edgar, Rui, Mauro e Adriana, sempre prontos a recuperar os motociclistas para a etapa seguinte. Todos profissionais formados no Instituto de Medicina Tradicional e que desde 2018 marcam presença.
O campeão trouxe a família
Quem também se divertiu à grande nos pisos de terra foi o pluricampeão nacional de Enduro e Todo-o-Terreno, Paulo Marques, que, pela primeira vez trouxe toda a família. À esposa Elisa, que já alinhava há uma década, juntaram-se os filhos Gil, Francisca (à pendura do namorado Pedro) e a mais jovem Joana. Que sempre juntos e muito divertidos são a prova mais evidente de que este é, sempre e cada vez mais, um evento familiar. E é notório um número crescente de participantes com os filhos à pendura ou mesmo noutras motos.
Todos unidos no prazer do mototurismo como da proteção da natureza, sublinhada na passagem por Adega, Pedrógão Grande, onde em 2017, após a enorme vaga de incêndios foram plantados um carvalho e um sobreiro. Ação incluída no âmbito da campanha de reflorestação da FMP, em que foram distribuídos milhares de árvores autóctones pelos concelhos mais atingidos pelo fogo. Além da natureza há também as descobertas históricas, como nas passagens em Cernache do Bonjardim, terra de Nuno Álvares Pereira, ou em Dornes, uma das grandes estreias deste LaL. Terra de mística templária, ostenta uma curiosa torre pentagonal, numa aldeia que, devido à subida das águas do Zêzere, ficou transformada numa península.
Tudo num dia que, apesar de fustigado por grandes chuvadas, acabou com bom tempo em Ourém, permitindo uma visita opcional ao grande e muito fotogénico castelo. E muitos foram os que, chegando cedo, subiram ao interior das muralhas, em fase de recuperação e dinamização com centro de interpretação, enquanto outros, talvez mais fatigados ou menos afoitos nestas descobertas, estacionaram numa das muitas esplanadas antes do animado jantar Centro Municipal de Exposições.
E bem cedo foram descansar porque a última etapa do 25º Portugal de Lés-a-Lés prevê-se muito exigente. Uma tirada maratona entre Ourém e Sagres, com 425 quilómetros para cumprir em 10 horas e 20 minutos! Vá lá que a meteorologia parece mostrar alguma clemência para o último dia da aventura...
Rei-Sol entregou prémios aos mais resistentes motociclistas do 25º Portugal de Lés-a-Lés
Maratona de aventura até fim do mundo
"Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe" diz a sabedoria popular. Um adágio perfeito para o cenário climatérico que envolveu a especialíssima edição das Bodas de Prata do Portugal de Lés-a-Lés. No Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o Rei-Sol prestou homenagem aos aventureiros descobridores das maravilhas deste "jardim à beira-mar plantado", no final de uma maratona da ponta nordeste do mapa continental até ao local "onde a Terra acaba e o mar começa".
Com a desagradável chuva intensa dos três primeiros como um pesadelo que parecia ficar para trás, a longa (muito longa, mesmo!) terceira e última etapa revelou um epílogo digno de filme galardoado no retrato da ligação entre Bragança e Sagres, com paragens em Viseu e Ourém. Foram 425 quilómetros, é certo, mas que se anteviam "mais curtos" que os 240km da véspera, percorridos debaixo de condições climatéricas particularmente exigentes.
Mesmo assim, foram mais de 10 horas em cima das motos, desde a saída, madrugadora, através do pouco explorado Ribatejo, onde foi "investido" mais tempo para descobrir segredos, seguindo depois a planície alentejana em ritmo certinho para ganhar tempo. Que seria bem aproveitado na parte final, num rendilhando mototurístico pela serra de Monchique, as falésias e praias quase desertas do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, para terminar em grande festa com o Atlântico como pano de fundo.
Sol brindou os resistentes e "Saramago" não deu autógrafos
Num dia em que as temperaturas andaram entre os 20 e os quase 30 graus, com algumas nuvens no céu a proteger os aventureiros da inclemência do sol, havia que gerir esforços. Por isso, as verdejantes estradas encontradas para sair de Ourém fugindo a descaracterizados centros urbanos foram perfeitas.
Condições de excelência para atravessar a lezíria ribatejana, sem ver nenhum dos famosos fenómenos no Entroncamento para os encontrar, isso sim, um pouco mais adiante, na centenária Quinta da Cardiga. Imponente imóvel de história registada desde o tempo de D. Afonso Henriques, começando pelo castelo construído em 1169, e que foi local excelente para o Oásis da BMW, que, desde há vários anos, é um dos principais suportes do Portugal de Lés-a-Lés. Pequena pausa para esticar as pernas e tomar um café antes da entrada triunfal na Golegã, pela imponente Porta de Fernão Lourenço, assinalando nova estreia na maior aventura mototurística da Europa. Na vila onde o cavalo é rei, tempo para apreciar a Igreja Matriz, com magnifico portal manuelino e contemporânea do Infante de Sagres, ou a irreverente casa-estúdio do fotógrafo oitocentista Carlos Relvas.
Com as menções ao eventual pó de alguns pequenos troços de terra batida completamente desajustadas depois das chuvas dos últimos dias, a caravana teria o seu momento cultural um pouco mais adiante. Em Azinhaga, era um "renascido" José Saramago – e com um ar muito saudável, diga-se de passagem! – que esperava os motociclistas, de alicate em punho. Porque era mais importante picar a tarjeta do que levar um autógrafo! Na terra natal do Prémio Nobel da Literatura, o enquadramento foi proporcionado pelos tradicionais campinos da região ribatejana sendo que, só por acaso, vieram de Guimarães, fazer jus ao nome de Conquistadores para arrebatar o coração dos maratonistas com quadros animados e extremamente bem conseguidos.
Mas havia que virar mais uma das 60 páginas do "road-book", rumando a Santarém via Pombalinho, terra de cheias sempre que o Tejo extravasa as margens, mas que nunca tinha vivido tamanha enchente... de motos. Já na "capital" do Ribatejo e depois de uma entrada muito interessante, longe das chegadas tradicionais, toda a monumentalidade foi apreciada em andamento. Já se sabia que o dia era longo pelo que a visita à Igreja de Santa Maria da Graça, um dos mais belos exemplos da arquitetura religiosa do gótico flamejante ou a descoberta do quartel de onde saiu a Revolução dos Cravos ficaria para outra ocasião.
Mas se a alma pode esperar pelas descobertas dos tesouros da nossa História, já o corpo, mundano, pede alimento com mais frequência. Por isso foi fácil aceitar o convite para a pré-estreia do enorme espaço da Bluemotor, representante local da Yamaha. E que sublinha o entusiasmo crescente das marcas, sendo praticamente unânime o entendimento da importância de marcar presença no evento mototuristico que mais motociclistas movimenta em Portugal. E que, além da BMW, o maior suporte desde há vários anos, também a Yamaha, Honda, Suzuki ou Indian se tenham juntado a esta edição.
O "comboio" que fez parar a ponte
Saindo da área urbana escalabitana através de inusitados caminhos rurais até ao Cartaxo, mais uma estreia com a travessia do Tejo através da surpreendente Ponte Rainha D. Amélia. Construída em 1904, a pensar nas necessidades ferroviárias foi adaptada, no início do milénio, à circulação rodoviária após a construção da nova ponte para o comboio. Com 840m de travessia sobre grade, estreita e com semáforos porque apenas passa um automóvel de cada vez, criou natural constrangimento com a passagem das mais de 2000 motos, dando tempo a condutores e passageiros para se prepararem para a mudança de cenário.
Pela frente o extenso Alentejo, de retas intermináveis uma seca para todos, mas, sobretudo para os que conduzem motos mais pequenas, de menor cilindrada. Foi o caso do grupo das "cinquentinhas" de Santo Estevão, com direito a enorme festa familiar à passagem por Coruche, ou de Madalena Casanova. Que numa Yamaha DTR125, partiu sozinha à aventura, aos 18 anos, e quase "empurrada" pela mãe! Tendo descoberto as vantagens das duas rodas "aos 14 anos, para poder criar os próprios horários e ter independência nas deslocações", foi cimentando uma relação forte com as motos. Mesmo se não tem exemplos na família! O "bichinho" foi entrando e "este ano queria fazer uma viagem grande, sozinha, pela costa sul portuguesa e espanhola". Mas a mãe, quiçá preocupada por imaginar a filha em modo solitário na estrada, falou no Lés-a-Lés que havia descoberto, há uns anos, à pendura.
"Acho que, pelo olhar logo depois de ter falado, se arrependeu de imediato". Mas há três coisas que não voltam atrás. A pedra atirada, a palavra dita e a oportunidade perdida. Por isso, sem muitas preocupações com o refrão da música "Para Ti Maria" dos Xutos & Pontapés, saiu de Lisboa rumo a Bragança, sem medo das "nove horas de viagem".
Em Trás-os-Montes a condutora mais jovem deste 25º Portugal de Lés-a-Lés começou a descobrir "um ambiente único, com pessoas excelentes, algo que já imaginava pelo que ia lendo e ouvindo". E no final de "uma excelente e adorável primeira experiência em termos de grandes viagens", garantiu que vai voltar, aproveitando até "a enorme experiência ganha na condução à chuva, algo que fez sentir pouca confiança no início, sobretudo com uns pneus de piso misto, mais próprios para andar na terra". Além disso, a mãe da Madalena que se prepare, é que o convite para a presença no 8º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road no início de Outubro já foi feito e, imagine-se, aceite pela própria!
Os insetos que cortaram a estrada
Sem chuva e sem pó, embalada pela modorra alentejana, foi, porém, a carava surpreendida já no concelho de Évora por uma inusitada manifestação. Os insetos decidiram pronunciar-se contra o extermínio causado pelas motos e motociclistas, cortando a estrada em Valverde. Reclamavam contra os atentados de que são alvo devido à velocidade, esborrachando-se nas viseiras dos capacetes e carenagens das motos. Uma ideia genial dos sempre criativos elementos dos Motards do Ocidente, que teve o condão de todos animar, motivo de todas as conversas no Oásis da Indian, à sombra e com vista sobre o lindo castelo de Alvito transformado em Pousada, e que se prolongou ainda na barragem da ribeira de Odivelas, no concelho de Ferreira do Alentejo. Na represa do afluente do Sado, de enorme importância para a irrigação, permitindo a cultura do arroz, tomate e melão, a Honda tratou da sobremesa, com deliciosas bolas de Berlim e fruta para acompanhar o café, depois das sandes de carne servidas em Alvito. Um luxo!
Com as temperaturas normalmente mais quentes nas intermináveis retas alentejanas, os espíritos iam sendo despertos pelas notas do "road-book", como as que indicavam o caminho para Anta do Livramento ou de S. Brissos. Monumento megalítico, com mais de 5000 anos de existência e transformado em capela, tal como a Anta de Pavia, no concelho de Mora, que a caravana do Lés-a-Lés já visitou por mais de uma vez. Desvio que podia ser aconselhado às dezenas de Mazda MX5 ultrapassados pelo pelotão de duas rodas, já que fica perto da N2 que desciam em caravana de Chaves a Faro.
A beleza do sudoeste alentejano e a homenagem ao campeão
Depois de Viana do Alentejo, Ferreira do Alentejo e Aljustrel, fletindo para sudoeste, por estradas desconhecidas, panorâmicas e bem asfaltadas, começava a 3ª fase da etapa, entre medronheiros, sobreiros e azinheiras. Mas antes de virar para Monchique e daí, por Marmelete, descer rumo à costa, o Oásis BP montado em amplo espaço nas margens do rio Mira, em Santa-Clara-a-Velha, tempo para duas ou três notas. Primeiro: a presença de elementos do MC Porto, sempre prontos a "picar", mesmo tão longe de casa; Segundo: a coincidência com as festas da vila que impediu a travessia do pequeno pontão que já serviu em outras ocasiões, obrigando a uma volta maior; Terceiro: a saída, numa íngreme e curta subida em terra batida assustou os menos experientes, com motivos de receio que se revelaram infundados.
Continuando por estradas de serra recheadas de deliciosas curvinhas até à Fóia, onde a temperatura fez jus aos 902 metros do ponto mais alto do Algarve, tempo para uma fotografia junto à estátua que celebra o triunfo de Remco Evenepoeel, o atual campeão do Mundo de ciclismo, na Volta ao Algarve de 2020 e 2022. Tempo também para apreciar a ampla vista sobre o horizonte, abarcando o Atlântico, ganhando alento para a ponta final e despertando para as maravilhas que aí vinham. E, aconselhados pelos animados elementos do MC Albufeira naquele que era o último controlo em estrada, lá foram os motociclistas até Aljezur, Vila do Bispo e Sagres, onde a terra acaba e o mar começa.
Descida belíssima em direção a praias fabulosas, com falésias e paisagens de cortar a respiração e uma tranquilidade que não se encontra nas superlotadas praias voltadas a sul. Em aconselhada visita opcional, os mais regulares participantes tiveram tempo para pensar nas férias verão, passando pelas praias da Bordeira e do Amado, a meca do surf, ou o Pontal da Carrapateira. E outras, praticamente desertas como Cordoama ou Castelejo, antes de subir ao palanque que marcava o ponto final de 1085 quilómetros de descoberta e aventura. Foi a 25ª edição da maior maratona mototurística da Europa, ao longo de algumas das mais belas estradas nacionais, municipais e regionais. As autoestradas e vias rápidas, essas ficaram para o regresso a casa dos 2500 motociclistas extremamente satisfeitos e de alma cheia depois de mais um extremamente elogiado Portugal de Lés-a-Lés.
Manuel Marinheiro muito orgulhoso no balanço do 25º Portugal de Lés-a-Lés
"Chuva reforçou espírito motociclista"
Visivelmente satisfeito, com um semblante que mesclava o prazer de mais um enorme desafio superado com o desgaste igual ao de todos os participantes do 25º Portugal de Lés-a-Lés, Manuel Marinheiro chegou a Sagres com a certeza de dever cumprido. Tarefa muito exigente desde Bragança, "onde a chuva forte obrigou a mudanças de última hora em toda a logística das verificações e receção aos motociclistas". Foi, apenas, o primeiro de vários desafios surgidos, inesperadamente, ao longo de quatro dias e superados de tal forma que o presidente da Federação de Motociclismo de Portugal deixa bem claro "o enorme orgulho em toda a equipa que montou e conseguiu levar a bom porto este Lés-a-Lés".
Situações de dificuldade exponenciada pelo número de participantes, obrigando a uma gestão de recursos só conseguida graças à grande experiência acumulada ao longo de um quarto de século. "Depois de um Lés-a-Lés um pouco difícil e com alguns problemas devido ao calor excessivo, este ano avizinhava-se uma prova de fogo. Tanto mais que se tratava da 25ª edição, uma data que tínhamos de assinalar com uma grande festa" referiu Manuel Marinheiro, logo exibindo um largo sorriso para rematar: "E penso que foi o que aconteceu, mesmo com a chuva!"
Para o responsável máximo da organização, os comentários de todos foram a prova do acerto das mudanças e da capacidade de reação dos elementos da Comissão de Mototurismo da FMP. "Todos com quem falei o longo dos dias estavam satisfeitos e, no final, muitos foram a dar os parabéns de viva-voz a esta organização. Depois de 3 dias marcados pela chuva e uma última etapa com um tempo fantástico, com uma receção plena de sol no Algarve, a satisfação geral era bem percetível. Aliás, de um ponto de vista global, todos os dias foram muito bons, com um percurso ótimo e os Oásis a um nível muito elevado. Só espero que todos, mas mesmo todos, tenham gostado tanto deste Lés-a-Lés como eu!"
"A chuva é toda uma nova experiência"
Sensação curiosa sentida por toda a ampla equipa organizativa foi a de que os 2250 participantes estiveram muito contentes nos primeiros dias, apesar das condições climatéricas desfavoráveis. Uma perceção partilhada por Manuel Marinheiro, reconhecendo que "talvez pelo facto de, para muitos dos participantes, ser um grande desafio e uma aprendizagem. Até porque, a menos que seja feita uma utilização diária da moto, normalmente as pessoas só vão passear quando está sol. Por isso tiveram aqui uma experiência nova e esse é também, o espírito do Portugal de Lés-a-Lés. De resiliência de superação, de aprender a andar em todas as condições, incluindo conduzir à chuva. Tudo correu bem e todos os motociclistas aprenderam algo que os ajudará a ser condutores ainda mais seguros".
Perante um céu quase sempre carregado, de um impenetrável cinzento-escuro, descarregando quantidades bíblicas de água, uma nota particularmente importante para quem dá horas e horas de grande esforço em prol da camaradagem, da solidariedade e da... diversão. "Os motoclubes são essenciais para o LaL", sublinhou o presidente da Federação de Motociclismo de Portugal, acrescentando que "são peças imprescindíveis na engrenagem, ajudando a controlar a caravana e garantindo uma animação constante ao longo de todo o percurso. Estiveram, uma vez mais ao seu nível, simplesmente fantásticos, e em nome de todos os motociclistas deixo, também a eles, o meu muito obrigado! Voltamos a ver-nos em 2024"

O "espírito do Lés-a-Lés"... resiliência.
Ao longo do tempo (e já lá vão 24 anos) a organizarmos o Portugal de Lés-a-Lés (desde há 7 anos também a versão Off-Road) sempre tentámos manter o princípio do desafio que lançamos aos participantes em termos de superação pessoal enquanto motociclistas.
Muitos, mas mesmo muitos, desses participantes tiveram a sua primeira grande experiência motociclista (tanto "on-road" como "off-road") ao aceitarem esse nosso desafio... com essa primeira experiência concluiram que afinal são capazes e a partir daí ninguém mais os parou... outros desafios foram sendo ultrapassados e muitos tornaram-se habituais participantes no Lés-a-Lés.
Temos ao longo do tempo testemunhado muitas situações de superação... muitos motociclistas/participantes que são o melhor exemplo daquilo a que gostamos de chamar o "espírito do Lés-a-Lés". Participantes que tiveram azares mas que levaram ao limite o querer e o crer... numa enorme demonstração de resiliência. A vida é mesmo assim... umas vezes corre bem outras vezes corre mal e o segredo está na vontade de nos levantarmos depois de cada queda e seguirmos, porque em frente é que é o caminho.
Neste 7° Lés-a-Lés Off-Road testemunhamos alguns grandes exemplos de superação/resiliência... traduzidos em mais que eminentes desistências por colapso fisico ou mecânico que depois se ultrapassaram e chegaram até ao fim.
Foram muitos os casos... porque, como haviamos prevenido, o percurso estava mesmo desafiante e assim foram ocorrendo situações... uns por alguma falta de experiência, outros por simples azar e outros ainda porque gostam de "condimentar o desafio" indo participar com "motos improváveis" para um desafio destes.
Mas o sorriso na cara de cada um deles à chegada dizia tudo...
Da nossa parte (organização) uma vez mais tentámos dar o nosso melhor tendo consciência de que há sempre onde podemos melhorar. Este é também um desafio de superação para todos os que estão na organização e (acredite-se) não é mesmo nada fácil colocar na estrada eventos com a dimensão LÉS-A-LÉS. No dia anterior a tudo começar ainda andávamos "perdidos" no meio do Alentejo à procura de soluções para um track digno do nome "off-road"... caminhos públicos vedados mais recomendações de última hora de organismos públicos, quase nos levaram ao desespero...
Da nossa parte (FMP) um grande agradecimento a todos os participantes por terem acreditado que somos capazes de os fazer felizes durante 4 imensos dias.
E para o ano há mais... prometemos.
Grande festa e muitas árvores oferecidas na partida de Mirandela
Começou no Nordeste a grande aventura de Lés-a-Lés
Centenas de motociclistas portugueses, espanhóis, italianos, suíços. franceses, ingleses e de muitos outros países, levaram enorme animação a Mirandela, ponto de partida do 7.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road. No dia dedicado às verificações técnicas e documentais, em fabuloso espaço ajardinado junto ao rio Tua, o reencontro de amizades de longa data foi nota dominante. Festa grande em jeito de aperitivo para três dias de aventura e descoberta até Vila Real de Santo António, com paragem em Tábua e Arronches. E que, pelo caminho, deixará centenas de árvores aos alunos das escolas básicas, em campanha que visa a sensibilização para uma reflorestação cuidada da tão fustigada floresta nacional, com recurso a árvores de espécies autóctones.
Assim, enquanto os motociclistas cumprem 277 quilómetros com os rios Tua, Douro e Mondego por companhia, crianças das escolas de Tábua e escuteiros vão plantar dois cedros do Buçaco, diante do pavilhão multiusos, e 10 salgueiros, 5 freixos e 5 amieiros junto a linhas de água. Parte da campanha que entregará ainda aos mais jovens das populações locais, pinheiros-mansos, zelhas, lódãos, pilriteiros, tramazeiras e loureiros para plantação posterior. Ação que deixou particularmente satisfeitos os autarcas de Mirandela, com a presidente da edilidade a realçar “a alegria das crianças e a curiosidade face a questões ambientais que lhes foram tão bem explicadas durante as visitas a seis escolas do concelho”. Para Júlia Rodrigues, “um evento da dimensão do Portugal de Lés-a-Lés traz, porém, outras mais-valias para o concelho. Desde logo um interessante aporte financeiro, quer na hotelaria e restauração, como noutras áreas de negócio e, não menos importante, deixa os motociclistas com vontade de regressar a uma terra onde a paixão pelas duas rodas é grande”.
Lés-a-Lés como prenda de aniversário
Uma paixão que faz muitos viajar milhares de quilómetros para marcar presença “num evento que em Inglaterra é conhecido dos vídeos que vão surgindo nas redes sociais”. Em dia de 60.ª aniversário, Marc Stride festejou em Mirandela, na companhia da esposa e da enteada, Charlie Woods que também vai fazer o 7.ª Portugal de Lés-a-Lés. Com a acentuada pronúncia britânica de Bristol, a jovem de 28 anos trouxe a Yamaha XTS 660 com que anda “frequentemente em trilhos de terra no Reino Unido, mas será a estreia em ‘off-road’ no continente. E logo em Portugal, que não conhecia, mas que está a deixar uma sensação de grande encanto”. Também o padrasto tem experiência no fora-de-estrada e sabe “mais ou menos o que esperar desta aventura, embora só a partir de amanhã poderemos descobrir a sério a beleza e a dureza de Portugal. Mas como, em conjunto, temos alguma experiência acumulada, deve dar para safar”.
Tal como o britânico da Aprilia Touareg 660, “muito feliz com esta prenda de aniversário”, muitos outros vão arrancar do Parque Dr. José Gama, mesmo junto à praia fluvial de Mirandela, a partir das 7 horas para um percurso que coloca principal ênfase nas belas regiões do Vale do Tua e do Douro Vinhateiro. Paisagens de cortar a respiração só possíveis de apreciar de locais ermos, de acessos nem sempre fáceis, que colocarão à prova as habilidades de condução e a resistência física dos participantes. Um esforço que valerá bem a pena, com muitos sorrisos de satisfação esperados, a partir das 16 horas, em Tábua.
Lado a lado com a aventura do 7.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road, a solidariedade dos motociclistas leva centenas de árvores autóctones às escolas básicas de Mirandela, Tábua, Arronches e Vila Real de Santo António.
É a 4.º edição da Campanha de Sensibilização Reflorestar Portugal de Lés-a-Lés.
Assim foi o primeiro dia da ação, nas escolas de Mirandela.
De Mirandela a Tábua através de paisagem que é Património da Humanidade
Calor aumentou exigências e sentimento de superação
Muita condução, subidas de respeito e descidas de arrepiar. A primeira etapa do 7.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road deixou fortes marcas de cansaço, mas, em boa parte, esbatidas pelo prazer da superação. E por momentos de puro deleite com paisagens de imponência arrebatadora a gerar sentidos sorrisos. De Mirandela a Tábua foram 277 quilómetros de pisos variados, com o calor a dificultar a tarefa aos participantes e a pedir água. Muita água!
Um dia que ajudou a perceber (ou a recordar) porque é que a paisagem do Alto Douro Vinhateiro merece ser considerada Património da Humanidade e entender o apego de Miguel Torga à sua terra, ao contemplar a sublime vista do Vale do Tua oferecida desde o Miradouro do Ujo. Rio Tua que acompanhou a caravana ao longo de boa parte da tirada, com uma neblina matinal que contribuiu para o início fresco e sem pó. Um despertar mágico para os aventureiros, através de caminhos estreitos, entre campos agrícolas e hortas, que logo deram lugar a olival de cultura intensiva e, pouco depois, aos vinhedos que haveriam de marcar boa parte do dia.
Serpenteando por entre vinhedos do Douro foi possível perceber, ali mesmo no terreno, as enormes dificuldades vividas pelos homens e mulheres que moldaram a paisagem desde há centenas de anos. Socalcos de sofrimento também para os menos expeditos nestas coisas de conduzir motos grandes em pisos de terra, num esforço pago em suor e… vistas inesquecíveis. Mas as dificuldades estavam longe de ter terminado, com alguns trilhos bem empinados rumo à estação de comboios do Tua, onde o Oásis Honda matou a sede que começava a apertar. E, com fruta, café e barras energéticas, reforçou alento para algumas descidas bem íngremes, antes de atravessar o Douro na Barragem da Valeira.
Ponto que marcou o primeiro terço da jornada, antes de rumar às paisagens beirãs, gradualmente mais inóspitas, marcadas pelo granito, pela invasão do eucalipto e por algumas chagas abertas pelos incêndios que teimam em não sarar. Pisos ora rolantes, ora mais enduristas, bem entrecortados por indispensáveis ligações em estrada que serviam também para ajudar a descansar um pouco. Percurso que mereceu muitos elogios por parte dos participantes, como foi o caso de Carlos Alonso, espanhol de Salamanca, que garante “estar a ser a mais bonita e mais interessante das quatro edições” em que marcou presença com o grupo de bem audíveis amigos.
Pelo mesmo diapasão afinou Paulo Marques, com “as dificuldades a fazerem lembrar alguns troços de enduro, enquanto, logo a seguir, surgiam troços típicos de um raide”. Mas o pluricampeão nacional de modalidades off-road há muito que ‘arrumou as botas’ e agora é participante assíduo no Portugal e Lés-a-Lés Off-Road “para descobrir paisagens que é impossível conhecer de outra forma e para passar três dias com os amigos a passear de moto, juntando o melhor de três mundos!”
Ideias trocadas no Oásis montado em Trancoso, com o castelo como pano de fundo, e um delicioso caldo verde como aperitivo para uma refeição variada, capaz de agradar a ‘gregos e troianos’¬¬¬. Da mesma forma que agradou a portugueses, espanhóis, franceses, italianos, alemães, belgas, suíços, ingleses, brasileiros e tantos outros. Que, de estomago composto, abalaram que ainda havia mais de uma centena de quilómetros para cumprir até Tábua.
Com a paisagem a variar entre a rispidez granítica, os intermináveis eucaliptais que secam a terra e criam tanto pó, e zonas fluviais, de maior frescura graças às árvores de espécies autóctones, foi tempo de mais um esforço para cumprir uma etapa que, já se antevia, foi fisicamente exigente. Talvez por isso, na chegada ao Multiusos de Tábua, os terapeutas que acompanham o evento da Federação de Motociclismo de Portugal não tivessem mãos a medir. E enquanto a Inês, o Edgar, o Miguel, a Adriana e o Rui minimizavam os efeitos de algumas mazelas, os elementos do motoclube MK Máquinas responsáveis por uma bem-disposta receção, ajudaram a plantar dois cedros do Buçaco, mesmo em frente ao pavilhão. Para plantar mais tarde, quando a chuva amaciar a terra e as raízes tiverem mais alimento para vingar, ficaram vários salgueiros, freixos, amieiros, pinheiros-mansos, zelhas, lódãos, pilriteiros, tramazeiras e loureiros, árvores de espécies locais oferecidas no âmbito da Campanha de Sensibilização Reflorestar Portugal de Lés-a-Lés. Iniciativa da FMP que voltará a marcar presença em Arronches, onde termina a 2.ª etapa do 7.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road, após 268 quilómetros de sobe-e-desce, em montanha-russa que terá ponto alto na travessia da Serra do Açor.
Nem o pó escondeu os sorrisos na chegada do Lés-a-Lés Off-Road a Arronches
Motociclistas lutam para contrariar efeitos da seca
A centena de sobreiros entregues às crianças da Escola Básica EB1 de Arronches, ao abrigo da campanha de sensibilização Reflorestar Portugal de Lés-a-Lés revelam apenas uma pequena parte do esforço levado a cabo pela Federação de Motociclismo de Portugal e pelos motociclistas para mudar a paisagem das serras nacionais. Iniciativa que encaixou na perfeição com o projeto em progresso nesta Eco-Escola, sobre a sustentabilidade, e que mereceu palavras de muito apreço do presidente da edilidade local, João Crespo. Que, juntamente com a presidente da unidade escolar, meteu mão ao trabalho para ajudar na plantação do primeiro sobreiro, no recinto da escola.
Objetivo de promoção ambiental que ganhou outro significado no decorrer da segunda etapa do 7.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road, que levou centenas de aventureiros de Tábua a Arronches. É que o muito pó que acompanhou a caravana ao longo do dia, as marcas de alguns incêndios e a abundância de eucaliptais foi o contraponto à imponência da Serra da Estrela que esteve no horizonte durante boa parte da etapa bem como da Serra do Açor. E reforçou a motivação para a defesa da floresta nacional, com recurso à plantação de árvores de espécies autóctones.
Isto num dia que começou fresco, com o céu encoberto a reduzir o ímpeto do sol, facilitando assim a tarefa na passagem das Beiras para o Alentejo, através de Vila Velha de Ródão. Onde, num magnífico enquadramento, em espaço verde junto ao Rio Tejo, foi montado um acolhedor Oásis. Tempo (e espaço) para retemperar forças, com uma bem nutritiva sopa, ovos mexidos ou bifanas, muita fruta e água, enquanto se debatiam as peripécias da primeira parte da tirada.
Bastou passar o Tejo para descobrir caminhos mais rolantes, onde alguns estradões rápidos escondiam várias armadilhas sob a forma de buracos que exigiam muita atenção. Tal como os corta-fogos utilizados nos últimos quilómetros, como muita pedra solta e grandes regos, deveras exigentes sobretudo para as grandes trail. Nada que os participantes não estivessem à espera num passeio onde a descoberta das mais cativantes paisagens se junta ao desafio e à capacidade de superação.
Tudo numa ponta final marcada pela passagem no Parque Natural da Serra de S. Mamede e que deixou marcas no equipamento e nos rostos, tanto era o pó. Quase irreconhecíveis na chegada a Arronches, depois de 268 quilómetros muito exigentes com muito pó, os participantes foram recebidos com os sorrisos e a alegria contagiante da Lynn, Luísa, Inês e Andreia as hospedeiras que animam os palanques com muita dança e diversões a condizer com a situação. Depois dos borrifadores de água e dos espanadores, vamos ver o que espera os resistentes na chegada Vila Real de Santo António, após um dia que se prevê muito longo, com quase 400 quilómetros de aventura e muita condução.
Dureza do 7.º Portugal de Lés-a-Lés deu outro valor aos sorrisos na chegada
Os campeões, o alemão estreante e a portuguesa finalista
Enganou-se quem pensou que, depois da dureza nos dois primeiros dias, a terceira etapa do 7.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road eram ‘favas contadas’. A planície alentejana e a serra algarvia proporcionaram uma ligação muito exigente, entre Arronches e Vila Real de Santo António, ao longo de quase 400 quilómetros de pó, calor e asfalto em demasia. Dia intenso, com muito trabalho para a ‘equipa zero’, encarregue de antecipar na estrada e em tempo real os problemas que possam surgir à caravana. Logo nos primeiros quilómetros, pouco depois da passagem em Campo Maior, ainda com a fábrica da Delta fechada e sem hipótese para um sempre agradecido café matinal, Flávia Rolo e Vasco Rodrigues encontraram as primeiras contrariedades. Desde um portão fechado que impedia toda e qualquer passagem até às alterações ditadas pelas obras de construção da maior obra ferroviária em Portugal levada a cabo no último século. E se, no primeiro caso, foi rápida a resolução, com a chegada do encarregado da herdade, já a transposição da futura linha que ligará o porto de Sines com a fronteira em Espanha, obrigou a descobrir e assinalar um caminho alternativo.
Tudo muito rápido, sem tempo a perder, porque os primeiros participantes estavam a chegar a esta zona de plantação superintensiva de olival, cultura que vai ganhando terreno às searas e mudando, de forma paulatina, a paisagem alentejana. Sempre com a fronteira de Espanha por perto e com estradões rápidos, descansaram um pouco os condutores das grandes trails depois da ‘tareia’ dos dois primeiros dias. Até porque foram ajudados pelas muitas ligações em estrada, motivadas pela necessidade dos agricultores, proprietários das herdades, evitarem roubos de gado que se têm multiplicado nos últimos tempos e até, imagine-se, de azeitona e outras frutas.
Mas, sempre que o asfalto terminava, podia surgir um caminho com muita pedra, verdadeiramente massacrante e causados de um sem número de furos. Como aconteceu até ao Convento de Orada, onde o Oásis Honda ocupava o lugar onde D. Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável, rezou antes das batalhas contra os exércitos castelhanos. Um espaço onde, sem distinção de sexo, idade, raça, credo ou até da marca de moto, era prestada assistência a todos os que dela necessitavam. E enquanto os problemas mecânicos eram solucionados pelo Sebastião Guerra, o Gonçalo Hortega e a sua equipa tratavam de acompanhar fruta, água e barras energéticas, com o melhor café do Lés-a-Lés.
A escassez de água e as árvores que alegraram a criançada
Espaço de descanso e dois dedos de conversa, onde se encontraram Miguel Farrajota e António Oliveira. Grandes rivais no motocrosse como no enduro e nos raides, onde somam total de 35 títulos nacionais, são agora grandes amigos. Como não podia deixar de ser, enduristas de altíssimo nível que foram, elogiaram “os trilhos muito exigentes da primeira etapa, com subidas que não ficavam mal numa prova do Nacional de Enduro, e os caminhos bastante técnicos e fluídos do segundo dia”. E, em uníssono, reconheceram que “mesmo sabendo das dificuldades existentes no Alentejo, foi demasiado asfalto, sobretudo para motos enduristas”. Vá lá que, pouco depois, ainda conseguiram usufruir de momentos de grande gozo de condução, em pleno Parque Natural do Vale do Guadiana.
Local que reforçou o drama da escassez de água já visível no Alqueva, onde os 3 ou 4 metros abaixo no nível máximo multiplicados pela área do maior lago artificial da Europa deixam bem clara a dimensão da seca que atravessamos. Pensamentos que acompanharam boa parte das centenas de participantes nesta maratona aventureira até Serpa, onde estava montado o Oásis da Federação de Motociclismo de Portugal, organizador do evento que atrai motociclistas de toda a Europa.
Como o alemão Marcel Driessen, Country Manager da Yamaha no mercado germânico que, depois de “muita diversão, alegria e também muito cansaço nos dois primeiros dias, sobretudo pela exigência para uma moto como a Yamaha Ténéré 700 World Raid” não escondeu “algum aborrecimento” na travessia alentejana. “Mas é a paisagem que manda e, depois de dois dias de dureza recompensada pelas paisagens fabulosas, com estas planícies era impossível grande sobe-e-desce”, rematou o estreante no Portugal de Lés-a-Lés Off-Road não se antes enaltecer as últimas curvas da serra algarvia, “escorregadias e muito divertidas”.
Opinião partilhada por Márcia Monteiro, que esteve “sete vezes à partida da aventura ainda que nem sempre à chegada”. Desta feita chegou a Vila Real de Santo António, feliz, mas “bastante cansada, sobretudo depois da primeira etapa, entre Mirandela e Tábua, talvez a mais dura de todas as realizadas nestes sete anos”.
E as paisagens? “Sempre espetaculares, ainda que, aqui e ali, sejam notórias as marcas de incêndios e muitos eucaliptais”. Situação que a FMP quer ajudar a reverter com a campanha de sensibilização Reflorestar Portugal de Lés-a-Lés. Que, depois de Mirandela, Tábua e Arronches, entregou mais 100 ciprestes e outros tantos pinheiros-mansos aos petizes das escolas básicas Manuel Cabanas, de Santo António e de Monte Gordo. Além de outros exemplares destas espécies autóctones que foram carinhosamente plantadas pelas crianças com a cuidadosa ajuda do Sr. José, o jardineiro de serviço, acompanhado pelo vice-presidente da Câmara Municipal de V. R. St.º António, Ricardo Cipriano, e pela vereadora do pelouro da Educação Maria da Conceição Pires. Uma campanha que, tal como o Portugal de Lés-a-Lés Off-Road, promete voltar em grande, em 2023.