O Portugal de Lés-a-Lés é uma aventura anual mototurística que desde 1999 concilia a resistência física à vertente turística com o objectivo de cruzar Portugal de extremo a extremo contemplando paisagens e lugares de enorme esplendor. Aquela que se tornou a maior caravana mototurística do mundo passou agora também a pontuar para o World Touring Challenge da FIM!

25º Portugal de Lés-a-Lés (2023)
De 7 a 10 de Junho de 2023

"Casa cheia" nas Bodas de Prata do Portugal de Lés-a-Lés

Dois milhões e meio de quilómetros para descobrir Portugal

Uma vez mais a lista de entusiastas que não querem perder a maior maratona mototurística da Europa fez transbordar a lista de inscritos para o Portugal de Lés-a-Lés cuja 25.ª edição vai para a estrada de 7 a 10 de junho. Uma ligação de 1144 quilómetros entre Bragança e Vila do Bispo, com passagem por Ourém e Viseu, que será cumprida por 2185 motociclistas, totalizando, imagine-se, um total de 2.499.640 quilómetros. E isto sem contar com os quilómetros desde casa ou com a equipa organizativa e vários convidados, entre artistas e atores, pilotos e políticos, desportistas e até 'chefs' de renome internacional.

Um entusiasmo enorme em redor da edição das Bodas de Prata do evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal, que começou em 1999 pela mão de cinco motoclubes. Agora, um quarto de século depois, e além de vários elementos da organização presentes desde o primeiro momento, há apenas quatro participantes totalistas que contam, só no Portugal de Lés-a-Lés, com mais de 30 mil quilómetros pelas mais recônditas estradas nacionais, regionais e municipais de um País desconhecido de muitos.

Para aqueles que gostam de descobrir novos recantos, as mais imponentes paisagens, os mais significativos monumentos da História de Portugal ou simplesmente conduzir nas mais deliciosas estradinhas, esta é uma oportunidade realmente única de descoberta. Mas, para aqueles que não se inscreveram até às 00.00 horas do dia 15 de maio, bom, para esses a aventura terá que ficar para 2024!

REPORTAGEM

Centenas de motociclistas na apresentação do 25.º Portugal de Lés-a-Lés

Aí estão as novidades da grande aventura!

Começou a mais desejada aventura do ano! A Apresentação Oficial do 25.º Portugal de Lés-a-Lés, perante centenas de entusiastas na Figueira da Foz, marcou o arranque da grande maratona mototurística organizada desde 1999 pela Federação de Motociclismo de Portugal. Para 2023, o objetivo passa por festejar as Bodas de Prata com uma festa ímpar, num percurso evocativo da ‘saudável loucura’ levada a cabo por 100 motociclistas ao ligar Bragança a Sagres em 24 horas de aventura ‘non-stop’. Agora serão 1110 quilómetros, para cumprir entre os dias 7 e 10 de junho, através de paisagens ímpares, passando por serras, vales e planícies, rios, lagos e barragens, numa oportunidade única para uma descoberta diferente de um Portugal pouco conhecido.

Numa sala transbordante de expetativa e animação, foi apresentado o percurso que, mantendo alguns pontos coincidentes com a 1.ª edição, mostrará muitas novidades ao longo de 4 dias. Um trajeto que, já se sabia, parte de Bragança, concelho que acolhe também o já tradicional Passeio de Abertura, daí seguindo para Viseu e Ourém, palco do final das etapas seguintes, antes da grande festa montada em Sagres.

Numa cerimónia que contou com a presença de Pedro Santana Lopes, presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz (que fez questão de deslocar-se de moto até ao Malibu Foz Hotel), coube ao presidente da autarquia de Bragança, Hernâni Dias, agradecer a visita para a partida da edição de 2023 do Portugal de Lés-a-Lés. Que, pela primeira vez, vai passar na aldeia que dá nome ao Parque Natural de Montesinho, recordando ainda o ponto de arranque de 1999, Rio de Onor. Isto num Passeio de Abertura com pouco mais de uma centena de quilómetros que terminará no Centro Histórico de Bragança, com visita ao castelo e à Sé, perto do local onde serão efetuadas as Verificações Técnicas e Documentais.

Aperitivo de luxo para um manjar de paisagens

Aperitivo para a primeira etapa que levará a caravana de Bragança a Viseu, ao longo de 310 quilómetros de estradas inéditas no Lés-a-Lés e outros locais já conhecidos. Como Podence onde os tradicionais caretos podem sempre ‘fazer das suas’.

Numa tirada panorâmica, tempo para desfrutar da Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo, rio que será atravessado a vau em Vale da Porca, antes de conhecer a nova barragem do Sabor, entre Alfandega da Fé e Torre de Moncorvo. Já a sul do rio Douro, visita ao Castelo Velho de Freixo de Numão, atravessando o troço final da estrada nacional 222, rumo a Moreira de Rei, outra novidade, já no concelho de Trancoso.

Celorico da Beira que tão bem acolheu a caravana na 1.ª edição do Lés-a-Lés volta a receber os participantes que, aqui, infletem para Oeste, bordejando o rio Mondego até Viseu. Em terras de Viriato, um final de dia carregado de história, passagem pela Sé Catedral e Museu Grão Vasco, numa descoberta do centro histórico que terminará no palanque junto aos Paços do Concelho.

Tal como a etapa da véspera, também a do 2.ª dia será exigente em termos de condução, com ‘apenas’ 280 quilómetros, mas muitas descobertas por locais nunca antes espreitados pelo pelotão do Lés-a-Lés. Do megalitismo de Carregal do Sal, através de vários dólmens ou orcas, às cascatas do rio Cavalos, em Sevilha, no concelho de Tábua. Depois da ida a França no Passeio de Abertura, esta visita à homónima da capital da Andaluzia, reforça o toque internacional do 25.º Portugal de Lés-a-Lés que, para entrar na fase montanhosa, passará por Arganil e Góis. Locais com garantia de forte ‘calor motociclístico’ e onde não faltará mesmo uma ‘apetitosa’ feira gastronómica.

Tempo para paisagens soberbas e enormes surpresas até Castanheira de Pera, com direito a Oásis na Praia das Rocas, onde será servido mais um aperitivo. Que a fome e a sede são sempre maus companheiros de viagem e há que arrepiar caminho até Dornes, uma das grandes novidades deste Lés-a-Lés e que marca a entrada no distrito de Santarém. Um dia que termina em Ourém, ainda a tempo para uma visita ao centro histórico, nomeadamente ao castelo em fase de recuperação e dinamização.

Homenagem mais que merecida

Para finalizar a maior maratona mototurística da Europa, uma tirada longa de 410 quilómetros entre Ourém e Vila do Bispo. Algo que não assusta os experientes Luís Santos, Paulo Mendes, Ângelo Moura e Luís Simão, os quatro totalistas das edições do Portugal de Lés-a-Lés e que foram homenageados na Figueira da Foz. Juntamente com o Moto Clube do Porto, único clube presente ao longo dos 25 anos, e a Lidergraf, empresa que mantém o nome ligado ao evento desde 1999. Bem como os moto clubes de Albufeira, Guimarães e Motards do Ocidente, os que mais se distinguiram pela animação proporcionada em 2022.

Uma etapa longa, mas bastante rolante, que começa no Ribatejo, desfrutando da tranquilidade das zonas campestres do Vale do Tejo, com paragens em Azinhaga do Ribatejo, terra natal de José Saramago, e na Golegã, outras estreias no Lés-a-Lés. Depois, e deixando Santarém para trás, sem muito tempo a perder em algumas belas estradas na zona de Coruche ou Montemor-o-Novo (boa desculpa para voltar outra vez…), segue a viagem por Viana do Alentejo, Ferreira do Alentejo e Aljustrel. Altura de nova inflexão no trajeto, rumo ao sudoeste alentejano, por estradas pouco conhecidas, muito panorâmicas e bem asfaltadas em direção a Monchique.

Com os aromas da maresia a despertar os sentidos dos mais de 2000 motociclistas, a passagem por Marmelete marca a descida rumo à costa, seguindo sempre por perto de imponentes falésias até ao cabo de São Vicente. Onde, tal como há 25 anos, à porta da fortaleza de Sagres, termina a grande aventura gizada pela Comissão de Mototurismo da FMP, através de estradas nacionais, regionais, municipais e até alguns caminhos de terra batida, mas sem pisar autoestradas ou vias rápidas.

Viagem de sonho numa travessia ímpar, através de um percurso inovador, divertido e desafiante, recuperando o espírito da edição inaugural em 1999, mas agora com muitos mais participantes e uma animação redobrada. Sobretudo nas partidas e chegadas onde a música, a dança e outros atrativos serão pontos de relevo na cuidada produção de um evento apoiado pela Agência Abreu, BMW, BP, Dunlop, NEXX e Via Verde. E cujas ‘vantagens’ se começaram a fazer sentir logo no dia da apresentação, com o sorteio de um jogo de pneus Dunlop, de um capacete NEXX, juntamente com uma inscrição para o Lés-a-Lés

Evento que, logo após a apresentação oficial, ganhou os primeiros inscritos, que partirão bem cedo para as etapas, às 6 horas, na frente de um pelotão de 2000 motos. Quanto aos restantes, poderão inscrever-se a partir do dia 27 de março, no site www.les-a-les.com.

7º Portugal de Lés-a-Lés Offroad (2022)
Mirandela - Tábua - Arronches - Vila Real de Sto. António
De 1 a 4 de Outubro de 2022

O "espírito do Lés-a-Lés"... resiliência.

Ao longo do tempo (e já lá vão 24 anos) a organizarmos o Portugal de Lés-a-Lés (desde há 7 anos também a versão Off-Road) sempre tentámos manter o princípio do desafio que lançamos aos participantes em termos de superação pessoal enquanto motociclistas.

Muitos, mas mesmo muitos, desses participantes tiveram a sua primeira grande experiência motociclista (tanto "on-road" como "off-road") ao aceitarem esse nosso desafio... com essa primeira experiência concluiram que afinal são capazes e a partir daí ninguém mais os parou... outros desafios foram sendo ultrapassados e muitos tornaram-se habituais participantes no Lés-a-Lés.

Temos ao longo do tempo testemunhado muitas situações de superação... muitos motociclistas/participantes que são o melhor exemplo daquilo a que gostamos de chamar o "espírito do Lés-a-Lés". Participantes que tiveram azares mas que levaram ao limite o querer e o crer... numa enorme demonstração de resiliência. A vida é mesmo assim... umas vezes corre bem outras vezes corre mal e o segredo está na vontade de nos levantarmos depois de cada queda e seguirmos, porque em frente é que é o caminho.

Neste 7° Lés-a-Lés Off-Road testemunhamos alguns grandes exemplos de superação/resiliência... traduzidos em mais que eminentes desistências por colapso fisico ou mecânico que depois se ultrapassaram e chegaram até ao fim.

Foram muitos os casos... porque, como haviamos prevenido, o percurso estava mesmo desafiante e assim foram ocorrendo situações... uns por alguma falta de experiência, outros por simples azar e outros ainda porque gostam de "condimentar o desafio" indo participar com "motos improváveis" para um desafio destes.

Mas o sorriso na cara de cada um deles à chegada dizia tudo...

Da nossa parte (organização) uma vez mais tentámos dar o nosso melhor tendo consciência de que há sempre onde podemos melhorar. Este é também um desafio de superação para todos os que estão na organização e (acredite-se) não é mesmo nada fácil colocar na estrada eventos com a dimensão LÉS-A-LÉS. No dia anterior a tudo começar ainda andávamos "perdidos" no meio do Alentejo à procura de soluções para um track digno do nome "off-road"... caminhos públicos vedados mais recomendações de última hora de organismos públicos, quase nos levaram ao desespero...

Da nossa parte (FMP) um grande agradecimento a todos os participantes por terem acreditado que somos capazes de os fazer felizes durante 4 imensos dias.

E para o ano há mais... prometemos.

REPORTAGEM

Grande festa e muitas árvores oferecidas na partida de Mirandela

Começou no Nordeste a grande aventura de Lés-a-Lés

Centenas de motociclistas portugueses, espanhóis, italianos, suíços. franceses, ingleses e de muitos outros países, levaram enorme animação a Mirandela, ponto de partida do 7.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road. No dia dedicado às verificações técnicas e documentais, em fabuloso espaço ajardinado junto ao rio Tua, o reencontro de amizades de longa data foi nota dominante. Festa grande em jeito de aperitivo para três dias de aventura e descoberta até Vila Real de Santo António, com paragem em Tábua e Arronches. E que, pelo caminho, deixará centenas de árvores aos alunos das escolas básicas, em campanha que visa a sensibilização para uma reflorestação cuidada da tão fustigada floresta nacional, com recurso a árvores de espécies autóctones.

Assim, enquanto os motociclistas cumprem 277 quilómetros com os rios Tua, Douro e Mondego por companhia, crianças das escolas de Tábua e escuteiros vão plantar dois cedros do Buçaco, diante do pavilhão multiusos, e 10 salgueiros, 5 freixos e 5 amieiros junto a linhas de água. Parte da campanha que entregará ainda aos mais jovens das populações locais, pinheiros-mansos, zelhas, lódãos, pilriteiros, tramazeiras e loureiros para plantação posterior. Ação que deixou particularmente satisfeitos os autarcas de Mirandela, com a presidente da edilidade a realçar “a alegria das crianças e a curiosidade face a questões ambientais que lhes foram tão bem explicadas durante as visitas a seis escolas do concelho”. Para Júlia Rodrigues, “um evento da dimensão do Portugal de Lés-a-Lés traz, porém, outras mais-valias para o concelho. Desde logo um interessante aporte financeiro, quer na hotelaria e restauração, como noutras áreas de negócio e, não menos importante, deixa os motociclistas com vontade de regressar a uma terra onde a paixão pelas duas rodas é grande”.

Lés-a-Lés como prenda de aniversário

Uma paixão que faz muitos viajar milhares de quilómetros para marcar presença “num evento que em Inglaterra é conhecido dos vídeos que vão surgindo nas redes sociais”. Em dia de 60.ª aniversário, Marc Stride festejou em Mirandela, na companhia da esposa e da enteada, Charlie Woods que também vai fazer o 7.ª Portugal de Lés-a-Lés. Com a acentuada pronúncia britânica de Bristol, a jovem de 28 anos trouxe a Yamaha XTS 660 com que anda “frequentemente em trilhos de terra no Reino Unido, mas será a estreia em ‘off-road’ no continente. E logo em Portugal, que não conhecia, mas que está a deixar uma sensação de grande encanto”. Também o padrasto tem experiência no fora-de-estrada e sabe “mais ou menos o que esperar desta aventura, embora só a partir de amanhã poderemos descobrir a sério a beleza e a dureza de Portugal. Mas como, em conjunto, temos alguma experiência acumulada, deve dar para safar”.

Tal como o britânico da Aprilia Touareg 660, “muito feliz com esta prenda de aniversário”, muitos outros vão arrancar do Parque Dr. José Gama, mesmo junto à praia fluvial de Mirandela, a partir das 7 horas para um percurso que coloca principal ênfase nas belas regiões do Vale do Tua e do Douro Vinhateiro. Paisagens de cortar a respiração só possíveis de apreciar de locais ermos, de acessos nem sempre fáceis, que colocarão à prova as habilidades de condução e a resistência física dos participantes. Um esforço que valerá bem a pena, com muitos sorrisos de satisfação esperados, a partir das 16 horas, em Tábua.

Lado a lado com a aventura do 7.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road, a solidariedade dos motociclistas leva centenas de árvores autóctones às escolas básicas de Mirandela, Tábua, Arronches e Vila Real de Santo António.

É a 4.º edição da Campanha de Sensibilização Reflorestar Portugal de Lés-a-Lés.

Assim foi o primeiro dia da ação, nas escolas de Mirandela.

De Mirandela a Tábua através de paisagem que é Património da Humanidade

Calor aumentou exigências e sentimento de superação

Muita condução, subidas de respeito e descidas de arrepiar. A primeira etapa do 7.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road deixou fortes marcas de cansaço, mas, em boa parte, esbatidas pelo prazer da superação. E por momentos de puro deleite com paisagens de imponência arrebatadora a gerar sentidos sorrisos. De Mirandela a Tábua foram 277 quilómetros de pisos variados, com o calor a dificultar a tarefa aos participantes e a pedir água. Muita água!

Um dia que ajudou a perceber (ou a recordar) porque é que a paisagem do Alto Douro Vinhateiro merece ser considerada Património da Humanidade e entender o apego de Miguel Torga à sua terra, ao contemplar a sublime vista do Vale do Tua oferecida desde o Miradouro do Ujo. Rio Tua que acompanhou a caravana ao longo de boa parte da tirada, com uma neblina matinal que contribuiu para o início fresco e sem pó. Um despertar mágico para os aventureiros, através de caminhos estreitos, entre campos agrícolas e hortas, que logo deram lugar a olival de cultura intensiva e, pouco depois, aos vinhedos que haveriam de marcar boa parte do dia.

Serpenteando por entre vinhedos do Douro foi possível perceber, ali mesmo no terreno, as enormes dificuldades vividas pelos homens e mulheres que moldaram a paisagem desde há centenas de anos. Socalcos de sofrimento também para os menos expeditos nestas coisas de conduzir motos grandes em pisos de terra, num esforço pago em suor e… vistas inesquecíveis. Mas as dificuldades estavam longe de ter terminado, com alguns trilhos bem empinados rumo à estação de comboios do Tua, onde o Oásis Honda matou a sede que começava a apertar. E, com fruta, café e barras energéticas, reforçou alento para algumas descidas bem íngremes, antes de atravessar o Douro na Barragem da Valeira.

Ponto que marcou o primeiro terço da jornada, antes de rumar às paisagens beirãs, gradualmente mais inóspitas, marcadas pelo granito, pela invasão do eucalipto e por algumas chagas abertas pelos incêndios que teimam em não sarar. Pisos ora rolantes, ora mais enduristas, bem entrecortados por indispensáveis ligações em estrada que serviam também para ajudar a descansar um pouco. Percurso que mereceu muitos elogios por parte dos participantes, como foi o caso de Carlos Alonso, espanhol de Salamanca, que garante “estar a ser a mais bonita e mais interessante das quatro edições” em que marcou presença com o grupo de bem audíveis amigos.

Pelo mesmo diapasão afinou Paulo Marques, com “as dificuldades a fazerem lembrar alguns troços de enduro, enquanto, logo a seguir, surgiam troços típicos de um raide”. Mas o pluricampeão nacional de modalidades off-road há muito que ‘arrumou as botas’ e agora é participante assíduo no Portugal e Lés-a-Lés Off-Road “para descobrir paisagens que é impossível conhecer de outra forma e para passar três dias com os amigos a passear de moto, juntando o melhor de três mundos!”

Ideias trocadas no Oásis montado em Trancoso, com o castelo como pano de fundo, e um delicioso caldo verde como aperitivo para uma refeição variada, capaz de agradar a ‘gregos e troianos’¬¬¬. Da mesma forma que agradou a portugueses, espanhóis, franceses, italianos, alemães, belgas, suíços, ingleses, brasileiros e tantos outros. Que, de estomago composto, abalaram que ainda havia mais de uma centena de quilómetros para cumprir até Tábua.

Com a paisagem a variar entre a rispidez granítica, os intermináveis eucaliptais que secam a terra e criam tanto pó, e zonas fluviais, de maior frescura graças às árvores de espécies autóctones, foi tempo de mais um esforço para cumprir uma etapa que, já se antevia, foi fisicamente exigente. Talvez por isso, na chegada ao Multiusos de Tábua, os terapeutas que acompanham o evento da Federação de Motociclismo de Portugal não tivessem mãos a medir. E enquanto a Inês, o Edgar, o Miguel, a Adriana e o Rui minimizavam os efeitos de algumas mazelas, os elementos do motoclube MK Máquinas responsáveis por uma bem-disposta receção, ajudaram a plantar dois cedros do Buçaco, mesmo em frente ao pavilhão. Para plantar mais tarde, quando a chuva amaciar a terra e as raízes tiverem mais alimento para vingar, ficaram vários salgueiros, freixos, amieiros, pinheiros-mansos, zelhas, lódãos, pilriteiros, tramazeiras e loureiros, árvores de espécies locais oferecidas no âmbito da Campanha de Sensibilização Reflorestar Portugal de Lés-a-Lés. Iniciativa da FMP que voltará a marcar presença em Arronches, onde termina a 2.ª etapa do 7.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road, após 268 quilómetros de sobe-e-desce, em montanha-russa que terá ponto alto na travessia da Serra do Açor.

Nem o pó escondeu os sorrisos na chegada do Lés-a-Lés Off-Road a Arronches

Motociclistas lutam para contrariar efeitos da seca

A centena de sobreiros entregues às crianças da Escola Básica EB1 de Arronches, ao abrigo da campanha de sensibilização Reflorestar Portugal de Lés-a-Lés revelam apenas uma pequena parte do esforço levado a cabo pela Federação de Motociclismo de Portugal e pelos motociclistas para mudar a paisagem das serras nacionais. Iniciativa que encaixou na perfeição com o projeto em progresso nesta Eco-Escola, sobre a sustentabilidade, e que mereceu palavras de muito apreço do presidente da edilidade local, João Crespo. Que, juntamente com a presidente da unidade escolar, meteu mão ao trabalho para ajudar na plantação do primeiro sobreiro, no recinto da escola.

Objetivo de promoção ambiental que ganhou outro significado no decorrer da segunda etapa do 7.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road, que levou centenas de aventureiros de Tábua a Arronches. É que o muito pó que acompanhou a caravana ao longo do dia, as marcas de alguns incêndios e a abundância de eucaliptais foi o contraponto à imponência da Serra da Estrela que esteve no horizonte durante boa parte da etapa bem como da Serra do Açor. E reforçou a motivação para a defesa da floresta nacional, com recurso à plantação de árvores de espécies autóctones.

Isto num dia que começou fresco, com o céu encoberto a reduzir o ímpeto do sol, facilitando assim a tarefa na passagem das Beiras para o Alentejo, através de Vila Velha de Ródão. Onde, num magnífico enquadramento, em espaço verde junto ao Rio Tejo, foi montado um acolhedor Oásis. Tempo (e espaço) para retemperar forças, com uma bem nutritiva sopa, ovos mexidos ou bifanas, muita fruta e água, enquanto se debatiam as peripécias da primeira parte da tirada.

Bastou passar o Tejo para descobrir caminhos mais rolantes, onde alguns estradões rápidos escondiam várias armadilhas sob a forma de buracos que exigiam muita atenção. Tal como os corta-fogos utilizados nos últimos quilómetros, como muita pedra solta e grandes regos, deveras exigentes sobretudo para as grandes trail. Nada que os participantes não estivessem à espera num passeio onde a descoberta das mais cativantes paisagens se junta ao desafio e à capacidade de superação.

Tudo numa ponta final marcada pela passagem no Parque Natural da Serra de S. Mamede e que deixou marcas no equipamento e nos rostos, tanto era o pó. Quase irreconhecíveis na chegada a Arronches, depois de 268 quilómetros muito exigentes com muito pó, os participantes foram recebidos com os sorrisos e a alegria contagiante da Lynn, Luísa, Inês e Andreia as hospedeiras que animam os palanques com muita dança e diversões a condizer com a situação. Depois dos borrifadores de água e dos espanadores, vamos ver o que espera os resistentes na chegada Vila Real de Santo António, após um dia que se prevê muito longo, com quase 400 quilómetros de aventura e muita condução.

Dureza do 7.º Portugal de Lés-a-Lés deu outro valor aos sorrisos na chegada

Os campeões, o alemão estreante e a portuguesa finalista

Enganou-se quem pensou que, depois da dureza nos dois primeiros dias, a terceira etapa do 7.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road eram ‘favas contadas’. A planície alentejana e a serra algarvia proporcionaram uma ligação muito exigente, entre Arronches e Vila Real de Santo António, ao longo de quase 400 quilómetros de pó, calor e asfalto em demasia. Dia intenso, com muito trabalho para a ‘equipa zero’, encarregue de antecipar na estrada e em tempo real os problemas que possam surgir à caravana. Logo nos primeiros quilómetros, pouco depois da passagem em Campo Maior, ainda com a fábrica da Delta fechada e sem hipótese para um sempre agradecido café matinal, Flávia Rolo e Vasco Rodrigues encontraram as primeiras contrariedades. Desde um portão fechado que impedia toda e qualquer passagem até às alterações ditadas pelas obras de construção da maior obra ferroviária em Portugal levada a cabo no último século. E se, no primeiro caso, foi rápida a resolução, com a chegada do encarregado da herdade, já a transposição da futura linha que ligará o porto de Sines com a fronteira em Espanha, obrigou a descobrir e assinalar um caminho alternativo.

Tudo muito rápido, sem tempo a perder, porque os primeiros participantes estavam a chegar a esta zona de plantação superintensiva de olival, cultura que vai ganhando terreno às searas e mudando, de forma paulatina, a paisagem alentejana. Sempre com a fronteira de Espanha por perto e com estradões rápidos, descansaram um pouco os condutores das grandes trails depois da ‘tareia’ dos dois primeiros dias. Até porque foram ajudados pelas muitas ligações em estrada, motivadas pela necessidade dos agricultores, proprietários das herdades, evitarem roubos de gado que se têm multiplicado nos últimos tempos e até, imagine-se, de azeitona e outras frutas.

Mas, sempre que o asfalto terminava, podia surgir um caminho com muita pedra, verdadeiramente massacrante e causados de um sem número de furos. Como aconteceu até ao Convento de Orada, onde o Oásis Honda ocupava o lugar onde D. Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável, rezou antes das batalhas contra os exércitos castelhanos. Um espaço onde, sem distinção de sexo, idade, raça, credo ou até da marca de moto, era prestada assistência a todos os que dela necessitavam. E enquanto os problemas mecânicos eram solucionados pelo Sebastião Guerra, o Gonçalo Hortega e a sua equipa tratavam de acompanhar fruta, água e barras energéticas, com o melhor café do Lés-a-Lés.

A escassez de água e as árvores que alegraram a criançada

Espaço de descanso e dois dedos de conversa, onde se encontraram Miguel Farrajota e António Oliveira. Grandes rivais no motocrosse como no enduro e nos raides, onde somam total de 35 títulos nacionais, são agora grandes amigos. Como não podia deixar de ser, enduristas de altíssimo nível que foram, elogiaram “os trilhos muito exigentes da primeira etapa, com subidas que não ficavam mal numa prova do Nacional de Enduro, e os caminhos bastante técnicos e fluídos do segundo dia”. E, em uníssono, reconheceram que “mesmo sabendo das dificuldades existentes no Alentejo, foi demasiado asfalto, sobretudo para motos enduristas”. Vá lá que, pouco depois, ainda conseguiram usufruir de momentos de grande gozo de condução, em pleno Parque Natural do Vale do Guadiana.

Local que reforçou o drama da escassez de água já visível no Alqueva, onde os 3 ou 4 metros abaixo no nível máximo multiplicados pela área do maior lago artificial da Europa deixam bem clara a dimensão da seca que atravessamos. Pensamentos que acompanharam boa parte das centenas de participantes nesta maratona aventureira até Serpa, onde estava montado o Oásis da Federação de Motociclismo de Portugal, organizador do evento que atrai motociclistas de toda a Europa.

Como o alemão Marcel Driessen, Country Manager da Yamaha no mercado germânico que, depois de “muita diversão, alegria e também muito cansaço nos dois primeiros dias, sobretudo pela exigência para uma moto como a Yamaha Ténéré 700 World Raid” não escondeu “algum aborrecimento” na travessia alentejana. “Mas é a paisagem que manda e, depois de dois dias de dureza recompensada pelas paisagens fabulosas, com estas planícies era impossível grande sobe-e-desce”, rematou o estreante no Portugal de Lés-a-Lés Off-Road não se antes enaltecer as últimas curvas da serra algarvia, “escorregadias e muito divertidas”.

Opinião partilhada por Márcia Monteiro, que esteve “sete vezes à partida da aventura ainda que nem sempre à chegada”. Desta feita chegou a Vila Real de Santo António, feliz, mas “bastante cansada, sobretudo depois da primeira etapa, entre Mirandela e Tábua, talvez a mais dura de todas as realizadas nestes sete anos”.

E as paisagens? “Sempre espetaculares, ainda que, aqui e ali, sejam notórias as marcas de incêndios e muitos eucaliptais”. Situação que a FMP quer ajudar a reverter com a campanha de sensibilização Reflorestar Portugal de Lés-a-Lés. Que, depois de Mirandela, Tábua e Arronches, entregou mais 100 ciprestes e outros tantos pinheiros-mansos aos petizes das escolas básicas Manuel Cabanas, de Santo António e de Monte Gordo. Além de outros exemplares destas espécies autóctones que foram carinhosamente plantadas pelas crianças com a cuidadosa ajuda do Sr. José, o jardineiro de serviço, acompanhado pelo vice-presidente da Câmara Municipal de V. R. St.º António, Ricardo Cipriano, e pela vereadora do pelouro da Educação Maria da Conceição Pires. Uma campanha que, tal como o Portugal de Lés-a-Lés Off-Road, promete voltar em grande, em 2023.

24º Portugal de Lés-a-Lés (2022)
De 9 a 12 de Junho de 2022

Canícula ampliou dureza do Lés-a-Lés mais exigente dos últimos anos

Paisagens turvas pelo calor escaldante

Já de olhos postos nas bodas de prata do Portugal de Lés-a-Lés, tempo para um balanço da 24.ª edição da aventura que, desde 1999, liga dois extremos do mapa nacional. Uma epopeia marcada pelo calor, muito calor, que acompanhou os 2400 participantes de Faro a Bragança, com paragem em Castelo de Vide e na Covilhã, reforçando a exigência da maratona mototurística. Que, recorde-se, atravessou mais de 40 concelhos ao longo dos 1256 quilómetros percorridos durante mais de 32 horas de condução.

O trajeto delineado pela Comissão de Mototurismo da Federação de Motociclismo de Portugal passou ainda por 33 rios e ribeiras, 5 barragens e albufeiras e rodou nos Parques Naturais da Ria Formosa, Vale do Guadiana, Serra de S. Mamede, Tejo Internacional, Malcata e Douro Internacional. E permitiu a visita a 7 museus (Afonso III, Marítimo, Regional do Algarve, Ruínas de Milreu, do Rio, do Queijo, CEAMA de Almeida) e 4 catedrais, incluindo a ‘sede do MC Faro’ e a Concatedral de Miranda do Douro, além de atravessar 8 fronteiras luso espanholas e passar por territórios onde se falam quatro línguas diferentes: português, mirandês, castelhano e a ‘fala de Xálima’ ou da Extremadura.

Mais do que simples curiosidades, os números espelham a grandeza de um evento que contou com o apoio dos moto clubes de Faro, Albufeira, Falcões das Muralhas (Mértola), Moura, Moto Livres (Mourão), Motards do Ocidente, GM Arronches, Conquistadores (Guimarães), MK Mákinas (Tábua), Porto, Lobos da Neve (Covilhã), Moto Galos (Barcelos), Templários (Mogadouro) e Moto Cruzeiro (Bragança). Clubes que estão na génese do Portugal de Lés-a-Lés e que foram, como sempre, alicerce imprescindível para a organização da maior maratona mototurística da Europa.

As vacas e o javali, a GNR, os romanos e o Astérix

Sempre sob intensa canícula, os participantes que fizeram rolar as mais de 2200 motos foram controlados por umas simpáticas vaquinhas, em Alcoutim, onde viram a Guarda Nacional Republicana e a Guardia Civil a juntarem esforços para apanhar contrabandistas fugidios, encontraram muitos romanos (Milreu ou Penha Garcia) e até duas completas aldeias gaulesas. Junto ao Menir do Outeiro, o Astérix, Obélix e outros personagens ‘ocidentais’ criaram a Aldeia Gaulesa do Ocidente, enquanto em Freixiosa, já no concelho de Miranda do Douro, os Conquistadores continuaram a resistir aos romanos e ao calor, homenageando a tradução das aventuras do Astérix para o mirandês no mais animado controlo deste Lés-a-Lés. Ainda assim, curiosamente, quem encontrou e caçou o verdadeiro javali, aquele que o Obélix tanto gosta, foi o MK Mákinas que durante a noite passada no controlo em Penamacor foi visitado por um porco-bravo que rapidamente virou belo petisco.

Mas houve também reis, rainhas e até bobos da corte ao longo dos 18 pontos de controlos cujas picadelas na tarjeta assinalavam o total e perfeito cumprimento do percurso, tranquilo mesmo para antigos pilotos de renome como Alexandre Laranjeira, Miguel Farrajota, Bernardo Villar ou o virtuoso dos automóveis agora convertido às duas rodas, António Rodrigues. Tudo numa caravana, longa e heterogénea, que contou com atores, políticos, cantores, cientistas, mecânicos, vendedores, presidentes, jornalistas, pedreiros, camionistas, talhantes, carpinteiros e jogadores de futebol. Como Paulo Madeira, o antigo central da Seleção Nacional e do Benfica que, no palanque final, em Bragança, reconhecia “ter sido um Lés-a-Lés bem mais duro do que os treinos com José Mourinho”. Palavras que atestam bem da exigência do evento da FMP, conhecido que é o empenho extremo exigido em todos os treinos pelo ‘Special One’.

Um Portugal de Lés-a-Lés com percurso que mereceu aplausos unânimes, mas que foi fortemente endurecido pelo calor. “A organização e os participantes foram surpreendidos por dias de calor extremo, os mais quentes do ano e isso aumentou a dificuldade para cumprir um trajeto longo no Alentejo e mais trabalhoso nas Beiras e Trás-os-Montes” sublinhou Ernesto Brochado.

Para o principal responsável pelo percurso, “o início do 2.º dia, que foi alvo de várias críticas, foi pensado para desfrutar da paisagem sem grandes paragens, mas o calor complicou as coisas”. Por isso mesmo, o elemento da Comissão de Mototurismo da FMP reforça o pedido “a todos os participantes para que guardem o ‘road-book’ e cumpram o trajeto numa Primavera fresca, verde e florida. E, aí sim, poderão apreciar na plenitude um percurso com tanto de trabalhoso como de belo. Tão exigente em termos de condução como imponente em termos de paisagens”. Em suma, um verdadeiro Portugal de Lés-a-Lés.

REPORTAGEM

Casa cheia na apresentação do Portugal de Lés-a-Lés

No ano em que regressa à quase desabitada zona raiana, garantia de uma edição sem trânsito, por paisagens muitas vezes inóspitas, de perfil quase intimista, o 24º Portugal de Lés-a-Lés reforça o estatuto de grande aventura de descoberta nacional, chegando aos mais remotos pontos do mapa lusitano e passando mesmo para lá da fronteira. Travessias que darão outro colorido e ainda mais motivos de interesse ao evento organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal, e que viu, este domingo, desvendados muitos dos pormenores em concorrida Apresentação Oficial na Figueira da Foz.

Momento de ganhar apetite para o 'grande prato', de 9 a 12 de junho, quando cerca de 2000 mototuristas ligarão Faro a Bragança, com paragens em Castelo de Vide e Covilhã, e que antecedeu as primeiras inscrições na maratona gizada pela Comissão de Mototurismo da FMP. Altura ideal para todos os gostam de garantir um lugar na parte inicial da grande caravana, que, depois de um Passeio de Abertura de 45 quilómetros, no dia 9 de junho, entre o Centro Histórico, as praias e outros pontos históricos e paisagísticos do concelho farense, deverão cumprir longa tirada, de 460 quilómetros, até Castelo de Vide.

No Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas, tempo para os verdadeiros apreciadores da natureza mas também para os mais dados à História, variando entre os muitos menires e a curiosa igreja acastelada de Terena, a visão da albufeira do Alqueva com invejável nível de água ou as marmoreiras que sustentam a força económica da região. Dia também para várias idas a Espanha, uma delas com direito a passagem pela Ponte Internacional do Marco que, ao contrário do que o nome deixa antever, é tão pequena que apenas é possível passar uma moto de cada vez. Mais desafogadas as estradas na Serra de São Mamede, rumo à "Sintra do Alentejo" onde, em Dia de Portugal, será possível visitar a recém-inaugurada Casa de Cidadania Salgueiro Maia.

Paisagens de um e outro lado da fronteira

Mas a cerimónia que juntou muitos mototuristas no Malibu Foz Hotel e que contou com os presidentes das câmaras da Figueira da Foz (Pedro Santana Lopes), de Faro (Rogério Bacalhau), de Castelo de Vide (António Pita) e do vereador da Covilhã (José Miguel Oliveira), revelou outras surpresas. Como as que serão encontradas na jornada entre Castelo de Vide e a Covilhã, longa de 300 quilómetros apesar da curta distância em linha reta entre as duas localidades. Um ziguezaguear ibérico, com motivos de interesse de um e de outro lado da fronteira, do maior menir da Península Ibérica, na freguesia de Póvoa e Meadas, à curiosa barragem fronteira de Cedillo, que só abre durante os dias da semana e que estará especialmente franqueada para os participantes do Lés-a-Lés. Regresso a Portugal por Segura depois de atravessar a não menos interessante mas muito mais imponente Ponte de Alcântara, ativa da solidez dos seus 1900 anos! Valverde del Fresno ou Navasfrias são apenas dois exemplos de localidades a atravessar antes da visita, de novo no nosso País, à nascente do rio Côa, ao Sabugal, ao Museu do Queijo de Peraboa ainda a tempo de provar as cerejas da Cova da Beira.

No terceiro dia, mais uma etapa longa, de 390 quilómetros, da Covilhã a Bragança, com regresso ao concelho de Miranda do Douro mais de duas décadas depois da última visita. Depois da passagem em Almeida, Castelo Mendo ou Mogadouro, vislumbre do Douro Internacional nos miradouros de Freixiosa, S. João das Arribas e Penha das Torres, em jornada rematada pela passagem em mais pontes romanas e outros pontos de significado histórico sempre com soberba envolvente paisagística.

Uma descrição que reforçou o entusiasmo para a edição 24 do Portugal de Lés-a-Lés, bem refletido nas centenas de inscrições efetuadas de imediato e que deverá fazer esgotar rapidamente as inscrições online (www.les-a-les.com) a partir de 21 de março.

Milhares na invasão à Capital do Motociclismo

Portugal de Lés-a-Lés arrancou em Faro

Foi a Gadir dos Fenícios, a Tartesso dos Gregos, a Ossónoba dos Romanos e é, por estes dias e uma vez mais, a Capital do Motociclismo internacional. Faro, famosa pelo seu Moto Clube e pela Concentração Motociclística que este ano comemora 40 anos de vida, acolheu os mais de 2000 motociclistas que, até domingo, participam na 24.ª edição do Portugal de Lés-a-Lés. Peregrinação mototurística organizada pela Federação de Motociclismo de Portugal que cumpriu os primeiros 56 do total de 1216 quilómetros que levará a grande e heterogénea caravana até Bragança, com passagem por Castelo de Vide de Covilhã.

Um Passeio de Abertura que animou sobremaneira um dia que contemplou ainda as Verificações Técnicas e Documentais, entrecortadas por abraços aos amigos que não se viam há mais de um ano e sempre acompanhadas por algo fresco para molhar a garganta. Que o calor, que promete tornar esta edição numa das mais escaldantes de sempre, já começou a fazer sentir-se. Tempo, porém, para uma passagem tranquila pelo centro histórico farense, com visitas (gratuitas) à Sé e sua altaneira torre, ao Museu Afonso III, ou Museu Marítimo ou ao Museu Regional do Algarve. Com a canícula a servir de motivação para a visita aos espaços museológicos, por força da frescura destes espaços, nada como aproveitar e ficar a conhecer um acervo que conta, de forma ímpar, a história de uma cidade com origens milenares.

Uma pequena tirada que mostrou um Algarve pouco conhecido da maioria, de pomares e laranjais, de noras e estufas, rumo aos vestígios romanos de Milreu. Ruínas de um passado opulento que encantaram pelos painéis de bonitos mosaicos que decoravam as villas construídas vai para dois mil anos. Bem mais conhecida é a fotogénica costa algarvia, onde abundam praias fabulosas, mesmo se poucas revelam tanto cuidado ambiental quanto a do Ancão. Onde muitos foram os motociclistas que não resistiram ao chamamento do amplo areal e de um mar que ajudou a combater os mais de 35.º que se fizeram sentir em boa parte do dia.

Campos de golfe e mais praias, lagoas e até os primeiros quilómetros em caminhos de terra batida foram outras notas de destaque num dia que, saindo da Sé Catedral, terminou na catedral do motociclismo nacional, sede do Moto Clube de Faro. Cujos sócios acolheram de forma calorosa os amigos que, no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, arrancam bem cedo, a partir das 6 horas e 30 rumo a Castelo de Vide. Uma verdadeira maratona de 440 quilómetros de extensão, na zona raiana e com direito a duas incursões em território espanhol, que promete ser literalmente escaldante.

Portugal de Lés-a-Lés arranca no dia mais quente do ano

Uma aventura no Alentejo escaldante

Já se adivinhava calor! Muito calor mesmo, tinham prometido os técnicos da meteorologia e as previsões só pecaram por defeito. É que o dia em que partiu a caravana do Portugal de Lés-a-Lés da veraneante região algarvia rumo à infernal zona alentejana, foi mesmo o mais quente do ano, com temperaturas que ultrapassaram os 40º centígrados. Para trás ficaram as praias e piscinas dos hotéis e complexos turísticos de Faro e, pela frente, os mais de 2000 motociclistas que aceitaram o desafio da Federação de Motociclismo de Portugal, tiveram 440 quilómetros até Castelo de Vide. Manhã bem cedo, mal o sol tinha espreitado no horizonte e já os termómetros marcavam 27º, e ainda antes das 9 horas, em Alcoutim, já ultrapassavam os 30º. E foi subindo até chegar a valores que ainda ninguém por cá tinha experimentado este ano.

Saída serena do Algarve, deixando para trás a serrania que separa o Alentejo e com Espanha sempre no horizonte para, junto ao Guadiana, aproveitar todas as curvas da bela estrada M507 rebatizada de Rita Guerra. Bela, de tons morenos e aroma mediterrânico, encantou pelas curvas e pela brisa que movia veleiros rio acima. Barreira fluvial que foi acompanhando os aventureiros rumo a Alcoutim onde contrabandistas, a portuguesa GNR e a espanhola Guardia Civil juntaram-se aos animados elementos do Moto Clube de Albufeira num divertido posto de controlo. Foi a primeira de muitas tropelias que animaram a caravana e ajudaram a combater a canícula, com muita água para beber e para molhar os pés na praia fluvial na margem da Ribeira de Cadavais.

Proibido era ficar demasiado tempo parado porque, com o relógio a avançar, também a temperatura ia subindo. Entrou-se no Alentejo o que, mesmo sem a já tradicional travessia a vau do Vascão, foi bem percetível pelas estradas menos curvilíneas ainda que sem as intermináveis retas que haveriam de surgir mais tarde. Antes disso, passagem pela islâmica Mértola e o seu altaneiro castelo onde o moto clube Falcões das Muralhas, assumiu a defesa do seu território. Não fossem os muitos espanhóis que conferem um toque internacional à longa caravana ter ideias…

Road-book em castelhano… não fosse algum espanhol perder-se

Espanhóis que foram brindados, logo de seguida, com uma estreia no Portugal de Lés-a-Lés. Se é verdade que, em várias ocasiões, foi a trupe até ao lado de lá da fronteira, não menos verdade é que nunca antes houve notas do road-book escritas em castelhano. Saltos para lá e para cá quase sem dar conta das linhas que outrora eram momento de tensão ibérica. Agora, sem grande espaço nas malas das motos para caramelos, bacalhau ou outro contrabando, a passagem só era notória porque havia avisos… no road-book. De resto, apenas pequenos marcos em pedra, um posto fronteiriço em ruínas ou uma Ponte Internacional (do Marco ou El Marco) em madeira e onde cabe apenas uma moto de cada vez. E automóveis, nem pensar!

Sempre com uma canícula que quase derreteu até os mais veteranos, a aldeia de Safara, bem no coração do concelho de Moura, permitiu saborear os deliciosos enchidos da região. E se pensam que foi uma má opção, lembrem-se que o sal ajuda a minorar os efeitos da desidratação causados pelas altas temperaturas e pelo vento quente que ia secando os corpos. Que o diga o ator Vítor Norte, experiente de muitas Lés-a-Lés sempre com a sua inseparável Gina, a não menos experiente Yamaha Virago 535 que há muito o acompanha. “Foi um dia duro, muito duro, ao nível das mais exigentes jornadas de gravação de um filme ou de uma telenovela”, contou em castelo de Vide o taxista Manel Martins da novela ‘Festa é Festa’.

Sem festa, a passagem pela Amareleja proporcionou o que era esperado! No ponto continental onde são registadas as maiores temperaturas, lá estavam os termómetros para cima dos 40º, abrindo o apetite para a muita água que o Moto Livres Club e a autarquia local disponibilizaram no castelo de Mourão. Com uma vista fabulosa, tempo para apreciar o grande lago do Alqueva que represa o Guadiana e seus afluentes, antes de mais descobertas de um Alentejo que não para de surpreender. Seja no fotogénico monumento de Homenagem ao Cante Alentejano, como nos diversos menires, antes e cromeleques que atestam a existência de civilizações bem antigas na região.

Ainda assim, nada que preparasse os participantes no maior evento mototurístico da Europa para descoberta da Aldeia Gaulesa do Ocidente, bem perto do menir do Outeiro que, com 5,6 metros de altura é o segundo mais imponente de Portugal. Cenário perfeito para um Obélix carregador de menires, o Astérix, o Panoramix, o Ordemalfabétix, a Sr.ª Decanonix e até a bela Falbala, personagens interpretados na perfeição pelos elementos dos Motards do Ocidente. Tempo também para o primeiro troço de terra batida (estas aldeias são mesmo muito antigas…) onde a Jawa 250 de 1952, conduzida por Hélder Alves, ou as muitas Honda PCX 125 não tiveram qualquer problema. Afinal o Portugal de Lés-a-Lés é uma aventura para todas as motos, que não para todos os motociclistas…

O peso da História no Dia de Portugal

No Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, tempo para recordar mais alguns pontos de grande peso histórico na afirmação da independência lusitana, incluindo os castelos de Terena (à distância) ou de Vila Viçosa (por dentro) antes de nova paragem em Borba junto à Fonte das Bicas eu desde 1781 mata a sede a quem por ali passa. Barbacena e Arronches foram pontos do mapa visitados antes de nova entrada em Espanha, que deixou italianos, franceses, suíços, neerlandeses, polacos, romenos, alemães, luxemburgueses, croatas, belgas, estado-unidenses e húngaros mais baralhados. O arrevesado espanholês ou o lírico portunhol utilizado nas notas de navegação aumentou a dificuldade de perceção na mesma medida que exponenciou a diversão para os ibéricos. Que, cansados, mas bem-dispostos, chegaram, todos, a Castelo de Vide, final de uma etapa de 440 quilómetros que será recordada como uma das mais exigentes dos 24 anos de história do Portugal de Lés-a-Lés.

Tal como deverá ficar recordada a ligação entre a Sintra do Alentejo e a Covilhã, com 360 quilómetros de descobertas e emoções, de sabores e paisagens. E muito calor!...

Portugal de Lés-a-Lés continua a bater recordes… de temperatura

Calor marcou viagem até ao covil dos Lobos

A caravana estava avisada. Depois das temperaturas elevadas no primeiro dia, o calor voltou em força na segunda etapa do Portugal de Lés-a-Lés. Entre Castelo de Vide e a Covilhã, 360 quilómetros de estradas fabulosas, paisagens imponentes, e descobertas de cortar o fôlego. Ou a falta de ar seria do calor?... Afinal ainda não eram 10 horas e já os termómetros marcavam mais de 40º centígrados. E haveriam de chegar perto dos 45º em alguns locais, obrigando os participantes a beber muitos milhares de litros de água e procurar umas sombras ou praias fluviais para evitar o sobreaquecimento das máquinas… humanas. Porque as outras, as mecânicas, parecem bem mais habituadas às extremas exigências térmicas.

As estratégias para evitar o calor foram muitas, mas uma das mais utilizadas foi mesmo a partida madrugadora desde Castelo de Vide, aproveitando as temperaturas mais amenas para descobrir as pitorescas estradas desertas até ao mais antigo menir do Mundo. A datação do menir da Meada aponta para um trabalho humano com mais de 7000 anos ao criar aquele que é o monólito pré-histórico mais alto da Península Ibérica. Afinal este monumento megalítico soma os 4 metros que revela acima do solo aos mais de 3,5 metros que esconde debaixo da terra. Números imponentes, é certo, mas que não travaram a caravana por mais tempo do que o necessário para uma foto e a picadela na tarjeta que assegura o cumprimento de todo o percurso elaborado pela Comissão de Mototurismo da Federação de Motociclismo de Portugal.

Espanha foi o destino seguinte, com entrada pela curiosa barragem de Cedillo que tem a particularidade de represar dois rios fazendo aproveitamento hidroelétrico de forma separada. Estradas de excelente piso e curvas largas, bem desenhadas, ‘devolveram’ a heterogénea caravana a Portugal, não sem antes ter direito a um ‘cheirinho’ da histórica cidade de Alcântara e da não menos monumental ponte que, há cerca de 2000 anos, garante o trânsito fronteiriço. Com o calor a intensificar-se, passando muito cedo dos 40º centígrados, nada como atentar nos mais experientes motociclistas.

Luís Simão é um dos quatro participantes totalistas e tem a curiosidade de ter cumprido as 24 edições com a mesma Yamaha Virago 535 e, imagine-se, com o mesmo blusão, bem grosso, de couro. “É a melhor arma contra o calor, evitando a desidratação e as queimaduras da pele além de garantir a segurança em todas as situações”. Ainda assim o experiente motociclista garante que “mesmo tendo sido um dia muito quente, já houve outras edições com temperaturas mais elevadas e um grau de exigência física bem superior”.

Da fria Suíça ao escaldante Portugal

Calor que não impediu a diversão e prazer de condução de dois Carlos Manuel, o Carvalho e o Ferreira, emigrados há décadas na Suíça e que, nos últimos cinco anos, marcam uns dias de férias para rumar ao ‘seu’ Portugal… de Lés-a-Lés. Bom, na verdade, o de apelido Carvalho esteve ausente em 2021, porque “a data coincidiu com a festa de 25 anos de casamento e não era boa ideia sair de casa nesse dia. Não fosse ter que juntar a festa do divórcio!”. Muito divertidos, agradados com as estradas e a animação que os surpreende a cada ano, ficaram espantados com a produção ‘hollywodesca’ preparada pelos Conquistadores de Guimarães em Penha Garcia. Aumento exponencial da população da aldeia famosa pelos vestígios de ocupação milenar e pela imponente posição estratégica, garantido pelos 28 ‘romanos’ que os elementos do moto clube vimaranense interpretaram na perfeição. E onde não faltaram legionários, centuriões, legados, senadores e até mesmo dois… crucificados, que iam picando as tarjetas frente a um cenário geológico criado desde há mais de 4 milhões de anos.

Imagem apaixonante para qualquer geólogo capaz de catalogar as paredes de xisto, como deliciosa, para toda a caravana, foi a sensação aromática das searas recentemente ceifadas, de avaliação bem menos erudita. Como entusiasmante também foi a passagem por Idanha-a-Velha onde a Honda tratou de matar a sede à caravana, antes mesmo de passagem pela pitoresca aldeia de João Pires. Emoções de descoberta ‘amadurecidas’ no aprazível parque de campismo do Freixial, nas margens do rio Bazágueda, com descanso nas tão desejadas sombras no relvado.

A história da rainha, do bobo e da cozinheira premiada

Mas haveria muito mais antes da chegada à Covilhã onde o dinâmico Moto Clube Lobos da Neve preparou uma receção digna de reis. Do chuveiro que ia refrescando a caravana antes de subir ao palanque de chegada ao saboroso Bacalhau à Assis servido ao jantar. Um prato com história única na cidade serrana, que mete um cozinheiro chinês no meio de um grande nevão, e que foi preparado por Patrícia Santos, ‘chef’ ganhador do master Chef em 2010. Comida deliciosa acompanhada por um concerto ao vivo, animando o amplo espaço onde ficou instalado o serviço de assistência mecânica e de recuperação física. A cargo de jovens, mas bem experientes, osteopatas, naturopatas e massoterapeutas que iam minimizando os efeitos de maleitas acabadinhas de arranjar ou algumas mais antigas, carinhosamente ‘trazidas de casa’.

Antes, porém, tempo para uma visita ao mais importante apoio estrangeiro do Lés-a-Lés, com ida às instalações da Motoval em Vilaverde del Fresno. Mas também para incursões mais radicais em caminhos de terra, para a descoberta do célebre forcão das capeias arraianas e até a possibilidade de conhecer a nascente do Rio Côa. Sem esquecer, claro, novo momento histórico protagonizado junto ao castelo de Sabugal, por uma elegante e poderosa rainha e o seu bobo da corte. Dos verdadeiros.

Momentos de diversão que ajudaram a descontrair num dia escaldante, em jeito de preparação para a ‘etapa-rainha’ do 24.º Portugal de Lés-a-Lés, da Covilhã até Bragança. E que, apesar de uma quilometragem semelhante, terá muitos mais horas de condução, com um entusiasmante, mas muito exigente, rendilhado de estradas e estradinhas.

Terminou em festa o Portugal Lés-a-Lés mais exigente dos últimos anos

O genuíno espírito reencontrado numa pequena aldeia transmontana

Num Portugal de Lés-a-Lés marcado por um calor abrasador, atravessando um percurso bem trabalhoso ao longo da zona raiana nos dias mais quentes do ano, os cerca de 2400 participantes precisaram esperar pelos últimos dos 1216 quilómetros do percurso para viver um momento do mais genuíno espírito do evento que a Federação de Motociclismo de Portugal organiza desde 1999. Gigantesca surpresa que transformou a pequena aldeia de Freixiosa, do concelho de Miranda do Douro, no verdadeiro epicentro do universo motociclístico. Os 47 habitantes viram a sua pequena aldeia invadida pelos elementos de um dos mais ativos e criativos clubes que acompanha a Comissão de Mototurismo na FMP, os Conquistadores, de Guimarães, que deram um toque único à povoação, ajudando os mototuristas a esquecer as agruras do calor.

Temperaturas altas que foram companhia constante desde Faro, tornando a edição de 2022 numa das mais duras de sempre (lado a lado com a não menos escaldante 2017 ou a chuvosa 2010), mas que, na última etapa, entre a Covilhã e Bragança deram algumas tréguas. O dia até começou agradável para a ‘prática da modalidade’, com a frescura matinal a ajudar a apreciar tranquilamente as paisagens bucólicas nas faldas do mais alto maciço montanhoso do continente. Tranquilidade que, apesar de todo o cuidado dos mototuristas, não impediu o despertar de curiosidade nas pequenas aldeias atravessadas, com o assomar às portas e janelas de rostos estremunhados pela inusitada agitação. Estradas e estradinhas, variando entre as mais rápidas e outras cheiinhas de prazenteiras curvas, permitindo agradável arredondar dos pneus até Castelo Mendo onde o primeiro controlo do dia fazia companhia ao mais alto pelourinho de Portugal, honrado com a presença da ‘realeza’ do Moto Clube do Porto.

Momento histórico seguido de uma não menos impressionante visita à monumental fortaleza de Almeida, famosa pelas casas com telhados de pedra à prova de bomba, onde marcou presença a NEXX. Que, além da assistência necessária aos capacetes fabricados na Anadia e da indispensável água, propunha um jogo simples e cujo prémio era uma t-shirt exclusiva da marca. Mas as t-shirts voltaram quase todas para casa, tão fraca era a pontaria dos participantes que não conseguiam atirar ao chão umas simples latinhas com as bolas de ténis.

Prazeres escaldantes Portugal acima

Seguiu a longa e heterogénea caravana para norte, rumo ao Parque Natural do Douro Internacional, não sem antes vislumbrar a serra da Marofa, de atravessar o Rio Águeda e abeirar o Douro em Barca de Alva. Pelo caminho tempo para desfrutar da estrada nacional 221, rebatizada de ‘Simone de Oliveira’, por força das semelhanças com a cantora e atriz. Nostálgica, indestrutível e bela, oferecedora de uma elegância única a curvar, que teria como recompensa o café, os pastéis de nata e as águas frescas no Oásis BMW-Antero, a poucos metros de mais uma fronteira luso-espanhola.

Curvas, muitas curvas, que foram palco momentos de grande prazer de condução para os mais experientes como para os novatos, até nova paragem, em Mogadouro. Onde o estreante Alcides Queirós só lamentava “ter desperdiçado, durante 23 anos, a possibilidade de descobrir Portugal de uma forma única”. Com um sorriso jovial e um entusiasmo que disfarçava os 63 anos de idade, exibia orgulhosamente a bandeira da freguesia de Carregosa, Oliveira de Azeméis, enquanto contava a sua história.

“Uns amigos lançaram o desafio e, assim que a vida pessoal e profissional permitiu, fiz a inscrição e lá fui até Faro. Foi o cumprir de um sonho de longa data. Sozinho, e sem ninguém conhecido, coloquei uma questão a uns participantes que estavam por lá e acabei a fazer o percurso com os ‘cinco violinos’, os meus novos amigos. E, para que fique registado, todo o percurso foi cumprido na íntegra e ao minuto, com a Honda 700 Deauville que tem três ou quatro vezes o meu peso…” Mais uma prova de que o Lés-a-Lés é para todas as motos, mas não é para todos os motociclistas!

Amores e tradições que teimam em resistir ao tempo

Em Mogadouro, no preciso local onde arrancou a edição de 2011, a paragem deu para recordar as sensações da estrada ‘Helena Costa’, o troço da N221 até Freixo de Espada à Cinta, curvilínea, elegante e resistente como a atriz que conta no seu ’palmarés’ com os dois Lés-a-Lés mais escaldantes: o de 2017 e de 2022. E que, tal como todos os motociclistas, teve que fazer opções na parte final do percurso, entre as visitas aos miradouros de Picões, Freixiosa e São João de Arribas. Além da imperdível e obrigatória passagem pela espetacular sede do Moto Clube Abutres do Asfalto, na recuperada estação ferroviária de Sendim, onde não faltaram as Pauliteiras de Sendim (sim Pauliteiras!, meninas).

Já os mais conhecidos Pauliteiros de Miranda estavam em força na aldeia da Freixiosa, onde teve lugar uma das mais espetaculares demonstrações de dinamismo e carinho regional de que há memória em mais de duas décadas de Lés-a-Lés. Depois de, na véspera, os Conquistadores de Guimarães terem feito ‘estragos’ em Penha Garcia, ‘voltaram à carga’ com cerca de meia centena de figurantes na mais pequena aldeia da Freguesia de Vila Chã de Braciosa. Onde Dalila Valentim, a ‘filha querida’ que a todos os habitantes da Freixiosa acode, indo muito além das funções de tesoureira da junta não se poupou a esforços para criar um momento inolvidável. Apaixonada pela sua aldeia natal, não esqueceu o berço mesmo depois de passagens da vida por França, Porto e Lisboa. “Há 3 anos surgiu a oportunidade de voltar e logo foi aceite sem hesitar. Daí para cá, todo o trabalho é feito em prol da população, de média etária muito, mas mesmo muito, elevada”. E aqueles que são o casal mais jovem da terra, pais da mais nova habitante da aldeia, Matilde, de 10 anos, tudo fizeram nas últimas semanas para reunir as condições para uma grande festa.

“O desafio lançado pela presidente da autarquia de Miranda do Douro, Dr.ª Helena Barril, foi levado muito a sério, motivando toda a população e artesãos de Freixiosa e Fonte da Aldeia, num evento que será, seguramente, recordado por muitos anos”. Isto é, afinal, a essência do Portugal de Lés-a-Lés, criado em 1999 por força do entusiasmo de cinco motos clubes (Porto, Estarreja, Mototurismo do Centro, Motards do Ocidente e Lisboa). Descobrir a essência de Portugal, as suas paisagens e gentes, as suas estradas e artesanato, como as navalhas de Palaçoulo, as gaitas de foles e castanholas, as peças criadas a partir do burel.

Daí até ao epílogo, em Bragança, a passagem por Miranda do Douro ajudou a perceber a importância do mirandês, a 2.ª língua oficial de Portugal, bem patente na toponímia das terras atravessadas. Bem como o valor dos burros de Miranda, raça que esteve quase extinta e foi recuperada por algumas associações como o Parque Ibérico de Natureza e Aventura de Vimioso onde estava um dos últimos dos 18 controlos que atestavam o cumprimento total do percurso gizado pela Comissão de Mototurismo da FMP.

E, claro, Lés-a-Lés sem caminhos terra não é aventura que se preze. Por isso, ainda antes da chegada a Bragança, tempo para um desvio com direito a passagem pela ponte visigótica sobre o rio Maçãs, construída no século XIV. Sólida como a maior aventura mototurística da Europa e, quiçá, do Mundo. Com novo episódio já marcado para 2024. E com a particularidade de celebrar as bodas de prata.

Por falar em festa, momento alto desta edição foi um insólito pedido de casamento em pleno palanque de chegada do habitué dos moto-ralis João Correia à sua companheira de sempre, Rita Martins. Que disse que sim!